Embriagues escrita por LucianaQuero


Capítulo 6
De volta à Terra do Nunca




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Eu nem sonhava em acordar quando a empregada da casa bateu na minha porta. Eu rolei na cama.

— Agora não...

— Telefone para a senhorita.

— Entra, por favor.

A moça estendeu a mão com o telefone em minha direção.

— Você sabe quem é? — disse com a voz ainda abatida pelo sono.

— É o senhor Jackson.

Acordei no mesmo instante. Olhei para o lado, o relógio indicava dez horas e oito minutos. Agradeci a moça que nem sei o nome e ela se retirou pedindo licença.

— Alô? — tentei disfarçar a voz sonolenta.

— Susan? Tudo bem?

— Ah... Tudo, e com você?

— Tudo ótimo! Eu te acordei?

— Não! Imagina...

— Ah, que bom. Então, o que você acha de vir passar a tarde em Neverland, hoje?

— Parece ser uma boa ideia.

— É! Eu te mostro melhor o lugar, os animais, e você almoça aqui!

— Seria amável... Eu me arrumo e vou para aí, então?

— Você não demora a se arrumar, né? — ele parecia sorrir.

— Não! — rimos.

— Estou te esperando então, Susan.

— Certo! Até daqui a pouco, Michael.

Fiquei sabendo pela governanta da casa, que Greg e minha mãe cansaram-se de me esperar e haviam ido à praia. Expliquei a ela que não precisavam fazer almoço hoje, pois iria almoçar na casa de um amigo, mas que o café podia continuar posto á mesa.

Tomei um leve café da manhã e, ainda à mesa fiquei pensativa. “Cinderela”, lembrei. Se meu pai estivesse ao meu lado, como de costume, certamente estaria me perguntando porque eu ria sozinha.

De repente bateu uma saudade dele. Peguei o telefone e conversei um pouco com o velho. Ele também sentia saudades, mas ao menos estava com a namoradinha dele. Torcia, de coração, para que eles dessem certo.

Lembrei-me do almoço com Michael. Não podia ficar parada ali, tinha que me arrumar, e rápido.

 

 

*

 

Fui andando até Neverland. Em 15 minutos estava diante do portão que há alguns dias eu esmurrava. Era impossível não sentir vergonha ao relembrar aquele fato.

Balancei a cabeça e toquei a campainha. Escutei a voz de uma mulher perguntando quem era pelo pequeno alto falante.

— Sou Susan Mitchell, Michael está a minha espera.

— Um minuto.

O portão foi aberto e a mesma mulher, creio eu, começou a me guiar pelo deslumbrante jardim de Neverland.

— O Sr. Jackson está te aguardando para um almoço na varanda.

— Hmmm, parece ser muito bom isso.

A mulher retribuiu o meu sorriso, mas não disse uma palavra até chegarmos lá.

— Sr. Jackson, Susan Mitchell.

O Sr. Jackson, que estava sentado à mesa lendo um jornal levantou-se no exato momento com um lindo sorriso. Não tirava os olhos dos meus.

— Susan, chegou na hora certa! disse aproximando-se e me deixando sem jeito. Estava mais bonito que o habitual.

— Ótimo! — falei sorrindo, tentando disfarçar meu nervosismo.

Ele então me deu um abraço amigável. Disfarcei a minha cara de besta quando nos afastamos.

— Sr. Jackson... — a mesma mulher o chamava. Ele foi até ela, que começou a cochichar alguma coisa.

Nesse momento fechei-me em meus pensamentos. Estaria eu apaixonada? Não, não. Era só uma paixonite, e daqui a pouco iria acabar. Michael é todo charmoso... Mas não. Acho que não. Se bem que o homem mais maduro me cairia bem... Hmmm.

— Claro que pode Pamela! E eu já disse que é Michael, e não Sr. Jackson.

A Pamela agradeceu curvando-se umas três vezes e saiu apressada dando passos curtos. Olhando assim, aquela mulher era um tanto engraçada. Segurei-me para não rir.

— Se eu te disser que ela tava me pedindo permissão pra usar o banheiro você acredita? — disse Michael em meio a risadas.

Ficamos ali rindo feito bestas até que uma figura familiar apareceu.

— Michael, pode servir o almoço?

— Sim, sim. Por favor, Amy.

Amy! Era aquela empregada que falou comigo quando Michael me acolheu. Ela deu um sorrisinho para mim e se retirou. Enquanto isso o anfitrião e eu nos sentávamos à mesa.

 

 

*

 

Durante o almoço, ele me perguntava sobre como era viver em Atlanta, como era ser veterinária — realmente estava fascinado por isso — e falou muitas coisas sobre seus animais. Em alguns momentos eu me perdia nos sorrisos dele. Ou em seus olhos. Mas logo voltava ao planeta Terra.

Quando terminamos fomos caminhar por Neverland. Ele me mostrava tudo. Falava-me sobre as crianças que iam lá, as brincadeiras...

— Vamos à roda gigante?!

— Como?

— Ah, Sue, vamos! Vamos!

— Na roda gigante? Não, não...

— Deixa de ser careta, vamos lá!

— Eu... e-eu...

— Você... v-você? — em tom de deboche.

— Tenho medo. — murmurei escondendo o rosto.

— Perdão?

— Tenho medo. — murmurei mais uma vez. Dessa vez ele entendeu, mas fez-se de desentendido.

— Como é? Fala mais alto, não escutei! — disse isso com uma cara de criança sapeca.

— EU TENHO MEDO! — me exaltei.

Michael então soltou uma gargalhada. Eu não ri.

— É sério, eu tenho medo. Não debocha!!

— Desculpa... err,— pigarreou — mas nem é tão alto.

Eu olhei para aquela roda, literalmente gigante. Em seguida encarei-o.

— Imagina!

— Vem, qualquer coisa a gente para a roda antes de chegar no topo! Vamos Sue! — insistiu com cara de cachorro pidão.

— Ah...

Olhou-me como uma criança prestes a fazer arte e se aproximou de mim.

— Michael? — fui me afastando — Nem pense nisso...

De repente estávamos correndo pelo gramado de Neverland. Eu fugindo de Michael, que já estava chegando perto, e perto, perto...

— Há! — gritou ele pegando a ponta da minha blusa — Peguei vo...

Nesse momento pude ver a cena em câmera lenta: tropecei no meu próprio pé e caí no chão, Michael perdeu o equilíbrio, despencou em cima de mim e saímos rolando.

Deitados no chão nos dividíamos entre risadas e gemidos de dor. Desse jeito, ficamos por alguns minutos.

— Que besta que sou... ái! — eu disse

— HAHA, você está bem? — disse ele se sentando ao meu lado.

— Tô bem... Só a minha mão... Eu caí em cima, ta doendo um pouco.

— Hmmm, deixe-me ver. — após dizer isso ele pegou a minha mão.

Eu apenas o olhava. Talvez estivesse hipnotizada. E quando ele olhou em meus olhos, senti um arrepio.

Agora estávamos sérios, somente nos encarando. Meu coração acelerou. De vagar, ele se aproximava. Cada vez mais perto de mim. E quanto mais ele se aproximava, mais rápido meu coração batia. Debruçou-se em cima de mim, apoiando-se pelo cotovelo e encostou seus lábios nos meus em um beijo terno. O beijo mais doce e amável que tive.

— Desculpe! — Disse se afastando.

— Desculparia se tivesse pelo o que te desculpar.

— Eu não... Hm.

Puxei ele de volta e tornamos a nos beijar. As coisas pareciam estar ficando mais quentes, quando ele afastou-se lentamente.

— É sério, você tem mesmo medo de roda gigante?

— Tenho, seu besta! — dei um tapa de leve em seu peito.

— HAHAHA. Ok, tudo bem, — mordeu o lábio inferior — até porque... Acho que a gente já descobriu algo mais divertido.

Fiz que sim com a cabeça e mais uma vez, ele me beijou. Dessa vez, intensamente.

 


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