Embriagues escrita por LucianaQuero


Capítulo 5
Uma noite memorável




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O grande, belíssimo e requintado buffet era um pouco longe de Santa Bárbara. Depois de uma hora e meia estávamos diante de uma porta gigante. Sinceramente, não sei quais eram as flores que a enfeitava, mas ali tinham muitas. Todas muito bem cuidadas e organizadas perfeitamente.

Os seguranças deram passagem a nós. E enquanto íamos adentrando o salão, Greg encontrava alguns conhecidos e apresentava-me a eles.

Mas o que eu queria mesmo era logo me sentar. Meus pés doíam. Usava um lindo, porém sofrível sapato de salto alto.

Meus acompanhantes agora davam gargalhadas de uma piada que eu não havia entendido. Vire-me a procura de uma salvação. De preferência um assento bem longe dali.

Porém, mais que um assento, a razão de eu estar ali chegara à festa naquele momento. E apesar da bela noite, Michael usava óculos escuros. Por um momento pareceu olhar para mim. Fiquei desconfortável: estaria ele olhando para mim, ou para algo perto de mim?

Concluí que era a segunda opção. Então, pessoas começaram a rodeá-lo. Claro que muito bem contidas, sem perder a elegância.

Aproveitei e peguei uma taça de champagne da bandeja do garçom que, “coincidentemente”, ia à direção da estrela e fui dar uma volta.

 

*

 

Um conjunto de jazz clássico tocava. Sentei-me perto deles para apreciar o som, que por sinal, era a melhor coisa do lugar.

Aquele buffet era realmente um deslumbre. Um dos melhores da região. Entretanto, se por um lado belíssimo... Por outro, chatíssimo.

Fiquei um bom tempo reparando as pessoas. Eram tão elegantes e...  Metidas. As mulheres pareciam estar ali apenas para competir com as outras. “A minha bolsa é mais cara que a sua”, “Meu marido é mais poderoso que o seu”.

E essa era a deprimente realidade que minha mãe escolhera para ela. Será que era tão insuportável viver com a sua família?

Meus pensamentos foram interrompidos por um velho bigodudo que sorria e piscava para mim. Quase gorfei o champagne. Fingi que não o vi, mas ele era insistente.

Resolvi fugir do coroa. Entrei na primeira porta que vi. Essa dava em um jardim inabilitado e bonito. Sem entender porque tamanho desprezo a tão belo jardim, tirei meus sapatos e sentei-me na grama.

Dei de cara com um céu escuro e estrelado. Essa era uma das vantagens de estar na Califórnia. Em Atlanta era raro se ver estrelas no céu. Foi essa cena que me fez esquecer o fracasso que estava sendo aquela noite, para mim. Acomodei-me melhor na grama. Meus olhos estavam ficando pesados... Não sei por quanto tempo cochilei.

— Susan?

Assustei-me e por reflexo sentei de novo no chão.

Mais um “momento vergonhoso diante Michael Jackson” para minha coleção. Cocei a cabeça.

— Oi... — disse sem jeito.

— Acostume-se. Essas festas são sempre assim: entediantes. — disse ele, que agora estava sem os óculos.

— É...

— Se eu soubesse desse seu esconderijo, teria vindo antes. — disse ele se aproximando.

— Deve ter muitos chatos querendo falar com você.

— É! — disse seguido de uma risada alta — Será que eles me acham aqui?

— Não sei... Ao menos o velho bigodudo não conseguiu me achar.

— Velho bigodudo? Que velho?!

“Porque eu disse isso?”, pensei. Mas com um sorriso no rosto, ele parecia estar querendo muito saber. Então contei o acontecido a Michael, que ria tanto que até me contagiava.

— Está gostando das férias na Califórnia? — perguntou se recompondo das risadas.

— Sim, é sempre bom fugir um pouco do trabalho.

— É! Trabalha com o que?

— Trabalho em uma clínica veterinária.

— Sério?! Você é veterinária?

— Bem, sou... Sou mais como uma assistente. — A quebra-galho.

— Deve ser muito legal! Sabe, eu amo animais! — entusiasmou-se.

— Eu percebi!

— Ah... — ele ficou um pouco sem jeito, e continuou menos eufórico — Você tem que voltar a Neverland. Eu tenho muitos animais lá.

— E o seu chimpanzé?

— O Bubbles?

— Você não o trouxe...

— É, não! Bubbles ficou em casa hoje.

— Ele te dá muito trabalho?

— Não, ele é obediente.

— Ah... Que bom.

— Você parece ser nova, trabalha há quanto tempo?

— Pois é, comecei esse ano.

— Tem quantos anos?

— 23.

— Você é nova!

— Você na minha idade, sei lá... Já tinha feito muito mais coisa do que eu.

— Isso nem sempre é bom.

— Hm...

— Trabalhe na dose certa.

— E você?

— Eu?

— Quantos anos você tem?

— 31. É já sou velho.

— Velho... — ri — Velho era aquele do bigode, você é novo!

Rimos um pouco e ficamos um tempo em silêncio. Apenas olhando para o céu.

— O céu está maravilhoso hoje.

— É. Há muito tempo que não via igual.

— Espere só quando voltar à Santa Bárbara. Você vai ver que lá é mais bonito ainda. Já reparou?

— Não...

— Hoje, pode ver! Eu não minto. Não muito...

Rimos juntos.

— Eu acredito!

De longe escutei um “pssiu”. Ele não percebera, mas era minha mãe que me chamava por uma janela do Salão.

— Michael, eu tenho que ir.

— Agora?

— É.

— Ao menos dessa vez pudemos conversar. Da última vez você saiu tão apressada.

— Ah, nem me lembre disso.

Ele sorriu pra mim e eu retribuí o sorriso enquanto levantava-me e seguia em direção à porta.

— Cinderela!

Virei-me sem entender. Ele então veio até mim com o meu belo par de sapatos de salto alto nas mãos.

Fiquei muito envergonhada, porém, ri junto com ele.

— Não esqueça seus sapatos!

 — Ah, muito obrigada, príncipe encantado.

Por fim, peguei os sapatos de sua mão podendo sentir seu toque. Isso, bem ou mal, me causou um arrepio.

Soltei os sapatos no chão para calçá-los.

— Te ajudo. — disse Michael me segurando pela mão, para que não me desequilibrasse.

 

 

Cinderela, com os sapatos de cristal calçados, perdeu-se no olhar do príncipe. Ele ainda segurava sua mão e beijou-a de leve. Em seguida sorriu, encantador.

Cinderela disfarçou um suspiro...

— Até mais, Michael.

 


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