The White Rose escrita por Senhora Darcy


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Três horas depois, estávamos na carruagem. Não foi tão difícil convencer o rei. Eu apenas disse que não me sentia muito bem, e que só o Dr. Johnson saberia o que fazer. Disse que estava com saudades da minha mãe e falei sobre como já estávamos longe tempo demais. E assim, todos concordaram com a princesa emocionalmente abalada. Ultimamente, depois do sequestro, ninguém me dizia muito “não”.

Foram dois dias em que eu não conversei com ninguém e praticamente ignorei William. Estava exausta quando cheguei em casa, no fim de tarde da sexta feira. Gregory dissera que o navio partiria de noite, do porto. Então eu tinha algumas horas para arrumar uma mala e fugir de casa.

Fui direto para o meu quarto, quando cheguei, alegando estar passando mal. Coloquei todos os meus menores e mais leves vestidos numa bolsa e algumas joias como dinheiro reserva. Além de outros itens de primeira necessidade e um pouco de comida. A bolsa ficou bem grande, mas ainda dava para carregar nos braços. Escrevi um pequeno bilhete para Anelize, contando que estava indo embora com o pai do eu filho e que seria feliz como nunca. Pedi que consolasse a minha mãe e lhe explicasse tudo. Disse que as amava muito. E era isso, não havia muito mais que eu pudesse escrever. Vesti meu vestido favorito e coloquei uma capa escura por cima, e saí do quarto discretamente.

As luzes do salão principal já estavam apagadas e todos já haviam se recolhido, mas qualquer barulho e todos saberiam. Estava no meio das escadarias quando ouvi passos atrás de mim. Tentei correr e me esconder, mas uma voz alta disse:

— Aonde você pensa que está indo? – era o rei.

Me virei e respirei fundo. Só tinha uma coisa que eu poderia fazer ali, contar a verdade. O rei era a única pessoa que não se importava de verdade comigo, e só com a minha coroa. Qualquer um, minha mãe, Anelize, William, ou mesmo minhas criadas de quarto, não me deixariam sair. Mas o rei...com as palavras certas, eu talvez o convencesse.

— Eu estou fugindo. – Eu disse e ele riu – E estou falando sério. Vai demorar muito tempo para eu assumir a coroa daqui, e se eu me casar com William serei apenas um enfeite. E não é isso que eu quero para minha vida.

— Esse é um problema seu. Agora abandonar o trono...

— Eu desonrei a família.  – Eu disse – Estou grávida. Tenho um amante fora do castelo, que não é nobre ou rico. E se você me fizer ficar, todos vão saber em breve, porque eu não farei com meu filho o que a minha mãe fez comigo, e correr o risco de ele ter um pai que o odeie pelo resto da vida. Além do mais, eu não estou abandonando trono nenhum. Eu não faço nada da minha vida mesmo, além de ser uma garota. E quando for a hora, você certamente encontrará um herdeiro do trono.

— Não acredito que foi capaz de...

— Não fiz isso de propósito. Aconteceu. E eu sei que haverá consequências se eu for. Mas elas não serão tão catastróficas quanto você acha. – eu me aproximei. – Eu sei que o senhor não é capaz de me amar. Nunca seremos uma família feliz. E eu não terei um casamento feliz. Nem poderei fazer grandes mudanças como rainha. Isso se eu ficar aqui...agora, se eu for... eu terei a chance de ser feliz como uma pessoa normal, e você poderá ficar satisfeito em escolher o futuro rei e não ter de olhar na minha cara nunca mais. Todos vão superar, inclusive a minha mãe. Só peço que pense no geral, e não no fato de você me deixar fugir. Pense em como a minha ausência trará mais coisas boas que ruins, em como você não me suporta... não seria bom se livrar de mim?

— Se livrar de você? Katherine, que tipo de homem acha que eu sou?

— o tipo que não consegue olhar na cara da filha bastarda.

— Isso... não é verdade.                                

— Mas é claro que é! Ande, não há  ninguém por perto. Pode dizer o quanto me despreza e o quanto me amaldiçoa por ser quem eu sou! Não precisa fingir.

— Katherine.... eu.... você está enganada. Não é assim que a vejo. Eu não a odeio, ou a desprezo. Muito pelo contrário. Eu me preocupo com a sua vida, e me corta o coração saber que você tem tanto ódio assim por mim.

— Ódio?! E o que eu poderia ter? Amor? Como se desde que descobriu a verdade, você nunca olhou para mim como se eu fosse gente? Como se me trata com hostilidade e não como...

— Katherine... Eu admito que na época que descobri, eu fiquei com muita raiva. Me senti traído, pelo amor da minha vida e pelo meu melhor amigo. Eu amava tanto a sua mãe... e ainda a amo. E quando soube de tudo, todo aquele amor que eu sentia por ela e por você, se juntou ao sentimento de traição e daí nasceu um ódio... mas com o tempo, eu me dei por mim  e percebi que sua mãe falava a verdade sobre ter sido fiel a mim desde que nos casamos. Me coloquei no lugar do seu pai e... percebi que teria feito a mesma coisa, se tivesse a oportunidade. Quanto a você, eu percebi que você era uma benção. Eu jamais poderia ter filhos, com a sua mãe e com mais ninguém. E no entanto, lá estava você, com seu vestido rosa e suas mãozinhas pequenas me chamando para brincar. Você foi um presente que eu recebi e não soube aproveitar. E quando percebi tudo isso, dois anos já haviam se passado e você já me olhava friamente. Eu temi que se tentasse me aproximar, você não iria me aceitar. E eu te perderia. Me acomodei no nosso acordo de parecer felizes para o povo e manter a distância dentro do palácio. E com os anos, eu aprendi a me limitar àquilo mesmo. Deixei de ser seu pai, deixei de receber seu afeto e de compartilhá-lo. Eu falo a verdade quando digo que me importo com você, Katherine. Mas sei que podia ter cultivado muito mais amor entre nós se não tivesse sido tão covarde.

— Você não pode estar falando sério! Nem o resgate dos piratas você pagou!

— Porque nossa guarda já estava no encalço dos piratas. Boatos se espalhavam nas vilas sobre você, e eu sabia que logo iríamos encontra-la. Eu queria ter pago desde o começo, mas sua mãe temeu que fossem te matar se o fizéssemos. Então esperamos, com o coração na mão. Eu não sei como me perdoar, agora que soube a impressão que tinha de mim. Jamais a odiei e jamais quis que você pensasse dessa forma. Mas você era uma criança, e se isso aconteceu, foi por minha culpa. Espero que um dia você possa me perdoar, Katherine.

Eu suspirei e me sentei num pufe ali perto. Estava ficando difícil de raciocinar quando tudo que você achava que era verdade, era apenas você exagerando e interpretando mal.

— Quanto à sua situação, não sei como você deixou isso acontecer. E acho que se eu tivesse sido mais presente as coisas poderiam ter sido diferentes. Portanto parte da culpa é minha. Agora, fugir não é uma opção. Você não está apenas deixando seus problemas para trás. Está deixando sua vida, sua identidade, sua família. 20 anos perdidos. Essa não pode ser a solução. Pense bem.

— Eu estou pensando. E não estou fazendo isso apenas para fugir dos meus problemas. Mas que futuro eu posso ter quando descobrirem a verdade? Que futuro eu posso dar para o meu filho? Não irei mentir para ninguém. E também... há esse rapaz, o pai do meu filho. Eu o amo e ele é a principal razão por eu estar fazendo isso. Para termos uma vida juntos e para ele poder criar o filho dele.

— Katherine, eu sei que é uma situação delicada. Mas pense na sua mãe. Ela amava seu pai. E ainda estava apaixonada com ele quando veio para cá. Ela criou você. Seu pai criou você, de certa forma. E você está aqui, você deu certo. Com alguns mal entendidos que podem facilmente ser corrigidos. Além de tudo, sua mãe encontrou uma vida feliz comigo, gosto de pensar que ela me ama também. Não é um futuro tão ruim. Pense nisso.

— Não. Não vou nem considerar mentir para o meu filho e para o príncipe. E não há como essa criança crescer com o verdadeiro pai, como eu cresci.

— Então falaremos com o príncipe, e ela terá um pai, mesmo que não seja o biológico.

— Não dá! Há muitas pessoas envolvidas! Meu filho, o pai dela, o príncipe, eu, o povo... eu não posso ficar aqui, ou alguém sairá perdendo. Se eu me for, todos teremos uma chance.

— Mas não é assim que se resolvem as coisas, Katherine.

— Você está generalizando! Essa é a única maneira que eu achei de....

— Katherine... oh, Kate... não precisa chorar, não se desespere. Vai acabar tudo bem, de alguma forma. Mantenha isso na cabeça e pense numa solução. Uma que não envolva abandonar seus deveres e seu povo.

— Mas como? Como posso fazer isso?

— Casando-se. Conte a verdade ao príncipe, se assim desejar. Ou encontraremos outro noivo, caso ele não aceite. Fale com o pai da criança, ele pode morar na vila e vir visitar o filho de vez em quando, discretamente. Todos ficarão bem e você poderá ser a rainha que foi treinada para ser.

Quando ele terminou, uma de suas mãos pousava em meus ombros, acolhedora. Ele me olhava nos olhos, pela primeira vez em muito tempo. No fundo eu sabia que ele tinha razão. Mas Gregory era u pirata, e um grande homem. Ele não merecia viver uma vida medíocre na vila, ansiando para ver seu filho vez ou outra no mês, apenas porque eu não podia me sacrificar como ele.

— Como posso exigir a ele que faça o sacrifício de mudar tudo, deixar tudo para trás, quando eu mesma me renego a este mesmo esforço? – Perguntei ao nada.

— Não pode. Isso deve ser um acordo. Se ele a ama também, ele deve entender que o seu sacrifício é muito maior. Você tem maiores responsabilidades.

— Eu... não sei. Não conseguiria fazer isso com ele. Isso...

— É algo que vocês dois devem resolver. Entre vocês.

— Está... me deixando sair?

— É a única coisa que posso fazer. Me doerá o coração se você resolver partir, agora que eu finalmente tenho a chance de ter minha filha de volta. Mas se sua escolha assim for, não há nada que eu possa fazer. Não a prenderei aqui. Mas confio em seu coração, e sei que tomará a decisão que é melhor para todos. Seja ela qual for. – Ele disse, calmamente e se aproximou a passos lentos.

Então se inclinou alguns centímetros e depositou um beijo em minha testa. Foi um tanto desajeitado, e uma surpresa para nós dois. Mas me fez ficar com os olhos marejados e observa-lo, atônita, enquanto ele dava as costas para mim e subia para seus aposentos.

Eu estava sozinha agora. Podia ir. Podia fugir. Mas então por que meu coração doía e eu continuava parada ali? Não sabia. Não sabia de nada, a não ser que eu tinha que ir ao porto, de um jeito ou de outro. Me obriguei então a correr até os estábulos e pegar minha égua, o mais silenciosamente possível. Logo estava cavalgando sob o luar, pelas ruas da vila, tentando fazer minha escolha. Eu não estava certa de nada, nem quando cheguei perto do navio e vi a grande silhueta de Gregory parado ao lado do navio, me olhando de volta. Foi apenas quando me aproximei e vi seus olhos sorrirem que sabia o que tinha de fazer.


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