1876 - O que o Dinheiro te Traz? escrita por Nonna


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

SOOOOOOOOOOOOOOOOLTA NEGADA!!!!
SENTIRAM MINHA FALTA?! EU TAMBÉM!!!
Como prometido, em resposta ao desafio, a leitora Laura Klein me propôs uma fic com Kakuzu e Hidan, a primeira da minha vida. Vira e mexe, eu procurei um plot pra o desafio e não achei, então... Veio a Luz '-'
Sim, veio a luz e me abduziu para o mundo das ideias. Lá, achei a outra Luz, que me disse o que escrever.
Lembram de Capitães de Sangue? (quem acompanha a page Sociedade Secreta dos Provadores de Gaspacho sabe do que falo e quem não acompanha, já fica aqui o convite) Então...
Eis o primeiro filler não programado! A fic nem tá no ar, mas já estou trazendo o Universo dela para vcs, para irem se ambientando e especulando.
Os personagens mencionados ao longo da fic fazem parte do enredo original, que em breve estará no Nyah.
Não tem lemon, pq a leitora não pediu lemon, mas tem treta '-'
E eu só digo uma coisa: guardem essa treta no coração de vcs, pq vão precisar dela no futuro.
Sem mais delongas
Vamo q vamo



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1876

 

As portas do enorme salão se abriram lentamente e Kakuzu passou por elas, puxando um enorme saco de estopa escuro que deixava um rastro claro de sangue pelo caminho. Todos os nobres que ali estavam se assustaram com a entrada repentina daquele alto, pele morena, marcada por inúmeras cicatrizes alongadas, algumas pelo rosto, outras escondidas pelas roupas garbosas de ex-militar francês. A sobrecasaca vermelha lhe caía muito bem, as senhoras concordavam, mas mal sabiam elas que o verdadeiro dono estava esquecido em algo vala afastada do condado.

Ao seu lado, atentos a qualquer movimento, dois cães Bull Terrier seguiam os passos do homem, quietos e com passos breves, de pêlos brancos. Se diferenciavam por causa da mancha negra em seus rostos, além das coleiras. Air, com uma mancha do lado esquerdo do rosto, e Fire, com uma mancha do lado direito do rosto, esses eram os cães dele.

—Kakuzu de Takigashire, você é o tipo de alma que somente o diabo gostaria de ter e nem mesmo a mais poderosa oração pode afastá-lo. Como uma tempestade ao longe, você vem e só podemos esperar passar. - um homem sentado entre almofadas, com várias pessoas ao seu redor lhe servindo e lhe fazendo carinhos, falou alto.

—Pague o que deve e prometo que não será mais que uma garoa. - ele rebateu, achando patético um homem gordo, e gordo era uma forma suave de apelidado, sentado entre tantos e precisando de tantos para bajulá-lo.

Alfas, quando não eram como animais sem coleira, eram patéticos seres humanos que se sentiam superiores. Por isso, sentia um prazer especial em arrancar fora a cabeça e genitália de alguns, só para mostrar que eles não eram tudo o que julgavam ser. Ele mesmo não sabia porque nascera alfa, mas se assim era, não havia nada o que fazer, apenas desfrutar das vantagens e sofrer com as desvantagens de sua raça permitia.

Lançou, no meio do salão, o saco de estoupa e ele se abriu. Cabeças rolaram de lá de dentro e o homem, aparentemente um exótico conde, gargalhou alto ao perceber que eram os rostos de seus inimigos ali mortos. Fez um gesto para seus serviçais e eles trouxeram as bolsas de ouro pelo pagamento da missão.

Kakuzu pegou-as, fez sinal para seus cães, e se dirigiu para as portas por onde passara. Os guerreiros impediram que ele passasse. Franziu o cenho e fitou o conde. Revirou os olhos ao perceber o aceno dele para que se aproximasse. Obedeceu, apenas porque queria ir embora.

—Fique um pouco, descanse, aproveite sua estada. Tenho alguns ômegas para você se divertir enquanto relaxa. Conte-me de suas aventuras. - ele aceitou, apenas porque sentia que tudo seria por conta daquele homem.

Enquanto vagava pelo castelo, observando a imponente construção ao seu redor, ele ainda se perguntava por que aceitara aquele trabalho patético de ir até a casa de uma mulher e arrancar a cabeça do marido dela e de seus filhos. Pouco lhe importou os motivos, pagaram-lhe para decepar uma família, então decepou uma família. Vagou pelos corredores, agradecido por não ter mais que ouvir um alfa inferior a si se exaltando sem parar, e não sabia bem para onde estava indo.

Seus cães dormiam no jardim, sob a sombra de uma frondosa figueira, enquanto dois ômegas serviçais os vigiavam. Já era noite e parecia que haveria alguma festividade naquele lugar, pois as pessoas estavam para lá e para cá, carregando decorações, bandejas de comidas, e outras parafernálias. Acabou por seguir o contingente e chegou em um enorme salão cheio de tecidos nas paredes, almofadas e tapetes pelo chão. Havia ômegas demais naquele lugar e betas de menos, isso causava, sem sombra de dúvidas, uma instabilidade no ar.

O conde estava ali e naquele instante Kakuzu entendeu o porquê de haver tantos ômegas exalando seus feromônios ao mesmo tempo: um harém. Sentiu seu corpo pesar e seus instintos gritarem em resposta àquela afronta, mas não se deixou levar. Tinha manter-se calmo apenas por alguns momentos, depois poderia pegar qualquer daqueles ômegas e ir se “aliviar” em algum quarto do castelo.

Sentou-se perto do conde porque ele o chamara. O alfa lhe dissera que seu harém iria se apresentar naquela noite em comemoração ao ocorrido, isto é, ao fato de Kakuzu ter cumprido sua missão e a ômega fugitiva ter morrido. Ele apenas ouviu: uma ômega do harém, chamada de Hari, apaixonara-se por um de seus guardas alfas e os dois escaparam antes que o conde soubesse de algo.

O alfa ficara tão furioso com a fuga da mulher que decidira dar-lhe a pior morte que um ômega poderia receber. Soube que ela fora marcada pelo guarda e por isso contratara Kakuzu para matá-lo e, assim, fazê-la sofrer e agonizar até a morte pelo rompimento da marca. Realmente, uma morte brutal e doentia, pensou Kakuzu, sorrindo discretamente.

—Ouvi dizer que é caçado em mais de trinta condados, dentro e fora deste país, meu caro. - o outro apenas assentiu, de leve, sem muito interesse no diálogo, ocupando sua boca com bebida para não ter que falar. - Faz qualquer coisa por dinheiro, até as atrocidades mais horríveis que se tem notícia. Acaso não tens sentimentos?

—Se eu tivesse, senhor, não seria um mercenário. - rebateu, com toda a indiferença que sua voz de alfa permitia. O conde riu alto, gargalhando e se sacudindo todo sobre as almofadas, obrigando os ômegas ao seu redor a rirem também.

—Gosto do teu bom humor. Posso oferecer-te um presente, Kakuzu? - os dois se fitaram. Com um aceno, um dos ômegas do harém se aproximou, submisso. - Aproveite esta noite com o meu mais vulgar escravo. Ele fará tudo o que desejares.

Kakuzu franziu o cenho ao segurar na mão do tal e segui-lo por uma das portas escondidas pelos tecidos do salão. Pelo cheiro, obviamente, era um ômega masculino, mas por sua postura e sua vestes, mais parecia uma mulher. Os cabelos longos cinza, quase prateados, caíam sobre os ombros e deslizavam pelas costas, soltos. Usava uma modelo de vestido liso vermelho, com uma enorme fenda lateral e um abusivo decote nas costas.

Os dois entraram em um quarto e Kakuzu foi sentar-se na cama, enquanto observava o ômega dançar como uma serpente, parecia estar bêbado ou envolvido em um transe iniciado pela música que ainda era ouvida.

Não disseram nada, apenas se entregaram à loucura do ato sexual. Foi feroz, selvagem, como animais que apenas pensavam em satisfazer o desejo carnal. Quando a sanidade retornou às suas mentes, os dois se mantiveram em silêncio, sentados na cama, observando-se, como se sentissem que, de alguma forma sobrenatural, se conheciam.

—O que tanto olha? - o ômega perguntou, esticando-se até o criado-mudo perto da cama para buscar, nas gavetas, um pequeno recipiente metálico, onde haviam cigarros de cor preto.

Kakuzu não se intimidou, continuou observando o outro em seu ato tranquilo de fumar, tentando entender o que se passara naquelas horas. Não era um ômega normal e desta raça, o alfa entendia bem, principalmente no tocante ao sexo. Havia tempos que não se sentia tão curioso em relação a alguém.

—Se não parar de ficar me encarando como um patético alfa nojento, eu vou furar seus olhos. - o outro falou, irritado, e Kakuzu desatinou a rir, satisfeito com o linguajar.

—Língua afiada. - ele disse e o outro estranhou. - Teu nome?

—Hidan. - respondeu, concentrando-se em seu cigarro.

—Kakuzu. - o outro comentou, mesmo que não lhe fosse questionado.

Hidan arregalou os olhos.

—O mercenário? - assentiu. - Eu soube de suas peripécias. - zombou.

—Peripécias?

—Não é qualquer um que incita o ódio de Konohashire e ainda consegue subornar o juíz de lá, para sair pela porta da frente como um fajuto homem inocente. - deu de ombro, com desdém, enquanto Kakuzu gargalhava. - Ouvi dizer que rico é pouco para definir o seu status de fortuna. Que na verdade você é maldito homem enterrado em dinheiro.

—Sou. - disse simplesmente.

—Sorte do ômega que for seu.

—Não tenho ômega algum, por bênçãos dos céus. - rebateu a zombaria e Hidan acabou por rir folgadamente.

—Você é o alfa mais estranho do mundo. Todo alfa deseja ter um ômega porque é uma coisa biológica. - terminou seu cigarro e saiu da cama. - Não quer marcar um para si?

—Não achei o certo para o meu estilo. - Kakuzu ficou avaliando aquele corpo cheio das marcas do ato selvagem que se findara há quase meia hora e sorriu de lado. Sentia seu corpo emitir os impulsos novamente a cada movimento de Hidan. Ele era sensual sem perceber.

—E existe um ômega que sirva para ser o par de um mercenário feito você? - Hidan colocou as mãos na cintura e virou de frente, encarando provocamente o alfa.

—Talvez seja tu o ômega adequado para mim. - Hidan arregalou os olhos e sorriu safadamente ao se deparar com a nudez de Kakuzu. - Deixe-me tirar a prova.

—Eu faço parte de um harém, caso não se lembre, meu nobre mercenário.

Engatinhou sobre a cama e se curvou sobre o corpo do outro, começando a felação sem que fosse necessário que o alfa dissesse: estava explícito em seu olhar. Hidan tinha um corpo que incitava ao mais profundo desejo primitivo de cópula, os olhos violetas cintilavam para si a cada movimento da cabeça, os cabelos derramavam-se sobre as costas nuas, revelando um símbolo grafado em suas costas.

Um triângulo invertido circundado. Kakuzu lambeu os lábios e arfou alto, lembrando-se do que significava aquele símbolo. Não era à toa que Hidan era um ômega qualquer, tampouco não era à toa que estava pensando em comprá-lo. Achara seu ômega perfeito.

Pela manhã, depois de banhar-se, alimentar-se, verificar como estava seus animais, Kakuzu procurou o conde. Não era de ficar obsessivo ou gastar dinheiro com situações assim, mas Hidan valia a troca. Sentira, durante a noite, que seu poder de alfa crescia ao estar perto do ômega, sentia-se mais forte, mais voraz, mais perigoso e, para sua profissão, era perfeito. Ter mais poder era tudo o que precisava para se impor.

Segurando as sacolas com todo o ouro que recebera de seu trabalho - bastante ouro, o que causava uma mistura de remorso, por estar gastando demais, e altivez, por saber que o conde não negaria - Kakuzu chegou até a sala onde o conde deveria estar com seu harém. Quase que atirou sua espada contra a pança sobressalente ao se deparar com a cena de um ômega cavalgando em seu colo enquanto outros se masturbavam.

—Oh, Kakuzu, deseja se unir a nós? - ele lambeu os lábios e apertou desnecessariamente forte o seio de uma ômega.

Todos aqueles carregavam coleiras de ferro no pescoço: era o símbolo da escravidão do harém, que não era tão baixa quanto se parecia, e a garantia que nenhum ômega fosse mordido durante o ato sexual sem ser da vontade do alfa.

—Não. - falou, impassível. - Desejo comprar um de seus escravos sexuais.

O conde arregalou os olhos e empurrou bruscamente o ômega que estava sobre si. Ele viu os sacos de ouro e sorriu, ambicioso. Kakuzu revirou os olhos, em puro escárnio: todo homem e toda mulher tinha seu preço.

—Em qual está interessado? - o conde envolveu sua cintura com um lençol e observou seus escravos se acomodarem num canto do quarto, amontoados.

Kakuzu apontou para o ômega de longos cabelos prateados. Hidan não conseguiu segurar seu sorriso quando o conde pegou as bolsas e assentiu, mandando que um de seus servos fosse buscar o documento de venda. Aliás, ele riu alto, doentio, ao se perceber livre daquele monstro de banha e nojenteza. Livre, finalmente.

Saíram dali depois do almoço, quando tudo ficou acertado. O conde nem mesmo titubeou para entregar Hidan para si, não que Kakuzu visse isso como um problema, era até esperado, afinal, todo homem e toda mulher tinha seu preço. Foi embora daquele lugar com Hidan na garupa de seu cavalo.

Não levara nada e nem queria. Trocara suas vestes finas e deslumbrantes de mulher por uma calça até a altura dos joelhos e um camisão qualquer que lhe deram. Não sentiria falta de nada: gostava de sexo, gostava das roupas e da riqueza, mas nada disso valia a sua liberdade e o respeito que tinha em ser ômega. Mesmo sabendo que existia para servir aos desejos de um alfa, Hidan tinha respeito sobre si mesmo. Nascera para ser de um alfa e não para dividi-lo com tantos outros, como uma corja de cães.

Seguiram por duas horas a cavalo até uma estalagem, onde foram se acomodar. Como mercenário, Kakuzu tinha um lugar onde guardava e escondia suas finanças, mas costumava viver tal e qual um andarilho bem vestido, para nunca ser capturado. No quarto alugado, o alfa explicou de maneira breve como era a sua vida e como seriam as coisas daqueles dias em diante para Hidan, enquanto este último reduzia seus longos cabelos a um tamanho mais curto e de aparência mais masculina para si.

Não era mais concubina, não tinha mais porque cuidar-se como uma, comportar-se como uma, ter a aparência de uma. Kakuzu lhe deu as roupas que queria, num estilo que exaltava sua masculinidade pessoal, seu corpo, sua força de ômega e isso o satisfez. Finalmente, alguém que ouvia seus caprichos.

Uns meses depois, algo como dois anos, o ômega foi marcado durante um de seus cios e agora eram um bom casal, viviam juntos e seguiam com aquela carreira de mercenários, além de criarem um novo negócio: aproveitarem os corpos daqueles que eram mortos, pois apenas a cabeça era enviada de volta ao contratante para comprovar a morte.

Haviam compradores, pagavam bastante pelos corpos, principalmente universidades que se voltavam para a pesquisa humana e patológica. Hospitais também pagavam um bom preço por aqueles pedaços de carne sem vida e sem sentido. Estava num mar de dinheiro e tudo graças a Hidan. Quem diria que sua parceria iria dar tão certo assim?

Em outra estalagem, num pequeno vilarejo perto de Takigashire, Kakuzu e Hidan descansavam de mais um dia de “trabalho”.

—O que houve com a sua aldeia? - Kakuzu terminava de limpar suas armas, principalmente suas pistolas para garantir o bom funcionamento delas. Hidan terminava de lavar as roupas, que haviam sido manchadas pelo sangue, numa bacia perto do banheiro e fitou-o. Era uma das poucas tarefas que o alfa lhe “obrigava” a fazer, pois conhecia bem como livrar os tecidos do cheiro intenso que o sangue deixava.

—Como assim? - ele pendurou as poucas peças em um varal improvisado perto das janelas e sentou-se na cama, para fitar o rosto de Kakuzu. O alfa esticou o braço para tocar o ponto que havia nas costas dele. - Ah… Fala disso...

—Eu sei não sei o que esconde em sua bolsa, nem o que faz toda madrugada, antes do nascer do sol, mas algo me diz que tem haver com a sua antiga aldeia. - ele explicou a sua curiosidade, antes que o outro se ofendesse.

—Bom… Não é nada. Não significa nada. - Hidan respondeu, dando de ombros. - Não se preocupe com nada, apenas deixe.

O outro assentiu, acreditando que aquilo fora um desvio. Se Hidan não queria lhe dizer nada, então não iria perturbá-lo mais, não por agora, mas ele iria averiguar a origem de seu ômega, para garantir que futuros problemas não acontecessem. Este era o grande problema de se ser um mercenários de seu estilo: as autoridades buscavam todos os meios para atingi-lo.

Pela noite, enquanto se organizavam para partir logo pela manhã, Kakuzu notou uma estranha movimentação pela estalagem. Da porta, investigou o ar, respirando fundo, notando que haviam odores diferentes. Concentrou-se por alguns instantes e percebeu as presenças de dois soldados alfas e de quatro betas. Fitou seu ômega.

—São de Amegashire. - ele disse, já terminando de aprontar a sua bolsa para a fuga. Kakuzu sorriu para sua atitude e ambos foram para a janela. - Apenas batedores. Estão aqui para nos atrasar, para que os cães de Konohashire cheguem.

—Típico. Mandam os peões primeiros e os verdadeiros soldados depois. - Kakuzu tinha um sorriso sádico nos lábios, enquanto descia rapidamente a parede da estalagem e Hidan vinha logo em seguida.

Os dois correram para o estábulo e dali, a cavalo, partiram pela estrada. Seus cães vinham logo em seguida, quietos, pois haviam sido treinados para latir sob a circunstância de ameaça ou de ordem. O alfa ouviu o trote de outros cavalos. Começara a caçada.

Seus cães foram os primeiros a serem assassinados com disparos das espingardas dos soldados. Kakuzu praticamente rosnou por ver seus animais, as poucas coisas que amava e não estavam resumidas às suas posses, caírem, um a um, mortos. Hidan segurou-se com mais força no corpo do alfa e fitou suas costas. Maldito era ele: colocava-o sempre as suas costas para o proteger de ataques. Pois se morresse, levaria o maldito junto.

Kakuzu fitou rapidamente suas costas e, naquele instante, não percebeu o obstáculo a sua frente, não percebeu que uma criatura se elevava lentamente das sombras da terra e que este ser fez seu cavalo, tal como os outros, assustarem-se, relincharem alto e derrubarem seus mestres no chão. Tanto os soldados, quanto o casal, caíram na estrada de terra. Os soldados se atordoaram, mas Kakuzu e Hidan logo estavam de pé, correndo pela mata.

A criatura, vendo todos aqueles mortais se gritarem e se mexerem, rumou para dentro da floresta, caçando aqueles primeiros que fugiram. Os soldados vieram logo depois, mas de nada sabiam e tampouco podiam perceber. A mata estava quieta, deixava apenas que os sons de seus intrusos ecoassem pelo ambiente, atraindo novos caçadores, aqueles que eram alimentados pela vida da lua e pelas fragrâncias da noite, caçadores vorazes como sombras enviadas pelo próprio diabo.

Hidan obrigava suas pernas a acompanharem o ritmo frenético de Kakuzu. Não recebera o treinamento militar que antigo sargento do exército de Takigashira tive, mas passara a vida inteira fugindo até ser capturado, aos 15 anos, pelo conde que lhe fizera concubina, por isso estava aguentando, mas sabia que não seria por muito tempo. De relance, fitou os homens que vinham logo atrás de si e tropeçou numa raiz.

Rolou pela terra, mas já desembainhou a adaga que trazia escondida em seu casaco, preparando-se para se defender dos dois betas que se aproximavam. Não podia perder a calma ou isso atrapalharia os sentidos de seu alfa e, assim, prejudicaria sua habilidade em batalha. Os dois alfas se propuseram a atacar, mas foram impedidos por Kakuzu, que defendeu Hidan com sua própria espada.

Os alfas rosnaram entre si, ferozes, e Hidan afastou-se mais, para defender a retaguarda de Kakuzu dos betas que o circundavam. A batalha se iniciou com o primeiro movimento de um dos alfas, ledo engano: este era o único desejo do mercenário, que os alfas perdessem a oportunidade do ataque surpresa. Como tática básica, afastou-se o suficiente para lutar isoladamente com os betas enquanto os alfas se ocupariam de Hidan.

Foi difícil, mas golpe a golpe, os betas tiveram suas vidas retiradas pela loucura e pela habilidade de Kakuzu. Ao passo de poucos minutos, só haviam os alfas lutando contra o ômega, que pouco a pouco perdia suas forças. Não aguentaria muito tempo. A presença e a força daquelas eram, obviamente, superiores as dele.

Arfou, cansado. Só tinha um meio de ganhar tempo para Kakuzu. Hidan se defendeu de um golpe e rolou pela grama alta, até ficar a quase um metro de distância dos seu adversários, colocou-se lentamente de pé, sorrindo de lado como se de algo soubesse, e retirou lentamente seu casaco, movendo-se com estranha sensualidade.

Os alfas pararam com suas espadas brandindo no ar. Hidan viu as pupilas de seus olhos dilatarem com cada gesto de seu corpo, sorriu de forma ousada, sentindo seus olhos cintilarem sob a luz da lua, e, então, encheu o peito de ar para soltá-lo devagar. Sentiu sua presença se expandir e se espalhar, como uma brisa suave de primavera. Rosas, o cheiro que emanava era das mais doces e cativantes rosas.

Hidan sorriu mais ao ver os alfas soltarem suas espadas na grama, respirando forte e alto, como se estivessem entrando em um transe. Ele sentia as presenças perderem seus tons agressivos, de pleno ataque, para se tornarem a mercê da sua. Diminuiu o sorriso e começou a dar passos de uma antiga dança, há muito perdida, passando as mãos por seu corpo, como se ousasse se oferecer. Girava, pisava leve na grama, sacudia os braços de maneira harmônica e controlava a respiração, enviando ondas de sua presença carregada de feromônios cada vez mais contra o corpo daqueles.

Kakuzu enfiou sua espada no peito do último beta e arfou, sentindo seu corpo queimar. A adrenalina da batalha sempre levava seu corpo ao máximo, tal como acontecia quando tinha sexo com Hidan, mas, por sorte, o ômega não lhe tomava as forças, como no ato. A mente do ômega estava concentrada, emanava sensações de controle e de determinação.

Fitou-o e se deparou com ele dançando tal como os selvagens que vira nas terras longínquas quando era do exército. Não compreendeu o significado daquilo, mas se sobressaltou quando os soldados alfas começaram a lutar entre si tal e qual animais lutando por uma fêmea. Segurando firmemente sua espada, correu até lá e desferiu o primeiro golpe no alfa que fora derrubado no chão pelo outro.

—É meu!!! - gritou, rosnando tal e qual um leão. - Meu ômega!!!

Aquelas palavras foram como chama em brasa pura na mente de Kakuzu. Outro alfa reclamando o ômega que era seu? A marca pulsou em seu pescoço, algo borbulhou em seu estômago e estourou, fazendo toda a sanidade do alfa desaparecer com o vento.

—É meu ômega!!! - ele gritou ainda mais alto, ainda mais bestial. - Meu!!!

Hidan caiu por terra, surpreso, vendo e sentindo a loucura de seu alfa ao atacar o outro, num combate cego, usando os próprios punhos para destroçar o corpo do outro. Não era bem isso o que queria ao usar o seu dom, mas nunca o aplicara num alfa marcado, não era sua intenção que Kakuzu fosse afetado assim. Nunca tinha visto dois alfas lutarem de maneira tal selvagem em toda a sua vida.

Não o parou, incitou-o a seguir com o ataque, emitindo mais de sua presença para atiçar o lado protetor do alfa. No fim, Kakuzu sufocou o outro até que a vida lhe escapasse por entre os lábios, num grito mudo de morte. Os dois arfaram juntos, sentindo, pela marca, o peso que toda a situação causara.

—O que aconteceu aqui, Hidan? - Kakuzu se levantou com dificuldade. Seu corpo inteiro pesava, como se tivesse acabado de sair de uma sufocante caverna. - O que você fez?

Os dois caminharam lentamente saindo da clareira onde a batalha acontecera para o meio da floresta. Hidan sentia-se levemente tonto, ofegante e sabia por que: Kakuzu se esforçava para não afetá-lo, controlando a sua mente. Sentaram-se num tronco caído para descansar. Agora sabia o tamanho do desgaste que seu poder causava.

—Eu… - Hidan retirou de sua bolsa um cantil com água fria e ofereceu a ele. - Eu sou de uma aldeia que não existe mais. Foi destruída, há muito tempo, e os poucos que restaram se dispersaram pelo mundo. Não tenho mais nenhum parente vivo, mas… A minha mãe me ensinou tudo o que sei para sobreviver…

—Do que fala? - ele franziu o cenho, sem compreender.

—Venho de uma aldeia que em que só nasciam ômegas, nem alfas e nem betas, só ômegas, masculinos e femininos. Era por causa da Senhora. - sentou-se no chão, entre as pernas de Kakuzu, observando as próprias mãos. - Minha mãe dizia que era por causa dela. Nunca entendi essa lenda, apenas dizia que a Senhora decidia o destino dos ômegas do mundo e escolhera a nossa aldeia para ser o seu relicário mais sagrado. Os ômegas mais perfeitos do mundo nasceriam ali.

—Mas o que isso tudo tem haver com o que aconteceu ali?

—Os ômegas perfeitos eram aqueles que nunca se subjugariam aos seus alfas. - ele continuou, sentindo-se repentinamente nervoso e sabia que Kakuzu perceberia. - Teriam o poder de vencê-los com sua capacidade ômega. - os dois se fitaram. - A marca em minhas costas indica que sou um dos ômegas escolhidos pela Senhora. Minha mãe me ensinou este dom. Usar minha presença, meu cheiro e meu corpo para fazer os alfas perderem a cordura e agirem como as feras que são. E foi isso o que fiz.

Kakuzu arregalou seus olhos, deixando-os ainda mais verdes do que já eram de fato eram.

—Isso é… - ele se ergueu, caminhando de um lado para o outro, com as mãos alternando entre os seus cabelos e a sua cintura. Hidan sentiu o que estava por vir. Era algo parecido com o medo, mas não o era de fato. - Bruxaria! - acusou.

—Não! Por Deus, Kakuzu!

—Não me troque por tolo, Hidan. Eu sei bem que capacidade é esta. É bruxaria, seu doente! - parou de andar e observou as matas. Havia um cheiro diferente no ar. - Vai atrair os cães atrás de nós… Eu já sou caçado por todos os condados, Hidan, mas Konohashire… Não… Você sabe o que aqueles malditos sangue-azuis têm?

—Eu sei! - ele se ergueu da grama e foi até o outro, segurando-o pelos ombros. - Não é bruxaria, Kakuzu. - olhou-o em seus olhos. - É minha capacidade natural, tal como vocês alfas são dotados de maior força quando perto dos ômegas. - Hidan segurou seu rosto entre suas mãos e aproximou os lábios dos seus. - Não é bruxaria…

Selou suas palavras com aquele delicado beijo. Demoraria para que o alfa acreditasse que aquilo era mera manipulação de seu próprio corpo, mas iria convencê-lo. Sua aldeia fora devastada por essa incompreensão, não permitiria que o seu alfa passasse por tal distorção. Esperou muito tempo para se ver livre daqueles medos, não iria ser atormentado por eles de novo. Não com Kakuzu.

O alfa segurou as mãos que estavam em seu rosto e deu um novo beijo naqueles lábios que tanto apreciava. Tinha que confiar. Os dois dividiam muito mais que uma vida, dividiam uma alma - e seria Hidan o mais prejudicado com aquela marca - então precisava confiar nele. Assentiu, discretamente, aspirou o ar de novo.

Aquele cheiro… Não o reconhecia sob nenhuma hipótese, mas não julgava ser boa coisa. Observou as árvores e as folhas. As sombras da noite serpenteavam por toda a floresta. Não estava certo. Havia algo ali. Seu instinto protetor dizia isso, por isso trouxe Hidan para mais perto de si e usou seu resto de energia para aguçar os sentidos.

Ouviu um grito cortando o silêncio da mata e os dois deram passos trôpegos para trás. Era noite de lua cheia, a pior de todas para fugirem. Kakuzu cometera um erro fatal e só agora percebia. Nem saberia dizer se havia alguma chance de escapar.

As sombras moveram-se com o novo grito e tomaram forma. Era a criatura. Os dois pensaram em correr, mas seus corpos estavam estagnados ali pelo medo irracional, o instinto de sobrevivência lutava contra o terror, mas perdia a batalha.

O ser arrastava-se pelas folhagens, arrancando tufos grossos da terra, enquanto se aproximava, silvando como se algo metálico se chocasse e deslizasse bruscamente contra o chão. O som era de causar dor e náuseas. Os dois foram ao chão assim que a criatura estava a quase dez passos de distância. Sentiam que morreriam.

Como uma coruja prestes a capturar sua presa, a criatura ergue-se da terra, abrindo seus raquíticos braços na posição de cruz e escancarou a boca desdentada. Viram os pulmões vazios se encherem de ar, os cabelos longos revoarem-se no ar como se tivessem vida e toda a floresta silenciar. Era o último respiro antes do mergulho profundo, a pausa breve antes da sinfonia da morte.

Esperaram, mas não veio. Hidan, que não fechara seus olhos em momento algum, vislumbrou outra sombra surgir diante daquela que iria os matar. Esta empunhava duas espadas que cortaram o ar num movimento de X. A criatura não bradou, mas debateu-se como louca até desaparecer, em cinzas.

Os dois arfaram, retomando o controle sobre o corpo. Aquele espadachim embainhou suas armas e se voltou para os dois ali caídos. Hidan nunca esqueceu aquelas características raras: longos cabelos negros, que iam muito além dos ombros, olhos vermelhos como duas joias e duas espadas brilhantes. Era um homem vestido de negro e com o rosto coberto pela gola alta da camisa que usava, ajustada adequadamente ao rosto.

—Quem é você? - questionou Kakuzu, segurando sua própria arma. Não sabia dizer o que era aquilo diante de si. Sabia que era um homem, mas não sabia se era alfa, beta ou ômega. Não sentia nada. Era como se encarasse um fantasma.

O homem nada disse, apenas buscou uma cartola caída no chão, colocou-a sobre a cabeça e foi embora, caminhando com elegância pela mata.

—Obrigado! - gritou Hidan e o homem, que agora lhe aparentava ser tão jovem quanto si próprio, parou a marcha para se voltar suavemente para o ômega. - Obrigado. - repetiu. - Salvou nossas vidas.

Ele tocou a aba da cartola e num gesto discreto, fez um cumprimento, para então ir embora.

Tal como surgira, ele desapareceu nas sombras da noite.

—O que diabo…? - Kakuzu encarou Hidan.

—Talvez eu seja tão bruxo quanto aquele homem, que convenientemente apareceu para nós como névoa, salvo-nos e assim desapareceu. - desdenhou. - Este dia está uma merda.

—Nem me fale… - resmungou. - Vamos embora desse lugar antes que o próprio diabo apareça.

—Se aquele que nos salvou não for ele. - começaram a caminhar, dessa vez, mais cuidadosos. - Viu os olhos dele? Vermelhos!

—Ótimo. Salvos por Satã. - revirou os olhos e trouxe Hidan para mais perto de si. - Minha vida se tornou bem mais conturbada depois que te marquei. Este tipo de coisa nunca aconteceu antes comigo, e já passei por toda classe de situação.

O outro passou um braço pela cintura do maior e sorriu.

—Arrepende-se? - questionou, depois de alguns minutos em silêncio.

—A que te referes?

—De ter me marcado.

—Mas foi você que me deixou fazer isso. - Hidan acabou rindo. - Arrepende-se?

—Não tenho certeza… Mas pior não pode ficar, concorda?

—De fato, de fato.

Seguiram para a estrada, sem muito pensar no que havia se passado. Por hora, apenas queriam um quarto para descansar e dias para seguir em frente. Não haveriam de se assustar, afinal, o que era mais um dia na vida de um casal de mercenários?


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Notas finais do capítulo

O que acharam, hein? Pra o meu primeiro KakuHida?
Ficou bom, mais ou menos, regular? Ruim? :''')
Laura, querida, não sei seu nickname aqui no Nyah, mas quero me conte se gostou da fic, se alcancei suas expectativas. - eu espero que sim, seriozão.
Quem será esse personagem misterioso que salvou o nosso casal? Huuummmmm sabor de treta é tão bom.
Espero vcs nos comentários!



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