Jack estava a ponto de atirar naquele maldito apetrecho que insistia em apontar para a cabine principal do navio. Desde que seu destino novamente fora interligado ao de Moira em Port Royal, a bússola especial não parava de apontar para as direções que o levaria até a moça, e por mais que tentasse se convencer de que aquilo só acontecia porque ela era uma fonte de lucro, já que era filha adotiva de um governador ou por ser uma semideusa, Sparrow sabia que não era esses os verdadeiros motivos que influenciava a bússola. Ter que admitir que ela havia o ganho, era no mínimo perturbador. Ele tinha seus motivos para não se prender a nenhuma mulher; O mar. Mas o que fazer quando o mar de fato, era uma mulher?

   —  Capitão — Gibbs tirou Sparrow de seu dilema. — Os homens estão amedrontados depois do ataque e estão decididos a desertarem.

    — Não posso culpá-los — A resposta do capitão causou surpresa ao seu imediato, que o olhava confuso — Se não conseguem ao menos prever um ataque no silêncio da noite, como vão sobreviver contra a marinha?

    Joshamee precisava concordar que não foram capazes de notar nada fora do comum até acordarem algum tempo depois amarrados e feridos. Durante a madrugada Jack contou a ele o que  havia os abordado, e uma grande preocupação surgiu uma vez em que Rivera havia fugido, mas não antes de deixar claro que sua peleja com Moira ainda não havia chegado ao fim. Por isso ficava impossível para Gibbs entender os motivos de Sparrow para não se apavorar com a decisão de seus tripulantes.

  — Jack, algo o incomoda? — Perguntou curioso.

   — Acho que estou louco.

   — Por que diz isso capitão? — Joshamee mostra-se intrigado.

    — Sabe Gibbs, durante anos acreditei que os arrepios fossem o limite em que um homem como eu pudesse sentir, se tratando do sexo oposto, e eu estava certo. Nada além disso tem uma lógica aceitável ou resquícios de sanidade. Sendo assim-

     — O senhor está amando — Joshamee o interrompeu com um sorriso animado.

     — Não, estou louco. Não ouviu o que acabei de dizer? 

      A observação de Sparrow não fazia sentido algum, mas como isso nunca foi uma novidade para o velho imediato, não foi algo que lhe causasse espanto. 

      A conversa não se estendeu, pois quando olhou por trás dos ombros de seu imediato, viu a presença da bela garota no convés. 

    Após fitar a direção do sol para identificar as horas em que já estavam, ela seguiu um tanto apreensiva até Sparrow e Joshamee.

    Quando saiu da cabine naquela manhã, Moira desejava não de deparar com Jack pelo convés, não sabia como se portar após os acontecimentos entre ela e o pirata na noite anterior, e agora tinha lembranças dos beijos trocados em Tortuga, havia falhado em manter sua promessa, e em todas as vezes houvera sido com Sparrow, temia em saber o que aquilo poderia significar. Como não podia evitar, acabou o vendo junto a Gibbs na escada a esquerda da popa do navio, e então resolveu se juntar a eles.

   — Bom dia senhores, como estão todos?   — Moira perguntou  aos companheiros observando alguns olhares voltados para ela.

   — Menos encorajados que  ontem, mais do que estarão amanhã, como pode ver, Mô, a visita da salamandra do mar deixou sua marca — Jack respondeu mantendo ainda sua atenção na bússola.

     — Bom dia senhorita Brodbeck  — O velho respondeu   — Eu estava dizendo ao capitão que a maré está ficando agitada nesta nau dos Deuses, a tripulação pretende nos abandonar.

     Ela então suspirou em falso cansaço e prontamente deu sua ordem, deixando Gibbs tão atônito quanto seu capitão havia o deixado.

           — Deixe-os ir, se Barbossa nos quer nessa guerra, que nos dê uma tripulação.

            — Maldição!   — Jack praguejou sacudindo o objeto e chamando a atenção da garota. Porém antes que ela viesse a perguntar algo, ele mostrou estar prestando atenção a conversa  — Não é muito inteligente confiar a Barbossa nosso apoio.

             — Pelo menos estou pensando em algo ao invés de ficar brincando com uma bússola como você está  — Moira retrucou cruzando os braços. — Além do mais, depois de tudo que sofreram nas mão de Daniel, talvez partir lhes darão uma chance de sobreviver.

     Gibbs e Jack se entreolharam, era algo notável como a pirata tinha um coração bom, bom até demais para se viver entre homens como eles, e sua compaixão poderia se tornar um problema durante a batalha.

     — São piratas Moira, o que aconteceu com eles foi apenas resultado de suas escolhas. Se morrerem não será culpa sua — A conclusão do imediato fez a jovem franzir o cenho.

     — E suponho que concorde com ele — Brodbeck fitou Jack

     — Em cada palavra amor — Sorriu — Porém, ao contrário de você, prefiro ter esses idiotas ao nosso lado a correr o risco de sermos vítimas de motim graças aos aliando de Hector. — Ele se ajeitou e deu alguns passos    — Pegue, fique com isto — Entregou para Moira sua bússola em desdém.

   — Por que? 

     — Está quebrada — Sparrow passou pela jovem seguindo para outra área do Úrsula. 

     Brodbeck ficou curiosa e então abriu o objetivo, após girar algumas vezes o ponteiro da bússola parou na direção em que Jack estava a indagar com alguns marujos. Ela fechou o apetrecho de navegação e novamente o abriu, causando o mesmo resultado.

        — Essa coisa realmente está quebrada! — Exclamou em irritação.

     — Temos companhia! — Um dos homens que estava no cesto da Gávea alertou a tripulação.

     A semideusa logo se juntou a amurada do Úrsula e com a luneta reconheceu que os homens que chegava a praia faziam parte da tripulação de Barbossa.  Sparrow se aproximou dela, e também observando aquela chegada.

     — Não esperava que Hector ficaria apenas com a sua palavra de que me juntaria a ele contra a marinha ou sim? 

    Ela fitou o pirata de dreads e então revirou os olhos. Sparrow estava certo, Barbossa não iria ficar apenas esperando que Moira cumprisse sua palavra, então estava claro que foram seguidos 

    — — — 

       A semideusa e o capitão foram escoltados até outra parte isolada da praia, onde Hector em companhia de alguns subordinados os aguardavam. Eles ficaram receosos com local escolhido pelo velho capitão, mas se precisavam de respostas, teriam que dançar conforme a música.

     — É um ótimo lugar para ancorar, mas não por tempo suficiente para não ser descoberto — Barbossa soltou suas primeiras palavras a eles.

    — Tínhamos um acordo, não havia necessidade de mandar seus homens — Brodbeck retrucou.

     — E confiar na  palavra de uma aliada do Sparrow? — Ele gargalhou.

    — A propósito, eu estou aqui, isso não quer dizer que ela é um homem de palavra? Quer dizer, uma mulher? 

      Jack á defendeu, mas devido às circunstâncias em que foram abordados, resistir poderia ser um erro. Estavam em maior número, mas ainda se recuperando do ataque da noite anterior.

      — Seja como for, a minha parte da barganha está feita, agora preciso que faça a sua.

    — Oh não, senhorita Jones, para que eu possa cumprir o prometido, terei que ter total certeza de que não serei ludibriado novamente.

    — C-como?! Não foi isso que combinamos! — A moça se exaltou e deu passos à frente, porém foi contida quando várias pistolas foram direcionadas para si.

     Jack riu da situação, até ter o olhar mortal da semideusa voltado para si. 

     — Bem, ela não tem a menor habilidade em barganha e o senhor se aproveitou disso como o bom pirata que é, meus parabéns. Mas, ainda queremos saber quais são os seus planos contra a marinha — O capitão de dreads se adiantou.

   Com um sorriso vitorioso, Hector lhe deu a resposta que mais parecia ser uma piada de taberna.

     — Vamos reunir novamente a Corte da Irmandade.

      O silêncio se instalou entre eles por alguns instantes, até ser quebrado pela presença feminina.

      — A Côrte da Irmandade se desfez após a liberdade de Calipso e fim da guerra com Lorde Carter Beckett, como isso seria possível?

       — Hector, Hector, vejo que o desespero o cegou amigo — Sparrow debochou — A côrte foi criada com um propósito apenas, e esse não existe mais.

        — Está certo Jack, ela foi criada em um momento de desespero e esse momento é um momento de desespero. 

       — Quando suspeitei das suas intenções ontem, achei que poderia estar equivocada, mas não...

      —  E posso saber quem mais aceitou participar dessa insanidade?

        — Com você, somos quatro lordes.

      Sparrow sorriu, desacreditado.

      — Quatro de nós contra uma esquadra da marinha? Francamente capitão… e Elizabeth? Ela é rei da côrte da irmandade, e a menos que como mágica, a senhora Turner tenha vindo parar em Nassau, não podemos fazer absolutamente nada.

       — Jack, Jack… eu não estaria aqui se não tivesse uma solução, Elizabeth foi a única a não ser encontrada, até agora… — Barbossa sorriu de um jeito que causou calafrios em Moira.

      — Shansa… — A atenção do trio foi tomada por um homem que nem sequer havia sido notado anteriormente. Com a aparência bem castigada e olhos temerosos, ele se aproximou dos demais, com a permissão do velho capitão — A-a noroeste de Nassau, em uma caverna, existe uma bruxa, seu nome é Shansa, ela é capaz de encontrar qualquer ser vivente, onde quer que esteja, através de sua magia…

     — Uma bruxa… claro, este é um elemento que nunca pode faltar — Brodbeck revirou os olhos.

    —  Então vamos à bruxa, descobrimos onde Elizabeth estar e a convencemos a lutar até a morte…  — Sparrow caminhou a frente, porém parou e olhou ao redor, então voltou sua atenção ao grupo de piratas — Alguém tem uma bússola para emprestar?

    Todos ignoraram Jack e montaram em seus cavalos, excerto Moira, Sparrow e Hector, que seguiram viagem em uma carruagem. Apesar de não questionar, o capitão do Pérola Negra, estava intrigado com o marujo que lhes contou sobre a tal bruxa, ele parecia com medo, o que significava que havia algo errado, algo que com certeza iriam descobrir em breve.