"Você viu as labaredas no céu? Você sentiu as faiscas de esperança? Você não está sozinho, pois há alguém lá fora te mandando luz."

— The Script (Flares)

Hinata aguardava a chegada dos amigos em frente a uma pequena loja de doces; vestia uma blusa amarela com mangas cumpridas e uma saia branca, o cabelo preto azulado estava solto como de costume. Já havia se passado pouco mais de vinte minutos da hora marcada, o que a deixava insegura em relação ao outros realmente aparecerem.

Suspirou e olhou o próprio reflexo na vitrine, que exibia vários tipo de doces artesanais. "Não está mal..." pensou checando sua aparência e aceitando mentalmente que aquele era o melhor que sua autoestima considerava 'para o gasto'. Voltou a olhar para ambos os lados da rua, que estava levemente movimentada, procurando pelos atrasados.

— Hinata! – ouviu uma voz familiar a chamar e, direcionando seus olhos perolados para a esquerda, pôde ver TenTen correndo em sua direção. A garota vestia uma blusa salmão com um short jeans branco, este decorado com taxinhas douradas nos bolsos de maneira sutil, e o cabelo preso em dois coques decorados com fitas vermelhas – Os outros ainda não chegaram? – perguntou, quase que retoricamente, após dar um abraço na Hyuuga.

— Não... – respondeu com um sorriso leve – ... ninguém deu noticia ainda.

— Aqueles dois... depois falam de mim. – reclamou TenTen – "Ah, TenTen sempre se atrasa", "sempre fura na ultima hora"... esse povo só me arrasa... – continuava murmurando enquanto olhava atentamente para os lados. Havia se arrumado tão rápido que chegara a ficar tonta quando terminou, imaginava que seria a ultima a chegar e praticamente correu o caminho inteiro até o ponto de encontro.

Hinata observou a amiga por alguns instantes e soltou uma risada baixa, estava feliz de não estar mais sozinha. A conhecia desde que se mudou para Hikarigaoka, quando era pequena, TenTen foi uma e suas primeiras amigas e por ela Hinata conheceu os integrantes restantes do grupo.

— Ah, olha eles ali. – disse a Hyuuga, quando avistou Ino e Gaara descendo de um ônibus do outro lado da rua.

Os dois estavam numa conversa empolgante, que mais parecia uma discussão e, se caso fosse, era sobre algo sem muito sentido ou com uma porcentagem inexistente de importância, como na maioria das vezes. A Yamanaka vestia um macaquito azul claro e um tênis cinza escuro, carregando uma bolsa pequena marrom com nada além do necessário, ou seja, o celular, uma carteira com dinheiro e documentos e itens de maquiagem para retocar caso fosse preciso.

Gaara carregava seu inseparável head-phone laranja e preto ao redor do pescoço; vestia uma regata preta com desenhos brancos na frente, uma calça jeans e tênis azul escuro quase preto. Não carregava documentos ou dinheiro, havia jogado tudo na bolsa de Ino e se conteve em ficar apenas o celular no bolso. O sinal para pedestres abriu e os dois atravessaram, se juntando a Hinata e Tenten.

— Se eu dependesse da pontualidade de vocês pra viver, já teria morrido... – TenTen comentou.

— Pelo menos eles conseguiram chegar. – Hinata disse enquanto abraçava os outros dois.

— Em minha defesa, eu estava esperando a Ino, só por isso me atrasei. – Gaara se manifestou, com o tom de voz calmo como sempre – Levou mais de meia hora pra escolher uma roupa... fora o resto.

— E me entrega assim?? – a loira perguntou indignada. O ruivo, por sua vez, apenas sorriu e deu de ombros.

— Bom, já que todo mundo já chegou, podemos ir, né? – TenTen perguntou animadamente, lembrando que estavam ali para visitar o mercado e que o mesmo tinha hora para fechar. Todos concordaram e seguiram para o local.

~x~

Naruto pairava entre o teto e o chão do quarto do hospital em que seu corpo físico estava internado em coma, perto de Odaiba. Iria fazer um ano desde que sua alma havia sido separada de seu corpo, desde então ficava enfurnado naquele quarto, observando as pessoas entrarem e saírem, não que não pudesse ficar longe do seu corpo, só não via muitos motivos para isso.

No inicio, passou semanas observando sua família e amigos visitá-lo e muitas vezes os seguia pela cidade, mas depois passou a ficar apenas no hospital. Os antigos colegas pararam de ir vê-lo depois de três meses e o local ficou cada vez mais quieto. "Que existência patética", pensou observando a si mesmo lá embaixo. Suspirou e sentou na ponta da cama com as pernas cruzadas, lembrando-se do dia em que acabou naquela situação.

Flashback On

Era um dia de chuva intensa. Apesar de ainda ser inicio de tarde, estava escuro como se o sol já tivesse posto. Naruto estava dirigindo sem se importar com mais nada; estava com raiva, que se misturava à tristeza e o sentimento de ser traído, o que resultava em lágrimas que rolavam de maneira incontrolável dificultando.

As lágrimas e a chuva tornavam praticamente impossível para o loiro ver a pista. Voltando à realidade por um momento, o Uzumaki se viu na contra-mão e, num ato rápido para desviar de um outro carro, o rapaz jogou o carro para a calçada. O veículo acabou batendo em um hidrante e capotou duas vezes, atingindo uma pequena barraca que aparentemente vendia joias, ficando de cabeça para baixo após o impacto.

A ultima coisa que Naruto viu antes de apagar, foram algumas gotas de seu sangue caírem perto de um anel, que estava entre os vários vidros espalhado pelo chão e outras bijuterias quebradas. Quando se deu por si novamente, já não passava de um fantasma incapaz de voltar para o próprio corpo.

Flashback Off

Ouviu o som da porta se abrir, o que o tirou de seus pensamentos. Segundos depois sua mãe entrou no quarto; Kushina era uma bela mulher, com longos cabelos ruivos e olhos azuis; vestia um vestido verde com alças brancas e uma sapatilha preta. Ela se aproximou do garoto deitado na cama e removeu alguns fios de cabelo de cima de seus olhos, dando um sorriso triste para si mesma.

— Tadaima¹. – sussurrou Kushina. Naruto se aproximou, flutuando mais ou menos ao lado dela.

— Okaeri...² – o garoto disse em tom normal, mesmo sabendo que ela não poderia ouvi-lo. A seguiu com o olhar enquanto a mulher se dirigia a uma poltrona, situada entre a cama e a janela.

— Eu trouxe aquele livro que você gosta... – comentou enquanto remexia a bolsa que trazia consigo – ...eu não sei onde foi que você parou de ler , então vou começar o inicio, ok? – a ruiva sorriu e começou a leitura.

~x~

Os quatro chegaram ao mercado, que consistia numa longa rua repleta de lojinhas e vendedores com todos os tipos de coisa. Andaram por toda parte, provando alguns pratos que eram vendidos e experimentando roupas vindas de todos os cantos do mundo e, é claro, registrando os momentos em votos e vídeos. Por fim, após um longo tempo subindo e descendo o mercado, Ino sugeriu que parassem numa barraca que vendia "tapioca", mais uma comida estrangeira para a lista.

Assim que sentou, os olhos perolados de Hinata encontraram um brilho peculiar do outro lado da rua. Teve que se esforçar para ver e onde vinha, já que havia muitas pessoas circulando pelo local; foi quando reparou que se tratava de um reflexo em algum objeto vendido em uma pequena tenda de joias e bijuterias.

"Parece... estar me chamando..." pensou sentindo uma forte conexão com aquele mero feixe de luz. Sentia-se tentada a levantar e segui-lo mas a falta de sentido naquilo tudo a mantinha sentada na cadeira.

— Hinata? Hina... – Gaara a chamou, fazendo com que a Hyuuga saísse do transe.

— Hm, o que? – perguntou confusa.

— Já sabe pra que faculdade quer ir? – o ruivo repetiu a pergunta.

— Ah... acho que pro Campus Universitário de Konoha, mas ainda não tenho certeza de que curso vou fazer. – respondeu dando de ombros sutilmente – E vocês?

— Konoha. – responderam Ino e Gaara ao mesmo tempo.

— Meu pai quer que eu vá para Universidade de Tokyo, pra estuar o necessário pra

assumir a academia. – TenTen disse, soltando um suspiro em seguida – Não é de um todo ruim, mas se eu conseguir passar, vou sentir falta de vocês. Claro, Konoha ainda é a segunda opção.

— Pelo menos vai ter alguém que você conhece por lá também. – Hinata direcionou um sorriso para a amiga, entretanto a mesma ficou levemente confusa por um momento.

— Vai? Quem? – Ino se adiantou em perguntar.

— Hm, meu primo também está tentando a Universidade de Tokyo. – a Hyuuga explicou e logo todos fizeram um "aah" uníssono. Nesse mesmo instante, os pedidos chegaram e foram deixados sobre a mesa.

— Eu tinha esquecido. – riu Tenten, tratando e experimentar a tal "tapioca" em seguida.

O assunto sobre faculdades deu lugar a vários outros, até que finalmente o quarteto terminou o lanche. Hinata voltou a fitar a barraquinha do outro lado da rua, não havia mais o misterioso brilho, mas sua curiosidade a respeito estava mais forte.

— Já está ficando tarde, algumas lojinhas estão fechando também. – observou Gaara, percebendo que o céu já dava indícios do pôr do sol e que o fluxo de pessoas havia diminuído – Melhor irmos, não?

— S-será que podemos dar uma olhada naquela tenda de joias antes? – a Hyuuga se apressou em perguntar.

— Por mim tudo bem. – concordou TenTen, e os outros dois logo em seguida fizeram o mesmo.

A barraca não era muito grande, mas tinha uma variedade considerável de adereços. Na bancada da frente ficavam anéis e pulseiras, enquanto colares e boxes eram exibidos no fundo. Havia vários vácuos nas plataformas em que as peças eram exibidas.

— Olha só. – Ino chamou a atenção de todos e apontou para quatro pulseiras quase idênticas que estavam alinhadas perto dos anéis; estas eram transadas e douradas, com diferença apenas na cor das duas pedrinhas transparentes perto do feixe – Por que não compramos uma pra cada?

— Tipo um amuleto? – perguntou Gaara, vendo a loira confirmar em seguida.

— É uma boa, já que talvez não estejamos mais juntos ano que vem. – concluiu Tenten.

— Uma excelente escolha os jovens fizeram... – disse uma senhora, dona da venda, com um sorriso acolhedor.

Hinata observou a situação enquanto os amigos negociavam com a senhora e viam se iriam levar mais alguma coisa. Seu olhar desviou novamente para os adornos, reparando num anel delicado; o aro era dourado e a pedra central era circular, branca, com uma mancha vermelha o interior, como uma gota de tinta que se espalhava do interior para fora.

— Por que não experimenta? – perguntou a senhora da tenda, vendo a garota segurar o acessório.

Levada pela beleza do objeto, Hinata o colocou no terceiro dedo da mão esquerda e, assim que o fez, pôde ver a pedra brilha rapidamente. O mesmo brilho que vira antes e que a atraíra para lá. "Mas... o que...?" se perguntou e tentou tirar o anel, mas o mesmo estava preso. Tentou puxar com mais força e nada.

— Algum problema? – perguntou Ino.

— N-não, está tudo bem. – a morena respondeu, tentando disfarçar.

— Então podemos ir? – a loira perguntou. Nesse momento, a Hyuuga percebeu que eles estavam apenas esperando por ela para irem embora.

— C-certo... er... – olhou uma ultima vez para o tal anel. Aquilo não soltaria tão cedo e não podia fazer todos esperarem para sempre – Eu vou levar esse. – disse por fim.

~x~

Kushina adormeceu na poltrona ao lado da cama em que o filho estava, ela leu quatro capítulos do livro que trouxera. Naruto estava sentado em cima e uma cômoda que havia lá, com equipamento básico e descartável que os médicos poderiam usar a qualquer momento.

Se distraía com a cortina que balançava com a brisa, quando um ponto brilhante violeta apareceu no canto do quarto. A pequena bola de luz se moveu na direção do Uzumaki, o rodeando e seguindo para a janela.

— O que? – perguntou, não esperando que aquela coisinha fosse respondê-lo. A luz apenas refez o movimento e saiu pela janela – Ei, ei... espera...

Assim que chegou no batente da janela, viu o ponto brilhante perto de um prédio do outro lado da rua. Por mais repentino que fosse aquilo, Naruto se sentia atraído e tentado a seguir aquela luz. Olhou novamente para o interior do quarto do hospital, para si mesmo e para sua mãe... desviou o olhar para aquela esfera violeta e sentiu a vontade de segui-la crescer cada vez mais e, num suspiro final, saltou janela a fora, determinado a ir atrás daquela coisa, seja lá o que ela fosse.

Quanto mais perto chegava da bolinha, mais rápida ela ficava, parecia até querer desafiar a velocidade do garoto na matéria de voar. Naruto não prestava muita atenção no caminho, mas percebia que estava se afastando cada vez mais do centro da cidade. "Pra onde está me levanto?", questionou mentalmente.

Desvia de prédio, sobe rua, desce rua vai pela linha do trem, sai da linha do trem, entra na estação. Foi apenas nesse momento que o loiro percebeu sua localização e a luz violeta diminuiu o ritmo.

— Hikarigaoka? Por que me trouxe pra Nerima? – perguntou flutuando em volta da coisinha – Ah claro, isso vai muito me dizer alguma coisa... – suspirou.

O ponto brilhante voltou a rodeá-lo e então, sem aviso prévio ou razões aparentes, voltou a correr cidade a dentro.

— Que? Ah, qual é... – reclamou o Uzumaki, tornando a siguir a pequena esfera de luz.

Quando chegou numa área residencial, a esfera entrou num apartamento. Naruto hesitou um pouco, mas adentrou o recinto. Entrou pela varanda, indo direto para a sala de estar, onde havia uma mesa de centro, uma TV consideravelmente grande e situada não muito alta, e alguns pufes espalhados em cima o carpete felpudo. O limite da sala terminava com um degrau, onde o chão já não era mais coberto pelo carpete, e sim por cerâmica normal; ali ficava a sala de jantar, que consistia em uma mesa de madeira não muito grande, para quatro pessoas; mais a frente da mesa havia um balcão e a cozinha.

Entre a sala de jantar e a de estar, havia um corredor à esquerda e a porta de entrada do apartamento à direita. O local era aconchegante e organizado, aparentemente não tinha ninguém em casa. Naruto começou a circular pelo local com os pés no chão, observou as luminária simples que decoravam o teto, eram como as de sua casa, essa lembrança o fez sorrir.

O ponto brilhante violeta se aproximou e, tremeluzindo um pouco, simplesmente se destruiu, deixando Naruto completamente confuso. "Então eu vim aqui pra nada?", foi o primeiro pensamento que surgiu em sua mente, segundos depois a porta se abriu e uma garota entrou na casa.

Hinata ficou estática por um momento, com a figura de um garoto no meio da sua sala; ele era loiro, alto e vestia um casaco preto com laranja com um calça preta; seus olhos azuis a fitavam com uma expressão de duvida, mas a Hyuuga não sabia exatamente com o que.

— Q-quem é você?? – perguntou, tentando se manter calma. A expressão dele mudou de questionamento para surpresa.

— Você... pode me ver? – o estranho loiro perguntou. "Ver?", pensou arqueando uma sobrancelha. Só então percebeu que ele era levemente translúcido.

— Você é um... – Hinata disse quase sem ar.

— Meu Kami... você pode,mesmo, me ver!? – ele flutuou sem perceber, ficando de pernas cruzadas no ar – Ei, espera, cal-... – disse quando voltou a olhá-la.

Naruto não conseguiu terminar a frase. No instante seguinte, a garota deu um grito e arremessou o primeiro objeto que viu em direção ao Uzumaki.