Mentes Quebradas escrita por Nando


Capítulo 9
Edward


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta! Desta vez no papel de Edward! Aproveitem!



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 Voltar ali tinha-me trazido memórias, algumas boas, mas a maioria eram más. “Tens de as enfrentar” – dizia a minha mãe. No entanto, ela não era exemplo para ninguém. Ela também não as enfrentava, mas obrigava-me a encará-las. Mesmo assim eu não a contrariava. Ela tinha muitos mais motivos para odiar aquele lugar do que eu. Mas prontos, a tortura tinha por fim acabado e não teria de passar mais tempo com o homem que se intitulava meu pai.

            -Em que estás a pensar?

            A voz dele interrompe-me os meus pensamentos. “Querias saber o que estava a pensar? Estava a pensar em como tu estragas-te tudo!” – Era o que me apetecia dizer, mas já me tinha habituado aos desastres que aquele homem tinha causado. Respirei fundo e lembrei-me mais uma vez das palavras da minha mãe: “Temos de seguir em frente.” Era isso que tínhamos concordado e era isso que faria. Limitei-me então a responder-lhe com o sorriso mais convincente que consegui arranjar:

            -Estou a pensar que tenho um teste daqui a uma semana e que mesmo que ficasse em casa não estudaria nada.

            Ele deu uma gargalhada:

            -Nisso és tal e qual como eu. Nunca liguei muito á escola e, para ser sincero, não me arrependo. Hoje sou um empresário de sucesso enquanto muitos colegas meus, que tinham melhores notas, estão no desemprego. O que importa é saberes o que queres ser. Se não precisares de ter um curso na universidade, não o tenhas. Só irás perder tempo.

            Tinha que admitir que ele tinha uma certa razão no que dizia. Eu já tinha bem presente na mente a profissão que queria para o meu futuro – guitarrista. Queria viver da música e do que ela tinha para me oferecer. Queria mostrar ao mundo o meu talento. Era uma caminhada difícil, mas eu iria ultrapassá-la!

            -Mudando agora de problema, eu sei que é complicado para ti mas preciso que me digas: não te voltas-te a meter onde não devias, certo?

            Já estava habituado aquela pergunta. Não precisavam de me especificar o que queriam dizer com aquilo, eu sabia bem de mais.

            -Já te disse que não, pai! Desde que me mudei com a mãe, conheci uns amigos que me ajudaram a ultrapassar esse problema. Desde aí que nunca voltei a tocar nisso.

            -Fico contente por ti filho. Já não aguentava ter de me sentir culpado pelo teu estado.

            Ai agora já te sentes culpado?! E quando trais-te a mãe? E quando nos deixas-te praticamente na pobreza? Não te lembras-te de olhar para trás e perceber o que tinhas feito?! Foi por causa de ti que eu entrei no mundo do álcool e das drogas! E foi por causa de nós os dois que a mãe entrou em depressão por dois longos anos…

            Era o que me apetecia gritar-lhe, mas, mais uma vez, consegui-me acalmar e responder calmamente:

            -Não precisavas de te sentir culpado. Eu entrei nisso por livre vontade. O único culpado sou eu.

            Ele respondeu-me com um sorriso nos lábios:

            -Eu sei bem que não pensas isso. Não faz mal, eu aceito todas as culpas. Para ser sincero contigo, se fosse hoje não faria aquilo que fiz. Agora vejo que é verdade o que se diz: “Só sabes o quanto amas algo, quando o perdes”.

            -Lamento informar-te, mas agora é tarde para descobrires isso.

            Tentei controlar-me mas não consegui. Tive de dizer aquilo. Pensei que ele ficasse zangado ou magoado, mas não. Era como se ele já tivesse feito essa descoberta á muito tempo.

            -Eu sei filho. Mas só quero que saibas que estou totalmente arrependido por tudo o que aconteceu.

            Estava prestes a responder-lhe mas o barulho de uma explosão interrompeu a nossa conversa. Em poucos instantes o aeroporto transformou-se num caos. O som de tiros ouviu-se ao longe. Gritos de desespero preencheram o aeroporto. Fiquei parado sem saber o que fazer. O que estava a acontecer?! Era um atentado?! Porquê ali?!

            O meu pai foi o primeiro a tomar uma decisão. Agarrou-me pela mão e desatou a correr comigo em busca de uma saída daquele pesadelo.

            Tudo parecia surreal. Gritos ecoavam-me nos ouvidos. Havia fumo. Muito fumo. A mulher encarregada de chamar as pessoas para o embarque tentava acalmar o pânico, mas também a sua voz tremia a cada palavra. O desespero em pensar que a minha vida podia acabar ali tomou-me por completo. Em poucos segundos tinha experienciado o horror, o medo e tantos outros sentimentos horríveis que eu não conseguia descrever. Se o meu pai não me tivesse agarrado, eu provavelmente teria ficado parado sem tomar uma decisão. Mesmo enquanto corria, as minhas pernas pareciam não ter vida própria, era como se o meu corpo se tivesse desligado ou como se não tivesse resposta para aquela situação. Sentia-me perdido. Tinha medo. Muito medo.

            O meu pai parou subitamente. Olhei e reparei que uns vultos vinham na direção contrária á que estávamos a ir. Estavam todos vestidos de negro e com pistolas e espingardas prontas para atirar. O meu braço volta a ser puxado noutra direção. Enquanto fugíamos olhei para os vultos. O mais robusto deles deu um berro e os outros começaram a disparar. Uma chuva de tiros levou a um aumento do volume dos gritos. Por sorte, eles não tinham reparado que tínhamos ido por ali… Mas de que sorte estava eu a falar?! Pessoas morriam, o terror estava instalado. Como é que eles tinham entrado sem serem identificados pelo sistema de segurança?! E porque raio estariam eles a fazer aquilo?! Quem eram eles para tirarem a vida das outras pessoas?! Será que não tinham noção daquilo que estavam a fazer?!

            Enquanto continuávamos a fugir passámos por vários escombros resultantes de estruturas mais frágeis que teriam caído devido á explosão. Fiquei um tanto quanto grato pelo teto não ter cedido.

            Após passarmos por vários corredores sem vermos ninguém, encontrámos uma mulher de cabelos longos encostada á parede. Era bonita, mas pelo modo como se tentava mexer devia estar a sentir imensa dor.

            O meu pai parou e rapidamente se aproximou dela oferecendo-lhe ajuda:

            -Vou ajudá-la. Segure-se no meu ombro.

            A mulher replicou com uma voz rouca:

            -Muito obrigada… Pensava que iria morrer ali.

            Mas é então que percebo, embora fosse já tarde demais. Quando a mulher se agarra ao seu ombro, coloca o dedo indicador na sua barriga. Ele dá um esgar de agonia e cai para trás. Fico paralisado por aquele súbito acontecimento. Sangue escorre da barriga do meu pai. Os meus olhos focam o sou corpo inerte. Não… Não é verdade… Não pode ser verdade… Porque raio estava aquilo acontecer?! Dei um grito na esperança de que o fizesse se levantar:

            -PAAAAIIII!

            A mulher de cabelos longos olha para mim com um sorriso sinistro nos lábios. Sinto a raiva a tomar controlo do meu corpo. O meu corpo move-se por impulso e tento dar um soco com toda a minha força, mas ela era mais ágil. Desviou-se de um jeito gracioso e deu-me um pontapé em cheio na cara, seguido de um murro na barriga tão forte que senti como se os meus órgãos tivessem todos trocado de lugar.

            Caio no chão completamente derrotado. Olhei para o meu pai com uma poça de sangue á sua volta. Seria assim que iria acabar?! Porquê eu?! Porquê?!!!!!!!!

            A mulher continuou com o seu sorriso de orelha a orelha. Como é que alguém podia estar tão feliz após matar uma pessoa?!

            -Isto foi por terem sido uns meninos maus e terem tentado escapar das nossas mãos! Mas não se preocupem… O vosso sacrifício será em prol de uma causa maior!

            Ela faz um movimento com a mão na minha direção. Fecho os olhos. Por favor!!!! Alguém me ajude!!!! Não quero morrer! Por favor!!!!!

            O seu movimento é interrompido por algo. Abro os olhos e vejo o meu pai a impedir-lhe todos os movimentos. O seu sangue ainda não tinha parado de escorrer e no modo como se encontrava parecia que não se aguentaria por muito mais tempo. Mas mesmo assim ele lutava. Lutava por mim. Para eu viver…

            -Foge Edward!

            Levanto-me um pouco tonto e olho para aquele homem. Não era o mesmo que tinha destruído a nossa família? Porque estava agora a por a sua vida em risco?

            -Não fiques parado aí! Eu não vou aguentar por muito mais tempo! Corre Edward! Vive para dizeres á tua mãe que ela foi a única mulher que amei!

            Aquelas palavras acertaram-me em cheio no peito e fizeram-me tomar uma decisão. Antes de fugir, disse-lhe então:

            -Conta comigo pai!

            Virei-me e desatei a correr, mas não sem ter reparado no seu sorriso após ouvir as minhas palavras. Continuei a correr. Ouvi os gritos da mulher de cabelos longos a tentar se libertar do meu pai e ouvi os seus gritos de agonia enquanto ele continuava a lutar no seu último sopro. Comecei então a chorar como já não chorava há anos. Passei por pessoas que precisavam de ajuda e outras que já era tarde demais para ajudar, mas não parei. Podiam ser outros como a mulher que matou o meu pai, mas mesmo que não fossem eu não pararia. Tinha que preservar a vida que me tinham dado. Enquanto passava ouvi gritos de ajuda e outros de desespero. Não liguei. Continuei a correr e a chorar. Na minha mente só tinha uma imagem. A imagem do homem que tinha dado a sua vida pela minha. A imagem do meu pai!


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Notas finais do capítulo

E então gostaram?! Se sim não esqueçam de favoritar e acompanhar a história. Além disso deem a vossa opinião! Ela será sempre aceite! Até à próxima!



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