Mentes Quebradas escrita por Nando


Capítulo 14
Palavras sábias e um triste reencontro


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta com mais um cap! Este é muito mais longo que os outros pois havia muita coisa para contar, e não queria estar a fazer outro capítulo. Espero que gostem!



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            Havia algo de estranho em Marta. O único preto que tinha era a cor do cabelo, algo que era raro nela, pois no seu dia-a-dia utilizava sempre roupa com cor preta, quer fossem camisolas, calças ou sapatos. Mas hoje não. Tinha uma t-shirt cinzenta com letras estilosas pintadas a azul que diziam: “Dream and Live”, vestia umas calças de ganga azuis escuras e umas sapatilhas que alternavam entre cinzento e branco. Também estranhava os seus atos. Porque estava tão preocupada com Edward? Ela geralmente tinha pouco interesse com o que acontecia com as pessoas á sua volta, mostrou bem isso quando a minha irmã me deixou. Engoli em seco. Pensar na minha irmã ainda me fazia um nó na garganta…

            -Estás com uma cara de enojado… A minha companhia é assim tão má?

            Sorri antes de lhe responder:

            -Não posso dizer que é a melhor…

            -Que engraçadinho. – Disse em tom de brincadeira.

            Ela virou o seu olhar para a paisagem que o comboio “puxava” para detrás dele e eu fiz o mesmo. Queria começar uma conversa mas não sabia como. Há muito tempo que não falava com Marta a sós, mas antes costumávamos falar muito… Ah! Como é que me tinha esquecido?!

            -É verdade, ainda vês animes?

            Ela corou por uns momentos e hesitou na resposta. Acabou por responder de forma baixa:

            -Sim...

            Após ver aquela expressão dela não consegui evitar começar a rir á gargalhada. Ela disse num misto de vergonha e raiva:

            -O que tem tanta piada?

            -Não precisas de estar tão envergonhada, eu também ainda vejo.

            Ela acalmou-se um pouco e disse mais á vontade:

            -Pensava que já não vias. Antes costumávamos falar muito disso.

            Acenei afirmativamente com a cabeça.

            -Pois era… Olha, tens visto um novo que saiu chamado “Broken and Perfect”?

            -Quem ainda não viu?! Eu estou simplesmente a adorar! – Os seus olhos transbordavam de alegria e excitação.

            -Eu primeiro achei que ter três personagens principais pudesse influenciar de forma negativa a história, mas na verdade torna-a cem vezes melhor!

            -Totalmente! Eu pessoalmente adoro a Lana. Achei interessante o facto de ela estar sempre a combater consigo mesma, como se mais alguém vivesse dentro dela e tentasse tomar controlo.

            -Também gostei, mas prefiro o Ray. Embora ele seja o estereótipo de um personagem principal, o facto de ele querer vingar o pai e tal, mas gostei bastante dele devido a sempre questionar as suas ações e tentar sempre descobrir quem matou o pai. Sempre que ele tenta descobrir mais, há sempre uma tensão enorme que me arrepia todo.

            A conversa continuou alegre. Falámos sobre eventos desse anime e depois partimos para outros sem nunca perder o ânimo. A conversa só parou quando uma voz mecanizada indicou a nossa paragem. Saímos do comboio enquanto Marta mudava de assunto:

            -E então a tua mãe sempre te deixou vir? Pensei que talvez não deixasse…

            -Eu expliquei-lhe muito amavelmente que o Edward se tinha mudado e eu ia visitá-lo, mas não lhe disse nada sobre o facto de estar protegido pela polícia e assim.

            -E ela engoliu isso?

            -Duvido muito, mas deixou-me vir quando lhe disse que eu iria pagar com o meu próprio dinheiro. E a tua família, não se impôs?

            Arrependi-me de ter feito aquela pergunta, mas já era tarde demais. Marta abaixou a cabeça e respondeu em voz baixa:

            -Eles mal param em casa. Limitei-me a pedir algum dinheiro ao meu pai e ele não ligou muito ao porquê…

            Embora o ar fresco do campo pairasse á nossa volta, o ambiente começou a ficar ofegante entre nós. És um burro! Pensei isto para mim mesmo muitas vezes. Após a morte do irmão de Marta a sua família tinha ficado fragilizada. O pai entregou-se totalmente ao trabalho e raramente vinha a casa, quanto á mãe, acho que nem a própria Marta sabia o que fazia. Alice tinha-me contado que ela trabalhava numa empresa de automóveis, mas ainda assim só vinha a casa para dormir, deixando uma pergunta a pairar no ar: O que fazia ela nos tempos livres? Não sabia e nem queria saber, mas pude entender naquele momento como se sentia a Marta cada vez que chegava a casa. Solidão. Uma solidão angustiante, como se a sua casa estivesse cheia de água e ela tentasse o seu máximo para não se afogar no desespero em que vivia.

            Decidi não dizer nada. A minha mãe dizia sempre que, em situações como aquela, era melhor deixarmos a pessoa respirar por si mesma, deixando que ela mesma conseguisse enfim chegar á superfície e se libertasse das mãos que a puxavam para o fundo do mar.

            Olhei em volta, numa tentativa de libertar os meus pensamentos de Marta. O clima era mais fresco e os sons muito mais calmantes e relaxantes do que aquilo a que estava habituado. No momento que tinha saído da estação pude experimentar um sentimento único: liberdade. Sentia-me livre ali. Era fantástico existir um lugar daqueles! Quando começou a manifestação contra a tecnologia e muita gente tinha decidido renunciar toda e qualquer tecnologia, houve também muita gente que tinha preferido viver em locais rurais com reduzida tecnologia. E tinham toda a razão. Só de estar ali há dez minutos pude sentir um conforto que nunca tinha sentido antes, conseguindo-me até libertar do clima que tinha gerado á volta da Marta.

            -Então estes dois meninos decidiram vir experimentar o ar do campo?

            Era uma voz rouca que soou de trás de nós. Virámo-nos e deparámo-nos com um homem que devia ter há volta de sessenta anos, cuja cara tinha já várias rugas, embora o seu corpo fosse muito mais forte que o meu. Decidi responder-lhe:

            -Boa tarde! E porque é que diz que nós não somos daqui, ou de outro local rural?

            O homem soltou uma valente gargalhada:

            -Em primeiro, ninguém aqui diz “local rural”, ou é campo ou aldeia. Em segundo, isto é um local pequeno e nós conhecemo-nos a todos, por isso pelo menos daqui não sois. Em terceiro, tu és tens de ar de quem vai cair para o lado se alguém lhe der um sopro e ela tem umas “trombas” que até assusta quem olhe para ela. Em quarto, um rapaz daqui nunca deixaria uma rapariga bonita com essa cara. Em quinto…

            -Já entendemos o suficiente, obrigado – Tive de o interromper se não voltaria a comentar a cara de Marta, e “trombas”? Que raio queria ele dizer com aquilo? Decidi acalmar o ambiente – É verdade que não somos daqui. Viemos visitar um amigo que começou a morar aqui há pouco tempo?

            -O lourito? – Supus que estivesse a falar do cabelo dele por isso acenei afirmativamente com a cabeça – Não gosto nada desse rapaz, bah, não me admira que sejais amigos, vós da cidade tendes uns gostos muito esquisitos…

            Ignorei essa última parte e perguntei-lhe:

            -Porque não gosta dele?

            -Eu não gosto de ninguém que se faça de coitadinho.

            Isso era estranho vindo do Edward. Desta vez foi Marta a responder em vez de mim:

            -Mas você sabe o que lhe aconteceu, não sabe?

            -Aquilo do atentado? Sei muito bem o que ele passou, o que só prova que eu estou certo. Um Homem não se esconderia durante tanto tempo por causa disso.

            -Como você pode dizer isso?! – Levantei um pouco a voz para demonstrar a minha irritação, mas ele limitou-se a olhar-me nos olhos e a levantar a camisola. Marta encolheu-se evitando ao máximo a saída de algum gemido e eu limitei-me a ficar especado, paralisado com o que via. O seu tronco estava todo cheio de nódoas negras e cicatrizes. Por que inferno teria passado aquele homem?

            -Isto é só no peito, tenho muitas mais pelo resto do corpo. Como as arranjei? Quando as pessoas começaram a vir para estes locais nem todas eram confiáveis. Tudo aconteceu num dia que parecia ser como todos os outros. Eu tinha mais ou menos catorze anos, e estava ajudar os meus pais na nossa padaria, até que a noite chegou e quando nos preparávamos para fechar, chegaram uns matulões que começaram a roubar o nosso pão, o meu pai tentou-os impedir mas eles eram bem mais fortes que ele e atiraram-no ao chão e começaram a pontapeá-lo. – Engoliu em seco – A minha mãe gritava e eu tomei uma decisão. Não fugi como o vosso amigo. Enfrentei-os. Obviamente foi graças a isso que ganhei estas maçaduras, mas se não fosse por isso talvez o meu pai tivesse morrido. Os matulões acabaram por começar a destruir a nossa padaria. Tudo o que tínhamos montado e tentado criar durante tanto tempo, destruído em pouco tempo. A polícia acabou por vir e prendê-los, mas nessa altura já tudo dentro de nós tinha desabado. Eu fiquei apenas com isto, o meu pai, no entanto, ficou sem poder andar. Ele queria ajudar, mas aquilo que podia fazer era muito limitado. Por isso eu e a minha mãe fazíamos a maior parte do trabalho, ficando eu com a parte mais dura. Perguntas-me se chorei? Eu chorei nessa noite negra, mas no dia a seguir as lágrimas tinham cessado. Chorar é bom para deitares tudo cá para fora, mas no dia a seguir vais ter de seguir em frente, continuares trancado no teu quarto não vai ajudar em nada. O que passa, passa.

            Eu e Marta ficámos parados a ingerir toda aquela história. O que sabia da vida? Fiz esta pergunta a mim mesmo. Aquele homem e Edward tinham visto o monstro que o ser humano era capaz de se tornar. Queria melhorar o mundo sem mesmo saber a verdadeira natureza das pessoas que queria proteger. Só então cheguei a uma conclusão: Tinha estado tanto tempo a proteger as pessoas como se alguma ameaça maior as estivesse a ameaçar, quando aqueles que as ameaçavam eram elas mesmas. Quem diria que seria um velho que encontrei no meio do campo que me abriria os olhos. No entanto, a moral da sua história também me tinha tocado. Ele tinha razão e o próprio Edward tinha-me dito isso. Sentia-me agora mais determinado. Olhei o velho nos olhos e disse:

            -Concordo totalmente consigo, e é exatamente isso que vou dizer ao meu amigo. Muito obrigado pela sua ajuda.

            O homem soltou outra gargalhada, como se a história que tivesse contado fosse apenas mais um acontecimento na sua vida:

            -Acho que já gosto mais de ti… Ide lá então, mostrem a esse rapaz que está na altura de ser um homem!

            Acenei afirmativamente e despedimo-nos, seguindo cada um o seu caminho. Marta vinha um pouco atrás de mim, perdida nos seus pensamentos. Também as palavras dele lhe tinham chegado ao coração. Eu olhei para todos os lados procurando a casa de Edward. Como aquilo era um lugar pequeno conseguimos encontra-la logo. Era uma casa simples, não muito diferente das outras á sua volta, o que a distinguia mais era a porta de entrada vermelha, que dava um estranho ambiente. As janelas estavam fechadas e tive um certo receio que ele não encontrasse em casa, mas decidi tocar á campainha. Esperámos um pouco e sem resposta. Toquei outra vez. Não ouvia ninguém.

            -Talvez não esteja em casa.

            Mas Marta não desistiu e começou a tocar furiosamente na campainha até que uma voz irritada soou do outro lado da porta:

            -Já vou, não é preciso tanta barulheira!

            A porta abriu-se e um vulto com cabelo louro apareceu diante de nós. Demorei uns segundos para perceber que era Edward. Estava mais magro, os seus olhos estavam vermelhos e negros por baixo, o seu cabelo estava todo desalinhado e tinha um cheiro muito estranho… Não era o Edward que me lembrava. Reparei que um sorriso tentou aparecer nos seus lábios quando nos viu, mas ficou a meio sorriso, como se ele estivesse a fingir. Assim que ele falou pude reparar que a sua voz se encontrava rouca e em um tom mais grave que o normal:

            -Olha quem eles são! – Só então se apercebeu de um pormenor – Como raio me encontrastes?

            Eu ainda estava estupefacto com a aparência dele, por isso foi Marta quem tomou a iniciativa na conversa:

            -Digamos que aqui o teu amigo andou a implorar á polícia para lhe darem a tua morada.

            Edward franziu o sobrolho:

            -E eles deram-ta?

            -Estamos aqui não estamos?

            -Pois, mas é estranho… E porque é que tu vieste junto? – Apontou para Marta.

            -Já não me posso preocupar com um amigo meu?

            -Nunca te preocupas-te antes!

            -Mas estou-me a preocupar agora! Bom, vais nos deixar entrar ou não?

            Edward hesitou e engoliu em seco. Haveria alguma coisa que não poderíamos ver? Será que a polícia lhe tinha dito para não deixar entrar ninguém? Estas perguntas passaram-me pela cabeça, mas para Marta não deviam ser nenhum problema pois limitou-se a entrar, com Edward a dizer-lhe:

            -É melhor falarmos cá fora, tenho a casa toda suja.

            -Um pouco de sujidade não mata ninguém, e além disso preciso de me sentar. – Replicou Marta.

            Os dois entraram e eu decidi ir atrás deles. A casa, por dentro, tinha um aspeto amigável e estava de facto um pouco suja, embora não tão suja como Edward tinha levado a crer. Além disso havia um aroma que não me era estranho, mas não estava a conseguir saber o que era. Havia algo que ele nos estava a esconder…

            Assim que cheguei á sala já Marta se tinha sentado em um sofá de dois lugares. Edward tinha ficado na sua frente, sentado numa poltrona, deixando apenas o lugar ao pé de Marta vazio. Sentei-me e quando me preparava para falar, Marta antecipou-se:

            -Como é que estás?

            A pergunta foi direta demais. Edward estremeceu e abaixou a cabeça, dando um sorriso nervoso:

            -Como é que eu estou?! Estou maravilhosamente bem! É o que quereis ouvir?! – A voz dele aumentou de volume – Pois lamento-vos desiludir mas sinto-me uma m**da!

            Tentei acalmar o ambiente:

            -Calma Edward, ela não disse por mal… - Marta interpôs-se aumentando também ela a voz mas com um tom firme.

            -E eu entendo perfeitamente que te sentisses assim uma semana ou até duas depois disso, eu estava a perguntar como te sentes agora?!

            -E eu já te respondi! Ou queres que diga outro palavrão para me expressar melhor?

            Não queria que as coisas ficassem assim. Tinha que arranjar uma maneira para os acalmar:

            -Vamo-nos acalmar, que não é preciso começarmos aqui aos berros! Edward, nós viemos-te dar apoio e para te dizer que se precisares nós estamos aqui para te ajudar.

            -Não parece aquilo que a tua amiguinha está a tentar fazer. E desde quando é que vos dais tão bem?! Eu desapareço e tu do nada arranjas outra pessoa para andar ao pé de ti! Que grande amigo me sais-te!

            Tentei engolir aquilo, mas Marta não conseguiu e deitou tudo cá para fora:

            -Ai ele é que esteve em falta?! Tu desapareces do nada, sem dizer nada a ninguém, enquanto ele passou este tempo todo a tentar descobrir onde te tinhas metido!

            -Eu não tive outra escolha! Fui obrigado a não dizer nada a ninguém!

            O clima ficava cada vez mais pesado e estava-me a custar cada vez mais conseguir melhorá-lo:

            -Isso não importa agora! Estamos juntos, finalmente, e vim para sarar feridas e não abri-las, entendido?

            Eles acenaram com a cabeça e por uns segundos o silêncio instalou-se até que Marta voltou às perguntas:

            -Nas notícias apareceu que tu disseste que o teu pai foi morto por uma mulher de cabelos louros e olhos azuis. Consegues-me dizer mais sobre ela?

            Franzi o sobrolho. Porque estaria tão preocupada com essa terrorista? Ou estaria apenas a ajudar o Edward a recuperar do seu trauma? Olhei para ele. Abaixou a cabeça, como se aquela memória fosse muito traumatizante para a enfrentar de cabeça erguida, e falou numa voz baixa e tremida:

            -É um demónio!... É o que essa mulher é… Fingiu-se de ferida, apenas para poder matar aqueles que tentassem escapar por ali… C*bra…

            Preparava-me para acalmá-lo, mas Marta estava mais curiosa sobre a mulher:

            -E como é que ela matou o teu pai?

            Edward engoliu em seco:

            -Quando ele a agarrou para a levantar, ela pôs-lhe o dedo na barriga. Quando percebi o meu pai já estava a sangrar no lugar onde ela lhe tinha tocado.

            -E porque não disseste nada disso á polícia?

            -Eu disse, e eles preferiram esconder isso dos media. Segundo eles, os terroristas estão na posse de tecnologia que a polícia ainda não conseguiu desenvolver. Isso seria uma grande vergonha e também alarmaria as pessoas se a notícia saísse ao público.

            Tinha razão. O facto de os terroristas possuírem esse tipo de tecnologia era assustador. Marta não fez mais perguntas, limitando-se a encolher-se sobre si mesma, perdida em pensamentos. Porque estava Marta tão interessada naquela terrorista? Não fazia a mínima ideia. Decidi ser eu a quebrar o silêncio:

            -Olha, eu estava a pensar a telefonar á Alice e marcarmos um dia para sairmos todos juntos, será que a polícia te deixa sair se formos a um lugar perto daqui?

            Edward olhou para mim como se não me reconhecesse:

            -Achas mesmo que eu tenho vontade de sair?!

            As palavras do velho passaram-me pela cabeça, e decidi dizer-lhe o que eu achava que estava certo:

            -Eu sei que o que te aconteceu seja terrível e angustiante, mas precisas de refrescar a cabeça! Ficar em casa não te vai ajudar em nada.

            Edward olhou-me desapontado e disse entre dentes:

            -Nem mesmo tu entendes…

            Foi a gota de água. Estava farto daquela atitude:

            -Como assim eu não entendo?! Eu também perdi a minha irmã, e tu mesmo me disseste para seguir em frente!

            -É diferente! Havia outras pessoas lá. Eu podia tê-las ajudado, mas não. Praticamente todas morreram. Como achas que me sinto, depois de perceber que podia ter salvado vidas?!

            -E como é que as podias ter ajudado?! Não és médico, e muitas deviam estar a perder muito sangue e iriam morrer de qualquer maneira. A tua ajuda não serviria de nada e provavelmente irias acabar morto na mesma. Que achas que pensaria o teu pai quando visse que se tinha sacrificado por nada?

            Edward agarrou-me pelo colarinho:

            -Não fales do que não sabes!

            -Posso não saber de muita coisa, mas disto tenho a certeza, estas te a portar como um garotinho que tem medo de encarar a realidade. Está na hora de saíres do armário! Ou vais-te esconder na roupa quente que há dentro dele? Não és o Edward que eu conheço! És apenas uma criança que descobriu que as pessoas morrem e que tem agora medo de viver. Tenho vergonha de ti!

            Falei de mais, mas não consegui evitar. Os olhos de Edward encheram-se de fúria e, antes de sequer me aperceber, deu-me um murro com muita força na cara. Cambaleei para trás e estatelei-me de costas no chão. Senti-me zonzo e doía-me a parte da cara que Edward tinha atingido. Olhei para ele. Estava num misto de arrependimento e raiva. Eu, no entanto, tive a raiva a controlar todo o meu corpo e dei por mim a levantar-me e a atirar-lhe um soco também na cara, embora a força tivesse sido menor, pois ele apenas cambaleou para trás, mas foi o suficiente para despontar uma guerra de socos, pontapés e tudo que servisse de arma. A razão tinha desaparecido completamente da minha mente. Limitava-me a atirar socos ao ar e a esperar que acertassem nele. Ele tinha muita mais força do que eu, acabando por me atirar ao chão e tomar o controlo da guerra.

            O som de algo a partir-se fez-nos voltar á realidade. Olhámos e vimos um vaso destruído no outro canto da sala enquanto Marta nos olhava:

            -Já acabaram a briga os meninos? Já está na altura de fazerem as pazes e dar um abraço?

            Edward levantou-se dando um estalo com a língua. Eu tentei-me levantar, mas devido a ter sofrido bem mais lesões, o ato ficou a meio, acabando por cambalear para trás e de bater numa mesa pequena que se encontrava ali. A mesa tombou para trás e eu voltei a cair. Soltei uma praga e quando me voltava a tentar levantar, reparei numa caixa que tinha estado oculta debaixo da mesa. Edward também reparou e precipitou-se para a agarra, mas eu fui mais rápido e abri a caixa. Foi então que percebi o comportamento de Edward. O cheiro, o motivo por ele não querer que entrássemos, estava tudo ali. Naquela caixa, que de fora parecia normal, mas por dentro estava cheia de garrafas, quer de cervejas quer de vinho. Edward tinha voltado a começar a beber.

            Olhei para ele e reparei que estava num estado de alarme e tentou se desculpar:

            -Isso não é meu, é…

            -Não me venhas com desculpas! O cheiro está todo agarrado a ti! Tu voltas-te a beber! Depois de tudo o que fizemos juntos para parar isso… Não acredito que tu pudeste voltar a tocar num pingo de álcool…

            Edward limitou-se a baixar a cabeça, envergonhado consigo mesmo. Num último lampejo de fúria, agarrei numa das garrafas e atirei-a contra uma parede do outro lado da sala e olhei-o nos olhos esperando uma reação, mas ele limitou-se a ficar parado a olhar para mim e para a garrafa partida. Queria voltar-lhe a gritar tudo o que tinha para dizer, mas não me levaria a lugar nenhum. Virei-me para Marta:

            -Vamos embora Marta. Não há mais nada para fazermos aqui.

            Dei um último olhar a Edward antes de sair porta fora com Marta atrás de mim. Definitivamente não era o Edward que eu conhecera…


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Não esqueçam de estar sempre atentos ao próximo cap! Até à próxima!



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