Annie e John saíram em disparada para a floresta, deixando o Chapeleiro e Reira para trás. Mesmo preocupada, a raiva de Annie estava tão grande que ela resolveu mesmo deixá-lo lá, se era isso o que queria, morrer, virar herói ou ficar com aquela mulher, que não tinha a agradado, não era mais problema dela, afinal ele a tinha levado a onde queria, e não era certo que iriam a todos os lugares juntos, mais cedo ou mais tarde teriam que se separar. Mesmo assim, em algum lugar, lá no fundo, a menina queria muito voltar e se certificar de que estava tudo bem, ou desistir da idéia.

Quando já estavam no meio da floresta Annie parou de correr e começou a respirar fundo. Sua doença. Ela havia esquecido que não podia passar por emoções fortes ou correr demais, isso comprometia muito sua saúde. Tentou chamar John, mas sua vista estava toda embaçada, não conseguia respirar, tudo estava ficando escuro e então, desmaiou.

John, que não tinha percebido, estava a alguns metros à frente.

- Annie, você... – ele começou olhando para o lado, e não vendo a menina - ...Annie? – Ele perguntou mais uma vez, olhando assustado em volta e vendo a menina estirada no chão – Annie! – disse preocupado, indo até ela

Sentou-se ao lado dela, pegando um frasco e jogando um liquido vermelho em sua boca e logo a menina voltou a respirar, como se estivesse apenas dormindo. Um alivio imediato tomou conta de John, que tinha roubado aquele frasquinho do quarto de sua mãe, que por curiosidade era o mesmo remédio que a menina tomava quando precisava de uma outra alternativa.

Pegou a menina no colo e voltou a andar para dentro da floresta, não sabia para onde iria agora, mas qualquer lugar seria mais seguro do que aos redores do império de sua mãe.

- O que faz aqui no meio John? – uma voz manhosa, soou perto deles

- Ah Ches... apareceu em boa hora! – John disse animado – Nos ajuda?

- Ajudar? – o gato disse pensativo, finalmente aparecendo, flutuando na frente deles – E porque eu ajudaria o filho da rainha de copas?

Cheshire mexeu o rabo, um pouco impaciente, porém sem tirar aquele enorme sorriso do rosto. John o olhou como se pedisse por socorro, mas o gatinho não queria mesmo dar o braço a torcer, vendo que não tinha saída, comentou sobre Annie.

- Ela está um pouco doente, precisa descansar...

- E como eu acreditaria nisso? – O gato tornou a questioná-lo,  indo de um lado para o outro, como se estivesse se divertindo – Alias, quem seria essa curiosa criatura em seus braços?

- É a.. - John parou por um instante e olhou para Annie

- A...? – o gato o encorajou a continuar sua fala, ficando um pouco curioso

- Nova Alice... – disse por fim, voltando a olhar o gato

No mesmo instante o sorriso de Cheshire se alargou ainda mais e ele se aproximou dos dois, olhando atentamente para o rosto da menina e concluiu que de fato era ela, a nova Alice que todos esperavam.

- A Alice? – disse entusiasmado, flutuando para uma direção qualquer – Me siga... sim?

  John ficou aliviado, com certeza o gato o levaria até o local mais seguro e escondido de Underland, a casa da rainha branca. Annie finalmente conheceria alguém que lhe daria algumas respostas, ou mais duvidas.

  Ela continuou desacordada o caminho todo e ao chegarem na frente da barreira protetora do castelo Ches parou na frente de John.

- Será que você é puro o bastante para entrar? – falou com certo tom de provocação a John – Alguém como você entrará neste lugar?

Annie já estava começando a acordar, podia sentir que estava sendo carregada por John e que ele estava falando com alguém, mas não conseguia se mexer ainda, sentia-se muito fraca.

- Se for pela Annie... – John continuou confiante - ...eu faço qualquer coisa...

A frase de John fez a pequena abrir os olhos, o que ele queria dizer com qualquer coisa? Essa definitivamente era uma frase perigosa.

- John? – Annie perguntou meio desorientada – Onde estamos?

- Acordou? – ele perguntou em tom amoroso, a olhando – Já já vai saber, não é melhor voltar a dormir?

A menina sentiu-se acolhida, e pela primeira vez seu coração quis bater mais forte por ele, mas pensou que não tinha tempo para assim, assim Annie levantou e ficou de pé ao lado dele, olhando para frente e não entendendo muito o que eles estavam fazendo parados na frente de um campo.

- Ó, formidável, ela acordou... – Ches disse em tom desafiador, flutuando até ela - ...olá nova Alice, estava curioso para lhe conhecer...

- Não sou a Alice, muito menos nova, por favor, me chame de Annie senhor Gato – ela comentou inocente, um pouco fascinada com ele

- Senhor Gato? – ele disse um pouco surpreso – Gostei do apelido minha querida... mas agora siga-me, não é seguro ficar zanzando por ai...

- Mas...

- Não pergunte Annie, vamos seguir o Ches, ele vai nos ajudar... – John a cortou, empurrando Annie para frente

Annie passou sem problemas pela barreira, e John, por sorte, também. Logo eles puderam ver o castelo da rainha, enorme e todo branco. Sem muita demora, eles entraram, e a menina foi acompanhando cada detalhe, lembrando-se de tudo o que tinha lido no diário de Alice, e vendo que nem tudo tinha mudado, o gato, pelo menos, parecia não ter mudado nenhum pouquinho, o que fez um sorriso aliviado surgir nos lábios de Annie a medida que ia andando.

De vez em quando olhava para John e sentia um alivio, pensando que não estava sozinha, e evitava um pouco em pensar naquele que a abandonara.

Entraram em uma sala toda branca, com uma mesa grande no centro  e alguns sofás em volta, não tinha muita coisa por lá, apenas o básico. Logo, uma mulher belíssima, vestida com um longo vestido também branco, apareceu. Ao olhar para Annie um sorriso meigo dançou em seu rosto, ela havia finalmente chegado ao destino.

- Como está, minha pequena ovelha perdida? – disse em tom de voz suave

- Ah, um pouco melhor admito... – Annie respondeu envergonhada com a presença dela

Algo naquela mulher lhe fazia sentir bem, era como se estivesse em casa, salva. Mesmo que a presença dela a intimidasse também, podia sentir a bondade que vinha dela, algo que a deixava até constrangida de tão puro.

A rainha lhe estendeu a mão, e Annie a pegou sem pensar duas vezes.

- Sabe que precisamos conversar, não é mesmo? – a rainha comentou calmamente

- Conversar... é... acho que sim...- Annie comentou novamente incerta, a seguindo, deixando John e o gato para trás.

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Enquanto isso, um de nossos personagens preferidos estava novamente trancado em um dos quartos do castelo com Reira como acompanhante.

O Chapeleiro estava começando a se arrepender de deixar Annie aos cuidados daquele mauricinho, e se ele não soubesse como ajudá-la nos piores casos? E por acaso ele sabia? Balançou a cabeça tentando tirar tal pensamento atordoante que estava rodando desde que empurrou Annie para fora de lá.

- Será que dá para conversar um pouco comigo? – Reira disse impaciente, sentando-se ao lado dele – Adam, você está muito tenso, acalme-se...

- O que? – ele perguntou inocentemente, virando seu rosto preocupado para olhar Reira – Não é nada disso, estou apenas pensando em como vou sair daqui...

- Adam... – Reira disse em tom de reprovação - ...não me diga que pretende ir atrás dela..

- O que posso fazer? – ele disse sarcasticamente – Ela precisa de mim, eu sei disso...

- Idiota! Só vai se machucar com isto! – Reira disse furiosa, se levantando – Estou aqui! Não percebe! Eu preciso de você Adam, EU!

Reira estava começando a achar que todos os planos que faziam agora tinham a ver com ela ter o Chapeleiro, não porque o amasse, e sim porque tinha cismado que ele era dela, e não poderia amar ninguém a não ser ela, e estava obvio que ele estava começando a ter sentimentos por aquela menina, já que sua preocupação era nítida e ela não conseguia mais influenciá-lo tanto assim.

O Chapeleiro parou no mesmo instante que escutou Reira dizer aquelas palavras. Porque ela estava tão nervosa? Cansado, ele respirou fundo. Não queria morrer ali, era uma de suas vontades, a outra...bem, ele tentava ignorar com todas as suas forças, mas era difícil esconder que no fundo, queria ver a baixinha.

- Não disse em nenhum momento que vou abandoná-la

- Então porque vai embora?

- Você vai comigo Reira...precisamos visitar uma certa pessoa, então por favor pare de escândalo e me ajude a pensar em como podemos sair daqui, estou cansado, quero terminar logo com tudo isso...

Reira se calou no mesmo instante e começou a cooperar com ele, pensando em uma forma de sair de lá, mesmo não querendo, precisava, porque ele sairia de lá com ou sem ela, e como não estava disposta a perder aquela batalha, mudou sua estratégia. Agora era hora de trair a rainha. Tudo para seu bem pessoal.

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- Então foi assim? – Annie perguntou animada, comendo mais um pedaço do bolo – Alice derrotou desse jeito a antiga rainha? Mal posso acreditar! – tornou a comentar com a boca cheia de bolo

- Sim, e eu estava presente, foi um momento bonito, inspirador eu diria... – a Rainha branca disse delicadamente, como se estivesse sonhando - ...e mal posso acreditar que o meu campeão está de volta!

- O que? – Annie parou no mesmo momento – E quem seria?

- Como se você não soubesse... – após uma leve pausa em continuou, um pouco mais seria – escute Annie, você não precisa dar sua alma assim, de bandeja, para a nova Rainha, ainda não tive a oportunidade de conhecer ela, mas creio que não seja muito diferente de minha irmã. Aqui você estará segura para tomar suas decisões, não vou interferir....muito. Só penso que você poderia ser mais útil a todos nós viva. Lembre-se sempre: você é tão importante quanto a sua alma para aqueles que a ama.

- Você não está do lado de ninguém? – Annie perguntou esperançosa

- Eu, Ches e Mc Twisp fomos os únicos que sobraram daquela época, por isso não concordamos com o que eles fazem, somos como um meio termo, um pedaço de Underland neutro onde você não precisa se preocupar com nada...

- Mas o coelho... – Annie começou

Mas foi interrompida por Ches, que apareceu ao lado da Rainha, assustando Annie.

- Ele foi forçado a fazer aquilo, não culpe aquele coelho medroso... – dizia calmo, mexendo seu rabo de um lado para o outro

Sentia que podia confiar neles. Afinal, Alice só tinha falado coisas boas deles em seu diário. Sem querer, Annie bocejou, percebendo que estava morrendo de sono, seu corpo semi-doente precisava de um descanso.

Percebendo isso a Rainha levantou-se e pegou Annie pela mão, gentilmente.

- Está precisando descansar, vou levá-la a um dos quartos... – a Rainha disse radiante - ...adoro ter convidados inesperados.

Não era nada mal o quarto que a Rainha tinha lhe “dado”. Annie tinha gostado, parecia que tinha sido feito para ela. Era pequeno, feito de madeira, com uma cama comum no centro, moveis comuns, um abajur um pouco mais enfeitado e um bichinho de pelúcia no meio da cama. Tudo simples, do jeitinho que ela gostava. Sentia-se em casa, parecia que seus momentos de correria tinham cessado um pouco.

- É lindo... muito obrigada... – Annie disse olhando o quarto, animada - ...você acertou direitinho! – dizia agora rindo

- Não me agradeça...ele está pronto a muito tempo, esperando por você... – A Rainha disse calma, empurrando levemente Annie para dentro - ...tenha bons sonhos minha querida, e quando acordar, espero que esteja melhor, assim conversaremos sobre o assunto que realmente importa.

- E qual seria o...

Antes que ela pudesse terminar a Rainha já tinha saído e a porta já estava fechada.

- ...assunto

Não tinha outra alternativa a não ser esperar. Assim a menina foi direto para a cama, se deitado e respirando fundo, fechando os olhos se preparando para dormir. 

- E o Chapeleiro, nova Alice? – O gato apareceu acima da cama de Annie – Já o conheceu?

Annie levou novamente um susto e olhou para cima, encarando o Gato risonho.

- Por favor, avise da próxima vez, me pegou de surpresa Senhor Gato! – Annie comentou rindo um pouco – E o Chapeleiro? É.. o conheci

- Não parece muito animada?

- E deveria estar? – perguntou emburrada, lembrando-se de algumas coisas que não tinha lhe agradado ultimamente

- Comportamento peculiar minha cara... – o gato concluiu e sumiu - ...bons sonhos...

Annie respirou fundo e enfiou a cara no travesseiro, finalmente, conseguindo dormir. Enquanto o gato? Bom, nosso querido Gato Risonho estava flutuando pelos corredores, animado.

- Isso será muito divertido... – ele disse enquanto ia em uma direção qualquer