Assim que o dia clareou, Sofia acordou e saiu da cama com muito cuidado, para não acordar os outros, que dormiam, tranquilamente, aconchegados, colocou seu roupão, foi para cozinha, fez café e bebeu, pensativa, sentia-se estranha, depois do que aconteceu, mas sem nenhuma culpa. Nesse momento, Jean apareceu na cozinha, só vestido de cueca boxer e camiseta, recostou no batente da porta com um lindo sorriso torto, a observando, havia um brilho diferente nos seus olhos, Sofia retribuiu o sorriso, meio sem jeito.

— Bom dia, Sofia – cumprimentou, sem tirar os olhos dela.

— Bom dia, Jean. Café?

— Por favor.

Ela serviu café em uma xícara e entregou a ele.

— Foi uma linda festa ontem. Os fogos e tudo mais – comentou Jean, de modo casual, mas com uma pontinha de malicia, Sofia assentiu com a cabeça e sorriu – Eu nunca fiz algo parecido.

— É foi diferente – ela não sabia o que dizer, naquela situação, quando Lia apareceu com um ar feliz, vestido só calcinha e uma camiseta, deu um rápido beijo na boca de Jean e outro na de Sofia, que foi pega de surpresa, por essa atitude dela, pois esperava que a última noite terminasse ao raiar do dia.

— Bom dia, meus amores! Já acordados? Ah, café! – disse, animada, serviu-se de uma xícara. - E hoje, o que vamos fazer? É feriado e todos devem estar em casa. Podemos ficar aqui, nós três. Está muito frio lá fora.

— Eu tenho que ir para casa, porque meus pais vão embora amanhã, eu quero ficar um pouco com eles, mas eu gostaria muito de ficar com vocês - disse Jean, resignado.

— Lamento, Jean. Então, ficaremos só nos duas! As meninas! - Lia disse, assim passou os braços em torno dos ombros de Sofia, dando-lhe um abraço, de modo natural.

Jean foi embora, Lia fez chocolate quente, encheu um prato de biscoitos, e elas nem trocaram de roupa, aconchegaram-se no sofá, enroladas em cobertores, com suas canecas de café, na mão, ligaram a televisão, começaram a assistir um antigo seriado.

— Lia, sobre ontem à noite... – Sofia se encheu de coragem e começou, reticente, com cuidado, Lia olhou ergueu a sobrancelhas com ar de interrogação – Estávamos bêbados – concluiu.

— Ontem à noite, foi demais! Ficar com as pessoas que mais amo – ela completou com um sorriso adorável.

— Como assim? – Sofia tentou entender.

— Eu amo vocês dois, Sofia, por isso foi tão bom – Lia respondeu, para a surpresa de Sofia. - Eu sei que você sente o mesmo por mim e por Jean.

— Mas, você não pode ficar com nós dois – Sofia não conseguia compreender aquele tipo de sentimento, apesar dela mesmo estar dividida.

— Por que temos que fazer uma escolha? Não diga que não gostou de ficar com Jean.

— Claro que gostei. Você sabe como gosto dele, mas daí ter uma relação à três é muito diferente, não é normal.

— Normal?! Por que, Sofia? – Lia questionou a encarando – Por que não podemos ficar juntos? Por que temos de seguir regras e convenções?

— Não parece certo – Sofia não tinha argumentos.

— Não precisa ser para sempre, mas se agora, estamos felizes juntos, por que não podemos continuar? Por que alguém tem que ficar infeliz?

As duas ficaram em silêncio, Sofia refletia, confusa.

— Então, está bem, acho que podemos tentar – Sofia se decidiu, tentada a experimentar, não queria abrir mão de nenhum dos dois, o rosto de Lia se iluminou em um sorriso, ela se inclinou para beijá-la.

— Você vai ver, Sofia. Tudo vai dar certo – Lia previu, se aconchegando nela.

— Mas, Lia, eu preferia que ninguém, além de nós três, é claro, soubesse desse nosso relacionamento – Sofia pediu, pois não sabia se estava pronta para enfrentar a opinião dos outros, Lia a encarou, erguendo as sobrancelhas.

— Se é isso que fosse quer, podemos falar com Jean – ela respondeu, dando de ombros.

E assim, começaram uma peculiar rotina de um relacionamento a três, logo depois do trabalho Jean ia para o apartamento delas, muitas vezes, esperavam por Lia, chegar do seu turno no restaurante. Jean e Sofia tentavam cozinhar, se divertindo com a tarefa que, frequentemente, não dava certo. Então, Lia chegava, reclamava da bagunça na cozinha, beijava os dois, iam os três para a cama. Nesse momento, ao sentir os toques das mãos e os lábios percorrendo e explorando seu corpo, o calor da pele de Jean e Lia contra sua, os perfumes e gosto deles, Sofia não questionava se era certo ou não, apenas queria estar ali. E com o tempo, Jean quase não volta mais para a casa dos tios, passava a semana toda, ali com elas, no dia a dia, conheciam-se, ficando cada vez mais íntimos e ligados. A maior parte do seu tempo deles livre, eles estavam juntos, passeavam, andavam de bicicleta, iam a cinema, comiam, bebiam, riam, dormiam e faziam amor.

Certa manhã bem cedo, a tênue claridade do quarto, anunciava a chegada da iminente da primavera, Sofia acordou, deitada de bruços, olhou para o lado, onde Lia dormia, profundamente, de barriga para cima os braços sobre a cabeça e os cabelos espalhados pelo travesseiro, e como ela, estava nua, porém Jean não estava lá, ergueu o corpo pesado de sono, procurando, o encontrou, sentado em uma cadeira aos pés da cama, ainda sem roupa, o bloco de desenho apoiados nas pernas, os pés sobre a cama, para dar apoio, enquanto sua mão trabalhava freneticamente.

— O que está fazendo? – Sofia sussurrou para não acordar Lia.

— Desenhando vocês – ele respondeu, em voz baixa, sem parar de desenhar.

— Por que a essa hora da manhã? – Sofia perguntou, surpresa, sentando-se na cama.

— Porque não conseguia dormir, achei você bonitas assim como estavam, então tive vontade de desenhá-las.

— Posso ver? – Sofia pediu, ele assentiu com a cabeça, entregando-lhe o bloco, cujo desenho de traços fortes retratava a ela de bruços e Lia exatamente com a viam agora – Está lindo, Jean – falou, emocionada, lhe dando um beijo na sua boca.