Memórias de Kar escrita por O Marido
É, a funerária... Ir diretamente ao ponto mais suscetível a ocorrências estranhas - quando já está envolvido numa - pode ter sido uma boa jogada sua. Acontece que - numa funerária também – as coisas tendem a ser... um pouco mais... macabras. Tenha cuidado.
Suas mãos já haviam torcido a maçaneta nas formas de uma caveira daquela porta rubra a sua frente. Assim que sentiu a trava da porta se desprender, empurrou-a levemente com os braços e pôs ambos os pés para dentro do lugar. Antes disso, porém, meio receoso, sua cabeça penetrou no novo espaço e observou o que podia encontrar no cubículo. Nada de anormal. A mesa de atendimento preenchida por papéis e um computador, caixões – dos quais a maioria permanecia encostada a uma das paredes, como se fossem apenas amostras; e uma única peça estava sobreposta em sua própria estrutura, enfeitada com graciosos arranjos de flores e fechada; Deus queira que não haja nenhum defunto em seu interior, você pensa. – e por fim, um par de grandiosas velas acesas que derretiam com o passar do tempo. Atrás delas, um corredor dos fundos.
O lugar era bem iluminado, conclui. O que pesava mesmo era a baixa melodia assombrosa que tocava, provavelmente vinda do computador. O silêncio predominante já dava-o a entender que estava sozinho.
Sem mais observações a fazer, sua atenção antecede à porta e, pelo menos dessa vez, você a fecha suavemente. Por frente, nota seus pés de vida própria começarem uma caminhada pelo local. A música, as velas, os caixões... Um pequeno baque de tontura lhe convém, mas que é facilmente ignorado.
Seu primeiro destino é a mesa com o computador. Esticando o corpo por cima da própria, você consegue ver do outro lado dela e foca na tela do PC. Está dormente, com a típica logo do Windows se movendo aleatoriamente. Uma de suas mãos vai de encontro ao mouse, movendo-o de qualquer modo apenas para “ligar” outra vez a máquina. Ela liga. A tela inicial está limpa, não há programas abertos atualmente, apenas uma pasta a impede de ser completamente vazia. Clientes.
Curioso – por algum motivo -, seu impulsivo corpo clica para abrir a pasta. Ao passo que seus arquivos parecem carregar, sua cabeça gira brevemente para espiar ao arredor, buscando algo novo ou algum funcionário à espreita, mas não há. “Tim”. O impactante som de erro do Windows lhe dá um susto pesado. Sua atenção se volta ao computador, notando a pequena janela alertando de uma falha na inicialização do arquivo. De uma hora pra outra, a máquina põe-se a desligar. O erro, talvez seja o culpado pela desativação, você raciocina.
Já não tem tempo para inspecionar o PC. Seu corpo vira-se para as velas acesas próximas ao caixão deitado e que estão em seu caminho para o suspeito corredor dos fundos – que, aliás, encontra-se em pura escuridão. Está prestes a andar quando, surpreendendo-o, chega a hora da próxima escolha.
Uma das velas deve:
Cair.
Se apagar.
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