Impaciente, o rapaz balançava as pernas de um lado para o outro esperando ser atendido. Parecia mais ter cinco anos do que os quase quinze anos que realmente possuía.

— Uzumaki? - chamou a enfermeira da porta do consultório, fazendo com que o rapaz se erguesse da poltrona desconfortável e a seguisse.

Dentro do consultório a mãe de Sarada aguardava com uma pasta em mãos. Ela parecia lê-la atentamente que nem percebeu que ele tinha entrado na sala, mas, quando a porta se fechou atrás da enfermeira, ela baixou o arquivo e o fitou.

— Bom dia, Boruto! Como está se sentindo?

Ele suspirou e se sentou em uma das cadeiras do consultório.

— Entediado... Nem treinar estão me deixando, fico o dia inteiro sem fazer absolutamente nada.

A mulher sorriu, compreensiva. Sabia bem como era a sensação, passara pela mesma coisa quando ficara grávida e sua mãe e sua sogra não a deixavam nem levantar da cama sozinha.

— Ouvi que Kakashi-sensei andou lhe dando algumas dicas...

O garoto bufou, reclinando a cabeça para trás.

— Antes ele já era assim?

— Um carrasco? - riu a médica, lembrando com saudade de seus anos de juventude. - Na verdade, ele era muito pior na minha época. Acreditaria se eu te dissesse que fomos os únicos que já foram aprovados por ele?

O rapaz a encarou assustado.

— Sim, ele já era extremamente exigente naquela época. Acho que ele teria nos reprovado se houvesse uma forma de fazê-lo - disse, sentando-se na mesa ao lado dele. - O Rokudaime Hokage é uma pessoa complicada, mas é um dos maiores instrutores com quem eu tive a oportunidade de trabalhar.

— Está tentando me animar? - voltou a bufar, desviando o olhar para a janela onde a luz do sol despontava. - Treinar e me tornar cada vez mais habilidoso e forte é tudo o que eu sempre quis na vida, é tudo o que eu sei fazer. O que serei se não puder seguir?

— Sempre há alternativa, Boruto. Ainda é jovem, tem toda uma vida pela frente...

— Mas essa tal alternativa não é o meu destino.

A médica suspirou.

— Não devia se cobrar tanto! As coisas acontecem quando tem que acontecer, precisa acreditar nisso. E, se é mesmo verdade que seu “eu” do futuro superou toda essa adversidade, é porque ainda há esperança. Talvez você precise apenas relaxar ou talvez considerar as alternativas das quais já lhe falei.

— Acho que bisturi não vai rolar, tia - disse, coçando a cabeça, embora sua vontade fosse gritar de frustração, mas sabia de antemão que acabaria bem mal. De qualquer forma, não poderia decidir nada até ter o aval de sua médica.

Sakura começou a remover as bandagens do rosto do rapaz e por fim a gaze. A cicatriz ficaria bem semelhante a de seu antigo sensei, mas o tratamento lhe daria uma aparência bem melhor e menos assustadora. Contudo, nada poderia fazer para colocar o olho de volta a sua aparência anterior.

— Finalmente, poderemos nos livrar desse monte de pano - disse a médica, depois de examinar o olho, sentindo o rapaz se animar. Aquilo certamente era um incomodo, mas o que se seguiu o deixou mais desanimado.

A médica pegou algo dentro de sua gaveta que não era exatamente um tampão. Era na verdade um protótipo que ela estaria testando para usar em idosos recém-saídos de cirurgias de catarata, mas pediu para que fosse adaptado.

Depois de ajeitá-la no lugar, Sakura explicou:

— É apenas um protótipo, mas poderá usá-lo em missões enquanto não achamos algo mais permanente. Funciona como um óculos, mas fica preso ao seu nariz e a lateral de seu olho por ventosas, mas tem que permanecer bem justo para minimizar o incomodo.

Boruto girou a cabeça ao redor, mas parecia que seu olho não se ativava. Ele enxergava normalmente como se nunca tivesse sido danificado.

— Agora... para usar o “Jogan”, basta acionar o botão aqui - disse, apertando algo quase invisível na lateral do dispositivo, fazendo com que, em um efeito “cortina”, a película sumir, mas instintivamente ele fechou os olhos.

Ele voltou a apertar o botão e o aparelho voltou ao normal.

— Que diabos é isso?

— Agradeça a Karin - disse a médica, sorrindo. - Unimos um jutsu de selamento a tecnologia, mas infelizmente não poderá usá-lo o tempo todo. Para dormir, seria melhor um tampão convencional.

— Por que não um selo diretamente no olho?

— Você não poderia desativá-lo - explicou a médica, rindo ironicamente, pensando que ele não era tão mais inteligente que o pai assim. - E acho que não gostaria dessa opção.

— Obrigada, tia! Quer dizer então que estou liberado para voltar aos treinos?

Ela deu a volta na mesa e pegou um papel, entregando-o ao garoto.

— Entregue a Konohamaru e faça-me o favor de dizer a ele que Sarada se juntará a equipe no início da próxima semana. Finalmente, os oito meses de treinamento chegaram ao fim.

O menino sorriu, feliz. Depois de mais algumas instruções e a promessa de usar o dispositivo apenas em missões, os dois se despediram, mas a médica mantinha a expressão preocupada.

A noite estrelada iluminava Konoha, convidando aos amantes e aos aventureiros de plantão. A praça principal estava lotada de jovens e crianças, todos tranquilos e felizes, enquanto uma brisa suave passava pela Aldeia.

No alto do Monte Hokage, os três amigos observavam a Aldeia sem na verdade vê-la.

— Tem certeza de que aquilo vai funcionar, Sakura? - questionou o Hokage, vestido com suas roupas civis.

— É apenas temporário, enquanto ele não recupera o controle sobre o Jogan.

Sasuke suspirou, as mãos enfiadas nos bolsos de seu sobretudo.

— Eu ainda acho uma péssima ideia pedir ajuda a Orochimaru...

— Se tivéssemos muita escolha, teria sido minha última opção - respondeu Naruto, apoiando-se no cercado. - Estamos no limbo, sem saber o que nos espera. Nessa situação qualquer ajuda é bem-vinda.

— Odeio admitir, mas ele tem razão - disse Sakura, cruzando os braços. - Todos tem que ter noção de que estamos a pé no que diz respeito ao que nos espera.

De repente, sem aviso prévio, uma névoa os cercou, deixando-os em estado de alerta, mas a figura que se revelou os deixou ainda mais em estado de alerta.

— Há quanto tempo, meus jovens?

— Velhote! - exclamou Naruto, surpreso, mas seus companheiros nem se deram ao trabalho de criticá-lo, estavam quase tão surpresos quanto ele mesmo.

— Desculpe por não ter mandado um convite formal - desculpou-se a estranha figura, mas certamente sua expressão não condizia com suas palavras. Isso os deixou ainda mais alarmados.

Ele não apareceria sem um motivo muito sério.

— Você tem algo a ver com o que aconteceu com os meninos, não é? - questionou Sasuke, estreitando os olhos. - Se há alguém capaz de alterar as linhas do destino, esse alguém é você.

Sem alterar a expressão, Rikudou Senin observou-os com seriedade.

— Tem razão, Uchiha - disse, surpreendendo os três. Sasuke dera literalmente um tiro no escuro, ainda tinha esperança de estar errado.

— A troco de quê?

— Esses fatos aconteceriam de um jeito ou de outro. Apenas adiantei o que já iria acontecer.

— Não nos deu um motivo - disse Sakura, estreitando os olhos, mas se assustou quando ele a encarou. Baixou a cabeça em uma pose de submissão. - Desculpe a minha insolência!

— Tudo bem, criança! Toda mãe tem o direito inerente de se preocupar e de defender seus filhos seja do que for. Nunca se desculpe por isso - ordenou, fazendo-a arregalar os olhos. - Respondendo a questão que tão gentilmente colocou, se aproxima o dia em que as habilidades especiais dos seus filhos mais do que nunca serão necessárias e não podemos nos dar ao luxo de que sejam inexperientes na hora do embate. Em outras ocasiões isso custou muito caro...

Os amigos se entreolharam, surpresos demais para esboçar qualquer argumento.

— Sabem que não posso intervir mais do que estou fazendo - disse, olhando com pesar para a bola de cristal a sua frente. - Fizeram um excelente trabalho treinando-os até agora, estão muito mais habilidosos do que em qualquer uma das realidades anteriores, mas...

— Nunca saberemos se é o suficiente - completou Sakura, cruzando os braços.

— Isso mesmo, jovem Haruno - disse o Sábio, sorrindo minimamente. - Mas não devem se martirizar agora pelo que está por acontecer.

De repente, ele foi ficando transparente surpreendendo os três amigos.

— Na verdade, vim pedir um favor. Voltarei ao mundo dos vivos depois de milhares de anos de ausência e, quando for a hora, chegarei a Konoha.

— Algo vai acontecer, não é? - questionou Sakura, surpresa demais com suas palavras.

— Sim, mas não agora. Estou para nascer, então pouco tempo me resta. Quando chegar a Aldeia, saberão que é a hora da prova de fogo - disse, quase invisível, mas ainda disse: - Não tentem me encontrar antes disso...

Como em um piscar de olhos, eles voltaram ao Monte com mais perguntas que respostas. O que estava por acontecer para que o próprio Sábio dos Seis Caminhos decidisse regressar ao mundo dos vivos?