Naruto permanecia estranhamente quieto em sue escritório. Em momentos raros como aquele, em que nem era do almoço e toda a papelada estava organizada, estaria normalmente cochilando em cima de sua mesa, mas naquele dia parecia que algo o preocupava e muito.

Shikamaru sabia que seu velho amigo não estaria naquele estado em circunstâncias normais.

— O que o preocupa? - questionou, organizando os últimos papéis. Sua sugestão de delegar responsabilidades diminuíra e muito o serviço e, como consequência, acabavam chegando mais cedo em casa.

— Está tudo correndo rápido demais, Shika! Eu fico pensando na Sarada, tão jovem e com tanta responsabilidade sobre seus ombros, e lembro de mim mesmo quando era ainda mais jovem do que ela e me questiono se esse silêncio é mesmo real.

O Hokage sentou em sua cadeira, recostando-se.

— Não é só isso que o preocupa, não é?

— As avaliações quanto ao olho do Boruto foram inconclusivas - revelou, mas seu assistente apenas suspirou, como se não estivesse surpreso. Desde que o menino nasceu, fizeram inúmeras verificações tanto físicas quanto genéticas preocupados quanto as revelações sobre o futuro que se aproximava, mas não haviam encontrado nenhum correspondência possível. - Estou quase pedindo ajuda a Orochimaru, mas não quero arrumar mais problemas com o Conselho revelando algo que é tão particular a Aldeia.

— Achei que o Sasuke tivesse tido sucesso no treinamento dele...

— E teve, mas, agora que não tem mais a proteção da íris azul, o poder fica descontrolado se fica destampado.

— Na prática, então, ele só tem um olho normalmente?

— Isso com catorze anos. Kakashi-sensei vem dando umas dicas a ele para quando for liberado pelos médicos, mas não sei se teremos tempo para que aprenda a lidar com essa situação antes que a bomba “estoure”. E isso pode fazer uma diferença enorme não só para ele... Boruto jamais se perdoaria se algo acontecesse a ela.

O Nara ficou pensativo por um momento. Suas crianças estavam crescendo muito rápido, às vezes demais para a sua paz de espírito. Ainda bem que seu filho só se interessava por tecnologia e jogos, às vezes tinha de brigar para ele ir treinar ou lembrá-lo de seus horários, e não conseguia se imaginar as voltas com os problemas que Naruto devia estar enfrentando naquele momento.

— Acha mesmo que devemos nos preocupar?

Naruto levantou-se da cadeira querendo desesperadamente dizer que não, mas Shikamaru imediatamente reconheceria a mentira.

— Fale para o seu filho se concentrar em seus treinamentos porque seus amigos vão precisar de todos logo...

Ele sumiu em um sushin, certamente querendo aproveitar a deixa para almoçar em casa, mas seu assistente se manteve pensativo.

Dias após, os Kages se reuniram em Konoha para a reunião anual, então por livre e espontânea pressão Sarada ganhou alguns de descanso. Então aproveitou para se reunir aos amigos no centro da cidade.

As meninas estavam andando pelo centro quando se encontraram. Depois dos cumprimentos, a encheram de perguntas sobre como ia o treinamento com os Anciões e quando voltaria a frequentar a roda de amigos. Sem querer ela acabou rindo das brincadeiras das companheiras e naquele momento pode fingir que era apenas mais uma aproveitando o momento entre missões para se divertir.

Elas passavam pelas lojas, olhando as vitrines, quando viram algumas pessoas vindo em sentido contrário. Os jovens, com protetores de testa de Suna, pareciam também olhar as vitrines, mas um deles destoava, nitidamente entediado. Sua única preocupação era com uma das meninas do grupo que andava de lá para cá curiosa.

— Emi, pelo amor de Kami - resmungou o jovem moreno, exasperado. - Sabe das regras, fique por perto.

— Não seja chato, oni-chan - contrapôs a menina, os longos cabelos loiros caindo sobre sua testa. - É minha primeira vez em Konoha, me dá um desconto...

— Você nem devia estar aqui - rosnou o rapaz, pegando-a pela gola da blusa, fazendo-a espernear. - E se algo acontecer com você, nosso pai vai arrancar cada membro do meu corpo lentamente.

Os outros membros do grupo somente riram da interação dos irmãos. A tal de Emi era a única que não usava protetor de testa e, isso somado a sua baixa estatura, os fazia crer que ela ainda era uma aprendiz. Sarada sorriu pensando nas historias que sua mãe contava sobre Konahamaru-sensei quando este era ainda jovem e pensou que ela lembrava muito seu sensei quando era criança.

— Estão perdidos?

O grupo se aprumou imediatamente olhando para os desconhecidos, mas, agora olhando melhor, Sarada reconheceu Shinki e sua equipe. Eles haviam participado do mesmo Exame Chunin dela.

— Shinki, há quanto tempo? - disse, sorrindo, mas o rapaz não correspondeu. - Eu não sabia que tinha uma irmã...

Ele suspirou, exasperado, olhando para a garota que havia parado de espernear e a colocou no chão.

— Ela veio nos seguindo por todo o caminho. Meu pai ordenou que ficássemos de olho nela, mas essa garota não sabe respeitar ordens.

Emi bufou, cruzando os braços e virando o rosto. Sarada calculou que ela possivelmente tinha a idade de Himawari, ou talvez um pouco mais jovem, e só pode rir da rixa dos irmãos. Seu irmão se comportaria exatamente da mesma forma se estivesse naquela situação.

— Eu te entendo, Emi! Sabe, eu também tenho um irmão e ele também é um pé no saco... Isso considerando o fato de que ele é mais velho do que eu apenas por três minutos.

A garota deu um risinho cúmplice.

— Eu queria ser filha única...

Todos riram, até mesmo Shinki.

— Aí seu pesadelo seria o nosso pai. Pelo menos, eu divido a paranoia com você, não é?

Emi revirou os olhos.

— Não me lembre disso! Sinceramente, não sei como a mãe o aguenta...

Ela se deteve olhando melhor para o grupo que interagiam. Sua mente ágil foi deduzindo quem era quem, principalmente a menina com quem falavam e sorriu enigmática.

Shinki imediatamente se preocupou com o olhar de sua irmãzinha. Voltou a trazê-la para junto de si não querendo mais problemas do que os que já tinha.

— Vamos embora! O hotel e uma refeição descente nos espera. Foi bom ver você, Sarada - despediu-se, mas ficou imediatamente vermelho quando uma das meninas, com os braços cruzados, o encarou.

— Ah, oi Kattara.

A menina, com seus olhos prateados, apenas soltou um resmungo e foi se juntar as suas amigas, deixando-o de cara no chão.

— Você ainda não conseguiu se entender com a Hyuuga? - ironizou um de seus companheiros, risonho, mas se calou quando ele o olhou.

O grupo se foi rumo ao hotel, mas Emi se aproximou do companheiro.

— Ei, quem é essa tal de Kattara?

O rapaz olhou de esguelha, mas contou:

— Ela é filha de Ren, irmão mais velho de Hinata, atual líder do Clã. Tipo, ela é da realeza, simplesmente a sobrinha favorita da mulher do Hokage e tão orgulhosa quanto qualquer Hyuuga - explicou, balançando a cabeça com ironia. - Durante o Exame Chunin, seu irmão não conseguia desviar os olhos daquela garota e foi por isso que foi único que percebeu que ela estava em uma posição bem vulnerável durante o ataque. Ele a protegeu com sua areia, mas ela viu aquilo como uma afronta... algo como se jogasse na cara dela que não era capaz de se proteger sozinha... e toda vez que se encontram desde então é isso.

— Meu irmão apaixonado?

— É... por uma garota que o esnoba, dá para acreditar? Em Suna ele pode ter qualquer garota que quiser e ele foi logo se encantar pela única que não está nem aí.

A menina deu uma risadinha. Isso deve ter sido um tremendo baque no ego de Shinki.

Horas mais tarde, a turma se encontrou na churrascaria que logo se viu em meio a algazarra dos jovens. Alguns estavam em missão, mas ainda tinha um bom número deles ali na cidade que aproveitaram as horas juntos.

Nem perceberam que a mesma garotinha estava bisbilhotando observando os jovens guerreiros. Até que alguém bateu levemente em seus ombros fazendo-a dar um salto.

— Seus pais não lhe ensinaram que é feio bisbilhotar?

— Ah, qual é? Agora vai imitar meu pai e meu irmão?

Shikadai ergueu uma sobrancelha olhando para a sua prima com curiosidade. De todos os membros da família, Emi era a única que parecia normal ou aproximadamente parecida com o pessoal de Konoha. Algumas vezes pensava se era mesmo filha de seu tio, mas as dúvidas sumiam quando se olhava para os olhos verdes-claros, iguais aos de seu pai.

— Fugindo de novo?

— Já tinha visto todos os cantos de Suna e estava entediada.

— E decidiu faltar a Academia para conhecer novos ares? Seu pai não vai conseguir limpar sua barra para sempre.

— Eu estou bem a frente dos meus companheiros de turma e...

Ela se deteve olhando sobre os ombros do primo. Shikadai se voltou e se deparou com Daisuke olhando para os dois com repreensão.

— Encontrou nossa espiã?

— É apenas uma garotinha que se acha especialista em espionagem, mas só consegue se meter em problemas desde que aprendeu a andar.

Emi corou até a raiz dos cabelos, analisando o rapaz a sua frente, mas com ele já não era tão fácil descobrir de qual família era.

— Meu nome é Emi, sou sobrinha da mãe desse aí, o que faz dele meu primo em primeiro grau.

— Os cabelos loiros já entregaram, mas seus olhos são bem incomuns. Deixe-me ver... seu pai é o Kazekage...

A garota sorriu, travessa. Finalmente, alguém tão observador quanto ela.

— E você quem é?

— Daisuke Uchiha...

Por essa ela não esperava. Provavelmente, ele não era sangue puro, mas isso não queria dizer muita coisa.

— Bom vou nessa antes que dêem pela minha falta e eu esteja proibida de sair da Vila pelo próximo milênio - disse, dramática, mas nenhum dos dois rapazes sorriu.

Mas certamente ficaram surpresos quando ela explodiu em fumaça revelando ser apenas um clone. Daisuke sorriu discretamente, balançando a cabeça.