As coisas estavam estranhamente quietas naqueles últimos tempos e todos estavam tensos certos de que algo grande os aguardava.

Na manhã seguinte ao retorno da estranha jornada pelo tempo, Naruto e seus companheiros se reuniram na Torre para informar a Hokage do que aconteceu no tempo em que tinham ficado ausentes. Muito embora ninguém tivesse se dado conta do sumiço deles já que tinham retornado exatamente na manhã seguinte ao ocorrido, ou seja haviam ficado fora supostamente por apenas algumas horas, acharam melhor colocar a chefe a par do que tinha acontecido.

Após o relato, a mulher havia se colocado em silêncio por longos momentos, deixando os quatro companheiros apreensivos.

— Então, nosso velho amigo retornou – comentou, levantando-se e colocando-se junto a janela do comodo. – Estava tudo quieto demais para o meu gosto.

— Tsunade-sama, a senhora sabe o que eles quiseram dizer com Otsutsuki? – perguntou Hinata, sem poder se conter.

— Esse era o sobrenome de Kaguya, também conhecida como a “Deusa Coelha”.

— Esse não é o nome da mãe do Rikudou Senin? – perguntou Naruto, surpreso.

A Hokage confirmou.

— E também é a matriarca dos Uchihas, dos Hyuugas, dos Uzumakis e dos Senjus.

Os quatro jovens se entreolharam, totalmente surpresos.

— Isso quer dizer…

— Que todos vocês descendem dela… por definição, pertencem também ao Clã Otsutsuki – disse a Hokage, voltando-se. – Pouco ou nada se sabe sobre a verdadeira origem de Kaguya… o que se sabe é que essa figura lendária possuía poderes além da imaginação. Poderes esses que foram repartidos entre seus filhos e seus demais descendentes, um para cada linhagem. Supostamente, a união das quatro linhagens poderia sim fazer ressurgir os Otsutsuki.

— E Kaguya – disse Sakura, tapando a boca com as mãos. Estudara sobre isso e sabia que essa figura era tão poderosa que seria capaz de devastar o mundo inteiro sem mover um musculo sequer.

Era isso o que eles temiam e estavam dispostos até mesmo a alterar a história para impedir que tal coisa acontecesse? O que quer que fosse…

Tsunade observou um a um os quatro jovens a sua frente, mas tinha consciência de que eles tinham o direito de saber a verdade. Como reagiriam a isso seria uma decisão de cada um.

— Quando Sasuke-sama esteve aqui a primeira vez, ficamos sabendo de outra realidade que acabou anulada em virtude das diversas viagens no tempo. Seus filhos gêmeos e o filho de Naruto e Hinata acidentalmente alteraram nossa realidade original na tentativa de salvar seu mundo – disse a Hokage, vendo as expressões ainda mais confusas do grupo. – E novamente quando tiveram de fugir de seu tempo e concertar o estrago que fizeram ao destruir sua realidade original. Só que nisso pessoas não tão bem-intencionadas descobriram o que fizeram e os seguiram para usar o jutsu em seu próprio benefício. Na batalha, apenas o filho dele saiu vivo, mas, quando nós o encontramos, o estrago já tinha sido feito e ele desapareceu em uma explosão de energia.

— Como em um paradoxo temporal? – perguntou Sakura, pálida. – A realidade dele deixou de existir, então ele também deixou de existir?

— Aquela versão de Daisuke Uchiha, seu filho, Sakura – confirmou a Hokage, vendo-a ficar ainda mais pálida, como se fosse possível. – É provável que em nossa versão do futuro ele ainda exista. Sua irmã, pelo menos, existe.

— Como pode ter tanta certeza?

Tsunade sorriu, surpreendendo-os.

— Como eu também sei que farão a escolha certa, na hora certa. Tudo o que podemos fazer quando sabemos demais do que vai acontecer é confiar que faremos as melhores escolhas sabendo o que sabemos… ou apesar de sabermos – disse a Hokage, se aproximando. Colocou a mão direita sobre os ombros de Hinata, surpreendendo-a, e ela ergueu o olhar. – Seu avô e o Conselho Hyuuga sabia sobre seu filho e sobre o que aconteceria com seu tio, mas escolheu ignorar o que sabia e acabou descobrindo que o destino podia ser cruel. É uma pena que o seu avô não tenha vivido para se arrepender de suas escolhas.

— E agora novamente voltam no tempo tentando impedir que nascêssemos – disse Sasuke, manifestando-se pela primeira vez desde que a conversa começou. – Até quando isso vai durar?

— Até acabarmos com Shimura – disse a Hokage, fazendo-os novamente a encararem. – Quando eu era jovem e sua versão do futuro esteve aqui, quem nos atacou disse que era partidário de Shimura, um homem que na realidade dele você tinha matado.

— Tudo começa e termina com Shimura – disse o Uchiha, cruzando os braços, contrariado.

Os outros três pareceram pensar o mesmo porque se mantiveram em silêncio e pensativos por longos momentos. Tsunade compreendia a total tensão deles por tudo o que acontecia, afinal não podia ser fácil sentir como se seu futuro não estivesse mais em suas mãos de uma hora para outra.

Como gostaria de poder poupá-los de tudo isso…

De repente, a porta da sala da Hokage se abriu e um Hiashi furioso entrou na sala acompanhado pelos patriarcas. Se detiveram imediatamente ao se depararem com os outros que também estavam reunidos com a Hokage.

— Onde você esteve, Hinata? – questionou o pai, fazendo-a encará-lo seriamente.

A menina se voltou para a Hokage e para os seus companheiros até surpreender todos os presentes:

— Vim informar a Hokage que estou pedindo minha destituição como herdeira e membro do Clã Hyuuga.

A única que não pareceu surpresa com a sua declaração foi Sakura. Ela mais do que ninguém sabia como era ter sua vida virada do avesso de uma hora para outra.

— Filha, o que aconteceu para que tomasse essa decisão tão precipitada?

— Não é precipitada! Minha vida inteira vi como tratam a maior parte dos membros de nosso Clã, obrigam alguns a se submeterem a uma prática arbitraria para manter as coisas do jeito que estão, ignorando o quanto isso os destrói emocionalmente. Eu vi o que minha mãe passou presa a um casamento fadado ao fracasso desde do início e o meu irmão que apesar de ser o primogênito jamais será o herdeiro. E agora isso! – disse ela, voltando-se aos conselheiros. – Mestre Jiraya disse ao senhor que seu pai sabia que seu irmão seria sacrificado para proteger a família principal, mas ele não te disse que ele também sabia que eu não me casaria com um Hyuuga. Que o meu filho era só meio-Hyuuga.

Hiashi a encarou com a surpresa estampada em seus olhos perolados, deixando claro que ele realmente não sabia do que ela estava falando.

— Eu não quero saber porque decidiram que sua existência não era necessária, isso não me interessa ou importa… Eu só queria saber por que vocês julgam que tem autoridade ou o direito de decidir o que é melhor para mim?

— Você é a herdeira dos Hyuugas… Será a líder algum dia e tudo o que fizer e decidir determinará o futuro de todos nós – disse um dos Conselheiros, arrogante como sempre. – E não seria a existência de apenas uma criança que alteraria séculos de tradições.

— E alguma vez vocês se importaram com o que eu pensava disso? Ou só me consideram um peão que faz exatamente o que vocês mandam?

— Se acostume – disse um dos outros, sua expressão sem emoção. – Sempre foi assim e sempre será, não se engane!

De repente, o rosto da menina se transformou pela fúria e seus olhos perolados brilharam azulados, assustando a todos na sala. Ela esticou a mão direita e quase instantaneamente o homem levou as mãos ao pescoço, parecendo sufocar.

— Diga novamente que minha opinião não importa…

— Hinata…

Mas ela não pareceu prestar atenção, então a Hokage, que estava imediatamente atrás dela, se viu sem opção. Acertou sua nuca, fazendo-a apagar e desabar no chão inconsciente.

— O que diabos foi isso? – bradou, fazendo os três jovens assustarem-se.

— Durante nossa viagem, um dos inimigos disse que Hinata foi a primeira Hyuuga a despertar algo chamado Tenseigan – revelou Sakura, ajoelhada ao lado do corpo inerte da amiga, a cabeça da mesma repousando sobre seu colo. – Disse que só aconteceria em mais alguns anos, mas que a interferência deles deve tê-lo trazido a tona mais cedo do que deveria.

— Tenseigan? – disse o primeiro Conselheiro a se manifestar, os olhos brilhando em cobiça. – Mais um motivo para não entrega-la a qualquer um. Não podemos permitir que um poder desses seja retirado de nosso controle.

— Retirado? – bradou a Hokage, fazendo-o empalidecer. – Segundo me lembro, o Tenseigan é classificado em ordem de poder na mesma categoria do Mangekiou Sharingan Eterno e o Rinnegan, um doujutsu que somente Rikudou Sanin possuiu, certo? Compreendo sua preocupação em protegê-la, mas, antes de mais nada, Hinata é uma pessoa e tem suas próprias vontades.

— Mas…

— Mas nada – rosnou, fazendo-os darem um passo atrás. – Sakura, leve-a ao hospital e examine cuidadosamente seus olhos. Como não há um caso anterior de manifestação desse doujutsu, não sabemos o quanto isso pode comprometer sua estrutura física ou seu chakra. Talvez isso nos ajude a como proceder em seu treinamento a partir de agora.

A jovem assentiu e se foi acompanhada por Naruto. Sasuke permaneceu ali, apenas observando enquanto os conselheiros de Hiashi continuavam a discutir entre si e o patriarca se mantinha estranhamente quieto. Provavelmente somente agora compreendesse tudo o que acontecera nos últimos anos desde que seu irmão gêmeo morrera.

— Tsunade-sama, vou acompanhar minha filha ao hospital – disse o homem, fazendo a Hokage enfim encará-lo. – Gostaria de ser colocado a par dos resultados dos exames para saber o que poderemos fazer.

— Os olhos dela não sagraram, o que já é uma boa coisa – disse a Hokage, compreensiva. Apesar de tudo, Hiashi ainda era o pai de Hinata embora nem sempre fosse um pai carinhoso ou compreensivo. – No entanto, foram apenas alguns segundos entre a manifestação e o nocaute, o que não nos dá uma margem muito alta de avaliação quanto ao comprometimento orgânico. Sakura poderá nos informar melhor depois de examiná-la.

— Quando os Uchihas manifestam o Mangekiou, seus olhos costumam sangrar e sua deterioração acelera – disse Sasuke, em matéria de informação, chamando a atenção de Hiashi. – Não dá para saber se sua filha poderia cair no mesmo mal e acabar cega como muitos Uchihas ou os Hyuugas estão protegidos quanto a isso.

— E quem você pensa que é para opinar?

Sasuke apenas encarou o conselheiro com o Mangekiou ativado antes de rumar para a saída e ir se juntar aos seus companheiros.

— Mais tarde irei ver como estão os exames de Hinata – disse Tsunade, sentando-se novamente em sua cadeira como se informasse que a reunião estava encerrada. – E quanto a vocês… estão terminantemente proibidos de chegarem perto dela enquanto estiver no hospital. E respeitarão qualquer decisão que ela tomar com relação ao seu futuro ou sentirão o peso dos meus punhos.

O olhar que a Hokage lhe lançou os fez tremer violentamente nas bases.