Uma Chance para Duas escrita por Ana


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Vamos a mais um capítulo.
Perdoem os erros que as vezes passam despercebidos.
OBS.: A parte em itálico são lembranças do personagem.



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Regina

Os meus dias se resumiram em fuçar as coisas da Marcela, mas toda a papelada que eu encontrei foram projetos e mais projetos arquitetônicos. Procurei onde ela costumava guardar alguns documentos, mas muitas das gavetas estavam vazias, ela não tinha trazido tudo de volta e com certeza esses papéis estariam na empresa, então eu teria que fazer uma visitinha a minha esposa no trabalho.

Desde o dia em que eu descobri que a Marcela estava me traindo eu não voltei naquele prédio, estar de volta ali novamente era um pouco estranho, me fez lembrar da cena que eu encontrei ao entrar naquela sua sala.

 

Meu intuito era fazer uma surpresa a minha esposa, e não ser surpreendida dessa forma. Ao chegar perto da sala de Marcela vi que porta estava aberta, mais alguns passos e já podia ouvir um barulho também vindo da sala, parecia com... Não podia ser, eu não estava ouvindo aquilo:  

— Ai Marcela! — Gemidos — Assim, assim que eu gosto. 

— Gosta assim? Então se prepara — Mais Gemidos. 

Em cima da mesa da minha esposa estava sentada a sua secretária, Marcela de joelhos entre suas pernas e eu estagnada na porta onde fiquei até ser notada, sem acreditar no que meus olhos viam. 

— Regina? — Disse Marcela ao me ver — Não, não é nada disso que você está pensando, eu só estava...

 

Quando saí de lá foi como se todas as paredes que estivesse ao meu redor tivesse desabado sobre mim, e sem me demorar fui em busca do divórcio. Eu estava magoada, tinha sido traída por a pessoa que eu acreditava ser a companheira da minha vida. É engraçado a série de ilusões que somos capazes de criar para justificar nossas escolhas tortas.

Quando conheci a Marcela, a primeira característica sua que me chamou a atenção foi a sua determinação, ela seria capaz de fazer das tripas coração para alcançar os seus objetivos, na época pensei que era de alguém assim que eu precisava ter ao meu lado. O que antes eu via como uma qualidade, hoje é o motivo de eu estar presa a ela, a determinação que eu via na Marcela era pura obsessão, obsessão em ganhar, em sempre estar no primeiro lugar, e talvez esse fosse o único motivo de ela me querer por perto, o fato de eu não querer estar.

Marcela sempre teve fascínio por as pessoas que eram conhecidas por serem ganhadoras de grandes premiações, como o prêmio Nobel. Em seus devaneios elas dizia que um dia chegaria a minha vez devido a vacina que eu desenvolvi, não que eu acreditasse nisso, mas era sempre delicioso devanear com ela. Hoje sei que foram as minhas habilidades na minha área de estudo que despertou o seu interesse em mim.

Quando entrei no prédio o tinir dos meus saltos no assoalho parecia ser um som distinto dos demais, pois por onde eu passava todos os funcionários me olhavam e cutucavam os distraídos para que também me vissem. Fui direto para a sala da Marcela, que continuava sendo a mesma desde a última vez em que eu estive ali.

 —Posso entrar? —Perguntei colocando a cabeça para dentro da sala.

—Regina, o que faz aqui? — Ela estava analisando uma planta na prancha de desenho sobre o cavalete.

—Você não parece muito feliz em me ver. — Falei entrando na sala.

 —Só estou um pouco surpresa. Posso saber o motivo da sua visita?

—Eu saí da universidade mais cedo e resolvi passar aqui.

—Assim, do nada?

—Fazia um tempo que eu não vinha aqui.

—Desde que...

—Não precisamos falar sobre isso. —Falei a interrompendo.

—Não te incomoda estar aqui? —Ela perguntou largando o escalímetro que estava em sua mão por sobre a mesa.

—Um pouco. —Falei fingindo ainda me importar como aquela questão.

—Mas não precisa, nós estamos recomeçando, lembra? Temos que deixar certas coisas para trás. — Acenei com a cabeça.

—O que você está fazendo? —Perguntei.

—Estou analisando um projeto que os projetistas me mandaram. Você quer ver?

—Uhum.

—É um prédio residencial que vai ser construído em Cambridge MA.

—É uma obra pública? —Perguntei me aproximando do projeto.

 —Não, esse prédio é de um amigo dos meus pais.

—Mas trará um bom retorno financeiro para a empresa?

—Na verdade não, já peguei obras menores, mas fechadas em valores maiores. Essa é mais como um favor, além de ser amigo dos meus pais, ele tem muita influência na cidade, e afinal, uma mão lava a outra.

—E com a ajuda dele você poderia pegar obras muito mais valorosas na cidade.

 —Exatamente! Sabe do que eu sinto mais falta, Regina? —Ela falou me direcionando até o sofá.

—Do que? —Perguntei me sentando.

—Da nossa parceria, éramos muito mais do que casadas, éramos uma dupla imbatível. —Ela falou segurando as minhas mãos. Ela realmente parecia acreditar que eu estava disposta a voltarmos a viver como antes. Porém não respondi, apenas sorri. — Você está com fome? Está quase no horário do almoço, poderíamos sair se você quiser.

—Não quero atrapalhar o seu trabalho, porque não almoçamos aqui como antigamente?

—Eu acho uma excelente ideia, vou ligar e fazer o pedido. — Falou se levantando. —O de sempre? —Perguntou enquanto digitava o número do restaurante no celular.

 — O de sempre.

—Droga! A área aqui dentro está horrível, preciso mandar darem uma olhada nessa antena. Vou ligar lá de fora, tá? — Falou saindo e fechando a porta.

 Era a minha chance de vasculhar os papéis que ela tinha ali. Comecei com os que estavam sobre a mesa, tomando cuidado para não deixar nada fora para que ela não percebesse quando voltasse. Sobre a mesa só tinham projetos rabiscados e cheios de anotações, então abri as gavetas, nelas os arquivos eram separadas em pastas, e as pastas por ordem alfabética, então procurei por “Boston”, nenhuma pasta com esse nome, procurei por prefeitura e voilà, “Prefeitura de Boston”. Sem tempo para olhar o que continham na pasta, apenas a peguei e joguei na minha bolsa no momento exato em que a Marcela voltou para a sala.

 —O nosso almoço vai chegar em meia hora.

 —Que bom, já estou ficando faminta. —Falei me sentando no sofá e colocando a bolsa de lado.

—O que você estava fazendo?

—Ah, eu só estava olhando o projeto novamente, parece ter tanto espaço na planta de situação, mas os cômodos tão pequenos.

 —Isso foi um pedido do cliente, ele pediu que diminuíssemos os cômodos para poderem ser feitos mais apartamentos. Ele quer lucrar com os apartamentos.

—Bem perspicaz da parte dele.

 —Você quer beber algo? — Perguntou se direcionando ao bar.

 —Não, não tem me feito bem beber de estômago vazio, mas se você tiver algum vinho, eu aceito para acompanhar o almoço.

 Mesmo com todos os meus instintos em sinal de alerta eu precisava continuar no papel, se ela acreditasse que eu estava realmente voltando a ser quem era, eu teria mais acessibilidade as coisas. E depois que eu encontrei a pasta eu também não podia sair em disparada em busca da Emma, pois eu acabaria me entregando, e a nossa vantagem sobre ela iria por água a baixo.

Quando o almoço chegou, organizamos a sua mesa e nos servimos. Do vinho que ela me serviu, sorvi pequenos goles, independente do que fosse necessário para me embriagar, eu precisava que os meus sentidos estivessem apurados.

—Como vão as coisas no laboratório e na universidade? Nós temos conversado tão pouco em casa.

—A pesquisa no laboratório tem se mostrado promissora e na universidade muitas provas e monografias para corrigir como sempre.

—Vocês já começaram os testes?

—Já e os resultados tem sido acima do esperado.

 —Que bom, vejo que essa crise pela a qual nós passamos não afetou os nossos desempenhos.

—Não afetou mesmo.

—A Emma voltou a procurar você?

 —Eu já te falei o motivo de ela ter aparecido naquele dia.

—Eu sei, eu só queria saber mesmo.

 —Não voltou, eu falei o suficiente para ela nunca mais querer me ver na vida.

—Sabia que eu não culpo você por se envolver com ela?!

 —Não?

—Não! Eu errei com você, e você procurou uma válvula de escape. Foi como uma fuga da realidade, afinal a advogadazinha honesta e mãe de família não faz o seu tipo. Na verdade, eu acho que o menino que te prendeu a ela, fez com que você lembrasse do nosso Henry.

 —Eu acho que pode ter sido isso mesmo. — Falei fingindo indiferença.

—Mas você sabe que nós ainda podemos ter o nosso, eu terminei o tratamento.

—Eu sei que podemos, mas isso não é mais uma prioridade para mim, no momento o meu foco é o meu trabalho.

E o almoço se seguiu dessa forma, como a Marcela listando inúmeros motivos que justificasse o meu envolvimento com Emma, menos o verdadeiro, que eu me envolvi com ela porque eu me apaixonei.

Depois do almoço ela decidiu de que iria para casa, já que passamos aquele tempo juntas, ela gostaria de passar mais, e como também faria uma viajem rápida à Cambridge MA para falar com o cliente do projeto que ela analisava quando eu cheguei, ela também precisava organizar uma mala.

Antes de sairmos ela pediu que fosse descendo na frente pois ela passaria na sala dos projetistas.

 

—Você vai demorar? — Perguntei da porta do closet enquanto a via arrumar uma mala pequena.

—Volto amanhã pela manhã. Vai ser só uma conversa rápida, vou mostrar os projetos e as alterações propostas, mas como não quero pegar a estrada à noite, vou dormir por lá.

 —Que horas você vai sair?

 —Vou daqui a pouco, vou apenas terminar de ajeitar a mala e tomar um banho. Você não vai trabalhar hoje à tarde?

 —Vou passar no laboratório mais tarde e ver como andam os testes.

Quando ela terminou o banho e desceu com a mala, também desci junto para me despedir.

 —Apesar de terem sido poucas as horas que passamos juntas, hoje foi um dia bom, gostaria que tivesse sido tão bom para você quanto foi para mim. —Ela falou me olhando nos olhos. Certas vezes o brilho no olhar de Marcela beirava o animalesco, e era exatamente assim que ela olhava naquele momento.

—Mas foi, Marcela, você estava certa, tudo que eu precisava era de tempo. —Me apressei em dizer.

—E talvez você ainda precise de mais, mas eu vou esperar. Por você eu faço tudo.

 —Eu sei que faz.

 —Mas é tudo mesmo. Agora eu já vou, até amanhã de manhã. — Falou me pegando de surpresa e me beijando.

—Boa viagem e bons negócios. — Falei sorrindo e controlando a minha vontade de cuspir.

Assim que ela saiu me pus a ligar para Zelena para que ela ligasse para Emma, porém a ligação chamou até cair na caixa de mensagens de voz, tentei várias outras vezes, mas nada.

Só me restava esperar, e nesse meio tempo aproveitei para ver o que tinha na pasta. Sabe a sensação de abrir um embrulho muito esperado que chegou pelo correio, então, foi exatamente isso que senti quando tirei a pasta da minha bolsa e abri.

 O primeiro papel que peguei era o projeto arquitetônico da uma praça, o segundo era uma planta hidráulica, o terceiro a planta elétrica, o quarto a planta de situação e quinto o projeto de paisagismo, já perdia as esperanças, até que por fim ele me apareceu. O contrato estava no fundo da pasta e continha um valor exorbitantemente alto.

Uma sensação de êxtase se apossou de mim, esperava que Emma pudesse fazer bom proveito daquilo. Para tentar controlar a ansiedade, fui um pouco mais cedo para o laboratório, com sorte eu falaria pessoalmente com a Zelena no hospital.

Fui para o laboratório, preparei algumas reações a analisei os resultados de alguns testes, mas o tempo inteiro só pensava em que eu poderia estar a um passo de me livrar da Marcela.

Quando saí do laboratório passei por o consultório de Zelena e a atendente me disse que ela tinha finalmente entrado de licença. Pensei em uma justificativa para ela não me atender, talvez ela estivesse curtindo o final da gravidez com Hades, mas ainda assim quando cheguei em casa fui checar se havia alguma ligação ou mensagem no meu celular.

O aparelho que estava no silencioso, estava repleto de ligações não atendidas, mas não eram de quem eu esperava ser, todas eram do número da Emma. Porque ela estava me ligando? Eu havia deixado claro como que seria a nossa comunicação. Me questionei se retornava ou não, mas cedi ao impulso e liguei.

—O que aconteceu para você me ligar, nós já havíamos con..

Mas ela me cortou, e do outro lado da linha a sua voz soou desesperadamente angustiante.

—O Henry, ele, ele sumiu.


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