Uma Chance para Duas escrita por Ana


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

tenham todos uma boa leitura



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"Tudo acontece por um motivo
Tudo acontece por uma razão
Só nos resta esperar que nada seja em vão."

Regina

Era por volta das duas da manhã e eu ainda não tinha pregado os olhos quando o meu celular que estava em cima do criado mudo tocou, era Hades.

— Sei que está muito tarde para ligar, mas é que aconteceu algo. Agora durante a madrugada o seu pai teve algumas complicações e sofreu uma parada cardíaca, infelizmente nós... Nós não conseguimos reanimá-lo. Eu sinto muito, Regina.

O ar, o tempo, tudo ao meu redor pareceu parar, no meu peito havia sido aberto um buraco à marretadas, e uma mão parecia esmagar o meu coração me roubando o ar e o chão, e reduzindo tudo a pó. Tudo ruiu a minha volta.

Me troquei com uma urgência máxima e sem que eu ao menos me desse, conta já tinha chegado ao hospital.

Esperaram que eu e Zelena chegássemos para nos despedir e só então poderem levá-lo

O quarto estava imerso em um silêncio que beirava a paz, não havia barulho de bips ou aparelhos, nele também havia uma Cora com o olhar distante, talvez tão distante quanto o meu pai estava naquele momento.

Zelena se debruçou sobre a cama em um choro copioso, eu também queria fazer o mesmo, eu queria chorar, queria transbordar, mas eu não conseguia. Ele parecia dormir tão profundo e tranquilamente que por alguns instantes eu acreditei que ele ainda estava ali e que acordaria a qualquer momento.

Eu tinha tanto o que falar, tanto pelo o que me desculpar. Pedir desculpas por as ligações não atendidas e as chamadas não retornadas, por as vezes que não quis escutá-lo, por descontar nele as minhas frustrações mesmo que involuntariamente, e além de tudo, não ser a filha que ele mereceu.

Lembrei de todas as vezes que ele me ofereceu colo e que por orgulho neguei.

Senti um nó se formar na minha garganta me fazendo engolir seco.

Naquele momento não tinha nada que eu gostaria mais nesse mundo do que o seu colo e um afago nos cabelos.

Já não sabia o que queimava mais, se era a minha garganta ou os meus olhos imersos em lágrimas que resistiam em não cair. Meus lábios estavam tão trêmulos quanto os de uma criança poderiam estar.

Desabei antes mesmo que eu pudesse perceber. Tudo doía, todo meu corpo tremia perante ao pranto.

Era minha culpa.

Durante a preparação para o funeral, Cora e Zelena ficaram responsáveis por avisar os familiares que moravam longe e pôr a recepção, Hades e eu ficamos com liberação do corpo, embalsamação e afins. Preferi ficar com essa parte pois achei que lidando diretamente com a morte dele eu poderia me acostumar com a ideia de que ele realmente se fora, mas eu nunca estive tão enganada.

O funeral aconteceu em um final de tarde quatro dias após o falecimento, durante esse tempo o meu celular e o telefone fixo da minha casa não paravam de tocar, atendi algumas poucas e recusei dezenas.

Todo o cemitério estava banhado por a linda luz alaranjada do sol poente, parecia até ironia do destino.

Eu me sentia anestesiada, tudo que eu conseguia ver era o meu pai preso naquela caixa, sentia que qualquer passo em falso eu cederia. Pessoas vinham em minha direção me cumprimentar e tudo que eu parecia fazer era um menear de cabeça.

Havia muita gente ali, entre eles familiares distantes, amigos da família, colegas de profissão tanto dele como meus e de Zelena, e alguns rostos conhecidos de Storybrooke.

O cerimonial ficou a cargo do Dr. French, um dos amigos mais antigos do meu pai. Tornaram-se amigos no início da graduação em medicina.

— Boa tarde a todos, em outras condições eu estaria imensamente feliz por estar diante da família Mills, mas hoje é com imenso pesar que venho vos falar. Eu e Henrique nos conhecemos há muito tempo atrás, acho que somando a idade das filhas dele ainda não seria suficiente. — Todos riram com respeito em resposta. — Henrique sempre foi um homem íntegro, valoroso e de princípios, como médico o meu amigo era sem igual, um profissional ímpar em sua área, e como pai nem se fala, todos aqui podem ver o seu maior tesouro, suas filhas. Acho que não há aqui um ouvido sequer que não tenha escutado ele falando o quanto Zelena era habilidosa com os seus pacientes, ou pomposo ao falar das pesquisas da caçula. O fato é que Henrique fora um ser humano incrível, um esposo gentil, um pai amável e sem sombra de dúvidas seria um avô maravilhoso.

— Vocês gostariam de falar algo? — Ele perguntou se aproximando de nós três que estávamos ao lado do caixão. Eu temia que se abrisse aboca cairia em um choro copioso, então só neguei com a cabeça.

Quando começaram a descer o caixão, senti como se a gravidade ao meu redor tivesse sido duplicada para vinte, tudo pesava, eu sentia que o meu corpo em pouco tempo ficaria rente ao chão.

A primeira a depositar o primeiro punhado de terra foi Cora, e como se seguisse uma linha etária, Zelena foi a próxima e eu a última. Aos poucos alguns amigos foram se aproximando para jogar flores enquanto o caixão era soterrado, por fim depositei uma rosa branca, que eram suas preferidas, sobre a cova.

Ele dizia que gostava das rosas brancas porque apreciava a pureza dos que ainda não tinham sangrado. Alguns anos foram necessários para que eu pudesse entender, eu precisei sangrar para realmente entender.

Para recepção, foi oferecido um bar de um dos amigos do meu pai, Fergus. O local era enorme e possuía uma decoração rustica toda trabalhada na madeira envernizada. O meu pai adorava estar ali, sempre que podia, vinha encontrar alguns dos seus amigos mais antigos ali.

Quando chegamos já haviam algumas pessoas no local, e aos poucos uma fila foi se formando para nos cumprimentar. Fergus foi o primeiro, pois o mesmo preferiu ficar cuidando das coisas no bar, ele tinha nos dito que tinha visto meu pai em sua melhor época e que se recusava a vê-lo morto. Abraçou primeiro Cora, e depois abraçou a mim e Zelena de uma vez só com o seu trejeito escocês.

— Não consigo respirar. — Brinquei.

— Nem o meu bebê. — Zelena disse.

—Me desculpem meninas. — Disse sem jeito.

E seguimos assim, recebendo os pêsames de algumas pessoas e abraços de outras. Já estava tão no automático que nem percebi quando Lilith surgiu.

— Regina... — Disse abrindo os braços. A abracei. — Eu sinto muito, muito mesmo. — Disse enquanto nos desvencilhávamos.

— Sei que sim. — Falei sorrindo fraco.

— Desculpa não ter chegado mais cedo, ocorreram tantos imprevistos hoje...

— Ta tudo bem, Lily.

— Eu tentei te ligar, mas...

— Mas eu não te atendi, desculpa.

— Se não fizesse isso não seria você, não é? — Disse dando passagem para a próxima pessoa.

Por trás de Lily surgiu alguém que fez com que as minhas pernas ficassem ainda mais bambas do que já estavam.

— Meus mais sinceros sentimentos, Reg... — Emma começou a falar também abrindo os braços para um abraço. Me atirei naquele abraço antes mesmo que ela pudesse terminar a frase. Abracei Emma apertado como se buscasse nela a força que eu tinha procurado durante o dia inteiro, e para o meu alívio ela também retribuiu o abraço me apertando, cerrei os olhos na tentativa de impedir que as lagrimas chegassem a eles. Eu não sabia o que estava fazendo, mas naquele momento Emma estava tão presente na minha vida quanto a minha própria irmã.

Saí do abraço quando notei alguns olhares sobre nós.

— Eu teria vindo antes, mas a Lily já explicou. — Falou passando a mão na nuca. — Bom, para o que você precisar não hesite em me chamar, ok? — Fiz que sim com a cabeça e ela se dirigiu para falar com a Zelena.

Era óbvio que eu tinha gostado de ver Emma ali, mas do que qualquer outra pessoa.

As pessoas só se dissiparam quando os aperitivos começaram a ser servidos. Enquanto Cora conversava com alguns velhos amigos, eu e Zelena nos dirigimos para uma parte mais tranquila do balcão, e claro que com Hades no seu encalço, mas eu o compreendia, ele tinha medo que devido as fortes emoções ela passasse mal. Zelena por si só era forte, mas levando em conta sua gravidez, era melhor prevenir do que remediar.

— Fergus, o melhor uísque que você tiver aí, por favor. — Pedi.

— Vejo que a menorzinha é mais forte que o pai. — Ri fraco.

— Como eu gostaria de encher a cara. — Zelena lamentou.

— Nem pense nisso. — Hades falou repreendendo Zelena. — Um suco ou uma água para ela e alguma coisa para duas comerem, Fergus. — Nunca tive problemas com Hades, mas também nunca fomos próximos, mas eu não podia fechar os olhos para de quanta ajuda ele estava sendo.

Fergus trousse as bebidas e alguns aperitivos, nos quais eu só mexi.

Olhava fixamente para o copo vazio em cima do balcão quando ouvi voz se aproximando, já imaginava que fosse alguém para nos dizer “Meus pêsames”, nem me dei ao trabalho de virar.

— Acho que você eu não conheço. — Me virei para ver com quem Hades falava.

— Essa é Emma Swan, amor. Ela é a advogada da Regina. — Zelena falou. Eram Emma e Lily que tinham se aproximado.

— É um prazer conhecê-lo. — Ela falou apertando a mão dele.

— O prazer é meu.

Lily, Zelena e Hades engataram uma conversa sobre algo que com certeza não me interessava e Emma se postou ao meu lado esquerdo se encostando no balcão.

— Como tá o Henry? — Perguntei sem olhá-la.

— Está bem, e cada vez mais impossível. — Falou ficando de lado para me olhar.

— Ele é um amor, você que é exagerada. — Falei me virando para ela.

— Porque não é você que tem que ficar correndo para tirar as coisas do meio.  Ele começou a engatinhar e mais ninguém segura ele. — Eu gostava quando ela falava sobre o garoto, era um assunto tão leve, e ela parecia ter tanto gosto em falar sobre ele.

— O mundo é o limite. — Falei rindo, enquanto ela também ria a balançava a cabeça em negação.

Depois de ter engravidado, Zelena tinha se tornado uma antena que captava qualquer assunto que envolva maternidade, logo ela já estava enchendo Emma de perguntas.

— Vocês já sabem o sexo do bebê? — Emma perguntou.

— Ainda não, quero que seja surpresa.

— Eu acho que eu não conseguiria. — Lily falou.

— E se vocês querem saber não está sendo nada fácil, toda vez que ela vai fazer uma ultrassom a médica dela tem que cobrir a genital do bebê, porque nós também somos médicos, e se bater o olho nós já sabemos o que é. —Todos nós rimos.

— Mas vocês já pensam em nomes? — Lily perguntou.

— Qualquer um que não seja nome de um deus. — Zelena falou fazendo com que Hades ficasse carrancudo.

Eu não participava ativamente da conversa, tinha minha atenção voltada para outra coisa, outra pessoa talvez.

Mas sabe o ditado “pior que tá não dá pra ficar”? Entenda uma coisa, sempre, sempre dá para ficar pior.

Uma movimentação mais à frente tirou a minha atenção. De onde eu estava vi claramente quem tinha chegado. Minha mãe que apontava diretamente para mim, conversava com uma mulher de cabelos compridos e castanhos.

Sabe quando o gato se arrepia inteiro seja por medo, estresse ou coisas do tipo? Foi exatamente assim que eu me senti quando a Marcela se aproximou de nós.

Ela cumprimentou Hades, Zelena e Lily, fingiu que Emma não existia e se dirigiu a mim.

— Regina, eu sei que as coisas entre nós não estão indo bem no momento, mas eu ...

— O que é que você está fazendo aqui? — Perguntei antes que ela pudesse terminar.

— Vim mostrar solidariedade a essa família que me acolheu tão bem, e a minha esposa.

Me subiu algo do estômago, passando pela garganta que eu achei que fosse cuspir fogo, todos os outros que estavam comigo me olhavam como se eu realmente fosse fazer isso, mas eu não ia perder o controle, não ali, aquele momento não era sobre mim, era pôr e para o meu pai.

— Acho melhor você ir embora. Você não é bem-vinda aqui.

— Como não? Você não viu como a sua mãe me tratou? Por acaso você tem algo contra mim Zelena? — Zelena apenas passou a mão no cabelo e respirou fundo. — Eu vim aqui para saber como você está, Regina, e dizer que eu estou aqui por você. — Marcela levantou a mão como se fosse fazer um carinho no meu rosto, mas Emma foi mais rápida, antes mesmo que a Marcela pudesse encostar em mim, ela segurou sua mão no ar.

Todos olhavam descrentes para ela, inclusive eu.

Emma estava séria e falou ríspida com Marcela enquanto segurava sua mão: — Acho melhor você ir.

— E quem você pensa que é além de uma mera advogadazinha? — Marcela falou puxando o braço.

Cora assistia a tudo de longe.

Emma já estava crescendo para cima dela quando eu a puxei para trás e me aproximei de Marcela, deixando uma distância muito curta entre nós, diga-se de passagem.

— Você não tem esse direito, você sempre soubesse o quanto ele era importante para mim. — Falei baixo e por entre dentes. — Mas se você quer ficar, fica. — Dito isso rumei para fora do bar, ouvindo a voz de Zelena me chamar ao fundo.

Do lado de fora fui recebida com uma lufada de ar frio. A noite tinha caído sem que ninguém percebesse.

Comecei a andar pela calçada, tinha dado alguns passos quando ouvi me chamarem novamente.

— Você deveria voltar para dentro, tá muito frio aqui fora. — Falei parando para esperar ela que vinha em minha direção.

— E porque você não volta comigo? Era o seu pai, você deveria estar lá, e não ela.

— Emma, foi melhor eu me retirar.

— Mas.. — Ela tentou argumentar.

—Mas nada, eu não só não quero causar mais estragos.

— Estragos?

—Emma... — Me aproximei dela. — Me tira daqui, por favor. — Supliquei num sussurro.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem e até a próxima.