O Verdadeiro Amor escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 2
O Segundo Passo




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Não era mais fevereiro. Dezembro batia à porta dos estudantes do nono ano daquele competitivo colégio. Os estudantes se despediam do lugar em que passaram vários anos, conheceram pessoas, mudaram.

Sim, para Kim Minseok, mudança era o mais importante. Ele gostava de observar e analisar as transformações nas pessoas, que, em sua maioria, acabavam por se tornarem belíssimas borboletas, prestes a voar.

Ele também ansiava por mudanças. Não só no corte de cabelo, que agora estava quase chegando aos ombros, nem na cor do mesmo, um verde excêntrico que lembrava a cor de uma relva calma. Desejava mudar-se para outro tipo de colégio. Não queria se prender a padrões de escolas do ensino médio, apesar de ter conseguido adentrar uma das melhores de sua cidade, e em uma colocação espetacular.

Queria liberdade. Fazer o que almejava, apaixonar-se por alguém, poder rir quando quisesse e falar só quando desejasse. Gostava, todavia, de manter algumas coisas, como lugares limpos e seu comportamento educado. Apreciava ser um veterano, prestes a se mudar, partir em busca de experiências.

Os colegas corriam para a frente da escola. Encontrariam lá muitos familiares e amigos. Provavelmente tirariam retratos, sorririam, chorariam, compartilhariam lembranças. Prometeriam se ver de novo, em breve. Promessas que não se cumpririam na maioria dos casos, Minseok podia apostar.

No entanto, não, o garoto de cabelos verdes não acompanharia a multidão. Não por não ter amigos e familiares que o recebessem no seu último dia de aula, pois ele os tinha, e os amava muito. Mas por desejar dar um último adeus para um lugar especial naquela escola.

Ele foi até o último corredor do bloco D, este costumava ser de congelar. Minseok se abraçou por instinto. Abominava frio. O calor era bem melhor, transmitia uma sensação de paz e felicidade ao garoto. Lentamente, parou em frente a porta e abriu.

A sala continuava a mesma depois de muitos anos. Ninguém parecia limpá-la, e por tê-la abandonada faziam dois ou três anos, estava coberta de pó. Minseok queria arrumá-la uma última vez.

Conteve-se por saber que não havia levado nenhum produto naquele dia. Pensou se deveria pedir a algumas das ajudantes e depois riu, achando graça de seu próprio comportamento. Sua fixação com limpeza havia evoluído com o tempo, não é? Ele sabia disso agora.

Um vento gelado o envolveu e ele encolheu os ombros, tremendo um pouco. A janela o chamava, como sempre fizera. Ele estava chocado por não terem nem ao menos fechado, mas ficou quieto. Em parte, a culpa era dele.

Foi para o centro do seu pequeno palco que criara quando decidiu ser Pierrot. Ah, aquela época. Um espírito saudosista se instaurou em seu peito por uma pouca quantia de segundos. Um palco que era meramente o chão de uma sala abandonada, perto de cadeiras vazias, dos mais diversos modelos.

Um público que nunca existiu.

Caminhou até a janela, fechando-a enquanto recebia um vento frio acariciando suas bochechas. Ele encolheu os ombros mais uma vez. Tudo bem, não era exatamente um carinho. Estava mais para um “até logo”, pois não sofreria nem vivenciaria mais aquela brisa, não naquela sala, não enquanto ensaiava para um sonho infantil sem causa nenhuma.

Como um flash, lembrou-se da única pessoa, um garoto há muitos anos, entrando de supetão na sala. Ele era desajeitado, um pouco sem educação — afinal, não batera na porta antes de abrir e jogar algumas coisas em uma das cadeiras —, ria alto e falava da mesma forma. No entanto, parecia gentil.

Ele se apresentou e riu, batendo palmas no final do pequeno show que Minseok fizera especialmente para o moreno. Foi a primeira e única vez que alguém presenciara o que ele ensaiou por tanto tempo para se tornar Pierrot. O garoto prometera voltar.

Minseok passou muito tempo relembrando daquela cena. Não poderia ter se arrependido mais de ter sido pego matando aula especialmente naquele dia. Não pôde aguardar pelo garoto de quem queria se tornar amigo. Nunca mais o viu, apesar de ter quase certeza que estudavam na mesma escola. Pelo menos, até agora.

Não que ele não tivesse procurado. Ele procurou, muitas vezes, no refeitório, na biblioteca, nos corredores. Acabou esquecendo do rosto do garoto, e desistiu da busca. Talvez tivesse se mudado. Ou algo assim.

Talvez não fosse para eles serem amigos.

Minseok costumava a não levar a sério quem acreditasse em destino. Para ele, as pessoas construíam o que desejavam com suas próprias forças e seu esforço. Nenhuma coisa mística, como esse tal de destino, havia feito com que ele passasse naquela bendita escola, para onde iria no outro ano. Não. Ele, Kim Minseok, havia feito tudo sozinho com trabalho duro e dedicação.

Ele riu de novo ao lembrar de seu fascínio em querer ser Pierrot aquela época. Passou-se tanto tempo. Havia perdido esse encanto. Queria outra coisa, apesar de não saber exatamente o quê. Descobriria, tinha certeza, quando entrasse na outra escola.

Precisava descobrir. Só assim, poderia planejar e executar. Não gostava de nada no improviso. As chances de falhar se tivesse planos seriam bem menores do que se não tivesse nenhum e apenas esperasse que a vida trouxesse algo para si.

Alguém bateu na porta, tirando o garoto de seus devaneios típicos de adolescente. Minseok sorriu para a pessoa, parada do lado do portal, que estava com um imenso sorriso no rosto.

— Como você me achou? — O encanto do lugar secreto de Minseok havia sido quebrado pela segunda vez. A primeira pelo moreno e agora essa. Na primeira vez tinha sido dolorido, agora também era. Que ridículo ter tanto ciúme de algo assim.

— É fácil, baozi. — respondeu a pessoa, com um leve desdém. — Eu sei de tudo sobre você. — O belo garoto riu, jogando a cabeça para trás. — Vamos?

Olhou para a sala, despedindo-se das cadeiras coloridas de diferentes formatos, estando a maior parte delas quebradas, velhas, e agora, cobertas por pó. Fitou a grandiosa janela fechada, as calmas cortinas que não se moviam nem um centímetro. Viu o quadro verde de novo e deu um suspiro longo.

— Vamos, Luhan.


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