Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 3
Os Perigosos Anemis


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Lucille caminhara durante um dia e uma noite, até chegar a uma cidadezinha de aparência mais acolhedora chamada Bela Vista do Sul. A garota achou que talvez os acasos realmente a tivessem ajudado a escapar do terrível homem de olhos gélidos, mas uma rápida conferida nos futuros revelou que ainda existia uma chance dele a alcançar. Hesitante e pensativa, a menina mal notava os olhares curiosos do transeuntes. O estilo de Lucille comumente chamava a atenção, principalmente em lugares como aquele, onde a população era, em sua maioria, de pessoas mais simples. Mas ela não se incomodava, suas roupas e aparência eram uma espécie de legado que Adelaide deixara. 

Lucille divisou uma padaria na distância. O lugar era confortável e alguns poucos clientes já tomavam café e comiam pães de queijo, sanduíches ou simplesmente bebiam um copo de café com leite. A bruxa se sentou em uma das mesas do lado de fora, e fez com que seu notebook reaparecesse em sua mochila, de onde o tirou. Lá ela vagou por longos minutos, comendo um misto quente que pedira. Os jornais acabaram por revelar muito mais horror do que ela esperava. Um desaparecimento em massa de menina em Perdizes, Minas Gerais. Em Pongaí, São Paulo, corpos foram encontrados sem as pernas e braços, e com os órgãos internos todos faltando. Ela teria várias opções. 

A garota suspirou, estava começando a se sentir solitária. Embora Lucille normalmente gostasse de calma e silêncio, ela já tivera desses dois o suficiente. Desde que Adelaide morrera, a garota só conversava com seus antigos colegas por telefone ou mensagens. Mesmo que hesitasse em ficar em lugares, por medo de perder novamente o que construíra, Lucille sentia falta de ter alguém com quem comentar as coisas que via ou ouvia. Sentiu uma lágrima traidora rolar por seu rosto, surpresa, achou que já tinha chorado todo seu estoque quando Adelaide morrera.

Distraída em seus próprios pensamentos infelizes, Lucille levou um grande susto quando uma mão pousou em seu ombro. Assim que a  garota se virou para ver quem era, um pó de aparência brilhante foi soprado em seu rosto. A última coisa que sua consciência registrou antes apagar, foram olhos azuis claros como gelo.

...

Lucille acordou lentamente. A menina nunca bebera na vida, mas tinha certeza de que a famosa ressaca não poderia ser muito diferente do que sentia no momento. Seu corpo estava mole e pesado, a luz que chegava ao seus olhos era como uma espada sendo fincada em seu cérebro. Ela sentiu o aperto de cordas em seus pulsos, e para seu completo espanto, não conseguiu arrebentá-las, nem com sua força, nem com magia.

— Deve estar se perguntando o que está acontecendo. - Disse uma voz, grave e calma, vinda de algum lugar a direita. Escondido nas sombras do lugar, estava a silhueta de um homem.

— Na verdade, eu estou sim. - Disse, falhando ao tentar soar debochada.

O homem saiu das sombras, e Lucille observou o rosto que aparecera em sua visão. Um queixo quadrado e maxilar proeminente, nariz reto e fino, a boca como uma linha reta e os olhos tão claros que o deixavam com uma aparência psicótica. 

— Lucille, Lucille. - Ele começou dando um leve sorriso perverso - Existem tantas coisas sobre você, que nem mesmo você sabe. - Disse, enquanto pegava algo no bolso do terno que usava - Coisas incríveis.

A garota tentou se soltar das cordas uma vez mais, pressionando com força.

— Não precisa gastar suas energias, as cordas foram enfeitiçadas. Vão te segurar por mais um bom tempo. Tempo o suficiente para eu te explicar seu lugar em nosso plano. - Das sombras mais formas começaram a surgir. Lucille observou duas mulheres se aproximando, uma o total contraste da outra. Estavam lado a lado, a da esquerda tinha a pele negra como a noite, e os cabelos e olhos de um cinza quase branco, a da direita tinha a pele tão clara que quase parecia brilhar, enquanto seus olhos e cabelos eram pretos. Ao lado delas uma criatura pequenina e corcunda, com um nariz proeminente como o de um tamanduá, se aproximava. Um brutamontes fortão, tão alto que poderia alcançar o teto caso erguesse seu braço, e cuja cabeça era infinitamente menor em relação ao seu corpo, chegou logo em seguida. 

— Contemplem! - Continuou o homem dos olhos gélidos - A nossa chave. - Disse enquanto tirava o que guardava em seu bolso. Uma joia vermelha e brilhante. As demais criaturas urraram em alegria, enquanto Lucille sentia seu estômago se contrair, nunca experimentara um medo como aquele em sua vida.

— Quem é você? - Foi o que ela conseguiu perguntar, ainda puxando seus pulsos.

— Meu nome é Nikolaus Kreisel, esses são só alguns dos meus seguidores, nós somos os Anemis, um grupo dedicado a venerar os Miseri.

— Os o que? - Lucille perguntou, nada naquela conversa fazia sentido para ela.

Nikolaus soltou uma baixa risada. - Vejo que não é tão instruída quanto eu imaginei. Miseri são criaturas magníficas feitas de puro caos e horror. Banidas há muitos séculos por pessoas como você, para a dimensão da morte, onde todas as calamidades do universo estão.  E agora minha querida, querida Lucille, você é a chave que vai abrir a dimensão da morte e trazer os Miseri uma vez mais ao nosso mundo.

Mais exclamações de satisfação dos presentes.

— E por que eu faria isso? - Perguntou, finalmente deixando de tentar puxar as cordas.

— Por que você não vai ter outra escolha. - Ele ergueu o colar na altura dos olhos de Lucille.

Nesse momento um estrondo se fez ouvir em algum lugar além do cômodo onde estavam. A expressão de Nikolaus, que até aquele momento era de pura satisfação, de desfez em uma máscara de ódio. Num perfeito alemão, ele falou o que pareceram comandos para os demais, que saíram correndo em direção ao som.

— Nada vai atrapalhar meu momento de vitória. - Ele disse, voltando a exibir um pouco de seu sorriso. Nikolaus foi em direção a Lucille com o colar erguido em suas mãos. A cada passo que as joias vermelhas se aproximavam, mais a bruxa sentia seu corpo enfraquecer e sua mente se nublar. Mas antes que ele pudesse passar a corrente prateada pelo pescoço da garota, uma voz disse:

— Deixe-a em paz. - E um forte clarão tomou conta do ambiente, como se o próprio Sol tivesse se aproximado para ver o que estava acontecendo, e pela segunda vez naquele dia, Lucille perdeu a consciência.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem :D



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