Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 25
As Dores da Vitória




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732217/chapter/25

Lucille deixou a prisão de sombras para encontrar todos os seus amigos e colegas. Apesar de terem conseguido fugir, todos os horrores que assistiram enquanto estavam presos ainda pesavam em suas mentes. Vitor tinha sua cabeça apoiada no ombro de Evan, os dois davam as mãos, um tentava confortar o outro. Daiana estava quieta, em um canto do escritório de Kreisel, olhos no chão, sem saber o que fazer. Elísio e Odete olhavam para Lucille com um misto de expectativa e tristeza. A jovem bruxa gostaria de poder ficar ali, conversar com eles, ajudar a levar todos para casa. Mas havia uma última coisa que ela precisava fazer.

— Eu tenho que terminar isso. — Ela disse, Elísio e Odete acenaram que sim, o resto da ODM apenas a observou.

— Você não está mais sobre o efeito da Nihil. — Odete começou, quando a garota ameaçou se teletransportar — Antigamente mais de um Plenus foi necessário para mandar os Miseri para a dimensão morta. Você terá que fazer o trabalho sozinha, tem que ter em mente que você não vai se recuperar tão cedo disso. — Alertou. Lucille reparou as olheiras que afundavam o rosto da bruxa mais velha, seu coração se apertou e a garota desejou poder apagar os últimos dias da lembrança de todos eles.

Lucille apenas confirmou com a cabeça, e com algumas palavras, a garota se transportou para a praia de Balneário Camboriú, onde o portal entre as duas dimensões ainda estava aberto. A jovem bruxa notou as figuras grotescas ao longe, tentando não pensar nas milhões de pessoas mortas naquela semana, se Lucille se deixasse consumir por isso agora, não teria forças para fazer o que era necessário. A garota deixou que seus instintos dominassem, que a magia viesse para ela. Em sua mente ela viu imagens dos Plenus de outrora, sentiu-se conectada a eles, logo Lucille já estava entoando as palavras mágicas.

At-reversus nost locum suum, Miseri mors ullúme.* — Os mesmos raios brancos surgiram, conectando as mãos da menina com a porta entre as dimensões. Lucille sentiu como se o peso do universo tivesse sido colocado sobre seus ombros. Seus joelhos cederam, e até mesmo sua cabeça foi forçada para baixo, ela foi obrigada a permanecer em uma posição onde seus braços estavam paralisados e o resto de seu corpo era empurrado para o chão. Ao longe, Lucille ouviu urros de raiva, sons guturais e horríveis vindo dos Miseri, que se viam sendo arrastados de volta para sua prisão. A pressão sobre a bruxa não diminuiu, e ela achou que todo seu corpo ia quebrar, se partir em milhões de pedaços. Lucille achou que não aguentaria até o fim, ela sentia dor por todos os lados, havia um fluxo de sangue quente escorrendo de seu nariz, tingindo a areia abaixo dela. A bruxa não conseguiu ver, seu pescoço não conseguia se mover direito, mas, um a um, os monstros foram sendo tragados para dentro do portal. Muitos minutos se passaram, com Lucille bem próxima do desfalecimento, esperando que os Miseri que se espalharam para muito distante do globo, voltassem para dimensão. Quase no fim, nos braços da garota, manchas arroxeadas apareceram, e pequenos cortes também, por um segundo a bruxa achou que aquele seria seu fim.

Quando o último dos Miseri atravessou o portal, Lucille caiu sobre a areia, incapaz de se mover, embora ainda estivesse consciente. Ela conseguia ouvir o som da água quebrando na areia, mas fora isso, havia apenas o silêncio.

Lucille permaneceu ali, imóvel, incapaz até mesmo de abrir seus olhos, por um longo tempo. A garota sentia dores que iam muito além de qualquer coisa que ela já sentira. Queimava, e ardia, seus músculos se contraiam em cãibras e um suor frio começava a cobrir sua pele. Tudo que a garota desejava era poder desmaiar, apagar completamente para que a dor fosse esquecida, mas isso não aconteceu. Foi só quando o Sol havia desaparecido, dando lugar a uma noite limpa, iluminada pela Lua cheia, que Lucille ouviu vozes.

— Temos que leva-la de volta. — Era Odete quem falava, e então a garota sentiu uma mão ser pressionada sobre sua testa, Lucille quis gritar de dor, porque aquele simples toque pareceu ecoar por seu corpo inteiro. Num segundo depois, porém, a garota começou a sentir a dor diminuir, e o sono se aproximar, como um flautista mágico, querendo carregá-la para a terra dos sonhos.

Elísio e Odete abriram novamente a dimensão da ODM, fazendo com que todos entrassem. Sabiam que não poderiam se dar ao luxo de permanecerem parados, digerindo o que acontecera. O destino sorrira para eles, e agora a organização tinha muito trabalho pela frente. Ajudar os humanos, capturar os comparsas de Nikolaus, ajudar as demais criaturas mágicas. Deveriam entrar em contato com as demais sedes da organização ao redor do mundo, ver o que eles já tinham sido capazes de fazer. Os Miseri tinham sido derrotados, mas o caos que eles trouxeram a Terra levaria algum tempo para se extinguir. Os dois traziam Lucille, suspensa por magia. Perto deles estavam Vitor e Evan, as mãos ainda juntas, e Daiana. O mundo estava a salvo, mas a tristeza que carregavam não só por Lucille, mas por todos aqueles que sofreram, era impossível de atenuar.

O grupo tinha dado por certo que Abigail, Andrew e os aprendizes estavam mortos, logo foi com mais do que satisfação que descobriram a proteção mágica ao redor da ala hospitalar. Odete parecia prestes a chorar de alívio, e Elísio levou suas mãos ao rosto, incapaz de conter o acúmulo de sentimentos. Aqueles últimos dias pensaram como rochas sobre sua cabeça, ele, assim como Odete, se sentia de alguma forma responsável por não ter conseguido mantê-los seguros. Quando Abigail reconheceu seus amigos do lado de fora da proteção mágica, a mulher a desfez, deixando que eles passassem com Lucille.

Andrew que estava acordado, mas não completamente consciente de seus arredores, demorou a notar a presença de seus amigos. Até aquele momento ele não fazia ideia do que acontecera do lado de fora. Quando abriu seus olhos pela primeira vez, encontrou o rosto preocupado de Abigail, mas ainda não tinha forças para fazer perguntas, e continuava assim até aquele momento. Quando viu o corpo, manchado por hematomas, e desacordado de Lucille, o rapaz fez seu primeiro esforço para tentar falar.

— O que aconteceu? — Perguntou, a voz falha, chamando a atenção dos demais. Foi Abigail, que criara uma afeição especial pelo rapaz, quem respondeu.

— Lucille meu querido. — Começou, também acabara de receber as notícias, e ainda estava chocada — Nikolaus a usou para libertar os Miseri. — Quando Andrew se agitou em sua cama, a curandeira continuou — Mas ele já foi derrotado, Lucille conseguiu vencer a Nihil, e mandou os Miseri de volta.

— Ela está bem? — O rapaz viu que Daiana, Vitor e Evan estavam ali, perto da cama em que ele descansava.

— Por enquanto não. — Odete disse, observando a jovem bruxa, o sangue seco ainda grudado sobre a pele acima dos lábios e queixo, os braços e pernas quase completamente cobertos por machucados — Mas ela vai ficar. — E em sua mente a bruxa mais velha acrescentou um “Eu espero”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lucille - A Pedra Nihil" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.