Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 21
Os Miseri




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Lucille estava em desespero. Ela não conseguia evitar seguir Nikolaus pelos corredores do casarão. Seu corpo simplesmente ia, e embora ela estivesse consciente de cada passo que dava, a bruxa não tinha qualquer controle sobre seus pensamentos ou ações. Kreisel sorria ao lado dela.

— Assim que nós sairmos dessa dimensão — Começou, passara um de seus braços pelos ombros de Lucille, e a manteve em um aperto esmagador — Eu vou te levar até alguma cidade grande, eu ainda não decidi qual. E lá nós vamos abrir a dimensão morta e liberar os Miseri. Mas não precisa se preocupar com seus amigos da ODM, pelo menos não por enquanto. Vai ser um imenso prazer vê-los em desespero quando nós dominarmos o mundo, e então quando não restar qualquer esperança, eu vou fazer com que você mate cada um deles. — Lucille queria gritar que não, que ela jamais feriria seus amigos, mas a bruxa sabia que se Kreisel comandasse ela o faria, e sem hesitar.

Quando alcançaram a saída, Lucille viu todos os seus colegas e amigos, mas havia algo errado. Estavam todos estáticos, como estátuas, parados em posições de combate. — Não é engraçado? — Nikolaus perguntou, enquanto passavam pelos corpos paralisados dos integrantes da organização — Mais um presente da coleção Umbra, nos custou o coração de um dragão. Você tem ideia de como é difícil achar um dragão ultimamente? Raça tímida. Bem, eles vão ficar assim por alguns dias. Tempo suficiente para que eu possa prendê-los em algum lugar adequado.

— Já podemos sair, senhor. — As irmãs apareceram assim que passaram por todos os corpos inertes.

— Deem um jeito neles. Tem mais quatro lá dentro, um deles é o vampiro, não vão representar perigo algum. — As irmãs confirmaram com a cabeça. Arabgar estava junto delas, apenas esperando ordens — Só matem se eles derem trabalho, de outro jeito eu os quero vivos, entenderam? — As irmãs e Arabgar acenaram que sim.

Nikolaus abriu um portal, e ele e Lucille deixaram a dimensão. A bruxa sentia sua força de vontade ceder cada vez mais. No início ela ainda mantinha alguns pensamentos próprios, mas conforme os minutos usando a pedra Nihil foram passando, mais sua consciência ia dando lugar ao vazio. Não demoraria até que não restasse nada dela além de uma serva, sem identidade, apenas uma arma, um aríete para derrubar as portas que separavam a Terra da dimensão morta. Ela e Nikolaus estavam de volta ao escritório do homem, onde ele tentava decidir em qual cidade grande ele começaria seu show.

— Talvez eu devesse voltar às origens. — Disse para si mesmo — Ou quem sabe, poderia começar por aqui mesmo, em Florianópolis. Difícil, muito difícil. Mas afinal de contas é o fim do mundo, não é mesmo? — Virou-se para Lucille, um brilho perverso em seus olhos — Eu poderia perguntar o que você acha, mas não há nada que você ache nesse momento, se eu te pedir para matar todos em Camboriú, você vai fazer, se eu te disser para queimar Balneário, vão restar apenas as cinzas. Uma Plenus sob o meu controle. Tem tantas coisas que eu quero fazer, tantas pessoas das quais eu vou me vingar. Minha querida, querida Lucille. — Levou a mão até o rosto da bruxa — Você é minha agora. — Por longos segundos ele apenas permaneceu ali, olhando para Lucille, como se tivesse entrado em um transe — Eu já me decidi. — Começou — Balneário será o lugar, não há razão para perder mais tempo. — Dizendo isso, sibilou algumas palavras, e logo ele e Lucille estavam na orla da praia de Balneário Camboriú.

A praia estava cheia. Embora não estivesse quente, muitas pessoas caminhavam próximas ao mar, passeavam com seus cachorros ou simplesmente estavam sentadas nos bancos que ficavam na calçada. A aparição repentina de duas figuras que, segundos atrás não estavam ali, alertou algumas pessoas. Lucille ouviu arquejos de surpresa, mas nada interrompeu Nikolaus. As pessoas se afastavam conforme eles foram andando até onde o mar alcançava a areia.

— Vamos Lucille, abra o portal aqui, sobre as águas do oceano que logo serão feitas de sangue. Traga o caos para esse planeta miserável, mostre para a raça humana que os deuses a quem eles devem venerar, somos nós.

Na mente de Lucille todo e qualquer outro pensamento se apagou. A única coisa em funcionamento eram seus instintos mágicos, e embora a garota nunca tenha tentado abrir o portal entre os mundos, algo dentro dela, dentro de seu próprio cerne mágico, sabia exatamente como fazer. A bruxa estendeu seus dois braços para o céu, os dedos distorcidos como garras. — Lant-mortuus est nór Miseri túl mornie*. — Disse, suas voz soou distante e abafada. Os joelhos da bruxa cederam, mas seus braços continuaram firmemente erguidos — Lant-mortuus est nór Miseri túl mornie. — Ela repetiu, e de suas mãos raios brancos surgiram, e se conectaram às nuvens acima. — Lant-mortuus est nór Miseri túl mornie. — E mais uma vez, e agora os olhos de Lucille não eram nada além do branco. No céu as nuvens se acumularam sobre os raios, e se acinzentaram e logo uma tempestade se formou — Lant-mortuus est nór Miseri túl mornie. — Um estourou fez-se ouvir no céu. Na praia muitos já saiam gritando, apavorados, enquanto outros observavam o espetáculo inertes, incapazes de se mover. Quando o estrondo diminuiu, no céu as nuvens deram lugar a um buraco, como em uma casca de árvore. Os braços de Lucille cederam, junto de seu corpo, que caiu de lado sobre a areia. O portal para a dimensão morta estava aberto.

Nikolaus gargalhava. Um vendaval tomou conta de toda a praia e o som do vento chicoteando o ar se misturou a risada do homem, e ambos os sons formaram a sinfonia que embalou a chegada dos Miseri. Uma cabeçorra saiu do buraco. Nela havia uma boca gigantesca e circular, rodeada de dentes de diversos tamanhos. O corpo que se seguiu era pálido, em um tom de cinza e segmentado, comprido e cheio de uma substância pegajosa ao seu redor. A criatura soltou uma espécie de rugido que fez tremer até o mais firme dos prédios. As pessoas agora gritavam desesperadas, correndo sem rumo sobre a praia. O primeiro Miseri era comprido, e durante vários segundos seu corpo escorregou do buraco em direção a água. A segunda criatura surgiu logo após, era tão colossal quanto a primeira, mas esta tinha asas, como um inseto gigante. duas pernas, enormes postes articulados, de um tom escuro de verde desceram em direção a água, agitando o Atlântico, seguidas de mais quatro pernas iguais, que congelaram a água sob seu toque. Enquanto a segunda criatura saia, a primeira já se arrastava pela areia trilhando um caminho de mortes.

O terceiro Miseri a deixar a dimensão morta era ainda maior que os dois anteriores. Sob sua cabeça havia uma carapaça e do centro dela saia um tipo de chifre, onde se acumulava uma esfera de energia, como uma pequena tempestade elétrica. O corpo da criatura lembrava o de uma centopeia, várias patas deslizaram para fora. Seu corpanzil quebrou o gelo e o chifre de raios encostou a água, criando um show de luzes mortal. A água estalava, porém como a histeria varreu com todos da praia, não havia ninguém na água para ser afetado.

Uma a uma dezenas de criaturas deixaram o buraco, todas pareciam conter algum tipo de magia, e todas se assemelhavam a uma mistura de vermes e insetos gigantes. Os primeiros prédios, logo em frente a praia foram varridos, levados pela forma descomunal dos Miseri. E Nikolaus ria, e Lucille não podia fazer coisa alguma. Ainda estavam na beira da praia quando o último dos monstros saiu. Pareciam reconhecer Kreisel como aquele que ajudou em sua libertação. Horas se passaram, e Nikolaus permaneceu ali, gozando de sua vitória, ouvindo os gritos e os estrondos, as buzinas e eventualmente, os tiros. Algumas criaturas rugiam, e faziam vibrar até a mais dura pedra. Lucille por outro lado não mais pensava ou refletia, nem reconhecia o que estava ao seu redor. A única coisa que seu cérebro registrava era Nikolaus, e sua gargalhada, o resto era silêncio.


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Notas finais do capítulo

*Venham Miseri, aqueles que trazem caos e destruição



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