Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 20
A Vitória de Nikolaus




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Lucille correu em direção a dispensa. O lugar era gigante e cheio dos mais variados ingredientes, se a garota quisesse ser rápida teria que usar magia para procurar cada item da lista. Um por um ela conjurou o pólen da Orquídea Solitária, as penas do pássaro de gelo, lágrimas do fantasma da dama de branco, barro retirado do templo das nuvens, e pelos de cerberus. A bruxa também alcançou sete velas azuis e um grande pote de cerâmica. Lucille voltou em disparada para o refeitório onde Odete e Elísio haviam afastado todas as mesas e cadeiras para os cantos, deixando o centro completamente livre.

— Leia isso. — Odete lhe entregou um volumoso livro de feitiços — Vê esse desenho? Quero que marque ele com fogo no chão. — Apontou para a imagem de um grande círculo detalhado com palavras escritas em runas. Lucille fechou os olhos, se concentrou na imagem, e vagarosamente se abaixou até tocar o chão. As chamas levantaram como se houvesse gasolina, marcando o círculo na madeira — Você tem muito mais chance de conseguir realizar esse feitiço com êxito do que nós. Onde quer que Andrew esteja, colocaram um feitiço de camuflagem ao redor dele. Essa magia de conjuração que nós conhecemos terá que ser muito mais forte do que o normal, para quebrar a barreira da camuflagem. — Explicou, Lucille assentiu.

— Pegue o pote de cerâmica. — Elísio instruiu — Coloque no centro. Agora pegue as velas e as acenda ao redor do círculo, não precisa ser perfeito — Lucille colocou as sete velas o mais rápido que conseguiu, e então as acendeu com magia — Ótimo, agora coloque todos os ingredientes dentro do pote de cerâmica na seguinte ordem: as lágrimas, penas, os pelos de cerberus, o barro e por último o pólen. — A bruxa mais jovem fez como Elísio disse, e a cada item que ela adicionava uma fumaça azul começava a se formar sobre a cerâmica — Agora leia as palavras no livro e pense unicamente em Andrew enquanto as diz.

Hir enim quaeris Aut-invenire. — Lucille repetiu as palavras do livro, em sua mente ela imaginou Andrew e seu rosto outrora estóico, mas que nas lembranças da garota sorria. Manteve suas memórias das aulas de esgrima, das conversas no café da manhã. O círculo ao redor dela se encheu de fumaça azul. As chamas das velas aumentaram repentinamente, quase alcançando o teto, então foi como se todo o universo tivesse parado por um segundo, e quando as chamas baixaram e a fumaça se foi, Lucille viu o corpo de Andrew caído ao lado dela.

...

— Acho que nós já temos o suficiente senhor. — Disseram as irmãs. Arabgar estava junto, observando em um dos cantos da sala, com ele estava a criatura feia que servia Kreisel.

Nikolaus arrancou a adaga do terceiro ponto que ele acertara no estômago de Andrew. Assistir ao rapaz sangrar o pó que lhe garantiria a vitória sobre a ODM e então o domínio do mundo foi algo estasiante. O homem poderia ficar horas ali, apenas observando aquilo que parecia areia escorrer pelas roupas do vampiro, assistir as expressões de sofrimento que o rapaz fazia. Logo ele abriria a dimensão morta e libertaria os Miseri, e ele e seus comparsas estariam livres para trazer o horror ao universo. Nada mais de agir nas sombras, nada mais de perseguições. Nikolaus Kreisel seria temido, e a simples menção de seu nome traria pesadelos, e então a morte não seria mais um problema e ele teria a eternidade em suas mãos. Foi com uma última estocada da adaga, dessa vez na altura do pulmão esquerdo de Andrew, esta que arrancou, para total deleite de Kreisel, um grito abafado do rapaz, o homem retirou a lâmina e a colocou sobre a escrivaninha. Andrew foi liberto das correntes que o prendiam e caiu no chão, sem forças para se mover.

— O que devemos fazer com ele? — Perguntaram as irmãs.

— Deixem-no ai, nós temos um feitiço para fazer, não podemos perder nem mais um segundo. — Kreisel disse.

Antes que ele e seu grupo saíssem, assistiram a sala se encher de uma fumaça azul, e quanto esta se foi, o corpo de Andrew também não estava mais lá.

Scheiße*! — Nikolaus gritou — Fluch der Hölle**. — Continuou fazendo com que o escritório inteiro tremesse — Temos que ir, precisamos entrar naquela dimensão. — Dizendo isso deixou o escritório, seus olhos mais desvairados do que nunca.

...

— Por Merlin. — Odete disse, assim que viu Andrew. Correu em direção a ele. Lucille se ajoelhara ao lado do rapaz.

— O que aconteceu com ele? — A bruxa mais jovem perguntou enquanto tocava levemente o ombro de Andrew para poder virá-lo — Oh não! — Lucille viu as marcas da adaga pelas roupas do rapaz, e o pó que ainda saía delas.

— A adaga de Van Helsing. — Elísio comentou espantado — Temos que levá-lo até a ala hospitalar. Agora. — Lucille confirmou. As lágrimas ameaçavam cair, mas a jovem bruxa as conteve, chorar não ajudaria Andrew. Ela sentiu os batimentos que ainda estavam ali, mas eram fracos. O rapaz estava semiconsciente, e parecia querer dizer alguma coisa.

— Não tente falar agora. — Lucille disse, usando magia para erguer o rapaz.

Assim que chegaram ao hospital do casarão foram recebidos por Abigail, a curandeira chefe. Os olhos da mulher, que normalmente eram pequenos, se abriram em completo espanto. A mulher sabia que Andrew era um vampiro, e sabia das histórias sobre a adaga de Van Helsing, mas nunca imaginou que a arma realmente funcionasse. Abigail examinou o rapaz usando um feitiço exame.

— Eu não sei o que dizer. — A mulher começou, retirando a boina branca que usava — Os ferimentos dessa adaga não são nada fáceis de curar. Quem quer que tenha criado essa arma, queria ter certeza que o vampiro não teria chance alguma.

— Não tem nada que possa ser feito? — Lucille perguntou. O coração em seu peito estava apertado e mais lágrimas se acumulavam sob seus olhos.

— Oh querida, é claro que sim. — Abigail disse, observando de Lucille para Andrew com uma expressão de compadecimento — Nós vamos tentar salvá-lo, mas eu não poderei dar garantia alguma de que ele vai sobreviver. — Falou por fim.

Lucille respirou fundo, desejando mais do que nunca ter a presença de Vitor e Daiana ali, junto dela. Foi quando Andrew começou a balbuciar mais alto, chamando a atenção dos quatro.

— Nikolaus... — Começou, sua respiração falha — Feitiço... A dimensão... — O rapaz tentou alertar seus amigos do perigo, mas estava fraco, sua mente queria muito escorregar para a escuridão, mas ele se agarrou ao fio de resistência que ainda o prendia a consciência — Invadir... Ele vai invadir a dimensão... — Conseguiu dizer por fim. Odete e Elísio arregalaram os olhos e se viraram para Lucille.

— Fique aqui com Andrew, nós vamos convocar quem estiver fora em missão. Depois temos que te levar para algum lugar seguro. — Odete disse. Lucille, chocada demais para dizer qualquer coisa, apenas concordou. A bruxa mais jovem e a curandeira foram deixadas para trás.

— Eu vou ter que apagá-lo. — Abigail disse — Para poder começar o tratamento. — Explicou, colocando uma de suas mãos sobre a cabeça de Andrew.

— Espere... — O rapaz disse, e logo em seguida respirou fundo, tomando fôlego para continuar — Lucille... — Chamou, mas o nome da garota morreu em uma série de tosses secas, mais uma vez ele respirou fundo, o que produziu um som ruidoso em seus pulmões — Lucille eu... Nesses últimos dias...Eu... — Seus olhos já não focavam em nada específico, era difícil manter uma linha de pensamentos — I think I fell in love with you. — Ele nem mesmo notou que dissera em sua língua materna, só precisava dizer o que sentia, se essa fosse sua última oportunidade. Porque ele sabia que era inútil negar, ele gostava muito de Lucille, só queria que a situação fosse diferente.

A bruxa mais jovem não pode mais conter, as lágrimas rolaram em profusão, acompanhadas de soluços. Ela não conseguiu dizer nada, as palavras simplesmente não saiam. — Eu preciso sedá-lo. — Abigail repetiu, a curandeira tinha uma de suas mãos sobre seu coração, e uma expressão de tristeza. Lucille apenas confirmou, fechando seus olhos e alcançando a mão direita de Andrew.

— Não tem nada que eu possa fazer? — A bruxa conseguiu perguntar por fim. Afinal de contas ela era uma Plenus.

— Feitiços de cura levam tempo e são complicados. — Abigail começou, assim que Andrew adormeceu — Se o momento fosse outro, eu poderia usar sua força extra para reforçar o feitiço, mas com uma ameaça de invasão iminente. Não podemos correr o risco de Nikolaus chegar até você minha criança. — Disse, olhos complacentes

— Mas enquanto nada aconteceu, por favor, me deixe ajudar. — Suplicou. A curandeira pareceu pensar no assunto, e então acenou que sim.

— No caso de Andrew temos que usar uma pedra energizada para canalizar o feitiço, acho que se for você a energizar a pedra, as chances do feitiço funcionarem seriam dobradas. — Falou, mas ainda existia hesitação em sua voz. Lucille concordou, e a mulher foi em direção a dispensa própria da ala hospitalar. No momento o lugar estava praticamente vazio, tirando apenas por mais dois aprendizes de curandeiros, que olhavam com atenção os movimentos de Abigail — Normalmente leva horas até termos a quantidade certa de energia, — Começou, assim que voltou da dispensa — Vamos ver se você pode acelerar o processo. — Entregou uma pedra parecida com uma ametista para Lucille — Só precisa se concentrar e deixar a energia ser canalizada para pedra, pode fazer isso?

Lucille pegou a pedra com ambas as mãos, tentando focar toda sua atenção. Logo a bruxa começou a sentir um formigamento, que começou em suas mãos e se espalhou por todo seu corpo. A ametista começou a brilhar levemente, e conforme o brilho ia aumentando, Lucille sentia seu corpo mais fraco. Durante trinta minutos a garota ficou lá, sentindo suas forças serem transferidas para a pedra. Quando a bruxa achou que já não conseguiria mais aguentar, Abigail tocou seu ombro, quebrando seu foco.

— Incrível. — Disse, já pensando nas vezes no futuro em que usaria a energia de Lucille para deixar algumas pedras pré energizadas — Acho que isso deve ser suficiente. Agora para o feitiço.

Lucille estava pronta para oferecer sua ajuda uma vez mais, quando um estrondo fez-se ouvir do lado de fora. A dimensão inteira pareceu estremecer, e tanto a bruxa quanto a curandeira tiveram que se apoiar na cama em que Andrew estava, para não caíram. Silêncio por alguns segundos, e então outro estouro, e dessa vez as duas foram jogadas ao chão. Bruxa e curandeira se entreolharam.

— Eu vou tentar me apressar. — Abigail disse.

Logo Lucille ouviu seu nome ser chamado, na distância. Não demorou até que Elísio aparecesse na entrada do quarto, ainda se escorando nas paredes.

— Lucille, precisamos tirar você daqui. — Começou — Nikolaus está usando o feitiço, não vai demorar até ele conseguir entrar na dimensão.

— Eu não posso ficar e lutar? — A bruxa perguntou, olhando de relance para Andrew e Abigail, que começava a reunir os ingredientes para o feitiço de cura.

— Não podemos arriscar, temos que encontrar um lugar seguro para você. Andrew vai ficar bem, por favor, temos que ir. — Disse por fim. Lucille ainda hesitou alguns segundos, lançando mais um olhar para Andrew.

—Pode ir minha querida, eu não vou deixar que nada aconteça a ele enquanto Andrew estiver sob a minha proteção. —Abigail garantiu, olhando com segurança para Lucille.

— Tudo bem. — A garota disse por fim, e seguiu junto de Elísio.

Os dois caminharam pelos corredores enquanto mais estrondos irrompiam lá fora, estremecendo todas as paredes e chão. Foi só quando eles chegaram a porta de saída que ficava na cozinha, que o som finalmente cessou.

— Você deveria ter consultado o futuro. — Elísio disse, assim que saíram — Ou ao menos ter prestado atenção a aura, mas imagino que ninguém tenha lhe ensinado isso. Um desperdício se você quer a minha opinião. — Gradativamente a figura de Elísio foi se desfazendo, e em seu lugar surgia Nikolaus, um sorriso diabólico nos lábios, e os olhos azuis psicóticos — Eu tive que criar um pouco de show, dispersar a atenção. — Antes que Lucille pudesse reagir ele estendeu suas mãos para o pescoço da garota, o envolvendo e apertando. A bruxa logo sentiu todas as suas forças deixarem seu corpo, seus braços, pernas, cabeça pareciam incapazes de obedecer aos comandos de Lucille, mas a dor em seu pescoço, e a sensação de sufocamento estavam lá. Foi só quando Kreisel retirou suas mãos, que a bruxa viu, o colar de pedras vermelhas fora colocado nela. A pedra Nihil. Nikolaus tinha cumprido seu objetivo maléfico, ele estava agora no controle de Lucille.


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Notas finais do capítulo

*Merda

** Maldição do inferno



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