Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 19
Descendentes do Amaldiçoado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732217/chapter/19

Quando estavam todos reunidos, o rapaz inglês começo:

— A carta que eu recebi. — Disse — Veio da Inglaterra. Meu pai, ele quer conversar comigo amanhã, disse que é um assunto sério e que não pode ser adiado.

— E você vai? — Daiana perguntou.

— Sim, por mais que eu tenha desejado poder cortar todos os laços com meu passado, para que ele tenha se dado ao trabalho de vir todo o caminho até aqui, deve ser algo realmente importante. Eu não pretendo me demorar, só quero saber qual é o problema.

— Você acha que é seguro? —Lucille perguntou, se remexendo em seu acento.

— Ele sabe da organização, não acho que vá tentar nada. —Começou —Mas, caso ele resolva fazer, eu vou ter certeza de estar preparado.

— Nós não podemos ir junto? — Foi a bruxa novamente quem falou.

— Ele quer conversar em particular, e acredite em mim quando eu digo que ele vai saber se eu estiver mentindo.

— Eu não gosto nada disso. — Lucille começou — Depois de todo esse tempo seu pai aparece e quer conversar? Quem garante que isso não é uma armadilha? — A bruxa estava séria.

— Se as coisas andarem para esse caminho, tenho certeza que Odete e Elísio virão em minha ajuda. — Andrew garantiu — Desde que eu não coloque nenhum de vocês em risco, eu posso viver com as consequências.

— Eu também não quero que você fique em alguma situação de perigo. — Lucille disse, ao que seus colegas acenaram em concordância.

— Eu vou ficar bem. — Garantiu uma vez mais, encarando a amiga com toda a segurança que conseguiu reunir.

Quando a manhã do dia seguinte chegou, o grupo se reuniu em frente ao casarão. O Sol mal havia nascido na dimensão, Daiana e Vitor coçavam os olhos e bocejavam de minuto em minuto, Lucille, por outro lado, estava bem acordada embora ela não tenha dormido naquela noite. Inquieta a bruxa sentou-se em sua cama rodeada de livros que achara na biblioteca, a garota leu até que seu cérebro conseguisse pensar em outra coisa além da preocupação, mas agora, na manhã fatídica, todos os sentimentos ruins voltaram. Andrew parecia calmo, tinha as mãos postas nas costas e, quando não estava olhando a grama, estava discretamente encarando Lucille. Passaram-se vinte minutos desde que o grupo acordara e fora até a entrada, quando Odete e Elísio apareceram.

— Você está pronto Andrew? — Odete perguntou, ela não parecia menos preocupada do que os amigos do rapaz. Depois de todos aqueles anos na ODM, ela poderia dizer que Andrew era como um filho para ela. Mas se ele desejava ir, não cabia a ela impedi-lo. Quando o rapaz inglês apenas concordou com um aceno de cabeça, Odete se conteve para não tentar dissuadi-lo da tarefa, ela simplesmente conjurou o portal — Boa sorte. — Foi o que ela pode dizer, enquanto a porta luminosa se abria e Andrew começava a caminhar em direção a ela.

— Andrew! — Lucille chamou quando o rapaz estava quase atravessando o portal, ele se virou, olhando para a jovem bruxa que tinha as mãos juntas na altura do pescoço — Até logo. — Disse apenas. Andrew apenas fez um leve gesto de cabeça, e passou pela porta mágica.

...

Andrew saiu ao lado da mesma calçada em Camboriú. Na carta seu pai lhe pedia para que se encontrassem no Atlanta Palace Hotel, que ficava em Balneário. O rapaz teria que andar até algum lugar calmo, e então realizar um feitiço de teleporte, era isso ou pegar um ônibus, e ele sabia por experiência que era mais seguro não entrar em um lugar fechado cheio de humanos comuns. Andrew caminhou alguns minutos até que encontrou uma casa abandonada. Sem dificuldades ele pulou o muro e foi até a garagem. Lá ele realizou o feitiço, e logo ele estava em um beco de Balnéario.

O rapaz começou a caminhar em direção ao leste. O Atlanta Palace Hotel ficava na frente da praia, um dos lugares mais caros para se ficar na cidade, mas isso não seria um problema para seu pai. Vincent Draven era um homem muito rico, tendo a maior parte de seus negócio funcionando à margem da lei. Desde contrabando de criaturas mágicas até assassinatos por encomenda, Draven mantinha sua fortuna desde tempos muito antigos. Ele tentara recrutar Andrew para trabalhos de assassino, mas o rapaz se recusara, e então fugira.

Quando Andrew chegou na portaria do Atlanta, respirou fundo um par de vezes, e então entrou, indo até o atendente no hall. O rapaz informou que Andrew estava sendo esperado no quarto 217, e lhe indicou onde os elevadores ficavam. O rapaz inglês agradeceu. Andou a passos largos até as portas do elevador, esperando que ele fosse o único a adentrar o cubículo, mas, infelizmente, seus pensamentos não foram atendidos. Junto deles mais duas senhoras entraram.

Andrew era um vampiro na totalidade de seu tempo, embora fosse só quando ele se transformava que sua aparência mudava e seus sentidos, força e agilidade aumentassem. Mas mesmo em seu estado normal, ainda havia aspectos vampirescos nele. Como naquele momento, em um elevador pequeno e silencioso, era como se os corações das duas velhinhas estivessem batendo dentro dos ouvidos do rapaz. Ele conseguia até mesmo ouvir uma leve diferença num deles, que era arrítmico e mais lento. Era perturbador quando tudo mais estava em completo silêncio. Na maior parte do tempo ele odiava poder ouvir, como naquela situação em que estava, gostaria de poder fazer parar. Os únicos momentos em que ele se pegava feliz por poder ouvir os batimentos alheios, era quando, recentemente, ele se aproximava de Lucille e podia discernir uma pequena diferença na rapidez. Andrew sorriu levemente ante seu próprio pensamento, mas o sorriso morreu quando as portas do elevador se abriram e ele teve que sair para o corredor.

Andando pelo corredor ele viu uma figura parada algumas portas a frente. Era seu pai. Vicente não parecia mais velho do que Andrew, vampiros que nasciam com a maldição deixavam de envelhecer quando completavam o ciclo de amadurecimento que em geral acontecia entre os vinte e cinco e os trinta anos. Estava encostado a parede, com as mãos apoiadas em uma bengala no melhor estilo vitoriano. Assim que ele notou a outra presença no corredor, os olhos de Draven pararam de encarar o chão e seguiram em direção a Andrew, olhos azuis como os do filho.

Você veio. — Disse, seu inglês carregado de sotaque do norte — Entre e nós vamos conversar. — Virou-se para a porta. Andrew sentiu um leve desconforto ante a figura de seu pai. Mas se lembrou da conversa que tivera com Odete, uma que ele não dividiu com seus amigos. Desde que soubesse a exata localização de Vincent, tudo que a ODM precisaria era ir até ele e capturá-lo, sem chamar a atenção dos humanos. Mas antes Andrew estava curioso para saber o que seu pai queria conversar.

Assim que Andrew passou pela porta ele soube que havia algo de errado.

O que deveria ser a entrada do quarto era, na verdade, uma passagem. O rapaz não sei viu em um quarto luxuoso de hotel, mas sim em um escritório em estilo antigo, com uma cadeira de espaldar alto aveludada e estantes de livros. Atrás de uma mesa de escrivaninha Andrew viu Nikolaus, tinha os cotovelos apoiados na madeira e as mãos juntas seguravam uma espécie de adaga.

— Fico feliz que tenha vindo se juntar a nós. — Disse, um sorriso vitorioso brincava em seus lábios — E para que eu não seja interrompido como da última vez, as irmãs preparam um feitiço que vai manter a sua querida organização completamente às cegas. Agora eu imagino que a sua mente deve estar bem confusa. — Começou enquanto se levantava, brincando com a adaga em suas mãos. Andrew viu seu pai caminhar até estar ao lado de Kreisel, as expressões severas como o rapaz se lembrava — Eu sempre soube que você era descendente de Drácula, mas até alguns dias atrás isso não significava nada, mas o que é a Terra se não esse planetinha que gira e gira. E agora você é necessário meu caro Andrew, ou seria melhor dizer que o seu sangue é necessário. — Pontuou sua frase escorregando os dedos pela lâmina da adaga — Seu pai ficou muito entusiasmado em nos ajudar. Só foi preciso mencionar o fato de que nós achamos uma Plenus, e que ela poderia abrir a Dimensão Morta, e ele concordou em te entregar para nós. E você caiu tão facilmente que chega a ser decepcionante.

— Você disse que precisa do meu sangue. — Andrew começou, sem se abalar pelas palavras de Nikolaus — Se sabe que eu sou um vampiro, também sabe que eu não tenho sangue próprio em minhas veias.

— Eu sei muito bem disso, é por isso que eu tenho essa adaga. — Ele a segurou de uma maneira que Andrew pudesse vê-la. A lâmina era reta e curta e o cabo incrustado dos mais diversos símbolos religiosos — Essa é a Adaga de Van Helsing, desenvolvida e forjada pelo clero para ser capaz de matar os vampiros como uma arma comum mataria um ser humano, e isso só é possível porque ela faz sangrar. Não o fluido vermelho que todos nós conhecemos tão bem, mas o pó que sobrou em suas veias e precisa ser regado com sangue de vez em quando. É do seu pó que eu preciso Andrew, com ele eu posso fazer o scelus intra, feitiço que vai me permitir entrar na sua preciosa dimensão e arrancar Lucille de lá. — Assim que Kreisel terminou, Andrew sentiu seu corpo ser preso por correntes invisíveis e por mais que ele tentasse se desvencilhar delas, era impossível. O rapaz tentou se transformar, mas algo nas correntes o estava enfraquecendo. Andrew viu Nikolaus se aproximar com a adaga, e viu também os olhos de seu pai, que nem por um segundo perderam a rigidez. Quando Kreisel o acertou na altura do estômago o rapaz sentiu uma dor sem igual. Queimava como se o próprio inferno o estivesse tocando. Sua mente começou a escurecer, a sensação era esmagadora, e ele mal notou quando as irmãs apareceram com um pote de cerâmica para coletar o pó que escorria de seu ferimento. Andrew só conseguia pensar na organização, em seus amigos e em Lucille.

...

Lucille estava treinando junto de Odete, a bruxa mais velha demonstrava feitiços de combate com os quatro elementos naturais. Embora estivesse preocupada, a garota resolveu focar toda sua concentração em aprender qualquer nova informação que Odete pudesse lhe passar. As duas praticavam sozinhas no galpão, todos os outros integrantes da ODM estavam em missões atrás da coleção Umbra.

Odete tinha acabado de explicar como fazer uma corda feita de água, quando Lucille estacou, os olhos vidrados no horizonte. A garota viu Andrew ser atacado, viu a adaga e Nikolaus. Quando a visão terminou Odete a observava com apreensão, sabia que a bruxa jovem previra o futuro. Nesse exato momento Andrew ouvia a batida lenta e arrítmica de uma das velinhas no elevador e pensava em Lucille.

— Andrew. — A bruxa mais jovem começou — Ele corre perigo, nós temos que encontrá-lo agora.

Odete apenas confirmou com a cabeça, aturdida. Ela e Elísio ainda estavam na dimensão, esperavam pela volta de Andrew, ou algum sinal que ele enviasse por magia, para que pudessem ir atrás de Vincent e, quem sabe, conseguir capturá-lo em solo brasileiro. A bruxa mais velha foi em direção ao casarão, atrás de Elísio, em seu encalço estava Lucille. A mente da garota estava um caos, suas mãos tremiam e tudo que ela desejava era poder trazer seu amigo para a segurança. Quando encontraram Elísio explicaram a situação.

— Você consegue senti-lo com seus poderes? — Perguntou a Odete, mas a bruxa não foi capaz de encontrá-lo. Lucille também não — Temos que fazer um feitiço de conjuramento, obrigar Andrew a aparecer aqui na dimensão. — As duas concordaram.

— Lucille vá até a dispensa mágica e procure por isso. — Odete tocou o ombro da bruxa mais jovem, e uma lista de ingredientes surgiu na mente na garota — Nos encontre no refeitório.

Lucille confirmou e saiu em disparada, implorando para que sua visão estivesse errada, pedindo ao que quer que pudesse ouvi-la que mantivesse Andrew seguro até que eles pudessem trazê-lo de volta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lucille - A Pedra Nihil" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.