Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 15
A Coleção Umbra


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo meus amores ♥



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A biblioteca onde a coleção Umbra ficava, estava escondida em uma catacumba secreta sob as ruas de Paris. Os livros não poderiam ser expostos a luz do dia, de outra maneira soltavam um veneno pestilento que enchia o ar aos poucos, e tão logo assassinava a todos que o respirassem. Tão poderosas eram as magias que eles continham, e tão perversas também, de tempos em tempo suas estantes deveria ser trocadas, pois essas apodreciam tão somente por segurá-los. Nikolaus sabia que o lugar estaria muito bem guardado, e que seriam necessários esforços grandiosos para tirá-los de lá. Mas ele tinha um plano, algo que há muito não tentava.

Quando adolescente, vagando pelo submundo alemão ele descobrira uma loja de encantamentos malditos, o lugar era de uma velha senhora cega, que usava um lenço sobre os olhos vidrados. Ela soubera seu nome, e de onde vinha, e disse-lhe que apesar de não enxergar com olhos mundanos, ela via muito além do que qualquer pessoa sobre a Terra. Disse-lhe que chegaria um momento onde sua busca seria iluminada por um artefato amaldiçoado, mas que para chegar até ele seria necessário um exército, então ela lhe ofereceu um. Mantidos dentro de uma prisão mágica por milênios, a velha mostrou os perversos Bluts, criaturas que devotavam completa lealdade a seus donos. Se alimentavam de sangue, não importava de que tipo ou ser. Uma vez libertos de sua dimensão, quando ordenados, poderiam matar hordas de inimigos, arrancando-lhes até a última gota de sangue.

A primeira vez que Kreisel usou os Bluts foi em um bar, há vários anos. Queria testá-los, mas descobriu que a bagunça deixada pelas criaturas pequenas e de aparência disforme dos demônios de catecismos, não valia a pena seu uso. Esperou que a ocasião para usá-los de forma apropriada se apresentasse, e ali estava ela. Junto das irmãs do contraste e de Arabgar ele espreitava próximo a entrada da catacumba. Em suas mãos havia uma caixa feita de cobre, com entalhes arcanos feitos para manter os Bluts muito bem presos. Teriam que jogar rápido, assim que invadissem a biblioteca, deveriam deixar livres as criaturinhas e permitir que elas fizessem seu medonho serviço. 

As irmãs do contraste os levaram para a primeira sala onde a coleção Umbra ficava, e tão logo a presença deles foi notada, Nikolaus foi arremessado contra a parede, atingido por uma habilidosa feiticeira a paisana, mas isso em nada o deteve de abrir a caixa. Disse o feitiço que libertava os Bluts, e deixou que a presença das criaturas tomasse o ambiente. Eram tantos que mal se poderia ver um palmo a frente. Logo os gritos de horror começaram a soar, uma sinfonia que Kreisel aprendera a apreciar com o curso dos anos. Cada nota de desespero e dor que chegava a seus ouvidos, lhe parecia um cântico de vitória, um presságio de que logo seus planos se concretizariam.

Quando ele ordenou que os Bluts voltassem para dentro da caixa, o horror causado por eles se tornou visível. A ODM teria muito que lamentar assim que descobrissem, e Nikolaus se deleitava com essa certeza. Agora só precisavam transportar todos os mais de cinquenta livros da coleção, e teriam acesso aos mais cruéis e vis magias existentes.

...

O segundo dia de estudo fora tão interessante quanto o primeiro para Lucille. Ela aprendera sobre os tipos de bruxos, aqueles que possuíam apenas uma forma de poder, os que possuíam duas, e assim por diante até chegar nos Plenus. Isso variava muito conforme a genética e a magia em que o bebê fora envolto antes de nascer. Esse era um dos motivos  para Plenus terem se tornado raros, com o crescimento dos humanos, a magia foi sendo esquecida, deixada de lado, escondida e muita vezes marginalizada. A bruxa também aprendeu sobre a dríades, faunos, e as demais criaturas que servem a mãe natureza. Daiana foi quem mais falou nessa hora, sendo ela uma fada da floresta.

A tarde, ela e Andrew continuaram praticando, ele levara seus LPs dos Beatles e os dois passaram várias horas treinando ao som da banda inglesa. O rapaz pegara emprestado a velha vitrola de Odete, e o ar se encheu de uma atmosfera antiga e aconchegante, e se perguntassem para Lucille como ela se sentia naquele momento, a bruxa diria que, apesar dos pesares, aquela fora uma das melhores manhã e tarde de sua vida.

Mas então a noite veio, e com ela uma convocação geral. Odete queria conversar com todos eles.

Todos se reuniram no auditório. Lucille ainda teve um rápido momento de felicidade ao notar que Vitor e Evan apareceram juntos, de mãos dadas e sorrisos no rosto. Assim que o rapaz se sentou, ao lado da bruxa, disse rapidamente.

— Depois eu te conto. - Ao que Lucille assentiu, sorrindo.

Mas assim que Odete apareceu no palco, o sorriso da bruxa se desfez. A mulher mais velha tinha os ombros caídos e olhar marejado. Trazia em mãos um lenço já quase completamente úmido. Lucille sentiu seu estômago se revirar. Olhou rapidamente para o lado, encontrando o olhar de Daiana, que parecia ter notado o que ela notou, e compartilhava de sua preocupação.

Odete começou a falar, a voz rasgada pela tristeza, contou o que havia acontecido, e as implicações que aquele roubo teria. Era a missão maior deles agora, recuperar todos os livros antes que fossem usados. Falou também da tristeza das perdas, e da brutalidade com que a vida dos agentes da ODM fora retirada. Nesse momento Daiana alcançou a mão de Lucille, e a bruxa notou que a amiga chorava.

— Eu tinha amigos lá. - Disse apenas, ao que a bruxa lhe deu um leve aperto de conforto na mão.

A bruxa não pode deixar de sentir que isso era, em parte, culpa dela. Se não houvessem mais Plenus no mundo, quem sabe Nikolaus estaria em alguma outra empreitada mais fácil de ser impedida. Lucille desejou poder alterar o passado, mesmo que as consequências disso pudessem ser catastróficas. Por um breve momento o olhar de Odete cruzou com o dela, e a bruxa mais jovem soube que, naquela momento, mais do que nunca, eles precisariam dela afiada e preparada. Se ela não poderia mudar o que já acontecera, ao menos tentaria garantir que no futuro tragédias como aquela não mais acontecessem.

Quando a mulher terminou de dar as explicações, e de responder as perguntas que surgiram, pediu que Lucille e seus amigos se juntassem a ela. O grupo seguiu por uma porta além do palco, em um corredor sem janelas ou decorações, que levava para uma saleta privada. Os sons dos sapatos plataforma que Lucille colocara naquele dia, ecoavam dentro do lugar com marteladas. A atmosfera no lugar era pesada de luto e preocupação, e, antes de começar a falar, Odete fez uma longa pausa, olhando para cada um deles.

— Eu receio - Odete iniciou, respirando fundo, Elísio também se juntara a eles, não menos entristecido e alarmado - Que com o roubo da coleção Umbra, Nikolaus tenha aberto uma vantagem em relação a nós. - Ela pousou as mãos sobre a mesa que preenchia a sala - Nós jamais imaginaríamos que ele continha uma caixa com Bluts, toda essa situação nos pegou inteiramente de surpresa, e isso é inaceitável. - Completou, fechando os punhos.

— Só precisamos pegar os livros de volta, não é? - Lucille disse.

— Não é tão simples assim. - Elísio começou - Obviamente nós temos que devolver esses livros para um lugar seguro, mas até que nós consigamos chegar até eles, Kreisel e seus comparsas podem já ter achado algo naquelas páginas que os ajudem.

— O conteúdo daqueles livros é maldito. - Andrew começou - Eles não vão demorar muito até descobrir algum feitiço que possa ser usado contra nós.

— Então temos que agir rápido. - Lucille disse.

— Sim, nós vamos. - Odete garantiu - Mas você vai continuar aqui Lucille. - E antes que a bruxa pudesse protestar, a mulher continuou - Esse é um risco que nós não podemos correr. - Os demais assentiram. Vitor e Daiana a olharam com um misto de resignação e desculpas - Você vai continuar seu treinamento da melhor forma que pudermos enquanto tentamos recuperar os livros, e se nesse ínterim, nossa missão falhar, mas suas habilidades aumentarem, então deixaremos que você vá conosco.

Lucille nada disse, apenas soltou um pesado suspiro, e assentiu levemente com a cabeça. A bruxa prometeu a si mesma que treinaria até a completa exaustão, se essa fosse a única maneira de ajudar seus amigos.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D



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