Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 14
Entre Espadas e os Beatles


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D



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Depois da aula matinal na biblioteca, eles almoçaram. Entre conversas e amenidades, era quase como se tudo no universo fosse normal para eles. Mas então Andrew a lembrou que logo ela começaria aprender a arte da espada, e no século em que estavam, isso não tinha muito de usual. O rapaz inglês saiu do refeitório mais cedo, dizendo que prepararia a área de treino, ao que os demais concordaram. Lucille estava mais do que feliz com a possibilidade de aprender a manusear uma espada. Há muito ela era fascinada por filmes de fantasia medievais, onde cavaleiros e amazonas lutavam por suas nações, ou pelo amor. Ela via algo de muito poético na luta de espadas, como uma dança fatal para um dos lados. E a possibilidade de passar algum tempo a mais com Andrew era intrigantemente animadora, uma estranha sensação no centro de seu estômago, que ela não ousaria nomear.

Assim que se deu por satisfeita, tendo terminado um, nem um pouco modesto, prato de fricassê de frango, ela se dirigiu para a área de treinos. Vitor dissera que não poderia se juntar a eles, dera desculpas apressadas e corara como um adolescente pego observando seu interesse amoroso, e Lucille intuiu que aquela impossibilidade de comparecer tinha alguma coisa a ver com Evan. Daiana se retirara para cuidar de sua estufa, que Lucille ainda estava por visitar. Sendo assim a bruxa chegou sozinha no galpão de treinos.

O lugar já fervilhava de vida, com várias figuras praticando. Lá, no meio de todo aquele caos, ela encontrou Andrew, a postura ereta e o olhar sério, porém suave. Em suas mãos descansava um modelo clássico de espada, daquelas que vemos soldados segurando em filmes. A lâmina brilhava em um metal afiado e polido. Ele quase parecia uma imagem tirada de um conto épico, observando o horizonte como estava. Assim que Lucille se aproximou, ela começou a ouvir um som que conhecia muito bem, Andrew estava escutando "You're Going to Lose That Girl", dos Beatles. A bruxa soltou uma risada baixa, que alertou o rapaz de sua presença.

Ele se virou, como se tivesse sido acordado de um sonho, estivera cantando a música todo aquele tempo, perdido na letra que ele conhecia tão bem, e que adorava desde seus tenros oito anos. - Outro pedaço de casa? - Lucille perguntou, enquanto a música entrava em seus acordes finais, dando lugar a "Ticket To Ride", a bruxa não se conteve ao dizer - Eu amo essa, provavelmente uma das minhas favoritas. - Andrew sorriu.

— Help é o meu álbum favorito. - Disse, observando Lucille com intenso interesse - Não achei que você gostasse de músicas assim. - Virou a espada pelo cabo, a rodando em sua mão, fazendo com que a lâmina descrevesse um arco no ar.

— Você ficaria surpreso. - Ela falou apenas, o rapaz ergueu uma sobrancelha, seus olhos brilhando com um humor ameno - Por onde vamos começar? - Lucille perguntou, havia um suporte ao seu lado que guardava uma variedade de armas. Espadas longas, bastardas, largas, cimitarras, um falcione, um sabre, todas parecendo perigosamente afiadas e estranhamente convidativas.

— Com isso. - Ele ergueu de uma caixa que jazia a sua esquerda, uma imitação de espada feita de madeira.

Lucille torceu o nariz de uma maneira quase ofendida - Eu não poderia nem cutucar alguém com isso. - Disse em tom indignado, mas mesmo assim pegando o objeto que o rapaz lhe estendia.

— Não queremos causar nenhum acidente. - Ele começou, alcançando outra espada de madeira - Foi com algo assim que eu comecei a treinar. - Disse de maneira quase nostálgica - Nenhum bom mestre espadachim deixaria seu pupilo praticar com uma espada de verdade, é pedir para braços serem cortados fora.

— Ok, Obi-Wan, isso não é um sabre de luz, eu não cortaria meu braço fora. - Lucille continuou com seu tom aborrecido.

— Você ficaria surpresa. - Ele devolveu, abrindo um sorriso mais largo, que até então Lucille nunca o vira abrir.

— Touché. - A bruxa brincou, e os dois começaram a rir.

— Certo, vamos começar. - Andrew disse, a música soava suas notas finais quando eles se encaminharam para o centro da área de luta - Como todo bom combate, devemos aprender antes a bloquear ataques, e depois a atacar. - Lucille assentiu - Muito da sua defesa vai depender do seu reflexo, que, ao contrário do que se acredita, pode sim ser treinado. A outra parcela de habilidades diz respeito a saber como manusear propriamente a espada, não é vantagem ter um tempo de reação pequeno, se você não souber como equilibrar sua arma.

— Faz sentido. - Lucille disse - Meus reflexos são muito bons. - Informou de maneira quase prepotente, logo ela sentiu uma brisa vindo na direção de seus ombros, e desviou para a esquerda, suas pernas enganchando na espada de madeira que ela trazia junto de seu corpo, a bruxa caiu de lado enquanto tentava desviar do golpe surpresa que Andrew armara.

— De fato eles são. - O rapaz claramente tentava suprimir uma risada, e Lucille lhe lançou seu olhar mais mortal - Agora levante-se e eu vou lhe mostrar algumas formas de defesa. - Ele estendeu sua mão, ao que ela aceitou, sendo puxada para cima - Primeiro temos o movimento clássico de defesa contra ataques em arco. - Começou, demonstrando com sua espada de madeira, um golpe realizado de cima para baixo - Você deve posicionar sua espada na vertical, sob seu rosto, e tentar da melhor forma possível, absorver o impacto com o centro de sua espada. - Lucille concordou - Vamos, tente dar um golpe em arco.

Lucille não hesitou, impulsionando a espada desde os ombros até seu pulso, jogando toda a força que possuía, mas seu ataque pesado foi freado de maneira abrupta. Como Andrew descrevera, sua espada, na vertical, absorvera a força de seu golpe, segurando a arma de Lucille. A força do impacto fora tal, que a bruxa soltou sua espada, sentindo seu braço oscilar. 

— Agora é sua vez. - Ele indicou.

Sem a mesma intensidade de Lucille, ele impulsionou a arma para frente, ao que a bruxa atabalhoadamente colocou sua espada em fronte do rosto, estendida como Andrew lhe explicara, mas a incerteza de seu movimento a traiu, assim que o golpe do rapaz atingiu a madeira, levou consigo a espada da bruxa, para, logo em seguida, acertar o ombro da garota. Lucille soltou uma exclamação de dor.

— Você precisa se concentrar. Não hesite, deixe que seus reflexos comandem, mas lembre-se, você deve tentar fazer com que sua espada absorva o impacto no centro. - Lucille assentiu, girando seu ombro.

Da segunda vez, ela foi mais bem sucedida, conseguindo frear o golpe que Andrew desferira. Da terceira vez, se tornou ainda mais fácil, e ela começou a pegar o jeito para que o impacto sempre acontecesse no centro de sua espada. Por mais longos minutos eles praticaram apenas aquele movimento, vez ou outra Lucille ainda trepidava, mas em geral conseguiu manter a firmeza.

— Parece que você tem uma habilidade natural para isso. - O rapaz sorriu.

— Anos e anos assistindo filmes de luta com espadas. - Ela gracejou.

Eles então continuaram, Andrew lhe mostrou o bloqueio em X, onde se deveria segurar a espada do oponente na horizontal, em frente ao peito. Mostrou a bloqueio das costas, que segundo o rapaz era um dos mais difíceis, e Lucille entendeu o porquê. Quando eles já estavam cansados e ofegantes, com os braços doloridos começando a perder a firmeza, Andrew decretou uma pausa, indo até  seu celular onde a música estivera tocando, escolhendo entre sua lista.

Naquele momento " I've Just Seen A Face" começou a tocar, e Lucille soltou um suspiro. - Essa eu amo ainda mais. - Ela disse, ainda um pouco arfante.

Nesse momento Andrew fez algo que surpreendeu até a ele mesmo, o rapaz começou a cantar, em alto e bom tom. A bruxa soltou uma risada baixa, o acompanhando na letra que ela tanto amava. No refrão os dois já tinham atraído a atenção das pessoas ao redor. Andrew não sabia que estranho magnetismo era aquele que Lucille parecia ter. Talvez fosse porque ela demonstrara um interesse em aprender não só sobre a magia, mas sobre a luta, ou quem sabe fosse o fato dela gostar tão abertamente de sua banda favorita. Quando a música acabou, os demais presentes no galpão de treino o olhavam com um misto de estranheza e felicidade, e os dois riam, aproveitando aquela recém chegada intimidade e conforto.

...

Nikolaus sentou pesadamente em sua cadeira aveludada. Continuaram tentando atrair Lucille para fora da dimensão, mas todos o caos que eles criaram foram resolvidos por outros integrantes da ODM. Aparentemente o primeiro incidente foi o suficiente para que eles a mantivessem presa lá. O homem soltou um longo suspiro, precisava pensar em algo para trazer Lucille até ele.

— Traga as irmãs do contraste até mim. - Ele ordenou para a criatura sem nome que lhe obedeceu, fazendo uma reverência antes de sair a procura das bruxas. Assim que as mulheres chegaram, ele começou - Vocês já ouviram falar da coleção de livros Umbra? - Perguntou, olhando de uma bruxa a outra.

As duas o olharam com surpresa. É claro que as duas sabiam o que era a coleção Umbra, uma série de livros com as mais antigas e perversas magias, tão poderosas que só poderiam ser feitas sob sacrifícios e sangue derramado. Os volumes estavam guardados em uma biblioteca altamente guardada por integrantes da ODM na França.

— Até hoje eu deixei aquela biblioteca em paz, porque as magias contidas naqueles livros só podem ser realizadas sob condições incomuns e complexas, e com pagamentos muito mais altos do que eu jamais pensei que me habilitaria a pagar, mas creio que chegou a hora. Chegou a hora de procurar por entre aqueles livros malditos, algo que vá nos ajudar.


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Notas finais do capítulo

I've just seen a face: https://youtu.be/4Vm7lQ3EheY
Espero que tenham gostado



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