Três dias depois, Lucca se encontrava próximo ao ponto de encontro. Estava atrasado. Andando mais um pouco, ele avistou um grupo de pessoas e foi naquela direção.
Uma mulher enérgica com longos cabelos castanhos presos em tranças olhou para ele interrogativamente.
— Desculpe o atraso! - ele disse a ninguém em específico.
— Chegou bem a tempo! Eu sou Morgana e vou ser a instrutora do teste de hoje. - disse a mulher de cabelos castanhos.
— Atenção todos! - disse ela, dessa vez mais alto, para que todos ouvissem a sua voz - Vamos começar logo com isso! Façam uma fila virados pra minha direção.
As pessoas começaram a se organizar em uma fila, olhando para Morgana. Lucca ficou em uma das extremidades da fila, sendo assim, ele seria o primeiro, ou talvez, o último do que quer que fossem fazer.
— O que vamos fazer hoje é simples, mas mais da metade de vocês não vai conseguir. - com isso, houve um burburinho entre as pessoas enfileiradas - Silêncio! Como podem ver, atrás de mim está a Floresta do Monte Salgado. Vamos entrar na floresta, e depois eu continuo a explicar o que faremos! Vamos, me sigam!
Morgana saiu andando em direção a floresta, as pessoas pouco a pouco começando a segui-la.
Lucca começou a reparar na aparência das pessoas que, como ele, tinham vindo fazer o teste. Ele reparou que muitos traziam mochilas grandes e de aparência pesada consigo e vestiam roupas grossas. Ele tinha optado por uma roupa leve e resistente que se adaptava bem a vegetação densa da Montanha Salgada, e tinha levado apenas um pequeno cantil preso ao cinto, além disso, sua arma estava muito bem escondida dentro da bota de escalada.
— Parem! - disse Morgana - Vai ser aqui!
Ele olhou os arredores. Estavam cercados de mata densa e era possível ouvir animais ao longe.
— Muito bem! O que vamos fazer é o seguinte, cada um de vocês, supostamente, trouxe uma arma. Está área é cheia de cervos. Vocês vão, um por um, me mostrar a arma que trouxeram e depois, tentar caçar um cervo com ela. Lembrem-se, não é a arma que conta, e nem se vão conseguir caçar um cervo com ela, mas a maneira como vão tentar fazer isso. A partir disso, eu vou julgar quem pode começar o treinamento no exército. Não pensem que vão sair caçando aliens assim que terminarem esse teste. Quem passar ainda vai ter seis meses de treinamento e muitos outros testes antes de ser considerado um membro oficial do exército. Vamos começar o teste! Façam fila!
Lucca ficou de novo na extremidade da fila e, a julgar pelo fato de que Morgana estava na outra extremidade, ele provavelmente seria o último. Melhor assim.
O teste foi iniciado. Morgana anotava o nome da pessoa, analisava a arma, as vezes fazendo alguma pergunta, e depois a pessoa tentava caçar um cervo. Apareceram todos os tipos de arma, desde facas de manteiga até metralhadoras.
As pessoas que mais chamaram a atenção de Lucca foram, a mulher que levara uma faca de manteiga, mas a havia utilizado inteligentemente em uma arapuca elaborada com algumas cordas, e conseguira pegar um cervo; um homem com uma faca, que aparentara relativa facilidade em passar no teste e um menino que tinha aparência de uns 12 anos ou menos, e tinha levado um arco como arma e também tinha pegado um cervo. Mas a pessoa que mais tinha chamado atenção de todos até então, tinha sido um homem que levara espadas AA como arma. Espada AA eram exclusivas do exército, eram sempre espadas de uma mão com um estranho brilho arroxado que indicava que eram capazes de matar aliens, e cada membro do exército utilizava duas delas, eram sempre espadas gêmeas. Quando Morgana perguntou ao homem de onde tinha tirado as espadas, ele respondeu que seu pai era do exército. Ele conseguiu pegar um cervo com facilidade.
A fila continuava do mesmo tamanho, pois as pessoas voltavam ao seu lugar na fila depois de terem completado o teste, mas Morgana estava cada vez mais perto de Lucca. Como ela havia dito, mais da metade das pessoas não tinha sido capaz de pegar um cervo.
Agora era a vez da penúltima pessoa da fila, a mulher ao lado de Lucca era alta e aparentava ter uns vinte e tantos anos. Ela não conseguiu pegar um cervo, mas manejava muito bem a pequena faca que tinha levado consigo.
Chegou a vez de Lucca!
— Nome? - perguntou a instrutora.
— Lucca Myrai!
Ela o examinou da cabeça aos pés, provavelmente em busca de algum sinal de alguma arma.
— Me deixe ver a arma que você trouxe!
Ele se abaixou um pouco e puxou um pequeno estojinho de couro de dentro da bota. Ele levantou, abriu o estojinho, e de lá de dentro, retirou uma fina e longa agulha de aparência afiada. Ele ouviu algumas da fila rindo como fizeram com a mulher com a faca de manteiga e com alguns outros.
Morgana olhou para ele com curiosidade, provavelmente se perguntando o que ele pretendia fazer com aquilo. Ela se virou e apontou para o norte, onde um cervo descansava em baixo de uma árvore.
— Ali tem um cervo! Pode tentar pega-lo! - ela olhou para a agulha, parecendo cheia de perguntas, mas não disse nada mais.
Lucca lentamente subiu em uma árvore próxima e, utilizando um galho longo como impulso, ele passou para a próxima árvore. Fez isso de árvore em árvore, até chegar aquela sob a qual o cervo descansava. Ele procurou pela instrutora para ter certeza de que ela estava olhando, mas viu que não só ela, mas também todos os outros estavam encarando-o.
Ele segurou a agulha bem acima do cervo, se aproximando o máximo possível por cima, e a atirou em linha reta. Assim que a agulha espetou o cervo, ele caiu morto. Lucca desceu da árvore, pegou a agulha do corpo do animal morto, e foi até onde estavam os demais. A instrutora estava boquiaberta.
— O que tem nessa coisa? - perguntou.
— Segredo! - ele disse, deixando-a um pouco irritada.
Alguns dias mais tarde, Lucca recebeu uma carta. Tinha passado no teste, tinha sido aceito como recruta do exército.