Hard Times escrita por fckfic


Capítulo 3
Iniciativas


Notas iniciais do capítulo

Tem recadinho nas notas finais. Boa leitura!



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No final daquela semana em que Fausto deixou a casa, uma nova rotina estava instalada para o resto da família. Yasmin chorava todas as noites até conseguir dormir. Felipe passava a maior parte do tempo fora, só estando em casa para comer e dormir. Yuri ignorava tudo a sua volta e se fechava no próprio mundo que ele havia criado para não encarar os novos problemas.

Mas esse final de semana seria o começo de importantes mudanças que trarão consequências irreversíveis. Vamos começar pela sexta. Felipe chamou Guilherme para dormir na sua casa. Ele não estava suportando mais aquele lugar e Yasmin havia pedido para que ele não se afastasse dela, portanto trouxe uma ajuda para não se sentir tão sufocado.

Guilherme aceitou o convite sem pensar duas vezes. Precisava tentar novamente se explicar com Yuri, em um lugar que não fosse tão movimentado como a escola. O irmão do melhor amigo o evitou a semana inteira e isso já estava deixando Guilherme furioso.

Devo dizer que o mundo que Yuri criou para fugir dos problemas em casa se resumia a comer muito chocolate e ver filmes e séries na Netflix. A única pessoa com quem ele desabafava seus sentimentos era João Pedro, seu colega de sala e melhor amigo – que logo teremos o prazer de conhecer.

O garoto estava se afundando em tristeza. Apesar de sentimentos confusos em relação ao pai, ele sabia o quanto sua mãe estava sofrendo e isso era a pior coisa que lhe podia acontecer. Sempre tão próximos, ver a mãe triste era como receber facadas em seu corpo.

Os três garotos estavam sentando na sala assistindo a um filme de terror que passava. A noite era fria, como poucas nos últimos dias, e um clima muito mais frio se perdurava ali dentro.

— Eu decidi que vou marcar com a Beatriz. Não adiante eu esperar as coisas se acalmarem aqui em casa porque tudo só deve piorar. – Felipe falou para o amigo num tom baixo para que o irmão não ouvisse.

— Você acha que seus pais não têm mais chance?

— Não desisti ainda. Tô esperando a poeira baixar um pouco pra pensar em algo. Mas não posso continuar adiando esse encontro com a mina. Logo aparece outro e eu perco minha vez.

— Impressão minha ou tem algo diferente dessa vez? Você fala como se quisesse entrar num relacionamento com ela.

— Mano, eu nem sei. Ela é um diferente das outras garotas da escola. É daquelas que a gente consegue manter um papo legal e sem falar que é muito bonita. Mas você sabe que desde a Vitória que eu não namoro. A guria era chata pra caralho e brochei com a ideia de relacionamento.

— As histórias de ciúmes dela são as melhoras, queria ter conhecido a figura.

— Aquilo lá é uma doida. A última vez que soube dela tava namorando um mané que era controlado por ela. Não coloco minha mão no fogo, mas a Beatriz parece diferente e se as coisas fluírem, não descarto algo mais sério. E você, Gui? Nunca mais te vi com nenhuma garota.

— Se dependesse da minha mãe eu taria namorando alguém da igreja dela. Inclusive aproveitei do seu convite pra fugir do culto. Eu não suporto as pessoas daquele lugar.

— E não tem ninguém em vista? Ano passado você não deixava passar nenhuma.

— Por enquanto tô de boa.

— Vou ver se a Beatriz tem uma amiga legal pra te apresentar. Mano, eu tô morrendo de sono. Mal dormi esses dias. Vou subir já, amanhã vamos na pista andar de skate?

— Tá marcado. Descansa lá brother, quando acabar o filme eu vou dormir.

Felipe deu um tapinha de leve na bochecha de Guilherme e seguiu para as escadas rumo ao seu quarto. Agora era apenas Yuri e ele naquela sala e seu coração já estava acelerado.

— Quase não te vi durante a semana. – Guilherme iniciou a conversa, mas não recebeu retórica qualquer, então decidiu continuar – Eu queria ter como provar de que sua teoria é errada, mas infelizmente só tenho a minha palavra e isso não deve valer muito. Quem sou pra você né? Nunca tivemos a oportunidade de conversar de verdade, apesar de nos vermos a todo o momento desde o ano passado.

— Pode falar o quanto quiser. Suas mentiras não vão funcionar comigo.

— Eu não sei se você lembra de uma vez que eu vim dormir aqui e você entrou no quarto do Felipe apenas de cueca pra reclamar o prato sujo que ele tinha deixado na pia. Na verdade, eu tinha sujado aquele prato, mas você tava tão bravo que nem consegui falar. E não era só isso, eu não conseguia parar de olhar pro seu corpo. Agora você deve me achar um tarado e provavelmente eu seja... Eu apenas não conseguia desviar o meu olhar de você.

— Essa foi boa. Usar de um momento do passado. Eu me lembro desse dia. Fiquei com a função de lavar a louça e tinha acabado tudo. Quando me levanto de madrugada, tinha um prato sujo na pia. Eu tava tão puto com o meu irmão que nem percebi como você me olhava. Não posso saber se está dizendo a verdade.

— Eu posso e sei. Desde aquele dia a sua imagem não sai da minha cabeça. Não que eu tenha ficado obcecado, mas toda vez que eu te vejo, é só o que consigo lembrar. Até me aguentei muito pra chegar até você. Logo você começou a namorar e coloquei na cabeça que era melhor esquecer.

— Você é gay então?

— Bissexual não resolvido. Apesar de nunca ter ficado com nenhum homem, penso que sou porque sinto atração por caras.

— E quer fazer o teste comigo pra saber se realmente gosta.

— Seria mais fácil se fosse apenas isso. Poderia ser com qualquer um então.

— O que quer de mim?

— Tudo o que eu puder ter.

— E o que meu irmão vai dizer quando souber disso?

— Você quer que ele saiba?

— Eu quero verdades.

— Te contei a minha. Cabe a ti acreditar ou não.

Yuri levantou-se do sofá irritado por ainda pensar que tudo se tratava de um plano de Guilherme com o irmão. Foi para a cozinha, porque não sabia o quanto mais aguentaria se continuasse na sala. Guilherme era um cara atraente e a dúvida poderia fazê-lo cometer um erro.

O mais velho tentou se segurar ao máximo, mas parecia que já não tinha mais controle de suas decisões. Foi até a cozinha e encontrou Yuri de costas, apoiado no balcão da pia. Caminhou até ele e segurou o seu braço, usando de um pouco de força para puxá-lo. Ficaram frente a frente por poucos segundos, porque o que houve depois foi um choque ardente de lábios.

Sem resistências, apenas um calor agradável que afugentava o frio daquela noite. Eles estavam curtindo o máximo que podiam porque sabiam que no momento em que se separassem, uma tempestade detonaria aquele clima.

Porém o fôlego apaga, principalmente quando se beija da maneira que os dois se beijavam. Esqueça todo o romântico primeiro beijo que estamos acostumados a ver na televisão. Aquilo era puro tesão e a vontade que tinham era consumir o ato do sexo naquele mesmo instante. Como foi dito anteriormente, assim que se separaram para tentar fazer a respiração voltar ao normal, chegou a tempestade.

— Vamos pro meu quarto. – ouvir isso de Yuri foi uma surpresa.

Em segundos estavam no quarto do caçula, deixando na sala uma televisão ligada e lembranças inesquecíveis na cozinha. Voltaram a se beijar assim que a porta foi fechada, enquanto caminhavam colados até a cama. Guilherme ficou por cima e Yuri então começou a levantar a camisa do outro.

Parte de cima do mais velho jogada no chão. O tempo que tiravam para continuar respirando era usado para carícias, fungadas e beijos molhados no pescoço. Yuri livrou-se de sua camisa e passou então a tentar se livrar o pano – uma bermuda jeans - da parte de baixo de Guilherme.

Tudo seguia para um caminho luxurioso, mas lembra de que eu citei uma tempestade? Pois então, ela veio com tudo na cabeça do Gui quando ele se deu conta de que estava prestes a fazer sexo com outro homem. E foi rápido, ele se separou dos beijos do Yuri, pegou sua camisa a vestindo com pressa e murmurou um pedido de desculpas, saindo atordoado daquele cômodo.

Vocês já devem imaginar que ambos tiveram problemas para dormir naquela noite. Mas pulando essa parte, a manhã daquele sábado continuava as mudanças que eu disse que haveria nesse final de semana.

Yuri acordou mais cedo que o costume num sábado e desceu para tomar o seu café. Deu um beijo na sua mãe assim que adentrou a cozinha e rolou os olhos a procura de Guilherme. Seu irmão estava tomando café na mesa. Imaginou que o garoto deveria estar no banheiro ou ainda no quarto e sentou para se servir.

— E o Guilherme? – Yuri não conseguiu aguentar de curiosidade.

— Já foi pra casa.

— Mas ainda é cedo. Vocês não iam sair?

— A mãe dele ligou e ele teve que ir. Por que tá tão interessado?

— Não é nada.

— Agora você tá apaixonado pelo Guilherme? Sinto informar que ele não é gay.

— Eu só perguntei por ele. Deixa de ser idiota.

— Tá nervosinho? Se acalma bebê.

— Meninos, parem! – Yasmin interviu e Felipe se levantou da mesa, deixando o prato na pia e saindo da cozinha.

— Nem pra levar um prato ele serve.

— Chega Yuri. Vocês não podem ficar no mesmo lugar sem discutir? Ninguém aqui ainda é criança, pelo amor de Deus.

— Desculpa mãe. Dormiu bem?

— Sim, meu filho. E você?

— Melhor impossível. – o menino fingiu um sorriso lembrando-se da tragédia da noite anterior.

Felipe tomou a iniciativa e mandou uma mensagem para Beatriz, perguntando se podiam marcar um cinema praquela noite. A resposta veio rápida e curta. Um “Sim!” e alguns detalhes sobre a hora e pronto. Encontro marcado. Parece que essa dupla tem mais sorte que aquela outra.

Horas passam, preparação, trânsito, busca, shopping. Os dois compraram um balde grande de pipoca e dois refrigerantes individuais e entraram na sala de cinema. Tinham conversado sobre besteiras da escola durante o caminho. O filme era sobre algum super-herói. Eles escolheram com base nas medianas opções.

— Que pena que não é um filme de terror. – Felipe disse já sentado na poltrona.

— Se pensa que eu já vou me agarrar contigo hoje, saiba que não é assim que as coisas vão acontecer.

— Imagino a ideia que tem de mim na sua cabeça.

— Por minhas amigas eu acharia você infantil, galinha e babaca. Porém eu gosto de contrariar um pouco e até te acho interessante. Vamos ver qual lado estará certo no final.

— Acho que os dois lados estão certos. Não posso prometer nada, mas gosto muito de estar com você.

— E como vão as coisas na sua casa?

— Indo. O filme já vai começar.

Felipe claramente fugiu do assunto e Beatriz decidiu não contrariar. Os dois assistiram ao filme, comentando as cenas animadamente entre sussurros e risadas para não ouvir reclamações das outras pessoas. Por um momento, não havia problema algum. Era o início de um vínculo forte e especial.

— Nunca critiquei filme de super-heróis. – Beatriz disse quando os créditos do filme começaram a rolar.

— Aham, sei. Mas esse filme é foda pra caralho. Vamos tomar um sorvete?

— Claro. Minha boca tá seca.

— Eu poderia ajudar com isso de outra forma também.

— Continue sendo como você foi durante o filme e eu penso a respeito.

— Combinado.

Sorvete. Dois sorrisos que insistiam em dominar a face daqueles dois. Histórias engraçadas. Estava sendo um primeiro encontro bem positivo. Após o sorvete, Felipe foi levar a dama de volta para casa.

— Foi tão divertido. – Beatriz disse sorrindo. A lua iluminava seu rosto e deixava Felipe um pouco bobo com a sua beleza.

— Eu deveria ter saído com você antes. Onde eu tava com a cabeça?

— Acho que agora eu preciso entrar.

— Ah, por mim a gente ia pra algum lugar legal e curtia o resto da noite. Tá sendo ótimo até agora, não é?

— Tenho medo de ficar um pouco mais e você fazer algo que estrague tudo.

— E por que seria eu a estragar tudo? Você também pode fazer alguma merda.

— Poderia. Sabe que eu já tive uma queda pelo seu irmão? – Felipe imediatamente tirou o sorriso do rosto. Um silêncio perdurou por alguns segundos.

— Você sabe que ele é...

— É, eu sei. Mas não era nada demais, apenas o achava bonito. Vou entrar.

— Boa noite.

Beatriz percebeu o quanto Felipe ficou estranho quando o irmão foi citado na conversa. Para quebrar um pouco o clima, resolveu dar aquilo que o garoto tanto insistiu durante a noite. Inclinou o corpo, virou com uma mão o rosto do garoto e uniu os lábios. As línguas se encontraram e era um típico primeiro beijo clichê.

A garota se afastou com um sorriso e abriu a porta do quarto. Andou até a sua casa e se virou para um último aceno. Felipe abriu um sorriso um tanto quanto malicioso e seguiu estrada assim que Beatriz entrou na casa.

Mas vocês se enganaram se acharam que a principal mudança já tinha sido revelada. Após passar pela porta do quarto da mãe, Yuri percebeu que ela estava chorando. Já não podia mais aguentar aquela situação. Foi para a sala e esperou o irmão chegar.

Felipe entrou na casa e Yuri se pôs de pé. Frente a frente, os irmãos se encararam por alguns segundos.

— Eu não aguento mais ver a mamãe chorando por causa do pai. Sei que você quer que eles voltem e eu proponho te ajudar. O que acha de darmos uma trégua?


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Notas finais do capítulo

Então, não tenho recebido nenhum retorno de vocês e isso desanima pra caralho. Se continuar assim, deixarei de escrever essa história, portanto se você tá lendo, deixe qualquer comentário que seja pra saber que está acompanhando. Sei que muitos têm vergonha, mas fico mais fácil depois de comentar pela primeira vez. Até o próximo, espero.



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