Eu a conheci em Outubro, que, embora soe como outono, é primavera. Mas tudo bem, porque primavera combinava bem com ela. Não que ela fosse uma das flores delicadas que desabrocham nesse período. Não. Combinava porque soa como vida, e era isso que ela exalava. 

Desde aquele primeiro encontro - um feliz acaso dado aos caprichos do destino - encontramo-nos algumas vezes na companhia um do outro. A maioria delas em meio a muitos outros amigos em comum, pouquíssimas e breves vezes à sós. Seja como for, mesmo acompanhado de muitas mais pessoas, para mim, elas todas se desfaziam quando ela chegava. 

Tinha uma passada com jeito de quem nunca volta atrás, mas falava muito bem em nostalgia. Soa como se a idealizasse? É porque eu o fazia. Ninguém segura a imaginação fantasiosa de um romântico como eu. Eu a vi inatingível, portadora das mais belas qualidades, dona da luz e o escambau. 

O problema dos românticos é que nossos sonhos nunca nos são palpáveis. Ficam sempre lá, à distância de um estender das mãos, ideais e belos enquanto não ousamos tentar uma aproximação mais valente. No entanto, se nos desdobramos a persegui-los, não tarda a nossa decepção. Isso porque, no fim, descobriremos que toda aquela beleza deslumbrante fora apenas mais uma peça pregada pelo nosso míope coração sonhador. Descobriremos a realidade.

Realismo.

Realista.

Ela era assim. O meu exato oposto. E as pessoas dizem que os opostos se atraem, mas descobri que alguns não o fazem.

Não é que o meu sonho tenha se revelado uma completa falsificação. Ao contrário, ela ainda exalava vida, ainda caminhava como quem nunca volta atrás e falava em nostalgia. Mas sua primavera não tinha espaço para o meu outono. 

Você sabia que o outono é a estação dos românticos? Ou ao menos o é para mim. Folhas mortas se agarram fragilmente aos galhos, apenas para caírem ao beijo do vento. Assim como os nossos sonhos. 

De todos os defeitos, ela tinha justo aquele: não tinha espaço para uma pessoa tão diferente. E era é a razão pela qual lhe escrevi a seguinte despedida: 

"Gostei de você. Gostei mesmo. Da sua risada aberta e meio rouca, do seu coração generoso, do jeito desleixado de encarar a vida. Gostei até mesmo das suas confusões ocasionais, nas quais você parecia se perder de propósito só para que alguém a encontrasse. Admirei seu gosto para as coisas em geral. É uma pena sermos tão incompatíveis. É uma pena que você, mesmo com toda essa perspicácia e inteligência que carrega no olhar, não tenha sido capaz de ver a primeira coisa sobre o meu eu aqui de dentro: desisti de mudar por alguém. Minha sinceridade fica no topo da lista, sabe? Não vou te decepcionar tentando te convencer de que sou o que esperava. Portanto, se não pode suportar minha transparência, suponho que isso seja um adeus". 

E assim saí da primavera. Fiquei com meu outono.