O País das... Maravilhas? escrita por Lucy


Capítulo 9
Capitulo 8


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo para voces, amores!
Não tão grande quanto o ultimo (Que foi um caso extremo kk), mas espero que gostem ♥



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As ruas estavam extremamente escuras naquela madrugada, a não ser pelo prédio que eu havia fugido, que brilhava cada vez mais pelo fogo se espalhando rapidamente. Desculpa Mandy e Jace, mas eu não podia ficar, não queria que tudo isso acontecesse... Demorou alguns minutos para que as ruas vazias começassem a se tornar movimentadas graças ao incêndio, e enquanto todos caminhavam na direção dele, eu enfrentava a multidão no sentido contrario para me afastar ao máximo.

Finalmente encontrei um beco escuro afastado em que eu poderia me esconder. O chão estava úmido e frio, mas mesmo assim sentei, me encostando em uma das paredes. Eu já estava praticamente do outro lado do pequeno vilarejo, mas a fumaça e o brilho ainda eram visíveis dali, e então alguns pensamentos invadiram minha mente... Será que fiz certo em fugir? Será que alguém se machucou no fogo? Será que o gato me enganou? E onde está o maldito gato?! Eu não sabia como responder nenhuma das minhas perguntas. Então ouvi uma voz não muito distante.

—- Muito bem Alice, agora podemos... – Eu interrompi. Conhecia a voz do maldito gato e olhei para traz a sua procura. Ele estava deitado sobre uma lata de lixo mais no fundo do beco.

—- Olha o que eu fiz! – Apontei para o que parecia uma enorme fogueira a distância. – Isso era pra acontecer? Podem ter se machucado!

—- Voce precisava sair. – A voz do gato era serena e calma, e seu enorme sorriso não estava em seu rosto, apenas seus grandes olhos verdes.

—- Mas aquilo precisava acontecer?! – Falei mais alto, agora me levantando como se desse uma bronca nele.

—- Não foi culpa sua... – Respondeu ele virando o rosto um pouco de lado, como se entendesse meu desespero. – Voce tentou sair sem conflito, mas não deixaram.

—- Por que queriam o meu bem... cuidar de mim... – Falei abaixando a voz, me virando novamente para a saída do beco, olhando o incêndio a distância, com pesar.

—- Não é hora de chorar o leite derramado, criança. Anna precisa... – O interrompi novamente, me virando para ele.

—- Como vou saber se posso confiar em você? – Meu tom de voz era seco e acusador.

—- Tudo bem, você pode escolher. – Ele começou a flutuar sobre o lixeiro. – Ficar aqui nesse beco sozinha, ou – A tampa do lixeiro abaixo dele foi jogada longe. – Confiar em mim e voltar ao país das maravilhas por Anna. – Sua sombra translucida despencou com seu enorme sorriso para dentro da lata, porem não ouve o barulho do impacto, apenas um brilho vindo lá de dentro que durou apenas uns três segundos.

Intrigada com o que havia acabado de acontecer, me aproximei da lata devagar até finalmente observar o que havia no fundo, mas definitivamente não era lixo. Eu estava vendo algo como um portal, mas não sabia direito o que havia do outro lado... estava tão escuro... Bom, olhei a ultima vez para o bar pegando fogo e entrei no tal portal, sentindo como se fosse engolida por uma poça d’agua gelada.

Senti que estava caindo por alguns minutos quando finalmente senti o impacto do meu corpo contra terra úmida, minhas costas latejaram me fazendo lembrar do pequeno incidente a algum tempo atrás... Fechei os olhos com a dor. Ao abri-los novamente, demoraram a se acostumar com a escuridão, mas logo pude notar que eu estava em algum tipo de caverna úmida totalmente de terra. Me sentando devagar enquanto abraçava meu corpo de frio, eu tinha a impressão que qualquer movimento brusco faria todo o teto desmoronar sobre minha cabeça.

Finalmente me levantei, tentando inutilmente limpar minhas roupas com as mãos, começando a caminhar sem direção pelo local, parecia não ter nada ali, apenas um labirinto em que eu claramente estava perdida. A saia longa grudava no chão graças a umidade, tornando difícil minha locomoção, irritada, me abaixei devagar e rasguei a barra do vestido, o deixando na altura dos meus joelhos... Que alivio! Peguei a faixa de tecido que havia arrancado e amarrei na cintura, com o laço para traz... um pequeno devaneio de vaidade. Continuei a caminhada.

Então, depois de andar um bom tempo notei, mesmo na escuridão, que eu havia chego ao fim do corredor em que eu estava. O resto do túnel não fora cavado, como se desistissem de continuar naquela direção, e ao me aproximar, percebi o que talvez teria sido o motivo. A terra na parede de onde deveria continuar o caminho estava manchado de algo muito escuro, como uma infiltração. Tentei alcançar a mancha e tive que escalar um pouco para finalmente toca-la, meu dedo voltou sujo de vermelho... Sem entender, cheirei aquilo e o forte odor de ferrugem invadiu minhas narinas, isso é sangue! Só então notei que todo o caminho a partir de um certo ponto cheirava assim. Voltei por onde eu havia chegado, observando melhor as paredes e tetos... Era como se o túnel sangrasse.

Ao notar o que estava acontecendo ali, um medo gigantesco me veio ao peito... Onde estou? Para onde o gato me trouxe?!  Como saio daqui? Saber que estava cercada de sangue que escorria pela parede a agora começava a pingar pelo teto era uma sensação horrível. Continuei andando por muito tempo... talvez horas, ou dias? Não sabia ao certo... não havia como se situar naquele lugar sempre escuro e assustador.

Depois de muita caminhada, minhas pernas doíam e minha barriga roncava de fome... Eu estava acabada e meu corpo já não aguentava mais, então me sentei no chão, no meio do túnel. Eu me sentia febril, e não duvidava que realmente estivesse, enquanto minha mente girava e eu não conseguia mais manter meu tronco de pé... Me deitei, abraçada comigo mesma, até apagar, dormindo como uma pedra.

Não sei quanto tempo dormi, mas quando finalmente acordei, tudo parecia ainda mais escuro que antes. Agora as paredes não estavam mais manchadas e sim completamente cobertas por sangue e o cheiro era insuportável, me fazendo rapidamente erguer o corpo para apenas me curvar e vomitar... e assim fiquei por alguns minutos. Quando finalmente controlei um pouco mais a ânsia de vomito, levei a mão esquerda ao nariz para evitar o odor enquanto a direita soltava o pedaço de pano que antes eu havia prendido na minha cintura, as pontas estavam sujas de lama, mas usei o meio do tecido pra colocar no rosto, tentando filtrar o ar e respirar sem passar mal.

A minha atitude não havia dado certo cem por centro, mas era o suficiente para que eu recobrasse a consciência e me levantasse. Continuei andando naquele lugar enquanto amaldiçoava o gato em silencio, até ouvir passos atrás de mim que me fizeram virar naquela direção imediatamente. Ao longe, pude vislumbrar uma silhueta escura, que caminhava de forma desajeitada e ao mesmo tempo familiar... Quando finalmente estava próximo o suficiente para que eu identificasse de quem se tratava, meu coração acelerou. Chapeleiro!! É você!

Meu corpo quis se atirar na direção dele a abraça-lo apertado, me sentir segura e chorar nos braços do meu velho amigo, mas minha mente me impediu. O que o chapeleiro estaria fazendo nesse enorme túnel, já que eu não podia ter certeza nem que realmente estava no país das maravilhas? E outra, a ultima vez que o vi, seu corpo e cabeça estavam separados no chão, sem vida... Algo estava errado.

—- Alice? – A voz familiar do chapeleiro disse a distância, parando e olhando na minha direção como se acabasse de me notar. – é você mesmo? – Mesmo no escuro, pude identificar o sorriso no rosto dele.

—- Sim. – Respondi seca e desconfiada, mas o meu tom de voz não pareceu o incomodar.

—- Alice! Estou louco para beber chá com você a muito tempo! – Falou ele e acelerou o passo na minha direção.

O caminhar descuidado e desajeitado do meu amigo estava cada vez mais vencendo a desconfiança dentro de mim e quando ele estava a cerca de três metros de distância, finalmente sorri e abri um dos braços em sua direção, enquanto o outro ainda segurava o pano. Foi quando aconteceu.

Simplesmente, como se ele tivesse corrido na direção de uma lâmina invisível, seu pescoço foi cortado rapidamente e sua cabeça rolou até parar bem na minha frente, com um olhar e sorriso congelados nos meus pés. Meu coração disparou e rapidamente meus olhos se encheram d’agua, e foi aí que voltei a olhar para o corpo dele. Ainda de pé, seu pescoço jorrava sangue para o alto, como um enorme gêiser, melando ainda mais o teto e tudo a sua volta, algumas gostas pequenas ainda me alcançaram, e senti respingarem meu rosto, ainda quente.

Novamente me curvei meio para o lado, tirando o pano do rosto e prendendo a respiração para vomitar com força, me obrigando a me ajoelhar sentindo o olhar da cabeça do chapeleiro em minha direção. Quando finalmente controlei a ânsia novamente, repus o pano no rosto e me olhei novamente para o corpo do chapeleiro... O sangue não jorrava mais, porem ainda escorria pescoço abaixo.

Dei alguns passos para trás, com a intenção de correr, porem paralisei ao ver de repente aquele corpo sem vida se dobrar, ficando de quatro no chão, e de onde caiu sua cabeça, um monte de carne vermelha e pulsante começou a crescer, criando uma nova cabeça de aparecia animalesca e horrenda, de onde surgiram olhos negros e uma enorme boca com dentes afiados. Agora eu corri sem nem olhar para traz.

Até que cheguei em uma bifurcação. Para onde eu iria? Ouvi outra voz familiar vindo do caminho da direita e corri em sua direção sem pensar duas vezes, não havia tempo para isso... e depois de tomar tal decisão percebi de quem era a voz que eu seguia... Lagarta? Isso só podia ser outra armadilha! Olhei para traz pensando em pegar o caminho da esquerda, mas o chapeleiro demoníaco não estava muito longe e eu não conseguiria evita-lo, por tanto continuei em frente torcendo dentro de mim para que a voz da lagarta não fosse de alguma outra coisa.

Cheguei a uma segunda bifurcação, e finalmente encontrei a origem da voz. A lagarta estava no caminho da esquerda de pé, com seu narguilé, expressão calma e serena. Segui em sua direção em busca de abrigo, mas novamente me vi paralisada.

A lagarta segurou seu narguilé, dando uma ultima tragada e usando para dar uma forte porrada na sua cabeça que, assim como a cabeça do chapeleiro, rolou em minha direção. Pelo buraco que havia ficado, a lagarta enfiou o narguilé como se fosse sua nova cabeça, enquanto o sangue gosmento escorria e formava uma nova pele vermelha e meio transparente como uma gelatina, envolvendo todo o corpo do animal e formando braços animalescos com enormes garras negras. Corri antes de ver toda a transformação para o outro caminho da bifurcação.

A escuridão do ambiente misturada a fome, cansaço e medo estavam me deixando tonta enquanto eu corria no modo automático, sem ter mais consciência de para onde ou para que estava correndo tanto... Foi quando caí... Por dentro, eu já havia desistido da fuga e da sobrevivência, mas agora era definitivo, logo o corpo do chapeleiro com cabeça de demônio morderia minha carne e me comeria viva.

Pude ouvir ao longe umas fortes batidas no chão, causando tremores e fazendo a terra e o sangue do teto e paredes cair um pouco, como se estivesse prestes a desmoronar... Era o meu fim... Apenas fechei os olhos e aceitei. Então senti algo fofo e quentinho me tocar, pensei ter ouvido um “Alice?”, mas eu estava distante demais para reconhecer, e esse algo fofo e quentinho me envolveu por completo. Eu estava no céu? Já tinha acabado? O destino havia sido muito gentil comigo fazendo dessa forma, mas eu não iria reclamar... Minha mente se desligou.


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Notas finais do capítulo

Teorias meus amores? Adoro ouvir teoria dos meus leitores! Comentem!
Até sexta feira que vem!



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