Eu sou a Lenda escrita por Karina Ferreira


Capítulo 5
I-IV Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Glossário do antigo idioma
Shellan: companheira
Granhmen: avó materna

Tuhtor: Guardião

Nallum: amado

leelan: muito amada



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— Onde estava com essa maldita cabeça quando aceitou Nalla como professora de história? – esbravejou Zsadist invadindo o escritório do instituto e já partindo para cima do loiro sentado atrás da imensa mesa de madeira maciça. Apoiou as duas mãos sobre o objeto e impulsionou o corpo para frente encarando de forma ameaçadora o loiro que apoiou os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando os dedos próximo ao queixo em uma postura relaxada

— Ela é especializada em historia antiga não é mesmo? Ao menos era isso que dizia o histórico dela – Rhage estava debochando dele, essa era a única explicação plausível para toda aquela palhaçada

— Você sabe que aqui não é lugar para aquela fêmea estar! – rosnou expondo as presas em uma postura feroz

— Você sabe melhor do que eu que aqui é exatamente onde aquela fêmea deve estar. O lugar dela é onde você estiver Z, não entendo porque após todos esses anos você ainda insiste em causar esse sofrimento a vocês dois. Eu sei que você quer isso tanto quanto ela

— Você não sabe de absolutamente nada! Nunca vai entender! A Virgem decidiu assim, a Virgem deixou que fôssemos de mundos diferentes, eu aceitei minha penitencia e não vou estende-la aquela fêmea trazendo desonra a ela!

— Já acabou Z, você não é mais um escravo! Se dê a oportunidade de recomeçar sua vida! Eu consegui superar os meus traumas, você também pode – argumentou o loiro em uma inútil tentativa de trazer o amigo de volta a razão, é claro que a Virgem não estava punindo Z, o que acontecera a ele fora uma fatalidade, totalmente diferente dele próprio que sim havia sido pessoalmente amaldiçoado pela Virgem após uma transgressão

— É diferente! – rosnou o vampiro aparentando estar perturbado, a cicatriz no rosto ainda mais saltada devido a agitação de sua raiva

— Diferente? - exaltou-se o loiro começando a perder a paciência com o amigo que desdenhava de sua sina – Claro que é diferente! Eu convivo com um demônio dentro de mim! Um demônio que quando toma o meu corpo para si fica fora de controle e eu não tenho como garantir a segurança dos meus amigos, não tenho como garantir a segurança nem mesmo da minha própria Shellan*!

— Não estamos aqui para discutir qual dos dois é mais desafortunado

— Claro que não! – falou se recompondo – Você perderia – fez piada – Agora como diretor desse instituto eu digo que Nalla ficará, você esteja feliz ou não com isso

— Se houver um ataque ela será a primeira a se machucar! – argumentou aflito com a possibilidade

— Nisso eu tenho que concordar com você, e é por isso que com o poder a mim investido pelo rei estou te nomeando Tuhtor* dela

— O que? – gritou surpreso – Louco! Você ficou louco!

— Deseja que encarregue outro dessa função? Quer que outro macho a tenha em tamanha proximidade? Talvez um que tenha perdido a Shellan*? Por que se assim o deseja posso providenciar que... – Z fechou a mão em punho e segado pelo ódio acertou o queixo do loiro sentado a sua frente

—Já chega Zsadist! – ordenou colocando-se de pé, as mãos espalmadas sobre a mesa, os olhos verde água dando lugar aos brancos e brilhantes da besta e Z soube que o outro estava prestes a se transformar – Saia! – rosnou com todos os músculos Tremelicando. Z não deu aquela conversa por finalizada, mas sabia que por hora era batalha perdida. Virou em seus calcanhares e saiu a passos rápidos dali amaldiçoando Rhage e sua maldita besta no percurso

...

— Mas o que foi que deu na sua cabeça? – esbravejou Emmett invadindo o ambulatório de maneira agressiva e assustando a enfermeira de cumpridos cabelos avermelhados que parou o curativo que fazia na vampira deitada na maca. Isabella abriu os olhos em assombro e em um salto pôs-se de pé correndo para o outro lado da sala – o mais afastado que pode do macho – segurando uma compressa em sua boca ferida

— E..eu vou chamar a doutora – gaguejou a enfermeira correndo assustada por uma porta lateral

— Você é uma ser desprezível Isabella! Desprezível! – gritava encarando a amiga com olhos transbordando em fúria

— Exatamente por que estou sendo insultada? – questionou fazendo-se de desentendida

— Você sabe muito bem o que fez! Você não tinha esse direito! Rose esta extremante magoada comigo agora e a culpa é toda sua! – a vampira revirou os olhos entediada, mas afinal de contas quando que a sacerdotisa cheia de não me toques não estava extremamente chateada?

— É disso que se trata? A magoa da sacerdotisa? Caso não tenha reparado sou eu quem esta recebendo cuidados médicos depois daquela louca me atacar

— Não seja absurda Isabella! Nós dois sabemos que Rosalie não tinha a menor chance contra você. Você se deixou bater

— Você preferia que eu tivesse batido então? Vou me lembrar disso da próxima vez

— Claro que não! Mas não é disso que se trata, você está mudando de assunto

— Como não? A sua sacerdotisa descontrolada machucou o meu lindo rosto e eu não fiz nada para me defender, você deveria estar me agradecendo e não gritando comigo. Você sabe muito bem que eu fiz isso por você! – mentiu. Mas ele não precisava saber do interesse dela pelo humano e muito menos da pequena mentira que inventara sobre sua espécie

— Você contou a ela que se alimenta de mim! – gritou inconformado sentindo todos os músculos de seu corpo repuxarem de vontade de dar boas palmadas naquela vampira que ele chamava de amiga

— Era segredo? – perguntou cinicamente aumentando a raiva do outro

— Isabella! – rosnou de forma ameaçadora

— Nallum* você esta criando caso por nada! Na verdade deveria estar agradecido. Se ela se importou com isso é porque está com ciúmes e isso é um bom sinal não é mesmo? – O macho passou a mão no cabelo tentando controlar a vontade de estrangular aquela vampira cara de pau

— Isso vai ser mais um motivo para ela se afastar

— Deixe que se afaste então, você tem a mim, não precisa dela – sorriu convencida

— Ela é minha Shellan*! – assim que proferiu as palavras se arrependeu ao ver a amiga muda o olhando de forma indecifrável. A Virgem sabia que não tivera a intenção de magoa-la – leelan*... – suspirou abaixando a cabeça envergonhado – eu não quis... Olha, esquece ta legal – dito isso saiu do ambulatório a passos rápidos, não aguentando o fato das duas vampiras que mais amava na terra estarem magoadas com ele em um mesmo dia

Isabella fitou a porta por onde o macho saíra ainda tentando entender porque aquelas palavras não a feriram de maneira certeira tal como soco no estômago como sempre era todas as vezes que o macho a lembrava de que era vinculado. Ao contrário do incômodo que tal constatação deveria causar sentiu uma sensação de comodidade, talvez estivesse se habituando ao fato de que o macho pertencia a outra... Talvez ela também pudesse... Não! Jamais se habituaria a isso, ela amaria Emmett por roda a eternidade! Ninguém nunca tomaria seu lugar no coração dela e então olhos verdes como o outono lhe vieram a lembrança. Agitou a cabeça tentando afugentar aquela confusão

...

— Estamos na floresta Pokaini – falou Alice receosa descendo do cavalo e olhando em volta

— E você está com medo? – zombou Jacob

— Você não? – respondeu em desafio

— E por que ele deveria estar? – perguntou Jasper também olhando ao redor a procura de algum perigo

— Trolls – respondeu Tanya também aparentando preocupação. O loiro abriu ainda mais os olhos e empunhou a espada se colocando em alerta

— Não somente isso – continuou Alice fitando as rochas ao longe – tudo ao nosso redor está vivo e possui vontade própria

— O que isso quer dizer? – Questionou Jasper olhando a pequena fada

— Não confie nem mesmo no chão que está pisando, ele pode mudar de lugar – zombou Jacob arrancando risadas do grupo

— Vocês deveriam ter mais respeito – cobrou Alice

— Muito bem recrutas – Rhage chamou a atenção do grupo – hoje nosso treinamento é externo, vocês vão dividir-se em duas equipes, cada equipe terá uma bandeira a qual deverão proteger, a meta de vocês é capturar a bandeira adversária e voltar para o instituto compreenderam? – todos acenaram positivamente - Certo! Quem quer ser capitão?

— Eu! – Emmett e Edward responderam simultaneamente dando um passo a frente, nos dias que se passaram no instituto o vampiro e o humano acabaram se mostrando bem competitivos entre eles, Rhage desconfiava que o motivo dessa competição fosse a princesa o que para ele não fazia muito sentido visto que claramente o vampiro era vinculado a sacerdotisa. Mas Rhage não fazia questão de compreender os impulsos que levava os machos a terem tal comportamento, o importante é que a competitividade deles em muito ajudava o treinamento

— Aproximem-se – instruiu o loiro tirando uma moeda de ouro do bolso – escolham cara ou coroa – os machos aproximaram-se encanado um ao outro em uma típica provocação de machos por território o que arrancou um sorriso de canto de Rahge

— Coroa – declarou Edward recebendo somente um aceno de cabeça de Emmett. Rahge jogou a moeda para o alto a pegando de volta em seguida

— Bella – Gritou Emmett assim que viu o resultado sorrindo debochado para o humano que fechou a cara em uma carranca, a comemoração do vampiro sessou assim que viu o olhar enraivecido da sacerdotisa o fitando

— Jasper – o vampiro não pode deixar de ver também quando o humano acompanhou com os olhos Bella se aproximar e posicionar-se a seu lado. Gostaria muito de entender qual era a daquele humano pra cima de sua leelan* claro que no seu íntimo desejava que Bella encontrasse alguém que a fizesse feliz, mas não um humano fracoide.

— Rosalie – chamou tentando consertar as coisas com sua shellan*, deu um sorriso para a loira que revirou os olhos e marchou para o seu outro lado, o mais afastado quanto pode de Isabella

— Tanya – a loira correu para o lado do humano agarrando-se ao pescoço dele com um enorme sorriso no rosto

— Parece que somos uma equipe de novo – comemorou e Isabella sentiu vontade de vomitar com toda aquela cena desnecessária. Emmett tinha mesmo que escolhe-la? Preferia mil vezes estar na equipe do humano do que dividir uma mesma equipe que a sacerdotisa

— Jacob – chamou Emmett

— Por que é que eu sempre fico por último? - queixou-se Alice caminhando para o lado do humano. Se por acaso não sabiam ela é uma fada da tribo de Irahz a mais poderosa tribo entre as fadas

— Que comece a diversão! – gritou empolgado o instrutor – E ah, não se esqueçam de onde estão. Todo cuidado é pouco – sorriu debochado e subiu no cavalo indo embora, levando os outros cavalos consigo

Isabella olhou uma ultima vez para o humano que a dias bagunçava seus pensamentos e correu para o outro lado seguindo o seu grupo. Depois do que pareceram horas finalmente chegaram a uma clareira

— Aqui me parece um bom lugar para enfincarmos bandeira – declarou o líder do grupo enterrando o cabo da bandeira ao chão

— E qual é o plano? – perguntou Jacob – ficamos aqui e esperamos?

— Não! Vamos lá buscar a bandeira deles – declarou empolgado o vampiro

— Você faz parecer muito fácil – zombou o lycan

— E não é? O líder é um humano – debochou – o que pode fazer um humano?

— Esse humano tem uma fada e uma bruxa a favor dele. Me parece que ele é melhor estrategista do que você – murmurou Isabella sentada a beira de uma árvore bebericando um cantil com agua enquanto imaginava o que a bruxa em questão poderia estar fazendo com o seu humano naquele exato momento. Já havia notado os olhos da outra faiscarem sempre que olhava para o humano e por algum motivo que ela desconhecia isso a incomodava

— Está querendo dizer que preferia estar na equipe dele? – cobrou o vampiro olhando com indignação para ela

— Estou dizendo que não deveria subestimar seu adversário. Não é isso que você sempre repete? A equipe dele é forte e você precisa reconhecer isso

— Nós também somos uma equipe forte – rebateu Emmett com clara incerteza na voz. Sabia que Bella estava certa, quando montou sua equipe escolheu por afinidade e não por valor a ser agregado

— Ah sim, um lobo, dois vampiros e uma sacerdotisa que não serve pra nada

— Como ousa? – gritou Rosalie – eu sou um instrumento da Virgem!

— Pior ainda! Um pau mandado de deusa vai servir em que contra a magia da fada e da bruxa?

Jacob revirou os olhos e contrariando todos os seus instintos de matilha afastou-se do grupo não suportando toda aquela conversa mole do triângulo

— Foi para isso que você me escolheu? Para ficar aqui sendo insultada por essa vampira? Pior ainda para assisti-la insultar a virgem? – cobrou Rosalie a Emmett que ficava olhando de uma para a outra sem saber o que falar – Não vou compactuar com isso! Prefiro morrer comida por um troll na Pokaini do que aguentar essa vampira maldizendo a mãe da raça – saiu a passos duros para dentro da floresta

— Rosalie volte aqui! Rosalie! – gritava Emmert olhando a loira sumir por entre as folhagens – Viu o que você fez? Custava ser um pouco menos desrespeitosa?

— Você sabe que não sou uma religiosa e abomino toda essa devoção a maldita Virgem Escriba

— Isabella não blasfeme! Você não sabe do que a Virgem pode ser capas – a vampira bufou com indignação

— Muito pelo contrário Emmett, eu sei exatamente o quão perversa essa deusa que vocês idolatram pode ser. É você quem não o sabe! – foi a vez de Emmett revirar os olhos com desdém, Bella sempre falava esse tipo de asneira e ele não estava com tempo agora para discutir com a amiga

— Tanto faz, vem, vamos atrás da Rose

— Mas eu não vou mesmo! Ela que volte com as próprias pernas

— Você sabe que ela não sobreviveria duas horas sozinha na Pokaini

— O que somente reforça o quanto você escolheu mal a sua equipe – viu o rosto do macho contorcer-se de impaciência – quer saber? Vai lá resgatar a sua donzela, ao contrário dela eu ficarei bem sozinha! De qualquer forma não será a primeira vez que você me abandona sozinha em um terreno perigoso para salvar sua shellan. – cuspiu as palavras – Ao menos dessa vez não tem demônio

O macho abriu a boca pronto para retrucar mas desistiu, suspirou pesadamente e adentrou a floresta atrás da sacerdotisa. Isabella travou o Maxilar não se permitindo olhar para o caminho por onde o macho tinha ido, seria sempre assim não é mesmo? Rose seria sempre a prioridade do macho. Esse era o destino que a maldita virgem havia reservado para ela quando escolheu vincula-la a uma aberração que jamais a teria como prioridade. Claro que jamais contaria sua triste sina a Emmett, nem a Emmett e nem a ninguém. Levantou-se cansada de sentir pena de si mesma e seguiu na direção contrária a que o casal havia partido

...

Não muito longe dali o outro grupo também parava de andar instalando-se próximo a uma cachoeira

— Tem certeza de que aqui é um bom lugar? Perguntou Edward a Jasper

— Claro que sim, temos água, árvores frutíferas e o barulho da cachoeira nos camufla

— Certo. – concordou o humano de cabelos acobreados analisando o amigo loiro – E qual será o nosso plano?

— Eu pensei que o líder fosse você – zombou Alice

— Sim, e como líder eu nomeio Jasper meu conselheiro pessoal – respondeu em igual nível de brincadeira – Jasper é melhor estrategista do que eu

— Bom, precisamos ir atrás da bandeira deles, mas não podemos deixar a nossa própria desprotegida. Minha sugestão é que Edward ou eu fiquemos aqui enquanto o restante da equipe vai atrás deles. Devemos nos encontrar aqui amanhã pela tarde para partimos de volta ao instituto. Caso o grupo não retorne quem ficar deve pedir proteção aos deuses e retornar sozinho

— Não seria melhor que uma de nós duas ficassemos para o caso de um deles chegar aqui? Você sabe por causa dos poderes podemos ter mais vantagens – sugeriu Tanya

— Exatamente por terem poderes é que vocês duas devem se aventurar na floresta. Prestem atenção aos sinais, estamos em um treinamento, vamos aprender o que com esse jogo infantil? Nada! Não foi atoa que escolheram logo a floresta mais traiçoeira para o jogo, o desafio não é a bandeira, o desafio são os perigos que a floresta apresenta. Estamos aqui para sobreviver a eles - Os outros três se entreolharam enxergando a verdade nas palavras do loiro – Os poderes de vocês são mais uteis na floresta do que aqui protegendo esse pedaço de pano. Deixamos um humano, pois se um deles chegar aqui quem ficar não estará correndo risco de vida de qualquer forma, não podemos dizer o mesmo de quem se aventurar na floresta

...

Isabella caminhava a passos duros por entre as folhas não mais aguentando andar, sentia que estava andando em círculos e sempre passando pelos mesmos lugares não importava a direção que escolhesse seguir.

Pegou o cantil na cintura somente para mais uma vez constatar que este encontrava-se seco, já dando-se por vencida deixou-se cair ao chão com os olhos pesados de fadiga, fechou os olhos sendo tragada pelo inconsciente, um inconsciente que possuía obres verdes tão cativantes quanto assustadoras.

As obres a fitavam com uma intensidade tão grande que chegava a ser perversa, como se pudesse ler os seus mais íntimos segredos e estivesse pronto a revela-los para o mundo. Abriu os olhos assustada com os próprios pensamentos e sentou-se bruscamente vendo folhas caírem de seus cabelos, olhou a volta constatando que não estivera ali quando deixou-se abater pelo cansaço. A curiosidade de saber como chegara ali deixou de existir no momento em que escutou o barulho de agua corrente. Correra para para o rio atrás de sí deparando-se com uma estrondosa cachoeira

Abaixou-se debruçada ao rio bebendo da agua como se está fosse a ultima vez na vida que fatia tal ato, lavou o rosto e molhou a nuca tentando refrescar-se. Já estava abastecendo seu cantil quando se permitiu admirar a imensidão das aguas que caiam violentas do alto da montanha e la estava ela, a bandeira em tom vermelho ricocheteava no alto da montanha como que em um sinal para quem a quisesse encontrar. “olha só, mas quem diria? Isabella Swan saiu na frente novamente”. Sorriu fechando o cantiu e o prendendo na cintura, precisaria unicamente atravessar o rio e escalar a montanha para poder retornar ao instituto, e daí que retornaria sozinha? Era esse o combinado não era? Pegar a bandeira adversaria e retornar? Em momento algum combinaram que deveria ser todo o grupo

Com cautela entrou na água sentido o solo em baixo de seus pés e sorriu para isso, não era assim tão fundo, deu outro passo com a agua na altura de seu quadril, um novo passo e o chão desapareceu e ela afundou, se batia na agua quase que em desespero, nunca fora uma boa nadadora entretanto seria ridículo morrer afogada, controlou os pensamentos e se deixou relaxar, batendo os pés voltou a superfície da água puxando ar para dentro de seus pulmões.

Olhou em volta procurando a bandeira, assim que a avistou começou a nadar em direção a ela. Saiu da agua e utilizando de suas habilidades de vampira saltou para cima segurando em uma fissura da montanha, entalhando as unhas nas rochas começou a escalar rumo a bandeira. Assim que chegou ao topo encontrou o bastão fincado ao chão e totalmente desprotegido. Sorriu de satisfação caminhando calmamente até ele

Antes que conseguisse alcançar a vara de madeira o humano praticamente materializou-se a sua frente e ela questionou sua audição de vampira por não escuta-lo chegando

— Eu não iria com tanta pressa se fosse você – deu seu típico sorriso torto de presunção que sempre usava quando se saia bem em algum treinamento e Isabella sorriu abertamente encarando as obres de outono

— Eu vou levar esse pedacinho de pano ai junto comigo – anunciou com divertimento

— Lamento, mas não posso permitir isso – respondeu o humano entrando na brincadeira

— Então terei que pegar sem permissão – respondeu empunhando a espada

— Isso vai ser interessante – respondeu o outro também sacando a espada. Bella sentia vontade de gargalhar perante a auto confiança do homem. É caro que durante os dias de treinamento já sabia que aquele humano era um excelente espada Chim, mas ainda assim era um humano

“Você não deve subestimar seu adversário” suas próprias palavras de horas antes lhe vieram a mente a desconcertando. Fora tirada de seus devaneios no momento em que o outro a atacara forte e rápido, ela prontamente defendeu-se do golpe assim como os outros três que o sucederam

— Nada mal para uma garota – ralhou o humano desferindo um novo golpe ainda mais rápido e forte que os anteriores. Isabella girou sobre o próprio corpo aplicando um golpe sobre a cabeça do outro que prontamente foi defendido

— Nada mal para um humano – em um descuido deixou escapar

— Como se você também não o fosse – sentiu vontade de chutar o próprio traseiro. Antes que pudesse justificar-se o humano acertou-lhe o braço por onde escorreu um filete de sangue. Ambos olharam para o liquido escuro que tingia sua camisa branca – Me desculpe ... Eu pensei... – Edward abaixou a guarda e ela aproveitou a situação. Acertou-lhe a perna com a espada derrubando-o ao chão. Antes que o outro tivesse oportunidade de recompor-se procurou pela bandeira tentando entender como ela fora parar do outro lado do penhasco. Ignorou esse acontecimento estranho e correu na direção do pedaço de pano com mais velocidade do que humano comum utilizaria mas duvidava que dadas as circunstancias Edward repararia nisso

Assim que alcançou a vara de madeira uma outra mão enluvada a segurou também a puxando para si. Acompanhou com os olhos a mão coberta por luvas negras até os pulsos, subiu o olhar pelos braços ate o rosto que sustentava um sorriso arteiro com sua confusão. “mas como?” Olhou para onde segundos antes deixara o humano caído somente para certificar-se de que sua mente não estava lhe pregando uma peça

— Acho que isso me pertence – falou o humano ainda sorrindo

— Achado não é roubado – respondeu esquecendo das duvidas anteriores. Puxou a bandeira para si já golpeado as pernas do humano que saltou por cima da vara e se não fosse ela própria a golpeá-lo juraria que ele não tinha ferimento algum sobre aquela região. Continuou a ataca-lo com a vara que prontamente desviava de todas as suas investidas tal como se nem notasse que ela estava usando sua força total naquilo


Os dois continuaram na luta corpo a corpo sem perceber que o cenário a volta deles mudava de figura e que estavam cada vez mais próximos da nascente d’água, em um descuido Isabella pisou em falso escorregando para dentro da agua que começou a agitar-se com violência a sua volta até que logo já estava sendo arrastada pela correnteza. A vampira tentava segurar-se nos galhos e pedras dispostos pela água mas não conseguia, afundava e levantava sem conseguir se estabilizar

— Bella! – escutou Edward gritar mas não conseguia vê-lo. Viu a frente a queda d’água para a qual estava sendo arrastada e antes que pudesse gritar sentiu o corpo caindo pelos ares o que pareceu durar uma eternidade ate que sentisse o choque do Corpo contra a agua e tudo escureceu

— Bella? – seu ouvido zunia e alguém muito longe chamava por seu nome – Bella fala comigo – uma pressão de ar desceu por sua garganta enchendo seus pulmões forçando a procura de espaço e sem conseguir achar voltou por onde havia entrado trazendo consigo uma enorme quantidade de liquido que saltou por sua boa e impulsionou seu corpo para cima. Ela engasgou jogando todo o liquido para fora

Sua garganta ardia enquanto ela tossia descontrolada as lembranças começando a invadir sua mente a medida que seus olhos começavam a acostumar-se com a escuridão da noite

— Você esta bem? – olhou o humano ainda sentado em cima dela com os cabelos molhados grudados na testa a olhando com clara preocupação

— Foi tudo culpa sua! – reclamou sem palavras melhores para usar

— E agora somam duas vezes em que você ficou em debito comigo, vou começar a cobrar – zombou o homem saindo de cima dela

Sentou-se sentindo sua cabeça rodar, olhou em volta constatando que agora estavam no centro da floresta e já não podia se quer ouvir barulho de água. Estava impressionada que as fabulas quanto aos mistérios da floresta de Pokaini fossem realmente verdadeiras, mas o que o espirito da floresta queria revelar? As historias diziam que a floresta somente brincava com aqueles que possuíam mentiras escondidas

— O que esta fazendo? – saiu de seus devaneios ao ver o humano jogar uma pilha de galhos ao chão, levantou-se e foi ate ele o mirando abaixado com duas pedras nas mãos

— Vou acender uma fogueira – respondeu enquanto chocava as duas pedras uma contra a outra

— Não é assim que faz, e os galhos precisam estar... – abriu os olhos abismada olhando a chama que clareava sua face. Fechou e abriu a boca tentando entender como aquilo era possível, em um momento o humano batia uma pedra contra a outra ate que saísse faísca, no momento seguinte uma chama explodia do centro dos galhos rápida e violenta

— Acho que não é assim tão difícil quanto parece - gabou-se ajeitando os galhos na fogueira – você deveria tirar essas roupas molhadas - virou-se para ela colocando-se de pé

— Você também deveria tirar as suas – respondeu em tom de malicia

Observou o humano retirar as luvas que sempre usava dando-se conta que até aquele momento nunca o tinha visto sem elas, com um sorriso zombeteiro ele puxou a camisa por cima da cabeça revelando um peitoral quadrado e másculo exatamente como Isabella imaginara

O humano a observava em claro tom de desafio aguardando que ela começasse a retirar suas próprias roupas quando algo atrás da cabeça dela pareceu lhe roubar a atenção. Bella virou-se rápida e pronta para combate mas relaxou quando viu que eram apenas alguns kodamas que começavam a dançar por ali. O humano deu alguns passos a sua frente olhando de forma deslumbrada os pequenos espíritos luminosos que voavam a sua volta tal como se dessem boas vindas a ele

— O que são? – sussurrou de forma tão baixa que Bella teve a impressão de que ele aguardava os próprios espíritos responderem sua pergunta

— São Kodamas – respondeu sorrindo da curiosidade do humano que girava admirado tentando tocar os minúsculos companheiros que aumentavam de numero a cada segundo que passava, como se todos viessem saldar Edward. Kodamas segundo a crenças dos mais velhos eram espíritos bons que aviam partido deixando assuntos inacabados na terra. Ao invés de passarem a eternidade presos no lymbo* sofrendo por terem partido antes de concluírem seus destinos podiam vagar pela terra. As pequenas criaturinhas sempre iluminavam as noites de solstício, perdera as contas de quantas vezes correra atrás daqueles rápidos espíritos com Emmett, aquela era uma brincadeira muito comum durante a tal festa não somente entre as crianças, acreditava-se ser sinal de bom agouro capturar um kodama, no entanto, os pequenos espíritos jamais aproximavam-se dela o suficiente para que tivesse a chance de pega-los. Sua granhmen* gostava de perturba-la dizendo que por serem espíritos bons Kodamas não aproximavam-se de almas ruins. E a lembrança a fez bufar insatisfeita, sua granhmen era uma idosa insana!

Sentou-se sobre uma raiz de árvore ainda olhando o humano brincar com os ridículos kodamas. Algum tempo depois o humano sentou ao seu lado ainda sorrindo admirado para os espíritos que agora cantavam em uma linguagem desconhecida enquanto dançavam a frente de Edward

— Eu nunca tinha visto nada igual – murmurou o humano sem desviar os olhos dos seres de luz

— Pelo amor dos deuses Edward! Mas em que mundo você vive? – perguntou perplexa

— Em um mundo onde essas coisas não existem – respondeu por um milésimo de segundo o sorriso sumindo e dando espaço para um ar de melancolia com algo que ele pudera ter lembrado, mas Isabella não sabia dizer, logo ele estava sorrindo novamente tal como criança empolgada e Isabella sentiu vontade de provar aqueles lábios não para saciar um desejo carnal, ou por vontade de quebrar alguma regra, mas por pura e despretenciosa curiosidade de saber que sabor de inocência eles poderiam esconder

— Edward? – o humano virou-se para olha-la e antes que tivesse a chance de fazer qualquer questionamento ela o beijou, o beijou de uma forma como jamais havia feito antes, receosa, cautelosa e ate delicada temendo uma possível rejeição

Apenas um encostar de lábios, mas logo o homem já estava infiltrando seus dedos por entre os cabelos da vampira enquanto que a outra mão descia espalmada por sua coluna traçando uma linha de fogo por onde passava ate que a puxou para mais perto dele

A língua do humano brincava em sua boca como que em um reconhecimento de território e dentro dela algo se acendeu como que em uma explosão aquecendo todo o seu corpo que fervia em desejo pelo outro a deixando cada vez mais sedenta por ele

A sua volta tinha total consciência do silêncio proporcionado pelo fim da cantoria dos Kodamas mas não importava-se com isso, estava totalmente entregue as sensações que desfrutava pela primeira vez quando escutou um rosnar atrás de sí. Simultaneamente ambos se viraram olhando assustados o enorme troll a centímetros de distância

Em um salto pôs-se de pé encarando a enorme criatura pronta para combate, foi sacar a espada mas não encontrou o objeto dando-se conta que abandonara o objeto no alto da cachoeira. Antes que tivesse tempo de pensar em um plano B o monstro deu-lhe um tapa que a fez voar pelos ares de encontro a uma árvore

— Viu Edward em um ato suicida posicionar-se na frente do troll o olhando de maxilar travado e queixo erguido como que se apenas com o olhar pudesse derrota-lo. Estava claro para ela o desfecho daquela cena, o troll o golpearia assim como fez com ela, Edward como um fragil humano não resistiria ao golpe e se machucaria seriamente. Não podia permitir que isso acontecesse

Expôs as presas de forma ameaçadora e correu em direção ao humano chegando lá em menos de um segundo, empurrou-o ao chão, em um salto subiu nos ombros do monstro e mordeu-lhe a jugular. Sangue de troll não se tornaria sua bebida favorita em definitivo, o liquido amargo e viscoso invadiu sua boa a deixando com náuseas, cuspiu aquela porcaria sendo atingida no rosto pelo jato quente que esguichava da ferida aberta. Por precaução deu uma segunda dentada para abrir uma nova ferida ali. O troll gritava e debatia-se a medida que ia se desequilibrando devido a perda rápida de sangue ate que caiu inconsciente ao chão

A vampira afastou-se olhando o ser caído ao chão ainda cuspindo em uma falha tentativa de livrar-se daquele gosto de horrendo de lodo. Tinha total consciência de que estava coberta do sangue fedorento do bicho quando que em um estalo a consciência lhe invadiu “Edward”. Procurou pelo humano que ainda permanecia caído no mesmo lugar de outrora a olhando de forma assombrado

— Eu posso explicar! – declarou se aproximando de forma cautelosa, sabia que sua imagem coberta de sangue e de presas ainda expostas não era um bom cartão de visitas para alguem que queria dizer sou uma vampira inofensiva que mentil para você. O assombro nos olhos do macho deu lugar a compreensão e ele pôs-se de pé com uma expressão de total transtorno

— Vai me explicar que é uma vampira? – cuspiu as palavras – não precisa, eu já percebi marchou para perto da fogueira pegando a camisa negra do chão e a vestindo de costas para a vampira que o seguiu

— Edward me escuta, eu...

— Escutar mais mentiras? Vai me dizer que é um urso agora? – a olhou com desprezo – Vamos lá! Vá em frente! Eu vou acreditar em qualquer coisa que você diga. Pode aproveitar da ingenuidade do humano incompetente que não sabe se quer reconhecer uma vampira. – grunhiu revoltado puxando os cabelos – em pensar que eu me preocupei com você! – gritou – que eu quase... Eu quase... Ah! Eu sou um bastardo inutil mesmo

— Não diga isso! – sentia seu coração ser esmagado pelas palavras do outro. Tocou-lhe o peito com gentileza em uma esperança desesperada de acalma-lo olhou os olhos revoltados que estava tão escuros pela raiva que se não soubesse podia dizer que eram negros

— Não encoste em mim! – gritou levantando as duas mãos espalmadas na altura do pescoço e dando um passo para trás – Nunca mais se aproxime de mim!

E o mundo inteiro parou de rodar, tudo congelado naquele segundo em que a chama da fogueira iluminou o pulso do outro chamando a atenção da vampira para uma marca gravada ali, uma marca indecifrável que assemelhava-se a um dragão cuspindo fogo. Prendeu a respiração e sentiu o sangue todo lhe fugir tal como se estivesse diante de um fantasma

 – Você deveria estar morto!

Continua...


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