Eu sou a Lenda escrita por Karina Ferreira


Capítulo 3
I-II Arena


Notas iniciais do capítulo

Glossário do antigo idioma

Shellan: vampira que possui um companheiro

Fade: reino a temporal onde os mortos reunem-se com seus entes queridos também já mortos

Tahlly: querida

Mhis: disfarce de um ambiente físico

Nallum: amado

Lellan: muito amada



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— Rosalie você tem certeza do que estamos fazendo? – perguntou a vampira ruiva com voz chorosa agarrada ao braço da sacerdotisa como se sua única fonte de proteção fosse aquele braço

— Claro que sim! – respondeu decidida olhando por cima de algumas cabeças a procura do macho – Não consigo ver Emmett em lugar algum

— Rose estou com medo – informou a ruiva se encolhendo enquanto olhava os jovens próximos a ela atentos e armados - as pessoas morrem...

— Não seja ridícula! É obvio que as pessoas não morrem. Eles falam essas coisas só para nos assustar – continuou por suas buscas sem perder tempo com os temores infundados da outra. Só queria ver a cara de Isabella quando descobrisse que não foi a única vampira com coragem o suficiente para encarar a tão temível arena, sim porque a vampirinha acreditava ser a única fêmea se coragem sobre a terra

Todos os corpos ali presentes agitaram-se em expectativa quando avistaram logo a frente um enxame de demônios correrem sedentos por vida em suas direções. Assim que as tenebrosas criaturas aproximaram-se o suficiente os guerreiros sacaram suas armas e correram de encontro as bestas, dando inicio a batalha por uma vaga na mais honrosa guarda

As duas vampiras que levaram se quer uma faca de cozinha para a arena se entreolharam em desespero, vendo a criatura mais horrenda e estranha que já imaginara existir voar em sua direção Rosalie grudou no braço da amiga e saiu em disparada pelas ruas da cidade arrastando a outra atrás de si

...

Todo o grupo acabou separando-se em algum momento, Emmett e Isabella corriam por uma parte deserta de pessoas na cidade. Bella ia a frente com seu arco em mãos atirando em pequenas criaturas irritantes que voavam de encontro a eles. Emmett guardava suas costas garantindo o extermínio daqueles q por milagre conseguiam se esquivar das rápidas flechas da fêmea. E pela Virgem! Como aquelas criaturinhas eram irritantes!

O último demônio que mais parecia um morcego foi atingido pela flecha no exato momento em que a terra começou a agitar-se abaixo deles abrindo várias crateras no solo, o casal de vampiros pulava entre os buracos correndo para longe antes que fossem sugados pelo solo

Uma enorme criatura parecendo metade homem, metade escorpião saiu de baixo do solo saltando a frente do casal os forçando a pararem bruscamente antes que chocassem-se com o demônio. Isabella sacou sua espada e o casal atacou o bicho que defendia-se com as garras ao mesmo tempo em que tentava ferroar-lhes com a calda

A fêmea correu a toda velocidade na direção do macho que com as mãos a impulsionou para ar, com o salto a fêmea parou por sobre as costas do monstro que debatia-se tentando derrubar-lhe. Com as mãos ela cobriu os olhos da criatura e puxou sua cabeça para trás liberando o pescoço para que Emmett o cortasse. Entendendo a deixa o vampiro tentava esquivar-se da calda que balançava em todas as direções o procurando

— Socorro! – quando estava preste alcançar-lhe a jugular um grito gelou todo o seu corpo e ele estacou no lugar em pavor

— Rosalie? – gritou rodando no lugar em busca de onde tinha vindo o som

— Emmett anda logo! – gritou Isabella ainda em cima da criatura que debatia-se cada vez com mais violência. Porém o vampiro não mais a escutava inebriado pelo temor de perder sua shellan*

— Socorro! – o grito se repetiu e o macho já não estava mais ali, corria em direção onde o som de seu pânico vinha

— Emmett! Emmett! – Isabella gritava na tentativa de lembrar ao amigo que ela ainda estava montada nas costas de um demônio mas fora insuficiente e o vampiro já não podia ser visto. Com brutalidade foi jogada ao chão. Já ia levantar-se para lutar mas a criatura agiu mais rápido ferroando-lhe a cintura. Sentiu o exato momento em que o veneno foi expelido para dentro de seu corpo e em seguida a garra do bicho pegou-a pela perna rodopiou duas vezes e lançou-a pelo ar.

O corpo da vampira chocou-se contra o telhado de uma das casas que estavam naquela rua que cedeu com o impacto fazendo-a cair para o lado de dentro junto com os escombros. O impacto de suas costas com o chão fez um barulho audível e teve consciência de todos os ossos de seu corpo tremelicando com o impacto da queda

Tentou levantar-se com esforço assim que conseguiu ficar sentada a cabeça rodou e sua visão ficou neblinada não sabia se pelo veneno ou se pelo impacto da queda. Ouvia um zunido estranho mas sua mente grogue não conseguia distinguir de onde vinha, apanhou o arco preso as costas e posicionou - com dificuldade devido a dor nas juntas - a flecha aguardando pelo ataque já que, ficar em pé naquele momento não parecia uma opção

Tentando manter os pesados olhos abertos viu um demônio não muito grande arrastando-se em sua direção e emitindo gemidos indecifráveis, esforçava-se para manter em alerta e acerta a coisa. Soltou a flecha na direção em que a criatura vinha que por sua vez desviou com muita facilidade do objeto pontiagudo e ela amaldiçoou-se por isso. Okay, então era isso, sua hora tinha chegado até na hora de sua morte a Virgem zombava dela, que fim mais ridículo reservou para a vampira mais odiada pela deusa

Não abaixou a cabeça, morreria encarando seu assassino e levaria aquela ultima imagem turva consigo para o fade*. A coisa pulou em sua direção e como que em uma alucinação uma espada cortou a cabeça do bicho que explodiu em seguida, abusando do resto de força que sabia ter virou com dificuldade para o dono da espada

A sua mente alucinógena estava realmente de parabéns, ainda que a visão estivesse embaçada o macho a sua frente era o que sem duvidas alguma fêmeas descreveriam como perfeito, músculos não tão saltados quanto Emmett mas o suficiente para ser descrevido como másculo. As pernas longas cobertas por uma calça escura, o peitoral largo coberto por uma camisa de mangas curtas também escuras e as mãos que ainda seguravam a espada escondidas por luvas negras que subiam-lhe até os pulsos.

O cabelo revolto em um curioso tom que julgou ser próximo ao cobre e os olhos, ah os olhos, um verde tão profundo que nem as folhas de outono pareciam ter aquele tom. Dentro dela o veneno começou a correr acendendo uma centelha de micro veias que se repuxavam por todo o seu corpo.

O macho a olhava tão profundamente beirando a confusão que desejou ser agraciada com o dom de ler mentes somente para saber o que se passava na mente daquele macho incrivelmente bonito. Sabia que iria morrer, sua mente cada vez mais turva e seu corpo tão quente que podia jurar estar pegando fogo a alertavam disso, mas antes de morrer gostaria de tocar aquele belo espécime somente para morrer com a certeza de que era real.

Ergueu o pesado braço na direção do macho que parecendo compreender suas intenções aproximou-se dela mas não rápido o suficiente para que fosse agraciada com esse último contato, tudo apagou-se e ela entraria no fade* blasfemando contra a Virgem que não lhe permitiu essa última e única graça

...

Emmett sentia os músculos de suas penas arderem em protesto devido a velocidade em que corria, cruzou uma esquina e pode ver ao longe uma criatura que igualava-se a uma serpente atacar duas fêmeas em vestes religiosas. Quase fraquejou ao reconhecer que a fêmea loira que corria de um lado para o outro tentando esquivar-se das investidas do monstro de fato era a sua shellan* e não uma ilusão como ansiara em seu íntimo

Antes que conseguisse chegar a elas a serpente pulou sobre a garganta da ruiva que já caiu morta ao chão, a loira ajoelhou-se olhando o corpo sem vida da amiga estarrecida parecendo não importar-se com a cobra a sua frente preparando-se para um novo bote

Aproveitando da distração do bicho o vampiro pulou sobre ele já cortando-lhe a cabeça. Olhou atento a sua volta cerificando-se de que não havia nenhum outro monstro por perto para se preocupar. Quando estava convencido de que estavam seguros por hora o vampiro puxou a fêmea do chão a abraçando com força e enterrando seu rosto sobre os cabelos claros e aspirando o perfume de lírios que ela exalava. Precisava tranquilizar seu ser do medo de perde-la. Aceitava viver longe dela pelo resto da eternidade, aceitava que nunca o perdoasse e ela tinha razões para o faze-lo, mas perde-la? Não! Perde-la seria demais para ele.

— Ela está... – a vampira não conseguiu terminar a frase tomada pelo choro

— Sim está – respondeu o macho acariciando os cabelos da fêmea em forma de consolo – Precisamos ir, Bella está em perigo – a simples pronuncia do nome tirou a vampira de seu transe que desvinculou-se do aperto do outro o olhando de forma dura

— Não vou atrás de Isabella alguma! – cruzou os braços diante do corpo -Você pode procurar a sua princesa, eu ficarei bem sozinha

— E pretende fazer o que quando for atacada? Rezar pela alma do demônio? – a vampira abriu os lábios ofendida – Você nem deveria estar aqui

— E porque não? Apenas a princesa é digna de entrar para a guarda?

— Nenhuma das duas deveria. Aliás, princesas e sacerdotisas nem entram para a guarda! – passou a mão pelos cabelos tentando manter a calma, aquelas fêmeas queriam pô-lo louco – Ande Rosalie, vamos!

— Já disse que não vou a lugar nenhum! – maldição! A paciência do macho se esgotou

— Presta atenção Rosalie! Isto aqui não é um passeio no bosque! Eu entendo os seus motivos para odiar a mim e a Isabella, não estou pedindo que não odeie, mas você se colocou em perigo quando passou por aqueles portões sem preparo algum e morrerei antes que lhe aconteça algo. No entanto, eu tenho um pacto de lealdade a princesa e quebrei esse pacto no momento em que a deixei sozinha com um demônio. Eu tenho que encontra-la ou jamais me perdoarei e você vem comigo gostando ou não disso! – deixou claro. Não aceitaria mais protestos, estavam apenas perdendo tempo com toda aquela discussão – Pode me odiar depois quando estiver em segurança no seu santuário

A vampira nada declarou, fez um bico de indignação e saiu andando a passos duros na direção que o macho viera. Maldição! Se os demônios não o matassem, aquelas fêmeas o fariam

...

— Edward o que está fazendo? – perguntou Jasper tentando entender a atitude do recente aliado abaixado ao chão olhando de maneira estranha a fêmea que despencara do teto

— Eu... Não sei – confessou o ruivo aparentando estar no meio de uma crise existencial

Jasper tinha muita sorte na vida mesmo, preparara-se a vida inteira para aquele momento, tanto físico quanto intelectual. Sonhava em ser grande, alguém importante, um sábio conselheiro, e sabia que para isso precisava provar sua coragem e inteligência, ser reconhecido.

Crescera em um lar que em nada poderia ser considerado sadio, pai alcoólatra, madrasta em constante depressão em cima de uma cama e a mãe morta anos antes quando ainda era uma criança de colo. O pai dizia que a pobre mulher fora atacada por elementais  durante uma colheita em que ele estivera doente, e ela sempre tão determinada, se dispôs a levar os proventos em seu lugar para os bestantes, que tão malignos não deixaram se quer o corpo para que a família a pudesse velar

Não sabia até onde as historias do pai eram verdadeiras, até onde frutos de sua mente sempre embriagada, mas uma coisa era certa, odiava elementais! Não acreditava ser justo todos os anos ter que doar parte da sua colheita aqueles seres tão desprezíveis, os alimentos que eles tão facilmente ingeriam era fruto de seu trabalho, de seu suor

O único consolo que ainda tinha naquela vida lamentável que levava, era o caridoso avô, que sempre disposto a dar-lhe a melhor criação que podia, de forma amável lhe ensinara tudo o que sabia, mas esse também, cedo demais o deixou.

E foi durante mais uma colheita que ele decidiu, não morreria sendo um mero sustentador de elementais como todos os outros humanos, muito menos um viciado como seu progenitor. Ele seria conhecido, participaria de momentos históricos e até salvaria o mundo, seu nome registrar-se-ia na história, quando grandes lendas de batalhas fossem contadas seus descendentes orgulhosos diriam: “meu ancestral estava lá”. E sobre todas as coisas, ele ajudaria a por um fim definitivo na existência dos malditos elementais, faria isso com as próprias mãos se tivesse oportunidade, devia isso a memória da mãe que sequer teve oportunidade de conhecer

E ali estava ele, dando o primeiro passo da realização de um sonho, e qual era o primeiro aliado que conseguia? Outro humano! Sentia vontade de chutar o próprio traseiro, precisava de aliados poderosos, fortes, que tivessem alguma vantagem sobre os demônios e não de outro humano tão fraco quanto ele

Quando vira Edward parado na fila ainda do lado de fora da cidade com todo o seu tamanho e olhar feroz acreditou tratar-se de um vampiro, logo puxou assunto e tentou estabelecer alianças, qual não foi sua surpresa quando já dentro da cidade descobriu que o outro pertencia a mesma espécie que a sua? Tudo bem que aquele humano já mostrara ser fodidamente bom em batalha, mas ainda assim, era um humano

— Ela ainda respira – informou o aliado com o ouvido encostado ao peito da fêmea trazendo Jasper de volta a realidade. Aproximou-se analisando a mulher estirada ao chão com sangue escorrendo na região da cintura

— Por pouco tempo – deu o veredicto. Com tamanha perca de sangue era quase impossível que sobrevivesse – Vamos passar a noite aqui – avisou olhando pela janela a noite que começava a cair

— Não seria melhor sairmos e atacar? Quanto antes acabarmos com isso mais rápido sairemos daqui – falou o melhor aliado de todos e Jasper revirou os olhos impaciente

— Sabe que para um humano você não é muito inteligente – acusou – Sair daqui o quanto antes é o pensamento de todos, logo, só precisamos ficar aqui e esperar que façam todo o trabalho por nós – o outro pareceu não gostar da ideia – Somos humanos Edward, quantos humanos você já ouviu falar que saíram vivos da arena?

O ruivo deu de ombros e voltou a encarar a mulher jogada ao chão. Em definitivo o pior aliado que alguém poderia ter!

...

Hei eu estou cansada! – gritou Rosalie não aguentando mais ser arrastada pelas ruas daquela cidade pavorosa

— Não encontramos Bella ainda – informou o vampiro sem preocupar-se com os protestos da outra

— Uma hora dessas já deve estar morta – respondeu a vampira em um misto de desprezo e esperança

— Não repita isso nem por brincadeira! – rosnou o macho sentindo o peito arder em temor

— É a realidade Emmett, olhe a sua volta, quantos corpos sem vida já passaram por nós?

— Você não conhece Isabella! Acredite em mim, se ao final desse teste somente uma pessoa passar com vida por aqueles portões, essa pessoa será ela! – Rosalie sentia vontade de soltar a mão do macho e marchar para longe, era claro o amor que o vampiro sentia pela princesa

Como ela poderia competir com aquilo? Nem mesmo o poder da marca que compartilhavam era suficiente para desfazer a ligação clara que existia entre eles

— Hei você está ferida? – O macho a olhava com uma preocupação quase que aflita e só então percebeu que estava chorando. Soluçou colocando as mãos no rosto querendo esconder sua fraqueza

— Estou bem! – mentiu

— Se está bem por que chora? – perguntou alarmado tentando puxa-la para seus braços querendo conforta-la, mas foi rapidamente recusado

— Estou bem! – garantiu – apenas estou cansada – o que não era mentira, acostumada aos mimos do santuário jamais andara por tanto tempo sem descanso

O macho bufou insatisfeito olhando ao redor não em busca de novos adversários como fizera durante todo o dia, mas em esperança de que Isabella surgisse a qualquer momento em sua frente enchendo-o de insultos de um jeito tão dela por ter a abandonado

— Tudo bem, vamos descansar então – cedeu por fim indicando uma casa para vampira.

Com a espada em punho entrou na casa, a vampira protetoramente atrás dele enquanto assegurava-se que não haviam demônios ali. Constatando que era seguro soltou Rosalie para deixa-la mais a vontade

A casa de um único cômodo escuro e empoeirado com certeza não era digna de uma sacerdotisa, mas não era como se eles fossem morar ali ou tivessem qualquer outra opção.

Emmett observou a vampira caminhar pelo local relutante analisando tudo a sua volta com atenção, mas não ousou reclamar. Um colchão sujo e velho estava jogado por ali e aquilo seria o mais perto de conforto que a fêmea teria naquela noite

O vampiro caminhou até o objeto de espuma sacudindo o lençol encardido, é claro que os organizadores quando projetavam a arena não imaginavam receber sacerdotisas por ali e não é como se estivessem ansiosos por garantir comodidade aos participantes

— Venha tahlly*, descanse aqui – indicou o colchão a fêmea dando-se por convencido de que nada ali jamais estaria a altura daquela fêmea

— Não chame-me de tahlly*! Você não possui esse direito! – rosnou a loira sentando-se no colchão – Meu nome é Rosalie, sacerdotisa Rosalie

— Como quiser – resmungou o macho chateado, se não fosse tão burro teria o direito de chama-la como quisesse. Sentou-se na outra ponta do colchão e puxou para o colo a bolsa com mantimentos que trousse, selecionou algumas barras de cereais, um lanche natural – sacerdotisas não comem nada de origem animal – um cantil de água e estendeu para a fêmea a sua frente

— Tome sacerdotisa – cuspiu a palavra – coma

— Onde vai? – perguntou a vampira ao vê-lo levantar-se

— Guardar a entrada. Descanse que velarei por seu sono

— Não irá comer?

— Temos alimentos suficientes apenas para duas pessoas, a outra parte pertence a Bella, ela irá comer assim que a encontrarmos

— Ah sim claro, a sua shellan* - acusou com rancor. Emmett voltou-se para o colchão analisando a bonita fêmea sentada ali destoando totalmente de todo o restante do ambiente

— Você sabe perfeitamente quem é a minha shellan* - não queria ter aquela conversa ali, sonhava com o dia em que ela o deixaria explicar-se e implorar por desculpas

— A que um feitiço lhe impôs, ou a que seu coração escolheu? – a loira olhava-o em puro ressentimento

— Ambas são a mesma fêmea. – ao não ouvir nenhuma outra objeção afastou-se e sentou próximo a porta. Aquele não era o momento mais apropriado para convencer Rosalie de seus sentimentos fraternos por Isabella visto que nem mesmo ele compreendia direito o que existia entre ele e a amiga. A única coisa que sabia era que amava aquela fêmea, não com desejo carnal a ponto de reclama-la para si, mas como um irmão mais velho que assume seu papel de protetor da caçula, e oh céus! Pela Virgem santíssima, que sua lellan* estivesse bem

...

Não muito longe dali, Jasper e Edward comiam cada um o seu próprio mantimento quando ouviram um estalar vindo de fora da casa. Trocaram um olhar rápido jogando os alimentos de volta as bolsas e pegando suas espadas da forma mais silenciosas que conseguiram e ainda cautelosos foram na direção do barulho

No momento em que abriram a porta um forte clarão de tom avermelhado irradiou para dentro, ambos saltaram para o lado esquivando-se da luminosidade que atingiu a parede atrás deles causando uma explosão

— Oh céus! O que diabos são vocês? – a figura feminina parada a porta questionou olhando de um para o outro. Jasper avaliou a recém chegada, era loira, esguia e suas mãos ainda brilhavam devido ao feitiço que lançara neles. Tinha certeza que seus próprios olhos brilhavam também, e um sorriso brotou em seu rosto, finalmente uma aliada que valia a pena

— Quer mesmo saber ou vai nos matar primeiro? – o loiro olhou abismado para seu quase ex aliado que ainda se mantinha em posição de ataque encarando a outra

— Oh! Desculpem-me por isso, vocês me assustaram – respondeu a loira com um sorriso envergonhado e suas mãos param de brilhar e Jasper observou o homem a seu lado relaxar ainda olhando desconfiado a fêmea – Sou Tânia, bruxa do clã Denalli

— Edward e Jasper, humanos – os olhos de Jasper quase saltaram para fora olhando o ruivo que voltava para sua posição inicial já mexendo na bolsa de alimentos. Eles finalmente tinham uma aliada em potencial e o idiota simplesmente gritava que eram fracos e indefesos humanos depois dava-lhe as costas

— Ótimo estrategista e o espadachim ali é praticamente um demolidor – acrescentou sorrindo abertamente e oferecendo-lhe a mão em cumprimento

— Claro que são – respondeu a bruxa estreitando os olhos e analisando o humano de cima a baixo. – Cabana bacana, posso passar a noite aqui com vocês?

— Claro que sim! - alegrou-se – Temos alimento e agua – ofereceu cordialmente

— Também os tenho – respondeu a bruxa em uma tentativa educada de deixar claro que não se aliaria a eles, todos sabiam que humanos pertenciam a raça mais fraca, não carregaria peso morto!

— Podemos revezar na guarda para que todos descansamos – anunciou o loiro

— Não creio que será necessário – respondeu a bruxa indo até a parede, as mãos voltando a brilhar. Tocou a parede e agora os olhos da loira também brilhavam igualando-se a olhos de gato enquanto recitava palavras que Jasper não poderia compreender. Humanos não possuíam o conhecimento do antigo idioma, a muito tempo, por perderem o direito de convívio com os deuses o idioma nativo das divindades não era mais utilizado por sua raça

— Pronto! Agora podemos todos descansar tranquilos – falou satisfeita a loira olhando com interesse o ruivo que parecia nem notar a sua presença

— O que você fez? – perguntou Jasper

— Um feitiço de Mhis*

— Mhis*?

— Então é verdade que humanos não conhecem o antigo idioma? – perguntou a loira curiosa vendo que o humano dava de ombros explicou – mhis* é uma espécie de camuflagem, ninguém poderá ver esta cabana, seja ele demônio ou não, não temos com o que nos preocuparmos. E esta? – perguntou olhando a mulher caída ao chão

— Caiu ai um pouco mais cedo, já deve estar morta – explicou com naturalidade voltando a comer. Não pode deixar de notar que finalmente o ruivo a sua frente parecia atento a bruxa enquanto esta examinava a mulher ao chão

— Não está morta! – declarou a bruxa causando surpresa em Jasper, pela gravidade do ferimento não podia acreditar naquela afirmação – Mas estará em algumas horas se não receber cuidados urgentes – a bruxa levantou a blusa da mulher expondo o ferimento e seus olhos e mãos voltaram a brilhar enquanto tocava a semi-morta. Edward se juntou a elas olhando atento tudo o que a bruxa fazia e Jasper perguntou-se se o homem acreditava que prestando atenção aprenderia a fazer magia – Vocês sabem a espécie dela?

— Humana! – proclamou convicto o loiro

— Humana? Você tem certeza?

— Absoluta! – por qual outro motivo ela estaria caída naquele chão? Tanya parecia não concordar com ele, mas deu de ombros concentrada no que fazia

...

O dia amanheceu despertando o lobo que dormia em meio aos matos crescidos. Olhou a volta e não encontrou ninguém, o silêncio avisava-o que a arena já estava quase vazia – tanto de demônios quanto de pessoas – e que logo tudo estaria acabado

Não tinha palavras para descrever o quanto sentia-se satisfeito de estar ai, contrariando o pai que repetia dia após dia que ele nascera para ser líder da alcateia sentia vontade de ser livre para fazer as próprias escolhas e ser um membro da guarda – por mais que irritasse profundamente o pai – era o que ele queria pra ele mesmo

Correu por muito tempo a procura de alguém – demônio ou não – e já estava ficando impaciente. Qual é, todo mundo resolveu esconder-se? Com sua audição aguçada escutou um ressonar e correu na direção do som, já estava ficando enlouquecido sozinho ali, lobos eram seres grupais a solidão os perturbava

No auto de uma arvore envolta por raízes como um casulo encontrou a fada do outro dia na entrada da cidade. Afastou-se um pouco e voltou a forma humana vestindo a bermuda que levava amarrada a perna

— Hei fadinha acorde! – gritou divertido. A fada remexeu-se em seu casulo e olhou para baixo ainda confusa da sonolência

— E ai lobo? Já matou todos os monstros? – perguntou também em tom de brincadeira

— A cidade continua trancada – respondeu o macho ainda sorrindo como criança animada em um passeio ao parque de diversão. A fada voou para o lado dele

— Neste caso, vamos fazer o que ninguém aqui tem competência para fazer né, este lugar já está me cansando – teve que rir da pequena criatura olhando determinada para os lados em busca de adversários

— Devem estar escondidos – avisou evitando que ela perdesse tempo na procura

— Vamos atrai-los então – cantarolou animada

Ficou olhando a delicada criatura correr para o meio da rua e começar uma espécie de dança. Sentia uma energia boa emanar dos rodopios da fada fazendo-o sentir como se estivesse em uma noite de fogueira em sua alcateia, feliz e seguro

— Fada o que está fazendo? – gritou tentando entender aquelas sensações confusas

— Demônios são atraídos por energias boas – respondeu a fada levantando vôo ainda em sua dança, abaixo de seus pés inúmeras pétalas de flores voavam com a brisa

Como que em resposta a afirmação da fêmea criaturas demoníacas começaram a serem atraídas para a fada hipnotizadas

— Você sabe que estão te cercando né? – avisou pro caso de ela ainda não ter percebido. Ainda que estivesse a metros de altura das criaturas que pareciam dançar a acompanhando preocupou-se com a segurança daquela frágil fadinha

— Eu só quero sair daqui! – afirmou.

Quando parecia que nenhuma outra criatura se aproximaria a fada parou a dança e todas as emoções tranquilas desapareceram e a tensão de batalha estava de volta. Todos os monstros pareceram também sair do transe e olhavam enraivecidos a fada batendo suas multe coloridas asas

A pequena fada sorriu arteira e uma espécie de campo de proteção formado de vento e folhas começou a girar em torno dela, varias raízes de árvores grossas e longas saltaram da terra e antes que tivesse tempo de transformasse um enorme dragão feito de folhas e galhos surgiu ai

O lycan olhava embasbacado o massacre de demônios que se desenrolava a sua frente mal podendo acreditar no que estava vendo, em questão de poucos minutos o último demônio era perfurado por uma raiz de arvore e varias sinetas soaram pela cidade, ao longe podia ver os portões abrindo-se

— Vamos sair daqui – a fada voou para o lado dele – esse ambiente fúnebre esta me entristecendo, você sabe que uma fada perde as forças se estiver triste não é mesmo? – fez um biquinho de criança mimada

— Você viu o que acabou de fazer? – perguntou em assombro

— O que? Ah, aquilo? – deu de ombros – acho que não nos apresentamos ainda. Prazer Alice, tribo de Irahz, - sorriu simpática estendendo-lhe a mão. A tribo Irahz era muito conhecida por seu poder e habilidade de controlar a natureza

— Jacob, alcateia dos Black. Por que não fez isso antes? – perguntou voltando a diversão

— Antes tinham muito mais do que poderia dar conta. Vai continuar o interrogatório ou já podemos sair daqui? – gargalhou já voando para a saída. Jacob negou com a cabeça e correu atrás dela transformando-se em lobo

...

Do outro lado dos portões dois machos aguardavam com impaciência a saída dos sobreviventes, uma equipe já havia entrado em busca dos mortos e feridos mas ambos os machos recusavam-se a aguardar pelo retorno desta. Todos os jovens que saiam encontravam-se em situações precárias, sujos e maltrapilhos, alguns mancavam e outros eram ajudados por seus companheiros

Logo viram um transtornado Emmett saindo da cidade acompanhado de uma fêmea em vestes religiosas, mas não atentaram-se ao fato de uma sacerdotisa ter entrado na arena e sim no desespero do macho olhando em todas as direções em busca de alguém, e os vampiros sabiam bem a quem ele procurava. Correram em direção a ele que não pareceu nem um pouco surpreso ao ver rei ali aguardando a saída dos jovens. Caius agarrou o filho em um abraço cheio de alívio

— Emmett onde está Bella? – Charlie perguntou sentindo nó na garganta. O vampiro se voltou para o rei com os olhos forrados de culpa mas nada disse

— Responda o seu rei! – ordenou Caius segurando o filho pelos ombros – Anda! Responda-o! Cadê a princesa? – Caius chaqualhava o filho em desespero, certamente recordando-se do juramento que fizera perante o anel real e que agora seria obrigado a cumprir

— Eu... Eu não sei – admitiu envergonhado abaixando a cabeça tentando manter alguma honra perante o rei e não começar a chorar ali mesmo como tinha vontade

O rei caiu sobre os joelhos dando lugar as lágrimas ao constatar que mais ninguém sairia com vida daquela cidade

— Meu senhor, eu... – Caius ajoelhou-se ao lado do amigo segurando-lhe o ombro – eu... Eu não sei o que falar...

— Ela não está morta! – gritou Emmett tentando convencer a si próprio disso

— Majestade a encontraram – gritou um soldado a beira do portão. Quando ouviu as palavras Emmett correu de volta a cidade sendo seguido pelos dois machos e a sacerdotisa que queria ver com os próprios olhos a derrota da outra.

Passando pelos portões não deu-se ao trabalho de procurar pelos vários corpos sem vida que aguardavam pelo reconhecimento de seus familiares ali, foi direto ao lado em que a equipe medica encontrava-se olhando para cada rosto deitado sobre as macas. Graças a Vigem! Finalmente a viu sendo cuidada por uma fêmea vestida de branco

— Lellan*! – gritou – Lellan* você está bem? – perguntou tomando o rosto da vampira desacordada entre suas mãos

— Por favor se afaste! – pediu a médica – O estado dela é delicado, perdeu muito sangue e...

— Abre o olho! – suplicou ignorando a medica – por favor lellan* abre o olho! – implorou, a seu lado podia escutar Rosalie bufar. Amava Rosalie, eram companheiros de vida ainda que ela não o aceitasse como tal, morreria por ela se preciso fosse, mas naquele momento a vida de sua irmã estava perdendo-se diante de seus olhos e de certa forma ele fora o responsável por isso

— Eu vou arrancar as suas bolas com as minhas próprias mãos – resmungou a enferma abrindo sofregamente os olhos

— Lellan*! – comemorou a abraçando – Me perdoe, pela Virgem me perdoe, eu tive tanto medo!

— Eu sei nallum*, eu sei, era a sua shellan*, está tudo bem, fique tranquilo – em todos aqueles anos, aquela era a primeira vez que a vampira se referia a Rosalie dando-lhe o titulo de Shellan*, sempre acreditou que a amiga preferia morrer antes de associar tal posição a sacerdotisa, tal comentário não passou despercebido ao vampiro mas ignorou, certamente experiências de quase morte deixavam as pessoas confusas

Já não suportando compartilhar a troca de carinho entre os vampiros, Rosalie bufou e saiu a passos duros dali o que Emmett agradeceu internamente, não seria fácil lidar com a reação da fêmea se visse a sena a seguir. Olhou para a saída certificando-se de que já não podia vê-los, em uma mordida rasgou o próprio punho já o estendendo a Bella

— Venha lellan*, você precisa se alimentar – a vampira sugou agradecida por aquele liquido familiar descer-lhe pela garganta

A sena não chocou os dois machos parados ali, ambos olhavam com naturalidade já que sempre tiveram ideia de que os filhos alimentavam-se um do outro. A relação do casal de amigos era inédita na história, principalmente por Emmett já ter encontrado sua shellan* mas a muito tanto Caius quanto Charlie já haviam desistido de compreender a ligação entre aqueles dois

— O que houve com ela? – questionou o rei

— Não sei lhe responder meu senhor, um humano a deixou aqui mas não me disse o que a atacou – respondeu a medica

— Tudo bem, vamos transferi-la de volta ao castelo e nossos curandeiros trataram dela

— De jeito nenhum! – Isabella soltou o pulso do amigo e encarava o pai determinada – Não vou voltar! Estou viva! Ganhei o direito de participar do treinamento

— Isabella já falamos sobre isso! Princesas não participam desse tipo de treinamento

— Sim. E creio que também já falamos sobre eu não querer ser uma princesa!

— Mas a virgem quis que você fosse!

— A virgem não sabe de absolutamente nada!

— Não blasfeme garota insolente – gritou o rei

— Por favor! – pediu a médica notando que o rei estava próximo de dar um corretivo na filha ali mesmo – Ela ainda está debilitada, não pode passar por exaltações

— Eu fico! – proclamou voltando a sugar o pulso de Emmett

Continua...


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Notas finais do capítulo

Bom é isso, personagens principais da primeita fase devidamente apresentados acredito eu rs. No decorrer das fases outros aparecerão por aqui

Espero que tenham prestado bastante atenção as histórias de cada personagem pois elas estão entrelaçadas a momentos importantes da segunda e terceira fase

Quero agradecer os comentários e pedir que pelo amor da Virgem vcs comentem esse cap e me digam o que acharam

Bjus até semana que vem. Ah antes que me esqueça, tem um grupo no face que posto spoiler, fotos, comentários referente a minhas fics se quizerem entrar serão bem vindas...

https://m.facebook.com/groups/199418863510905?ref=bookmarks



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