Fuerza. escrita por HeyCowboy


Capítulo 3
Ideias


Notas iniciais do capítulo

Então galera, eu to ficando bem desanimada kkkk vi que tem muita gente seguindo e etc, só que ninguém comenta. Vocês não estão gostando?



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Mark acordou disposto aquela manhã. Tomou café rápido e em pouco tempo já estava a caminho da escola, em seu carro. Tamborilava os dedos ao ritmo da música que passava na rádio e aproveitava que o transito não estava parado, como era de costume. Ao avistar a escola, uma pequena ansiedade rodou pelo seu estomago e não soube reconhecer bem de onde ela vinha e seu motivo.

Estacionou o carro e percebeu que era um dos únicos que havia chegado. Os portões principais ainda não estavam nem abertos. Suspirou pesadamente e correu seus olhos ao redor, avistando algo que lhe agradava muito.

Sorriu de maneira predatória e saiu do carro apressado, pronto para pegar a pessoa antes que desaparecesse de sua vista. Caminhou a passos largos e silenciosos, como um predador tentando não ser notado pela sua vitima.

Juan não sentiu sua presença, ele estava concentrado em prender sua bicicleta nas grades da escola. Seus pensamentos estavam bem longe...

— Bom dia! — Gritou, assustando o jovem latino, que botou a mão no coração.

Dios mio! Hijo de puta. — Seu rosto passou de assustado para irritado, arrancando uma risada de Mark.

— Eu sei o que isso quer dizer! Tive aulas de espanhol. — Avisou, orgulhoso pela tradução.

— Então não xinguei de graça, ainda bem. — Juan tirou uma carteira de cigarros do bolso e ascendeu um, ainda irritado pelo susto.

Mark o observou por um tempo, era engraçado como toda roupa de péssimo gosto caia bem no rapaz a sua frente. A calça da faxina da escola não ficava ridícula e a camisa regata branca não era ultrapassada.

— Vai ficar me encarando? Maricon.

— Bem, isso eu não sei o que quer dizer.

— Bicha. — Traduziu, sem problema nenhum em ofender Mark.

O rapaz apenas abriu a boca, indignado e deu uma risada sincera, irritando ainda mais Juan. O latino não conseguia entender porque Carlson tinha escolhido logo ele para encher o saco e perseguir.  Os malditos playboys e a falta do que fazer.

— Na verdade, eu vim apenas desejar um bom dia. — Ofereceu Mark, com um sorriso mais educado.

— Você poderia fazer do meu dia algo muito bom... Não aparecendo nele. — Rebateu, apagando finalmente o cigarro.

— Não seja assim, eu só quero fazer amizade.

— Realmente, eu deveria ter deixado você se jogar daquele prédio. — Disse venenosamente, ofendendo um pouco o rapaz.

— Não brinque com essas coisas. E eu disse aquele dia, eu não ia me jogar. — Explicou, ainda um pouco ofendido, mas tentando ignorar a acidez vinda de Juan. Ele estava disposto a se aproximar do rapaz, mesmo ele sendo um grande mal educado.

— Você é muito carente. Ontem você estava arrodeado de pessoas, vá com eles. Eles são sua gente. — Juan andou até a porta de funcionários, sendo seguido de perto por Mark. Rolou os olhos e continuou a caminhar até a cozinha, com o outro a seu encalço. — Vai mesmo me seguir?

— Você tem que entender, eu não sou maricon ou carente... Eu só estou cansado de viver sempre do mesmo jeito. Quero conhecer outras pessoas. — Explicou, querendo justificar sua conduta.

Juan se virou de súbito, fazendo o outro esbarrar contra si. Seus olhos negros eram como fogo nos verdes de Mark, e lhe cortavam profundamente a alma. A raiva brilhava claramente e aumentou ainda mais quando cruzou os braços — outra coisa que Juan sempre fazia, além de lhe dar as costas.

— Escute bem, eu não sou um brinquedo para matar tédio de nenhum garotinho rico e mimado. Eu sou um ser humano. E eu sei a dificuldade de vocês de entenderem isso, mas não somos entretenimento. — Pronunciou cada palavra cortante, fazendo Mark dar um passo para trás, assustado com o ódio que vazava pela língua.

— Eu não quis dizer nesse sentido.

— Não, mas você disse. — Juan respirou profundamente, tentando se acalmar. — Olhe ao seu redor. — Antes que Mark o contestasse, ele levantou a mão, pedindo silêncio. — Apenas olhe.

Obedeceu o que lhe foi mandando, algumas pessoas da cozinha encaravam os dois, um pouco curiosos com a situação. Juan continuava a lhe fuzilar com o seu olhar cortante. Mark não sabia exatamente o que ele queria que observasse. Talvez eles estarem chamando muito atenção? Ou seria

— Está vendo? Somos de maioria, negros e latinos.

Mark finalmente pode perceber o que ele lhe havia mandando olhar. Era verdade. A maioria eram latinos e negros, que cozinhavam, limpavam e serviam. Alguns dos poucos brancos ele tinha certeza que vinham das periferias da cidade. Como ele nunca havia percebido isso antes?

— Agora me responda, espertinho. Quantos alunos negros e latinos você tem na sala? — A pergunta lhe tocou lá dentro, machucando-o. Era difícil encarar aquela realidade sem estar um pouco desconcertado. — Quantos?! — Insistiu mais fortemente Juan.

— Um... — Respondeu hesitante. Ele realmente só tinha um companheiro de sala, negro.

O latino deu uma risada irônica, finalmente soltando a pose tensa em que estava. Outra vez encarou os olhos de Mark, que agora estavam perdidos e seu rosto uma grande confusão.

— E somos trinta por cento da população desse país. E estamos aumentando. — Explicou, mostrando o seu ponto. — Ocupamos a maioria dos cargos como esses e frequentamos em maioria escolas públicas... Ruins. — Juan suspirou mais uma vez, suavizando ainda mais seu rosto. — Não espero que você entenda, mas você não pode forçar a amizade só porque você quer. Eu também tenho que querer... E não só isso, você tem que se enxergar como o privilegiado da situação. — O latino olhou mais uma vez para o rapaz a sua frente e deu um sorriso educado, uma coisa que ainda não tinha feito até agora. — E tem que parar de pensar que vou me sentir privilegiado em ter sua amizade. Não é assim que funciona.

Mark respirou fundo, olhando-se ao redor, perdido. Foi tomado por um pequeno conflito interno e que estar ali dentro, num ambiente fechado, não ajudava. Olhou para Juan mais uma vez, que o estava encarando, esperando alguma reação. Não conseguia encara-lo, não agora.

— E-eu preciso ir. — Avisou, sem esperar qualquer resposta. Saiu da cozinha e desbocou no lugar que tinha encontrado o outro antes.

Três respirações fundas e finalmente pôde racionalizar melhor. Claro que ele nunca tinha parado para pensar naquelas coisas que Juan lhe havia exposto, o debate nunca surgiu em nenhuma roda de amigos. Muito menos em casa, onde tinha certeza que esse assunto seria abordado com piada. Mas era real. E não sabia o que fazer sobre aquilo

Sua cabeça doía e ele se sentia em um estado letárgico, como se tivesse descoberto alguma grande verdade. E se ele parasse para pensar, a verdade sempre esteve lá, ele que era muito cego para perceber...

O sinal tocou, lhe assustando dos pensamentos. Respirou fundo mais uma vez e entrou finalmente na escola, olhando-se ao redor e finalmente... Percebendo.

—————-

O intervalo chegou com uma rapidez indesejada para Mark, ele não queria se esbarrar com Juan pelos corredores. Ainda estava pensativo sobre a conversa que haviam tido mais cedo e aquele estado de letargia não o abandonava.

Chegou ao refeitório com mais calma e de maneira automática se dirigiu a mesa de costume. Sentou sem dizer nada a ninguém e recebeu um selinho de sua namorada, que lhe sorria docemente. “Pobre Lucy” pensou tristemente, ele nunca ia ama-la.

— Onde você estava antes do primeiro toque? — Perguntou curiosa e desconfiada.

Lembrou-se da conversa novamente e suspirou cansado.

— Cheguei atrasado.

— Mark, seu carro estava no estacionamento. — Lucy agora parecia irritada, mas seus olhos brilhavam em magoa.

— Oh, desculpe. Eu não estou muito bem... Eu fui resolver umas coisas na coordenação. — E alisou a bochecha da menina carinhosamente, para que ela relaxasse. Pareceu funcionar.

— Me diga se precisa de algo, amor.

— Obrigada, vou deixa-la informada. — E depositou um beijo carinhoso em sua cabeça. Ela não tinha culpa de estar bem longe em seus pensamentos.

Larry chegou com uma loira pendurada no seu braço, era uma menina do segundo ano. Seu rosto estava cheio de maquiagem e a saia da escola parecia mais curta que o normal.

— Yo Mark, galera. Essa é Jane, filha dos Carters. — Apresentou. Carters eram donos de uma concessionaria de carros de luxo.

A mesa estava finalmente completa, todos seus amigos estavam lá presentes. Uma conversa calorosa começou e ele não participou realmente.

— Vocês não acham estranho que tenhamos poucos latinos e negros nas nossas salas? — Mark soltou, olhando para os rostos assustados de todos os seus amigos, incluindo sua namorada.

Jane deu uma risadinha, mas não falou nada. O primeiro a reagir foi Larry, que gargalhou, sendo seguido pelos outros.

— Qual é garotão, você tá tirando com a gente? — Larry sorria, mas seus olhos azuis estavam bem confusos.

— Não, não estou. Veja. — Pegou um pouco de ar e continuou: — Na sociedade, eles estão em grande numero e dentro da nossa escola eles são uma porcentagem bem pequena... Acho que não chegam a ser um por cento.

Um silêncio mais tenso tomou a mesa e ninguém sabia bem o que responder ou se responder. Lucy tocou seu ombro, como se lhe apoiasse, mas seus olhos diziam ao contrário, como se ele estivesse falando absurdos.

— Bem, os latinos invadem nosso país e não tem escolaridade nenhuma, obviamente eles não têm o direito de estar aqui. — Começou Larry, com calma. — Os negros não estudam o bastante. É só estudar cara e você pode chegar lá.

 A resposta de seu amigo parecia muito errada e Mark queria saber qual seria a opinião de Juan sobre isso. Ele encarou um pouco mais de tempo e forçou uma risada, não adiantava levar aquele assunto para a mesa, era decepcionante.

— Deve ser... Besteira minha, viajei de mais. — Mentiu.

Todos soltaram o ar que deveriam estar segurando e aos poucos uma nova conversa foi tomada, mas Mark não prestou atenção.

— Eu vou pegar algo para comer. — Não esperou resposta de ninguém e foi pegar seu lanche.

 A fila estava curta e de longe ele poderia ver o prato de hoje, omelete com linguiça. Pegou sua bandeja e esperou despejarem sua comida, mas nada veio. Olhou para cima, curioso e encontrou aqueles olhos conhecidos, um sentimento feliz brotou dentro dele.

— Você está me perseguindo. — Afirmou Juan, encarando-o com desdém.

— Eu vim comer, não caracterizaria isso como perseguição.

— Você quer que eu acredite? Seu histórico não é tão confiável.

Mark soltou uma risada genuína e balançou a cabeça negativamente. Juan estreitou os olhos, irritado com a risada repentina, não vendo graça nenhuma.

— Me desculpe por ter sido um ‘stalker’. — Mark pediu genuinamente, tentando se redimir aos poucos com o latino.

— Oh, então você está assumindo? Muy bien...

— Oh, você vai trabalhar ou ficar conversando? Eu quero comer. — Reclamou a pessoa atrás de Mark.

Ele se virou irritado, calando a boca do intrometido. Ele tinha um status bom dentro da escola, seus pais eram políticos influentes.

— Sim, estou me desculpando de verdade... Agora eu posso comer e lhe deixar livre? — Perguntou esperançoso, estendendo a bandeja.

Juan lhe observou por alguns segundos e despejou a comida na bandeja. Calrson sorriu brilhantemente e piscou para o latino, saindo finalmente da fila.

Se ele dissesse que não estava confuso, seria mentira. A atitude de Mark foi estranha. Na verdade, ele por inteiro era estranho. Primeiro as perseguições, as perguntas... E agora um pedido real de desculpas.

Juan bufou irritado e voltou a despejar a comida nas bandejas dos alunos, agora com um pouco mais de força que o necessário.


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Notas finais do capítulo

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