Encadeados escrita por Nipuni


Capítulo 1
Ao Pó


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas! Espero que gostem!



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Província de Edo, Japão central.

1029 D.C.

Os dois homens se encaravam já havia algum tempo. O primeiro, mais poderoso, contrataria as espadas do segundo – em meio à guerra, samurais eram o único meio de proteção disponível. No salão-sede do clã Haruno, as negociações agora chegavam ao fim, e Kizashi, o cabeça da família, estava preparado para decidir quem protegeria quem.

— Eu precisarei de proteção no exterior da casa, na fazenda e para minha esposa, minha filha, e para mim. Espero que esteja ciente dos números que serão necessários, Fugaku. Essa negociação já levou tempo demais.

Fugaku, líder do clã Uchiha e da facção samurai de que faziam parte, assentiu silenciosamente. Ajeitou-se em sua almofada, batendo palmas duas vezes e, logo em seguida, mais dois homens se juntaram à eles. Eram evidentemente mais novos, ambos vestidos com quimonos claros e com suas armas penduradas próximas as mãos. Kizashi percebeu a semelhança entre os dois – pouco mais que a idade os diferenciava, assim como as armas que empunhavam.

— Este é meu filho mais velho, Itachi. – Fugaku começou, apontando para aquele que parecia ser o mais velho. Itachi se sentou frente à Kizashi, expressão neutra e o olhar baixo. – Ele foi general na batalha contra o clã Asuka, e venceu com apenas cinco causalidades.

Itachi fez uma reverência curta, ainda sério. A experiência era clara em seu rosto, e seus olhos pareciam já ter visto mais do que um homem da sua idade deveria. Itachi se levantou e sentou-se ao lado de seu pai, permanecendo quieto.

— E este é meu filho mais novo, Sasuke – o rapaz fez o mesmo que seu irmão, sentando-se à frente do chefe da casa Haruno e olhando para baixo. – Ele foi escalado como líder do esquadrão de caça. Nunca vi alguém tão silencioso e furtivo quanto ele, e não digo isso só porque é meu filho.

Kizashi levou a mão até o queixo e pareceu considerar o que seria melhor. Itachi tinha um ar soturno ao seu redor – um cansaço que não era físico – e algum tipo de imprudência que impregnava sua aparência. Sasuke, por sua vez, parecia quieto e disposto a obedecer ordens.

Não sabia disso, mas estava completamente enganado.

— Fugaku, você será encarregado pela minha proteção pessoal. Quero que Itachi se responsabilize por minha esposa e Sasuke, por minha filha.

Os três samurais assentiram em um uníssono, reverenciando o senhor para quem trabalhariam.

[...]

Tóquio, leste do Japão.

2016 D.C.

 Estiquei os braços para cima ao perceber que o final do plantão começava a se aproximar. O sol subia numa alvorada laranja, e a imagem de uma cama quentinha me esperando em casa me impulsionou para concluir os trabalhos da residência pelo dia.

Se há duas semanas, me perguntassem o que estava achando do curso eu teria dito sem pestanejar “um sonho realizado”. Agora, no período de provas, se me fizessem a mesma pergunta eu apenas diria “sinto falta de dormir”. Estudava à base de dois litros de café e uma lata de energéticos, e ficava tão pouco em casa que às vezes me esquecia de qual andar em morava.

Bati na porta do escritório de minha mentora e entrei, um braço segurando uma imensa pilha de papéis e o outro com as rosquinhas que ela havia me mandado buscar.

— Doutora Tsunade, aqui estão os obituários. – deitei as folhas sobre sua mesa, e ela avançou sobre as rosquinhas. Se não tivesse tanto medo dela, teria rido. – Precisa de mais alguma coisa?

Ela olhou pra mim enquanto abocanhava os pães coloridos.

— Foi um ótimo plantão, Sakura. Lembre disso quando receber suas notas.

Inflei com orgulho. No estado em que me encontrava, qualquer tipo de elogio servia de motivo para continuar com todo aquele trabalho. Sabia que essa era a fase mais difícil do meu curso, assim como a mais importante, mas saber que um dia eu seria como a doutora Tsunade fazia tudo valer um pouco mais a pena. Poderia ajudar a todos como ela fazia.

— Então já estou liberada?

— Na verdade, gostaria que checasse os últimos pacientes da UTI e fizesse um relatório para terça-feira com os prognósticos. Acha que consegue?

— É claro! – falei sem pensar e automaticamente me arrependi. Por causa disso, passaria o fim de semana inteiro estudando e fazendo prognósticos.

Deixei a sala e não pude segurar o suspiro. Meus braços estavam completamente moídos e meus pés pareciam pisar em brasa quente. O cansaço estava montado em minhas costas, apertando minha cabeça e me impedindo de formular qualquer pensamento lógico.

Na sala da UTI, contei seis camas separadas por cortinas cinza. Só teria seis relatórios, bem menos no que na última vez. Comecei da direita para a esquerda, pegando as pranchetas que ficavam na ponta das camas e tirando fotos com o celular. Vi duas mulheres, um senhor idoso e dois homens. Na última cama, descobri um terceiro homem.

Meus olhos se arregalaram ao vê-lo. Trapos ensanguentados – suas roupas – estavam dentro de uma cesta ao seu lado, e um aparelho o auxiliava com a respiração. As bandagens sobre seu corpo vazavam o sangue de suas feridas, e seus olhos estavam fechados.

Puxei a prancheta com seus dados e me surpreendi ainda mais. Não havia nome, idade ou qualquer informação sobre ele. Era como um fantasma, um indigente que, aparentemente, havia sofrido um acidente de carro gravíssimo.

Em três passos, coloquei-me ao lado da cabeceira, o analisando. Dificilmente seria mais velho do que eu, o rosto angular cheio de cortes e feridas secas, e boca meio aberta para que os tubos entrassem.

Será que ele sobreviveria? Parecia estar completamente acabado, destruído e a ponto de que o simples toque poderia quebrá-lo. Tirei o cabelo de sua testa e estremeci quando seus olhos se abriram, duas orbes opacas como buracos-negros. Engoli o susto e tropecei para trás, sentindo o sangue gelar.

Assisti horrorizada quando ele se sentou, arrancando as agulhas de seu braço e puxando os tubos para fora.

— Senhor, por favor, deite-se! – tentei interferir, as mãos erguidas num sinal de pare. Ele olhou para mim por dois segundos inacreditavelmente longos, e foi como se um furacão tivesse me devastado por dentro.

O sentimento era como nenhum outro. Foi um empurrão que me afastou mais, uma sensação de repelência tão grande que pareceu sobrenatural. Alguma coisa me prendia distante, um instinto para não ousar chegar mais perto.

Ele contou com isso. Jogou as pernas para fora da cama e rasgou as bandagens que cercavam seu corpo e me preparei para ver feridas horríveis e pontos recentes. Minha boca se abriu ao ver que não havia nada. Nada. Nem um arranhão.

Porque aquele cara estava em um hospital? Seus olhos ferinos continuaram em mim enquanto ele se levantava e passava a mão sobre as feridas no rosto e, uma por uma, todas desapareceram. O que era aquilo? Alguma brincadeira de merda da Temari? Ele sorriu como uma raposa ao passar por mim, seguro de que eu não faria nada para impedi-lo.

Olhei incrédula – e ainda incapaz de me mover – enquanto ele roubava a roupa de outro paciente e seguia para fora do quarto, uma calma que me assustava.

Quando ele desapareceu, minhas pernas voltaram a obediência e eu corri para fora, procurando para que lado ele teria ido. O corredor estava cheio de outros residentes e enfermeiros que começavam o turno agora, mas não avistei sua silhueta em lugar algum.

A I N D A . . .

N Ã O.

Essa voz horrível soou em minha cabeça como um pensamento intruso, e no meio do corredor, tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam! :3



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