Encadeados escrita por Nipuni


Capítulo 2
Por Instinto


Notas iniciais do capítulo

Muuuuuuito obrigada pelos últimos comentários, meu deus, que lindos ♥ Por isso, aqui vai mais um capítulo o3O



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Eram tantas vozes ao meu redor que eu não conseguia distinguir uma da outra. Meu estômago, debulhado num enjoo sem sentido, mandava sinais de alerta para o resto do meu corpo imóvel. Aos poucos, consegui distinguir luzes e sombras de silhuetas e de pessoas, reconhecendo Temari que estava bem a minha frente.

— Deem algum espaço à ela! – sua voz rosnou e as pessoas que estavam mais próximas recuaram alguns passos. Eu não consegui ver nada aquilo fazer sentido algum, o que estava acontecendo?

Temari me abanava com uma folha de papel e estalava os dedos na minha frente, chamando minha atenção. Bati minha mão na sua, estressada com o movimento.

— Para! – consegui reclamar, um cansaço estranho me possuindo. Ela suspirou aliviada e eu percebi que estava sentada, encostada na parede do corredor. Enfermeiros e residentes estavam em todo lugar, como um enxame de pessoas curiosas só querendo ouvir a história do que havia acontecido para então irem embora.

— Ela está bem. – anunciou e as pessoas começaram a se dissipar.

A doutora Tsunade apareceu logo em seguida segurando um copo de água. Seu rosto franzido mostrava preocupação quando ela me deu o copo.

— Quando foi a última vez que você comeu alguma coisa, Sakura? – ela me chamou, mas minha mente se voltou para algo mais importante. O cara do milagre.

— Pra onde ele foi?! – exclamei, saltando do chão e olhando para todas as direções.

— Quem?

— O cara do acidente de carro. – levei a mão até a testa, tentando relembrar o que havia acontecido. Será que eu teria delirado tudo?

— Da UTI? – Temari se manifestou, atenta para qualquer gesto meu que pudesse indicar outro desmaio. Assenti com a cabeça. Não sabia o que dizer a respeito de seu estranho poder repulsivo sobre mim, então simplesmente fiquei quieta.

Temari e Tsunade trocaram um olhar estranho e minha colega nos deixou para checar a sala de emergência.

— Você acha necessário fazer alguns exames? – a doutora perguntou enquanto eu bebia a água que ela havia me entregado. – Pode ser que isso não tenha sido só um pico de glicose, sabe.

Ignorei a sugestão e esperei ansiosa enquanto Temari voltava, o rosto cálido de quem viu um fantasma e eu soube tudo não havia sido um delírio.

— Ele sumiu. – foi tudo que conseguiu dizer ao se juntar a nós.

— Como assim “ele sumiu”?! Eu cuidei das feridas dele quando chegou, o baço foi perfurado por um pedaço de ferro tão grande que ele não conseguiria andar por seis meses! – Tsunade exclamou tão alto que todos que estavam no corredor espiaram.

Me afastei das duas e me lembrei da voz. “Ainda não”. O que estava acontecendo, o que era tudo aquilo? Quem era aquele homem? Antes que pudesse perceber, eu já estava andando em círculos no corredor tentando arquitetar os fatos de um jeito que pelo menos uma coisa fizesse sentido.

— Sakura – Temari me chamou de volta para a Terra, seu tom tentando me acalmar. – Vamos, você precisa ir pra casa. Eu te acompanho até o metrô.

Enrolei uma mecha de cabelo ao redor do indicador e balancei a cabeça em um “sim” sem som. Eventualmente eu conseguiria fazer aquilo se encaixar, mas antes, precisava dormir. Cocei os olhos e fui buscar minhas coisas para que pudesse deixar aquele hospital.

A caminhada até o metrô foi completamente silenciosa. Tóquio apenas amanhecia e as ruas não tinham muito movimento naquela manhã esmorecida, e eu sabia que nem eu nem Temari estávamos dispostas a discutir o ocorrido. Sozinha, entrei no trem e segui para casa.

Temari era a melhor colega de quarto por dois motivos; um, nós estudávamos o mesmo curso e ao mesmo tempo, então sempre tínhamos algo em comum para conversar. Dois, nossos turnos de plantão eram opostos, então eu não tinha que lidar com o barulho dela ou ela com o meu.

Coloquei meu celular para carregar e tomei um banho. Custei para esquecer aqueles olhos afiados, e agora que eu estava sozinha, minha mente trabalhava inquieta com o silêncio. Antes de me deitar, chequei as últimas mensagens. Alguns colegas me mandaram perguntas sobre o último trabalho a ser entregue antes das provas e havia uma única mensagem de Naruto.

Hoje ainda tá de pé?

Pra falar a verdade, eu não sabia. Conhecia Naruto desde a alfabetização e ele era a única pessoa com quem eu falava todos os dias, mas, ultimamente, eu vinha sendo uma amiga de merda. Sempre furava todos os programas por motivos da faculdade e dava a ele menos tempo para desabafar sobre sua vida. Já fazia três semanas desde que Naruto me perturbava para que eu conhecesse sua nova namorada, Hinata, e eu sempre dava um jeito de não ir.

Mesmo com a mente cheia de turbulência, não consegui negar.

Tá sim. 21h30, certo?

Deixei o celular carregando no banheiro e me atirei sobre a cama, aproveitando para colocar o sono em dia.

[...]

Às dez, Naruto passou em minha casa para irmos. Por ser o começo de um longo fim de semana, as ruas estavam lotadas de carros e pessoas, então demoramos para chegar até o restaurante que Naruto escolheu. Encontraríamos Hinata lá, e com isso, eu conseguia ver que cada gesto feito por ele tinha uma sombra de nervosismo.

Naruto encontrou uma vaga à dois quarteirões do restaurante, e enquanto caminhávamos, ele tentou preencher o silêncio com comentários ansiosos.

— Sabe, a Hinata gosta tanto de mangás quanto eu. Acho que é por isso que nos damos tão bem. Já te contei que nos conhecemos–

— Em um evento de anime, sim, você contou. – eu ri para mim mesma ao ver seu estado. Nunca havia visto ele tão animado para apresentar uma nova namorada.

— Ah, Sakura, e se ela quiser terminar comigo?!

— Achei que vocês estavam namorando há três semanas.

— Mas e se ela enjoar?

— Naruto, ela não vai enjoar...

— Sakura, ela é muito demais, eu não quero que a gente termine!

— Naruto! – dei um soco em seu ombro antes de atravessarmos a rua. – Relaxe! Tenho certeza que ela gosta tanto de você quanto você gosta dela.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, massageando o lugar onde eu soquei.

— Você não precisava ter me batido.

Chegamos na frente do restaurante e Naruto entrou para pedir a mesa, enquanto eu continuei do lado de fora. No verão, Tóquio conseguia ser tão quente quanto um país tropical, e as noites eram nubladas e abafadas. Aproveitei o vento enquanto podia, pois quando entrasse não tinha volta. Levei a mão para pegar meu celular quando uma sensação distinta me despertou.

Minhas pernas formigaram e as mãos ficaram geladas, e eu senti como se fosse instinto. Ele estava perto.

Levantei os olhos e, mesmo com todas as pessoas que andavam, eu sabia exatamente para onde olhar e encontrei uma figura em particular que me chamou a atenção. Ele usava um casaco escuro e estava com as mãos dentro do bolso do jeans, andando solto como se mais nada importasse. Consegui ver seu rosto, mesmo que de perfil, e tive certeza de que era o mesmo homem do hospital.

Meu coração disparou ao se lembrar da reação que tive na primeira vez que o vi, e acabei surpresa ao notar que agora sentia totalmente o oposto. Eu queria atravessar a rua e confrontá-lo, saber que porra ele fez e como estava solto na rua de novo. Dessa vez, a atração era tão forte que senti como se eu fosse feita de ferro e ele um grande íman. Eu precisava ir até lá.

— Nossa mesa está pronta. – Naruto me chamou da porta do restaurante, radiando felicidade.

— Naruto, eu... – tentei pensar em qualquer desculpa para poder ir até lá – Acabei de encontrar uma amiga minha entrando numa loja. Preciso dar um oi, mas já volto, ok?

Ele não pareceu se incomodar, então assentiu e voltou para dentro.

Esperei os carros pararem para que eu atravessasse, os olhos grudados no cara do casaco escuro. Ele entrou numa viela e depois em bar apertado com letreiro neon, e eu o segui com dois metros nos separando. O bar fedia a nicotina queimada e cerveja, e ninguém lá dentro parecia muito amigável. Eu era a única mulher lá, e quando caminhei até o balcão senti todos os olhos sobre mim. O cara do casaco não estava em lugar nenhum.

Me sentei sobre um banco próximo ao balcão e coloquei minha bolsa sobre o colo, começando a me sentir aflita. Minhas mãos congelavam e agora meus braços formigavam também, um formigamento estranho que parecia como estática açoitando minha pele. Eu praticamente conseguia senti-lo ali, não fazia ideia de como, mas mesmo que não o visse, sabia que estava perto. 

— Esse bar não parece ser do seu tipo, princesa. – uma voz falou tão perto do meu ouvido que eu senti um hálito quente sobre meu pescoço. Me virei para ver um homem velho e que fedia a bebida perto de mim, e eu senti tanto nojo que quase caí pra trás.

Respirei fundo e me voltei para frente, obstinada a ignorá-lo. Foi quando ele colocou a mão em meu braço e apertou.

— Me larga! – gritei, me puxando de volta e levantando. Seu rosto se fechou com raiva, rugas se formando na testa e ao redor dos olhos pequenos.

— Você se acha melhor que eu?! – ele avançou contra mim com tanto desespero que eu fechei os olhos e esperei pelo pior. Sabia que todos no bar estavam assistindo, e que ainda assim ninguém moveria um dedo para impedir.

Foi o que eu pensei.

Ouvi um barulho de algo muito pesado caindo e um grunhido meio animalesco, e abri os olhos para ver o velho estirado no chão com o nariz tão inchado que estava torto. Percebi então a figura que nos separava e não precisei pensar muito para ver quem era.

O cara do hospital estava de costas pra mim, o punho fechado e seu rosto me encarava de lado. Seu olhar estava irritado, tão irritado que eu quase fiquei com medo. Estremeci quando ele falou.

— Você não devia estar aqui.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Me digam, é bom demais saber o que vocês acham! ♥



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