The beginner teenager escrita por Hetsan Peppers


Capítulo 11
A montanha.


Notas iniciais do capítulo

Então criaturinhas ♥ sei que estou demorando, mas tudo isso é por um bom motivo.
Estou tentando fazer capítulos mais sentimentais e talvez isso não esteja dando muito certo ushaushaus mesmo assim, preciso agradecer a um certo amigo que anda me ajudando bastante a escrever isso (a pessoa sabe quem é), muito obrigado!
Bom, sem mais delongas...
Boa leitura!



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O dia amanheceu calmo.

Acabamos acordando com o canto suave dos pássaros e eu precisava admitir que estava exausto demais para subir a trilha, mas não iria desistir disso de jeito nenhum. Eu precisava ter dormido bem para acordar bem, mas... Por causa dos ocorridos da madrugada era quase que impossível pregar os olhos e ter uma boa noite de sono. Não que tivesse sido ruim porém meus pensamentos me atordoavam demais, faziam-me pensar no que Owen havia me pedido para refletir sobre mim mesmo e sobre o que eu sentia, isso apenas me deixava mais ansioso.  Aquela noite havia sido boa, mas a vergonha falava mais alto e eu não sabia como ele iria reagir quando acordasse.  O loiro murmurou um pouco antes de acordar e abraçou-me ainda mais, seus braços estavam suados e teríamos de tomar banho antes de sairmos para a montanha.

—Bom dia princesa- Ele se afastou um pouco e se espreguiçou, sua voz grave estava rouca como se tivesse falado a madrugada toda e verdadeiramente, ele falava muito enquanto dormia.

—P-princesa? - Virei-me para ele e me encaixei entre seus braços novamente, abraçando seu peito. Eu realmente não sabia o que havia dado em mim para fazer isso, mas continuei.

—Shii- Aquilo estava estranho demais e meu rosto já voltava a ficar vermelho, eu não queria começar a tremer de nervosismo então apenas fechei os olhos novamente por alguns segundos. O pescoço de Owen estava vermelho e com alguns arranhões e acabei percebendo que eu o havia machucado e parecia estar doendo. Minhas unhas eram compridas e com a emoção devo ter me soltado demais... Eu deveria de me desculpar o mais rápido possível. Ao passar minha mão pelas suas costas consegui sentir as marcas dos arranhões e a vontade de chorar começou a voltar, não queria ter machucado ele. E se ele estivesse bravo por isso?

—D-desculpa - Encostei minha cabeça em seu peito e ele estranhou. Estava morrendo de vergonha e apenas queria continuar o abraçando - Eu machuquei.

—Hm? - Ele viu que eu passava os dedos ali e me olhou em dúvida - Ah... Isso?

—Uhum...

—Não é nada demais - Sorriu. Aquela situação estava me deixando nervoso, vários pensamentos sobre os quinze minutos no paraíso me voltavam, mas...  Tudo era abrangido pelo carinho de Owen por mim. Não sentia como se aquela pessoa apenas quisesse abusar e me usar para sentir prazer, ele... Queria me ajudar a não sentir dor. Eu poderia estar sendo muito tolo, mas não queria ficar sem ele, não que aquilo estivesse se transformando... No terceiro tipo de amor. Eu havia de pensar muito nisso e... Aquela não era a hora - Viu? Não é tão difícil.

—Eu... - Suspirei. Realmente não sabia o que falar e qualquer coisa que eu falasse iria o fazer estranhar, eu estava com medo e não queria que ele se chateasse novamente por eu ficar quieto - Hm...

—O que foi- Ele se afastou um pouco e ergueu uma mão, tirando o cabelo da frente dos meus olhos - Você... Não queria isso né.

—N-não! Não é isso... - Tudo que eu menos queria era parecer assustado mas foi apenas isso que aconteceu - Fiquei... Com medo.

—Medo? - Ergueu uma sobrancelha. Eu apenas consegui tapar meus olhos com minhas mãos - De que?

—Eu ainda não sei o que... O que eu sinto - Suspirei tentando manter a calma, o que não adiantou muito.

—E quem está falando disso agora? - Ele continuava sorrindo. De repente se aproximou mais e puxou meu rosto, grudando seu nariz com o meu - Você... Deixa eu te beijar de novo, Dominic?

Imaginem um cachorro agitado e seu dono tentando o segurar nos braços, foi a mesma coisa. Comecei a espernear e a ficar inquieto sem responder e acho que Owen notou que eu estava inseguro até demais, mesmo assim não me largou. Apenas acolheu-me mais para perto e me abraçou.

—E-eu...

—Não precisa ficar assim - E beijou o topo da minha cabeça- Cacete, você é muito sensível mesmo.

—Eu deixo... - Meu rosto estava quente demais e eu não podia negar que queria muito aquilo de novo, era algo que me fazia sentir incrivelmente bem - Isso é bom...

—Mesmo? - Chegou a se assustar. Eu realmente não pensava no que falava e essas eram as consequências, ainda mais depois de tudo que nós havíamos feito noite passada. Havia sido bastante constrangedor, mas delicioso... Não podia negar que queria aquilo de novo. E se... Ele contasse aquilo para alguém? Não! Eu não podia pensar nisso... Não podia, ele não seria capaz de contar isso pra ninguém, ele sabia da minha insegurança e da minha vergonha...

—Mesmo - Afirmei voraz mesmo que eu estivesse morrendo de medo - Eu... Gosto.

—Hm... Tão fofo - Ele ergueu meu rosto novamente e grudou seus lábios nos meus não fazendo movimento algum. Isso me assustou então prescindi que ele queria que eu me movimentasse e minha vergonha apenas me fazia ficar ainda mais parado, com medo de acabar me mexendo e estragar tudo.

Tentei ser o mais cuidadoso e comecei a mexer minha cabeça devagar, para um lado e para o outro, procurando manter a calma. Isso fez ele começar a se mexer também e logo voltamos para o ritmo "normal", sua boca estava mas úmida que o normal e aquilo... Certo, calma. Continuamos com aquilo e logo ele se afastou voltando com o espaço que antes tinha entre nós, alisou minhas costas com suas mãos e encarou-me sério. Eu com certeza havia feito algo de errado... Ele havia notado que eu estava com medo? Sorrateiramente, com a mão em minha nuca ele fez com que eu levantasse ainda mais a cabeça, colocando seu rosto ali. Era só o que me faltava... Ele ficar respirando no meu pescoço de novo como havia feito noite passada e acabou que foi por isso mesmo, mas de outro jeito. Sua língua... Percorreu quase toda a extensão dali e por fim... Realmente não sei o que foi aquilo. Seus lábios se afastaram um pouco e foi como se ele... Eu realmente não sei descrever. Doeu um pouco mas logo passou.

—Pronto - Sorriu vitorioso, fazendo-me tremer - Deixei minha marca em você.

—Que...

—Vai ficar vermelho - Owen se afastou mais um pouco quebrando nosso abraço, não demorou muito em sentar-se e retirar sua roupa de baixo novamente. Ele... Queria de novo? Não era possível. Como estava sem camisa, digamos que ele estava... Completamente nu em minha frente e mesmo com isso não fez nada como se fosse a maior normalidade do mundo! - Onde fica o chuveiro?

—A-ahn?

—O chuveiro ué - Abaixou-se um pouco e grudou seus lábios em minha testa, não demorando muito para se afastar novamente - Não posso ficar andando com seu gozo no meu peito por muito tempo.

—G-goz...

—Shiii, sem aprender palavras feias - Ele apenas ajoelhou-se e enrolou a toalha na cintura cobrindo suas...grandes partes - Não vai me falar?

—Vou com você - Falei involuntariamente, esta era minha mente pregando peças em mim novamente. Isso era tolice demais da minha parte e eu não queria que fizéssemos... aquilo de novo, só que no chuveiro - T-te mostrar, te mostrar...

—Você é muito adorável quando fica nervoso - Engatinhou por cima de mim e abriu a "porta" da barraca sem muita dificuldade, não demorando para ir pra fora - Não demora, to com frio.

Apenas consegui ouvir os gritinhos histéricos de Eva ao ver o corpo... Seminu de Owen na sua frente. Saí logo com minha toalha e minhas roupas - com as roupas do loiro também, afinal o mesmo havia ido apenas com a toalha -, indo em direção ao outro e puxando-o pelo braço. Allyson estava sentada em um dos troncos e apenas fez um sinal estranho com os dedos, algo como um "Okay" estranho ou algo do gênero, olhando-me com uma expressão maliciosa. Não entendi mas fiz o mesmo símbolo para ela em resposta, era com certeza muito estranha.

—Vocês querem... Tomar banho também? - Perguntei. O senhor McDaniel só tinha um chuveiro e se o casal fosse para lá também teríamos que arrumar tudo antes.

—Eu e a minha senhora já tomamos banho - O mais velho chegou mais perto, pondo a mão em meu ombro. Suas sobrancelhas estavam arqueadas.

—Onde? - Owen perguntou, fazendo Eva soltar uma risadinha.

—Pra que chuveiro se você tem a natureza límpida e maravilhosa a sua frente? - Ele apontou para o lago e deu a entender tudo, como eu poderia estar rodeado por tantas  pessoas sem constrangimento?

—C-certo... - Puxei Owen e fomos nos direcionando para a trilha até que...

—Hey, depois quero saber da onde vinham aqueles gemidos estranhos hein! -A menina gritou.

—SHIII- Owen respondeu feito uma criança - Sem pensar coisas feias!

Seguimos pela trilha e aquele lugar era cheio de nostalgias, lembrava-me de correr por ali algumas semanas antes de ganhar Odin, jurava conseguir sentir o mesmo cheiro que sentia naquele tempo e podia sentir os passos lentos do meu pai atrás de mim, mas ao me virar eram apenas os passos do loiro que deveria estar morrendo de frio por causa do vento que invadia dentre as árvores. Segurei em seu braço e comecei a arrastá-lo por ali para irmos mais rápido, vê-lo encolhido e arrepiado podia ser engraçado, mas me dava bastante pena.

As folhas secas e o vento frio indicavam o início do outono que, de fato era uma das estações a qual eu gostava mais perdendo apenas para o inverno, a brisa fria fazia-me lembrar das minhas breves cavalgadas tranquilas com Odin. O sopro em meu cabelo e minhas mãos firmes nas rédeas - ele costumava ser um pouco inquieto demais então tinha que me segurar para não cair -, era a sensação perfeita de pura tranquilidade e paz. Era indescritível sentir a maciez de suas patas -meio brancas com manchas amarronzadas- afundando na neve fofa e almofadada. Jurava que o meu nariz congelava do mesmo jeito que naquele tempo, meus dedos álgidos e pés rígidos e inseguros, tentando evitar mais uma queda. Quando eu falhava a reação de meu querido amigo era muito clara, rapidamente virava-se para me olhar e soprava em minha direção como se quisesse me ajudar.  Com o tempo eu adquiria cada vez mais confiança arriscando ir um pouco mais rápido nas galopadas, mas logo que consegui aprender a me equilibrar… Ele acabou indo para o céu e nunca mais tive a oportunidade de treinar cavalgada de novo, não que eu não quisesse, mas… Se não fosse com Odin, virando-se para mim e soprando para me dar mais confiança eu não iria conseguir. Eu tinha o sonho de criar mais cavalos por serem meus animais favoritos, mesmo que nenhum se igualasse a Odin eu os trataria com o maior amor e carinho, com liberdade e cuidados.

—Bom dia crianças! - Quando voltei à realidade já estávamos na frente da cabana do senhor McDaniel, que se balançava na sua velha cadeira de balanço de madeira enquanto segurava sua espingarda empoeirada com as duas mãos, como se a alisasse. Logo, apontou para Owen seminu- Não está com frio rapazinho?

—Nah, de boa.

—B-bom dia - Cumprimentei mesmo que o velho senhor não tenha percebido - Podemos usar o seu chuveiro?

—Mas claro! Venham, entrem! - O senhor McDaniel tinha uma energia cativante, parecia sempre estar muito ativo e disposto. Adentrou na cabana e nos guiou pelo corredor até o banheiro. Era tudo muito simples, mas era tudo organizado e limpo, ele era atencioso demais - Podem usar a vontade, tenho shampoo e toalhas se precisarem, é só chamar!

—Obrigado - Sorri gentilmente tentando lhe agradecer, não demorou muito para ele voltar para frente do lugar para observar as árvores.

Eu e Owen ficamos nos encarando por um bom tempo até que ele tirou vagarosamente sua toalha em minha frente, ficando nu novamente… Algo que me deixou vermelho e sem graça, realmente não precisava ter lembranças da madrugada e preferia ficar com meus pensamentos fechados em um momento como aquele.

—Ahn… - Agarrei forte suas roupas, acho que ele notou que fiquei um pouco sem graça.

—Não vou demorar - Abriu espaço entre meus braços e pegou cautelosamente suas vestimentas de mim, deixando-as em cima da pia - Não espie.

—E-eu não vou! - Arrepiei-me, hesitar em dar um passo para trás não era uma escolha, pois logo o fiz. O loiro fechou a porta e logo pude ouvir o chuveiro sendo ligado. Realmente não sabia o que eu poderia ficar fazendo enquanto ele tomava banho então apenas fiquei admirando a gigantesca estante de livros do senhor McDaniel com diversas obras empoeiradas, algo que era lindo de ver. Diversas coleções com lombadas douradas e letras perfeitamente impressas, se tivesse a permissão do velho homem com certeza levaria um daqueles para casa. Não demorei em aproximar-me afinal, quem não iria querer ver aquele paraíso literário logo em sua frente?

Logo que fui encostar-me a um dos livros…

—Acabei - Owen abriu a porta, o que fez todo o vapor da água quente sair. Já estava vestido e seu cheiro estava com certeza muito bom, seu cabelo loiro molhado fazia com que ele ficasse cada vez mais… Bonito - O que ficou fazendo nesse tempo?

—Bem… Nada - Suspirei tentando não olhar para o seu rosto, não queria ficar vermelho como um pimentão em uma hora daquelas - M-me espera.

—Tá bom - Respondeu um pouco em dúvida, apoiando-se na parede ao lado da estante.

Meus banhos nunca eram demorados, mas daquela vez foi um pouco diferente. Não que eu tenha ficado… Pensando bobagem e sim em coisas que me fizeram querer chorar, era o que eu sempre dizia: Controlar pensamentos não era comigo. Comecei a lembrar de involuntariamente de todas as minhas crises de pânico na madrugada durante quase toda a minha vida e no quanto eu me senti bem dormindo perto de Owen… Faziam noites que eu não conseguia dormir direito e essa havia sido uma das melhores noites que eu já havia passado. Queria ficar pra sempre daquele jeito com ele… Queria poder sentir sua pele quente na minha na hora de dormir e sua respiração inquieta no meu pescoço, aquilo havia sido incrível demais, não suportaria mais um ataque de gritos desesperados e pensamentos absurdamente ruins sobre mim mesmo. Ter um amigo de verdade era realmente daquele jeito…? Proteger e querer o bem um do outro? Eu esperava muito que fosse mesmo, porque não iria aguentar perder Owen do mesmo jeito que aconteceu com Thália e… Apenas de pensar nisso a vontade de chorar era eminente demais, mas prometi a mim mesmo que não iria mais chorar por mais ninguém. Nem por Owen, nem por Eva e nem pelos meus pais, eles… Protegiam-me do mal, como eu podia não ter visto isso antes? O loiro se aproximou de mim porque não queria me ver sofrer nas mãos dos brutamontes da escola e quis me defender… Do que ele mesmo havia causado. Mais que nunca eu me sentia especial, ainda mais porque ele mesmo havia me levado até ali para eu realizar o meu desejo de ver Odin… Eu era tão especial assim?

Com esse pensamento final finalmente pude sair do banho -afinal meus dedos já começavam a enrugar- e vesti-me com calma. Owen esperava impacientemente no lado de fora, com seus braços cruzados e olhos revirados.

—A bronha tava boa hein, demorou - Suspirou em um tom travesso - Seu pai ligou.

—Q-QUE? - Assustei-me quase caindo para trás, não poderia ser possível eu ter esquecido de ligar - Ligou para que telefone?? Deixei o meu na...

—Eu trouxe o seu - Ele balançou o celular no ar - Peguei quando não estava vendo, as regras do senhor Oliver são claras.

—Cacete… - Esbravejei… E logo tapei minha boca rezando para que ninguém tivesse ouvido, mas logo vi que o loiro ficou indignado e boquiaberto ao me ouvir falar aquela palavra feia.

—Eu vou contar pro seu pai - E ameaçou discar o número no celular rindo, o que me fez gelar mesmo que fosse uma brincadeira. Deixou de calúnias e logo me alcançou aquilo, não demorei muito para lembrar a sequência de números de papai e chamá-lo para uma ligação - Está nervoso?

—Shiii - Pedi silêncio, dando um sinal a entender que ele já havia atendido - Ahn… Bom dia pai.

—Dominic eu liguei e não foi você que atendeu - Estava falando em um tom autoritário demais e me sentia pressionado, parecia bravo e com seu mau humor matutino - Por que Owen Collin foi quem atendeu?

—E-eu estava no banho, senhor… - Comecei a gaguejar, não queria que ele brigasse comigo por causa disso - Está tudo bem… Já iremos sair para a trilha, a-apenas esqueci-me de ligar.

—Você demorou vinte minutos no banho? Eu mereço… Vou ter que pedir desculpas para o senhor McDaniel por você usar tanta água assim - Suspirou - Boa, boa subida.

—O-obrigado… - Não queria prolongar muito a conversa, então fui encerrando por ali - Tchau…

—Sua mãe mandou um abraço - Falou por fim - Tchau.

Olhei para Owen e ele estava quase dormindo em minha frente, com certeza já havia ficado muito tempo ali e tínhamos que nos apressar, Eva e Allyson já deviam de estar esperando demais e não queria que desistissem por isso, mal podia esperar para chegar logo na trilha. Voltamos para a frente da cabana e logo vimos o velho senhor dono da casa balançando quase adormecido em sua cadeira, não queríamos acordá-lo, mas mesmo assim a madeira do piso fez esse serviço para nós, rangendo incessantemente.

—Meus meninos! - Acordou animado como sempre - Vão subir agora?

—S-sim! Vamos buscar nossos outros amigos e vamos - Respondi descendo os pequenos degraus até a terra úmida novamente - O senhor gostaria de ir junto? Afinal… Foi o senhor que nos deu Odin.

—Haha! - O velho se levantou com dificuldade e com um pouco de dor e sorriu, chegando um pouco mais perto de mim - Quero lhe contar um segredo, meu filho.

—Ahn… Segredo? - Perguntei em dúvida. O que um senhor bondoso como aquele teria para me esconder?

—Muito, mas muito tempo atrás eu conheci um homem - Sua voz falha mostrava toda sua vontade de relembrar certas coisas que já começavam a ser esquecidas pela sua idade - Senhor Albert Campbell, conhece o caboclo?

—Acho… Que não? - Eu continuava confuso. Por que ele estava falando de uma pessoa que eu mal conhecia? - Era amigo do senhor?

—Seu bisavô, Albert Campbell - Depois de algumas tosses secas, continuou - Ele deu Odin ainda potrinho para mim, aquele ginete lindo… Com crina baixa e patas fracas. Pergunte ao seu pai, com certeza ele ainda tem alguma foto.

—E-eu… Não sabia - Suspirei ainda um pouco confuso. Eu nunca havia tido nenhuma relação com a minha família tirando meus pais e avô materno mas… Uma pessoa desconhecida por mim dessa maneira me dar um dos meus melhores amigos…? Minha gratidão cresceu ainda mais naquele momento e eu realmente não queria começar a chorar - Mal conheci ele…

—Deve estar vivo ainda por essas bandas - Riu - Aquele velho doido, mal conhecia o bisneto e deu logo um cavalo daqueles.

—Muito obrigado - Sorri. Isso seria mais um sentimento para eu guardar durante essa viagem e eu não iria conseguir esquecer por um tempo. Albert Campbell. Esse nome ainda iria enfeitar muito minhas páginas de pesquisa.

Descemos para encontrar o casal no acampamento e quando chegamos eles já haviam guardado as barracas e já estava tudo pronto, mal eles sabiam que aquela trilha não podia ser feita de carro e que teriam que sujar as calças de lama se quisessem chegar ao topo. Aproximamos-nos dos dois que logo foram entrando no carro.

—Hey… Gente - Não pude me segurar e acabei mandando um sorrisinho debochado para os dois - Sinto muito.

—Hm? - O moreno estranhou, afastando-se um pouco da porta - O que foi meu pequeno senhor?

—Não podemos subir uma estradinha estreita assim - Tentei não ser tão rude, não queria que ficassem bravos comigo -  T-teremos que ir a pé e depois descemos para pegar o carro e irmos embora…

—Aaaaa - Allyson urrou - Preguiça de subir tudo isso.

—Vamos! - Eva pareceu mais animado, tentando convencê-la - Por favooor gatissima, vai ser legal, prometo!

E assim fomos todos para a trilha todos com mochilas nas costas, carregando apenas água e comida para o almoço. Digamos que Eva teve que levar Allyson nas costas porque a mesma andou cinco metros e cansou, ele pareceu estar bem destinado a leva-la daquele jeito por horas de tão animado que estava e isso me deixou muito feliz. Ver a dedicação deles para… Deixar-me feliz.

O caminho era repleto de pequenas pontes de madeira -construídas pelo senhor McDaniel quando ainda era jovem- e pássaros de diversas cores que cantavam alegremente anunciando o final da manhã. Devíamos de parar mais a frente para almoçar e descansar mesmo que o topo não fosse extremamente longe, precisávamos estar hidratados para que o pior não acontecesse e iria odiar que alguém se machucasse por desmaiar de fome no meio de toda aquela terra e lama. Paramos em um pequeno espaço embaixo de algumas árvores secas e curvadas, algo como um “acostamento” da trilha de terra. Lá sentamos no chão e pegamos os salgadinhos, não devíamos de demorar até porque teríamos que descer a montanha no mesmo dia. 

—Por que isso é tão importante pra você, meu pequeno senhor? - Eva perguntou enquanto arrumávamos as coisas para continuar o caminho, ele parecia curioso e não quis esconder essa pergunta dos outros. Tremi, realmente não sabia se eu iria conseguir segurar minhas lágrimas contando o que eu realmente sentia em ver Odin, apenas virei-me para ele e sorri. Aquilo foi fácil, difícil foi segurar o meu choro durante aquele sorriso, senti apenas as lágrimas quentes escorrendo pela minha bochecha e o mais velho logo se aproximou sorrindo com pena- Hey… O que houve.

—E-eu - Curvei-me e escondi meu rosto, não queria que todos me vissem chorar aquilo seria infantil demais - Eu… E-estou tão feliz.

—Own meu deus, você é tão fofinho - Com toda sua altura o moreno me abraçou, deixando meu rosto um pouco abaixo de seu peito. Conseguia ouvir seu coração batendo ao longe e parecia estar totalmente agitado - Está tudo bem, estamos muito feliz também! Não estamos, galera?

—Sim!! - Allyson correu até nós e abraçou o mais velho por trás.

—Eva - Owen chamou e o outro não demorou para atender - Larga.

—Desculpa, desculpa - Ele me largou meio que se sentindo intimidado…? Owen estava com ciúmes…? - Então, podemos ir?

—Uhum…- Limpei minhas lágrimas na manga do meu moletom  e olhei diretamente para o loiro que estava de braços cruzados, olhando para um ponto distante. Eu havia o deixado triste…? Ele havia sido o único que não havia se dito feliz em estar me levando para ver Odin… As lágrimas estavam querendo escorrer novamente, mas prometi para mim mesmo que não iria mais chorar mesmo que Owen estivesse bravo comigo ou algo do tipo. O casal foi na frente e eu fui atrás com o senhor loiro, era uma parte com um pouco de terra mais fofa e subimos com um pouco mais dificuldade, pelo menos Allyson tinha saído das costas de Eva e os mesmos iam até mais rápido. Eu já estava começando a cansar e eu sei que Owen não me ajudaria…

Ignorei o cansaço e mesmo arfando, suando e tremendo continuei. Não iria desistir de jeito nenhum só porque um dos meus únicos e verdadeiros amigos não estava feliz em me levar até lá - o que me deixava extremamente triste, porém realizado porque estava indo ver Odin -, levaríamos mais ou menos uma hora e meia para chegar ao local onde a lápide do meu velho amigo pairava dentre os arbustos secos. Não quero prolongar em falar sobre o caminho todo que percorremos até lá, porque árvores, galhos secos na trilha e lama não eram nada de muito importante e útil de se detalhar, apenas a minha preocupação da lapida ainda estar lá intacta, sem que nenhuma pessoa ou força da natureza tenha arruinado todo o santuário que preparamos para o finamento dele.  

Dentre o silvedo logo consegui avistar uma pedra gigantesca que havíamos movido para indicar o local da lápide de Odin, rapidamente corri até lá deixando o grupo para trás, não conseguia me controlar e logo senti minhas mãos na superfície áspera e um pouco pegajosa da pedra, olhei por cima e estava lá, intacta e perfeita. Corri até aquela placa sem demora e ajoelhei-me em sua frente abraçando-a em seguida, não havia jeito de eu não chorar. O silêncio se iniciou e o vento percorreu suave por aquele lugar, o que restava das folhas nas árvores balançavam em harmonia com as secas no chão, que dançavam entre a brisa fria pousando perto de mim. Juro que pude ouvir os cascos de meu velho amigo pisando na terra e quebrando as folhas sensíveis apressado como sempre, rodeando-me como se me olhasse. Seu bufar quente e involuntário em minha nuca, seu focinho sempre esperto que virava-se para mim todas as vezes que eu caia em sinal de ajuda, ele nunca reclamaria se eu caísse, apenas queria ajudar-me a ser mais firme e forte para segura-lo. Odin sabia que meu maior desejo era poder galopar cravejado a sua garupa sem cair, apenas deixando-o livre para seguir o caminho que quisesse pelo campo. Eu realmente sentia-me sendo observado por ele, sobre os olhos singelos de um amigo que se foi a qual eu nunca… Poderia ver novamente e que agora galopava alegre no céu dos cavalos junto com sua tropa. Totalmente livre, vendo-me cair e levantar todos os dias.

Os três logo se aproximaram e continuaram de pé parados atrás de mim, ambos com cara de sérios e em silêncio respeitando o lugar. Eu apenas conseguia chorar sem fazer nenhum barulho, ouvir o som do vento era algo que todos nós queríamos naquele momento. Realmente não ligava para se Owen estava ou não bravo comigo, apenas queria que sentissem o quão especial aquilo estava sendo para mim. Eu havia saído de casa depois de muito tempo, eu estava em um lugar muito longe e com pessoas que queriam realizar meu desejo e conseguia sentir que estávamos todos muito realizados. Allyson abraçada em Eva, Owen parado, olhando fixo para a lápide e para mim que logo me afastei, ainda ajoelhado e limpando as próprias lágrimas novamente. Calmamente o loiro foi se aproximando e se abaixou em minha altura, pondo sua mão calmamente em meu ombro.

—Está tudo bem agora, né? - Sussurrou. Eu não iria falar nada naquele momento, apenas queria sentir a energia daquele lugar, o barulho do vento e as folhas secas de outono quebradiças. Ele se aproximou mais e me abraçou, deixando-me ficar com o rosto em seu ombro. Aquilo já era o suficiente para mim, todas as lembranças boas poderiam continuar em paz no meu coração e Odin poderia continuar cavalgando em paz onde quer que estivesse.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Sei que enrolei demais para esse capítulo, mas pelo menos não foi nada.
Espero que tenham gostado e até a próxima!



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