Gentleness escrita por U can call me A


Capítulo 8
( Falsas ) descobertas




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— Você nem sabe pra onde está indo! - Ephir tentou convencer o amigo enquanto o seguia, mas este continuava insistentemente andando na frente. Apesar de seus esforços terem até mesmo incluído agarrá-lo para mantê-lo parado, Nante simplesmente fez cócegas nele e se soltou. 

Ah, como ele queria apenas voltar para a sala de Ihna e para o que considerava o mais perto que conseguia de sossego naquele lugar. Infelizmente, não podia simplesmente deixar Nante rondando por aí. Perguntando para as pessoas, uma hora ele descobriria quem é Célio. 

...Ou será que ele podia? 

— Você nem sabe como ele é. - Disse, zombeteiramente. Nante finalmente parou. 

— Eu não preciso...- O moreno se virou, - Gah! - e foi surpreendido por Ephir o agarrando novamente e tentando arrastá-lo para onde antes estavam. - Me larga, Phir! 

— Desde quando você me chama de Phir, cace... Ah, só cale a boca, eu não tenho mãos suficientes pra te segurar e te calar! 

— Como se eu fosse te obedecer! O que é isso, um sequestro?! 

Ephir atualmente simpatizava com o desespero de Nante fazendo-o pensar em sequestro, mas isso era irrelevante para a ocasião. 

Por volta de cada três alfinetadas entre eles, Ephir conseguia andar um passo. Os dois ainda tinham um pouco de bom senso para não gritarem, mas uma hora passaram por uma sala aberta de desenho em quadrinhos e inspiraram algumas estudantes, além de receberem um olhar curioso de um estudante de flauta que estava passando. O rosto de Nante estava razoavelmente corado, mas se Ephir viesse a se importar com isso, então poderia chover pizza no dia seguinte. 

— Que comoção é essa... - Uma voz oh-tão-familiar começou a perguntar, fazendo Ephir olhar para sua direita e encontrar com Célio vindo de outro corredor. - Ephir? 

"Esse cara está em todo lugar?!" Gritou internamente Ephir. 

— Ah, hum... Te conheço? - Ele perguntou, com uma cara de pau que não adiantou de nada: no momento que Nante bateu os olhos no homem, ele somou dois  com dois e soube quem era. 

— Hã? Como assim se você me conhece? Eu sei que a última vez que nos encontramos não foi muito bem, mas... 

Ephir engasgou bem alto, e tentou continuar puxando Nante pra longe, por mais que o pior já estivesse acontecendo. 

— ...Afinal, o que raios está acontecendo aqui? 

— Desculpe a confusão. Eu sou o melhor amigo dele, Nante, e bem, Ephir está um pouco agitado hoje. - O moreno ofereceu seu melhor sorriso educado, que graças as circunstâncias financeiras e sociais de sua família, havia sido bem treinado. Ephir queria, mas só pareceria mais suspeito se tapasse a boca dele. 

— De quem você acha que é a culpa... - O tufo de cabelo caramelo começou a resmungar, se sentindo ridículo por ainda estar segurando o amigo, então hesitantemente o largou. Um pouco mais feliz pelo retruque imediato não ter sido sobre melhores amigos, Nante sobrepôs a voz dele: 

— Ele disse queria me apresentar o lugar e as pessoas numa certa ordem, então termos lhe encontrado estragou a surpresa. Eu suponho que você seja Célio? - Nante, agora livre, se aproximou para um aperto de mão. 

— Ele mesmo. - O adulto, ainda perplexo, concluiu o gesto. Seu olhar vagou para o outro jovem. - Uma situação assim ainda não justifica bagunçar nos corredores, Ephir. 

"E agir como se não me conhecesse foi desnecessário", seu tom repreensivo pareceu acrescentar, por mais que não tivesse comprado completamente a explicação de Nante. 

— Falando como um verdadeiro diretor. - Ephir sorriu azedamente, cruzando os braços numa tentativa fútil de de se sentir mais confortável. Célio lhe lançou um olhar com confusão e perplexidade misturados. Ele esperava pelo menos um pedido de desculpas, não uma zombaria. 

— Bem, por que não sentamos em algum lugar para conversar? Ephir me falou de uma escada, se você tiver tempo. 

Enquanto Célio hesitava, uma lâmpada acendeu sobre a cabeça de Ephir. Ele olhou intensamente para o adulto e pensou várias vezes: "Diga que não tem tempo! Por favor, diga!" 

Infelizmente, Célio interpretou o contrário, e acabou aceitando. O garoto ficou ainda mais estressado pensando que ele havia feito de propósito, e ficou emburrado durante todo o caminho, segurando na manga do casaco de Nante. Era tarde demais para amarrá-lo dentro de alguma sala, então pelo menos isso o acalmava um pouco, já que dava para beliscá-lo se necessário. 

E foi. 

— Sobre o que você quer conversar, exatamente? Eu não posso demorar muito. - Perguntou o homem de cabelo encaracolado, ainda enquanto andavam. 

— Foi por isso que eu disse "se tiver tempo", senhor... 

— Huh, eu agradeço pela educação, mas não gosto que me chamem de senhor. Não sou tão velho assim, sabe? - Célio interrompeu Nante, e deu seu sorriso morno ao terminar de falar  O assunto interessou Ephir grandemente. 

— Oh, desculpe. Não parece. - Nante respondeu num tom arrependido muito casual. 

Ephir lhe deu um beliscão que ele se esforçou para não reagir. 

— Quantos anos você tem, então? - perguntou o mais irritado, equilibrando a curiosidade com a raiva. 

— Vinte e sete. Não dá pra me chamar de senhor, dá? 

Não era na faixa dos trinta, Ephir pensou e suspirou mentalmente, um pouco aliviado. 

— Dá pra chamar de tio. - retrucou por vingança. O rosto de Célio se contorceu e Nante não conseguiu segurar o riso. - Não é tão ruim assim. - acrescentou, com um tom sarcástico. 

— Então talvez eu deva te chamar de pirralho? - o mais velho colocou a mão sobre a cabeça de Ephir para enfatizar a diferença de altura entre eles. Nante parou de rir. 

— Pirralho é ofensivo, tio não! 

— Não é tão ruim assim. - Célio retrucou ironicamente. - Ei, como o seu cabelo é tão macio? Minha nossa, melhor do que ursinhos de pelúcia por aí, que esquisito. - Meio inconscientemente, ele começou a acariciar os fios. 

— Se é esquisito então não toque... - Ephir começou a resmungar. 

— É, se você está tentando provocar ele, está fazendo isso errado. - Nante puxou Ephir para perto, sorridente, e apesar dos protestos do outro lhe bagunçou os cabelos. - Veja como ele fica irritado. Melhor do que qualquer bicho de pelúcia, eu tenho um gatinho arisco... 

Ephir pisou no pé dele com força. 

— Desculpe, eu pensei ter visto uma barata. - disse, com a voz mais cínica que tinha, tentando conter sua raiva. Foi a vez de Célio rir. 

— Haha, vocês parecem se dar bem. Fico até feliz de ver que ele tem bons amigos, depois do que ouvi. 

Esse comentário fez Nante fechar a cara, e ele segurou Ephir um pouco mais perto de si quando sentiu esse tremer por um momento. 

— Sabe, ele ficou muito mal depois da última vez que veio aqui. Contar... tudo aquilo provavelmente abriu algumas feridas, então talvez fosse melhor vocês não se verem por um tempo. 

Célio olhou para Ephir, tentando fazer Nante calar a boca sem receber muita reação, e então para o moreno, em que seus olhos permaneceram mais intensamente. 

— Eu não forcei ele a falar nada, mas entendo o que diz. Ephir talvez tenha uma ideia por que. De qualquer forma, mesmo que você me diga isso, eu não posso controlar as coincidências... - ele deu de ombros. 

Quando Nante abriu a boca pra dizer mais alguma coisa, Ephir lhe deu um soco na barriga. 

— Pare de falar de mim por aí! Como se você... Argh! - Ele lançou um olhar furioso para o amigo, e então um que parecia se desculpar pela bagunça para Célio, por mais que estivesse p da vida, e então foi embora. 

— Você está bem? Não vai atrás dele..? - Célio perguntou, oferecendo apoio para o garoto que estava se encolhendo um pouco. Nante encostou numa parede. 

— Acho que não é o que ele quer agora... Eu devo ter ido longe demais. - suspirou. 

— É engraçado. - Nante lhe lançou um olhar do tipo "o que você tá achando engraçado aqui seu..." - Não isso. É que eu me vejo em você. 

O garoto olhou pra ele com tamanha confusão que, se Célio tivesse dito que vinha de Marte, não seria tão grande. O homem decidiu se encostar na parede também, e cruzou os braços. 

— Eu fiz o que eu pensava ser certo e acabei machucando quem eu amo. Apesar das situações serem diferentes. 

"Amor?" Nante pensou. 

— O que te faz pensar que eu amo ele? 

— Pra começar, você parece com bastante ciúme dele de mim, não acha? Você também está tentando proteger ele, e a maior pista de todas... Você já viu sua cara? As que você faz perto dele e a que está fazendo agora, se perguntando se estou certo. - Célio sorriu levemente. - Mas cabe a você descobrir que tipo de amor é, e que relação quer que tenham daqui pra frente. 

Com isso ele se despediu e foi embora. Nante escorregou pela parede até sentar, sentindo que sua cabeça estava lenta demais pra processar tudo. 

Amor. Ele amava Ephir. Ele amava Ephir? Mesmo? Seu coração acelerava só as vezes, como quando Ephir lambeu a calda de pudim dos dedos, ou quando o usava de travesseiro, então nunca pensou muita coisa disso. Entretanto sabia que constantemente buscava atenção e reconhecimento dele desde muito tempo atrás. 

Afinal, quando foi transferido para aquela escola, no nono ano, ficou sabendo dos rumores do garoto muito inteligente que sempre ganhava bolsa, aquilo o deixou tão intrigado que não hesitou duas vezes em se jogar na turma do fulano quando descobriu que ele estava naquela série também.  

Ele só nunca teria esperado conhecer alguém tão incomum como Ephir. Ele era inteligente, mas bobo. Avoado, mas sempre alerta. Dormia muito, mas era pouco. Quando viu, estava se enfiando em trabalhos em grupo com ele e lhe pagando comida por explicações em certos assuntos. Por mais áspero que ele pudesse ser, Nante não perdia o interesse na pessoa incrível que de vez em quando ele conseguia brechar, e quando ele sorria, ele sentia vontade de sorrir também. Sutilmente, foi se aproximando, até Ephir tomar iniciativa pra falar com ele, também. 

— Esse livro que você está lendo tem uma boa construção de mundo, mas o desenvolvimento do caráter da personagem principal é horrível, não acha? - Ele se aproximara de repente por traz, olhando sobre o ombro de Nante o livro que esse lia. Num pulo, o garoto de cabelo castanho claro olhara pra trás assustado. - A personalidade dela é mais plana que uma tábua de passar. 

Bem, de seu próprio jeito. 

Nante supirou. Não era que ele realmente não tivesse percebido que tinha sentimentos por Ephir, ele apenas havia pensado até então que eram comuns de uma amizade profunda, misturados com admiração. Ele também se importava com Mo, afinal. E até ela tinha seus momentos adoráveis, mas... Não era a mesma coisa. Ah, como seria difícil se acostumar com aquela ideia. E ele já havia magoado seu amor no mesmo dia que Mo dissera pra não fazer isso. 

Enquanto isso, Ephir também estava encolhido num canto. No chão da sala de piano, perto da cadeira de Soli, por mais que esta já tivesse ido embora, deixando o lugar livre. Ele chegara com a maior cara de choro, assustando Ihna, mas ela o deixou ficar sem fazer perguntas. 

— Me diga uma música para tocar. 

— Depressiva. Quero chorar até morrer de desidratação. 

— Não conheço essa. 

Ele suspirou. Suas conversas com ela eram objetivas mas não costumavam chegar a lugar algum. Avisou que ia colocar um despertador para tocar em meia-hora e cumprida a palavra, caiu no sono. Como se fosse querer ficar acordado e lidar com a vida. No entanto, acordou antes disso, com vozes. Não abriu os olhos de imediato, e ficou ouvindo. 

— Deixe ele dormir, o garoto parece cansado. 

— Talvez eu deva carregá-lo, então... 

Ephir deu um pulo e num instante estava sentado com a coluna reta, encarando os dois. Ihna estava concentrada em rabiscar algo numa folha pautada com pentagramas, enquanto Célio segurava alguns livros grossos. 

— Como você está? - ele perguntou, talvez ignorando o nariz avermelhado do garoto. 

— Nunca estive melhor. - O de cabelo caramelo esfregou a mão no rosto, como se isso fosse magicamente consertar sua aparência. Célio colocou os livros em uma cadeira e ofereceu a mão para o outro levantar. Ephir demorou para aceitar. - Você não estava com raiva de mim? 

— Isso é irrelevante agora. Venha comigo, você precisa lavar seu rosto. Ihna, conto com você pra guardar os livros. 

Ele segurou firmemente a mão do garoto, desanimado demais para resistir muito, e o levou até os banheiros, onde cuidadosamente o ajudou a parecer razoavelmente bem para aparecer na frente da mãe de novo. 

— No final das contas, eu encontrei Isel, então não tenho mais motivos pra não lhe desculpar. Você não precisa mais se preocupar com isso. - disse o mais velho, enquanto pegava mais papel. 

— Que bom pra você. 

Célio deu um sorriso frustrado. 

— É. O único detalhe é que ele provavelmente me odeia... Calma, isso não é culpa sua, não comece a fazer essa cara. 

— Ah. Tá. 

Ephir não sabia que cara estava fazendo, então apenas pegou os papéis de Célio e secou o rosto olhando para o chão. Vendo o garoto tão seco, ele disse: 

— Quer que eu lhe conte a história? 

Isso imediatamente atraiu a atenção dele. 

— Que história? 

— A minha com Isel. 

Ephir deu de ombros, tentando fingir desinteresse. 

— Se isso não for abrir uma grande ferida emocional sua, faça como quiser. 

— Desculpe por ter indiretamente aberto a sua. - Ephir olhou pra longe ao ouvir isso. - Mas tudo bem comigo, porque eu posso contar apenas pedaços. Se fosse a história toda, talvez eu só pudesse lhe contar quando você fosse maior de idade, não é mesmo? 

Sem conseguir resistir, o garoto olhou pra ele confuso e escandalizado. Célio riu, aliviando um pouco a tensão no ar. 

— Estou brincando com você. Até porque, quando eu fiquei sabendo que Isel gostava de mim, eu cortei as esperanças dele sem pensar duas vezes nas minhas palavras e me afastei. - Célio balançou a cabeça, em desaprovação de si mesmo. - Nós éramos amigos bem próximos antes disso, então ele fez uma falta enorme. Parecia que tinha arrancado um pedaço de mim, e foi por besteira. 

Ephir estava encarando o chão como se esse fosse a coisa mais interessante do mundo, numa tentativa de escapar dos sentimentos de familiaridade e um pouco de empatia, mas o adulto sabia que ele estava ouvindo atentamente. 

— E depois de muito tempo, eu reencontrei ele numa cafeteria. Ele tentou ir embora quando me reconheceu. - o homem precisou conter um suspiro. -  Uma tarde inteira de chocolate quente e conversa não foi suficiente pra resolver os problemas do passado, então ele me deu o número dele. Acho que como karma de eu não ter entrado em contato logo, fiquei aquele tempo sem o número, e então... 

— Desculpe. - Ephir murmurou. 

— Você não tinha nada a ver com a história, eu que peço desculpas. - disse, afagando os cabelos caramelo. - E como falei, ele apareceu por aqui... Acho que partes do que ele falou foram mais rancor guardado por anos do que qualquer outra coisa. Ele ia explodir e falar algumas verdades na minha cara a algum ponto. 

Ephir se sentiu mais murcho ainda. 

— O que estou querendo dizer - ele levantou o rosto de Ephir para que olhasse para ele, fundo em seus olhos azuis sérios - , é que deixar coisas mal resolvidas pode custar muito caro. Não queira entender isso por experiência própria. 

Nante, que havia entrado no mesmo banheiro para jogar um pouco de água no rosto e esfriar a cabeça, apenas viu a cena de Célio segurando o queixo de Ephir, as palavras dele entrando por um ouvido e saindo pelo outro. Seus recém compreendidos sentimentos o fizeram entender tudo errado.  


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Notas finais do capítulo

Eu acho que avisar no começo do capítulo quando vem bomba estraga o efeito surpresa, não é?
Sobre o tumblr, está em processo de construção. Sim, ele foi criado. Por enquanto, a parte estética está pronta, a parte de organização que demora um pouco mais - até porque, não sou a única pessoa trabalhando nele, então meu horário e o do meu anjinho de edições precisam bater. Do meu lado tá razoavelmente difícil, hoje provavelmente vou ter que dar meus pulos pra aprender e decorar duas músicas, e... Minha cabeça dói só de pensar.
Anyway, eu criei uma conta no Wattpad há algum tempo atrás. Vou ajeitar as coisas por lá e depois adiciono nos links do meu perfil/coloco nas notas do próximo capítulo.



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