Não se case com ele escrita por Miss Houston


Capítulo 3
Capítulo 2




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Hunter bloqueou todos os meus golpes com uma facilidade frustrante, por isso contentei-me com ele se encolhendo. Bati em seu peito até que as palmas de minhas mãos começassem a doer e me afastei, jogando-me sentada na cama. Conseguia sentir as lágrimas enchendo os meus olhos pela raiva que inflava o meu peito. Todo o trabalho que tive nos últimos seis meses para organizar tudo com sangue e suor, para terminar tudo em lágrimas. Hunter se aproximou vagarosamente e tirei o rosto das mãos para encará-lo.

— Você realmente o ama, não é?

Arqueei uma sobrancelha surpresa e demorei a perceber que ele estava se referindo a George. Espantei-me por ter pensado tão pouco em meu noivo e estar focando na porcaria do trabalho que tive na organização. Abaixei os meus olhos para a sua fivela e senti meu rosto corando por conta da calça muito aperta, retornando o olhar para seu rosto. No entanto, no meio do caminho vi algo que fez meu coração bater mais rápido. Automaticamente toquei meu bíceps.

— Você ainda tem? — sussurrei.

Ele prestou a atenção onde minha mão estava e se abaixou até que seu rosto estivesse na altura do meu. Puxou a manga de sua camisa, deixando a tatuagem completamente exposta. Não precisava encará-la por tanto tempo quanto fiz, mas o espanto congelou todos os meus músculos. Ver a metade daquele coração com linhas cruzadas ao redor, como uma proteção, fez com as memórias cutucassem novamente minha mente. Apertei a unha em meu braço, onde a tatuagem dele se completava e dei espaço para que a raiva retomasse o controle.

— Por que apareceu agora? — gritei raivosa empurrando-o no chão. Ele ficou com os olhos arregalados. — Eu estava feliz! Ia casar! Estava te esquecendo!

Ele pôs uma mão no chão para equilibrar meu dorso e me encarar.

— Mas eu nunca te esqueci, Baby.

Fechei os olhos levantando-me e andando pelo quarto. Hunter ficou sentado no chão sem se preocupar que eu pudesse escapar. Irritada com a sua prepotência, fui até ele e o empurrei novamente. Em um reflexo, ele segurou meu tornozelo e me fez perder o equilíbrio caindo em cima dele.

Aquela proximidade de seu corpo, sentindo o seu calor tocando cada curva do meu corpo me deixou desnorteada, assim como os seus olhos brilhantes pareciam observar cada centímetro do meu rosto. Não deveríamos estar tão perto, sua mão não deveria estar em mim.

— O que você quer? — murmurei.

Seus olhos foram para a minha boca.

— Você, Baby.

Pisquei com força saindo de seu feitiço e empurrei-o para ter impulso para levantar.

— Deveria ter pensado isso antes de ter ido embora. — respondi emburrada e voltei a me sentar na cama. — Quer conversar? Ok. Comece me dizendo o motivo de ter ido embora. — ele abriu a boca, mas levantei a mão o interrompendo. — Não precisa dizer que foi pelo rodeio, eu sei. Mas você poderia ter me contado que não iria voltar.

Ele se sentou dobrando as pernas e pondo os braços nos joelhos. Felizmente seu bom humor tinha evaporado. Se fosse realmente prisioneira, faria questão de transformar cada segundo ali no pior pesadelo dele. Hunter desviou os olhos de mim, quase como se ficasse envergonhado. Aquilo me trouxe ainda mais raiva – caso fosse possível. Ele tinha me tirado do dia mais importante da minha vida e não sabia o que queria falar comigo? Por pouco não chutei sua canela.

— Acho que fiquei com medo — ele murmurou. Sua voz estava tão baixa que por pouco não escutei. Inclinei-me na sua direção querendo escutá-lo. — Você tinha a vida toda planejada e eu só tinha a certeza que ficaria oito segundos em cima de um touro. Quando você me contou que queria se especializar em oncologia, acho que surtei. Imagine só? Uma médica com um peão de rodeio. Que tipo de futuro eu poderia ter te dado?

Estreitei os meus olhos na sua direção.

— Nunca pedi para que você me sustentasse. Só queria que ficasse comigo nas minhas conquistas.

— Mas eu estava.

Bufei levantando-me.

— E parece que nunca conseguiu aceitá-las também. — cruzei os braços e respirei fundo. — Você não sabe o quanto está soando egoísta, além de machista.

Hunter se acelerou levantando e tentou se aproximar. Desviei de seu toque quase como se fosse venenoso. Além de estar com raiva de estar ali ao invés de no altar, cada uma das palavras dele me feria de uma maneira que não devia. Estava manchando o nosso passado, destruindo cada momento em que ele festejou comigo por uma realização. Quase procurei em minhas memórias por sinais daquele desagrado, mas fui interrompida por sua voz.

— Você entendeu errado, Barbara. Não estou sendo machista.

Arqueei uma sobrancelha.

— Não? Então não escutei que você foi embora porque eu estava crescendo na vida e por termos profissões completamente diferentes? Nem que você se sentia menos homem por não poder me sustentar? — ele coçou a nuca, constrangido. Botei as mãos na cintura sentindo o pano como uma lembrança constante do compromisso que estava perdendo. — Sinceramente parece que namorei com um desconhecido.

— Baby, não é assim. Eu só fui criado assim. — ele justificou hesitante. Continuei com a mesma expressão, mostrando que aquilo não era desculpa suficiente. — Tudo bem, me sentia incomodado antes. Só que isso não quer dizer que eu não ficava feliz com as suas realizações. Quando comemorei com você, foi real. Só tem uma escolha sua que não festejei e é essa de se casar com aquele cara.

— É? Mas eu não te pedi permissão.

— Não estou dizendo isso. — passou as mãos pelos cabelos loiros, visivelmente frustrado. — Pare de distorcer tudo o que eu digo.

— Não estou distorcendo, apenas repetindo para que você perceba as asneiras que saem de sua boca.

Hunter abriu a boca para retrucar, entretanto hesitou. Aos poucos seu semblante foi se suavizando até que aquele sorriso patético retornasse aos seus lábios e aos poucos se transformasse em uma gargalhada. No início não compreendi o motivo da mudança brusca de seu humor, até ele se sentar na beira da cama e me encarar.

— Bom plano, Baby, mas você não vai me fazer desistir sem lutar. E eu tive a paciência para esperar o dia certo, posso esperar você esfriar a cabeça.

Levantei o dedo para contestar que estava bastante lúcida, quando fui interrompido por um bocejo. Lacrimejei sentindo o cansaço me tomando. Estava acordada desde antes de o sol aparecer lidando com o nervosismo e andando por todos os cantos berrando com cada madrinha que se atrevesse a ficar perto de mim.

Não sabia como ninguém tinha me dado um tapa ou feito algo do tipo. Presa naquele quarto quente, só conseguia pensar na quantidade de comida que estava perdendo e o tempo desperdiçado. Se eu tivesse escutado Polly e ido me casar na praia, talvez já estivesse aproveitando os coquetéis. Com a guarda abaixada, Hunter pegou minha mão e me puxou para sentar ao seu lado na cama.

— Acho que você deveria descansar um pouco. — sussurrou preocupado.

— E perder ainda mais tempo da minha cerimônia? Nem pensar. — estufei o peito, pensando em um jeito de ser assertiva já que a agressividade não tinha me ajudado muito. Virei meu corpo na sua direção e peguei em sua mão, como um auxílio. Ele ficou surpreso por aquele meu ato espontâneo – e eu também, mas preferi empurrar essa emoção para o fundo da minha cabeça. — Olhe, Hunter, você já conseguiu o que queria. Queria explicar o motivo de ter ido embora e eu escutei. Podemos voltar a minha cerimônia, por favor?

Ele pôs a mão por cima da minha e retribuiu o olhar carinhoso. Não gostei do modo que meu coração se acelerou com aquele pequeno sinal de afeto. Quis me distanciar, porém o jeito de balançar Hunter e sensibilizar seu coração talvez fosse com a passividade. Pendi a cabeça um pouco para o lado, como se estivesse caindo em seu encanto.

— Você ainda está pensando em se casar?

Toda a fachada evaporou e endireitei minha postura puxando as minhas mãos das suas. Ele riu mostrando que não tinha caído no meu truque.

— Foi o que pensei — respondeu por mim passando as mãos por suas surradas calças jeans. — Ainda não cumpri minha missão.

Revirei os olhos.

— Quer dizer que serei sua prisioneira até desistir do meu casamento?

Hunter aproximou o seu rosto do meu.

— Pelo menos quero que considere as opções.

Dei um sorriso retendo a vontade de bater em seu rosto. Foi quase um teste para o meu autocontrole. Os olhos dele brilharam enquanto desciam por meu rosto até parar em minha boca por alguns instantes. Soube que estava em terreno perigoso e precisava me afastar. Não tinha calculado corretamente o quanto ele tinha poder sobre mim.

Arrastei meu corpo até a cabeceira da cama e virei-me de lado, usando minhas mãos como travesseiro. Fechei os olhos com o pensamento que tinha que planejar os meus próximos passos para sair dali. Poderia gritar pela janela com a esperança que alguém daquele bairro falasse minha língua. Uma janela no banheiro também era uma opção. Sufocar Hunter até a morte era a alternativa que mais se sobressaía dentre todas.


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