Não se case com ele escrita por Miss Houston


Capítulo 2
Capítulo 1




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Permaneci congelada por mais alguns metros antes de a raiva me possuir. Vi a mudança acontecendo lentamente através do espelho retrovisor, com o estreitar de meus olhos escuros e a respiração mais pesada saindo de minhas narinas. Hunter foi ingênuo ao pensar que eu não faria nada para escapar. Ele não me conhecia tanto quanto há dois anos. Quando seus olhos encontraram os meus novamente, avancei em seu pescoço fazendo com que perdesse o controle por alguns segundos.

— Você está louca, Bárbara? — ele berrou tentando fugir de meus golpes.

— Eu vou casar, Hunter! Eu vou! — gritei de volta.

Ele revirou os olhos e bufou.

— Se realmente fosse, já estaria na igreja, não acha? — desafiou dando uma pequena gargalhada. Acabando com seu humor, dei outro tapa em sua cabeça. Cansada e sabendo que ele não desistiria de seu plano, joguei-me no banco com os braços cruzados lamentando novamente por não estar com o meu celular. Hunter suspirou. — Não faça essa carinha, Baby. Se você prometer que vai se comportar, deixo você se sentar do meu lado.

Abri a boca com uma resposta bem malcriada na ponta da língua, quando repensei. Se eu pudesse destravar o carro de uma maneira discreta, poderia me jogar para fora do carro. Ele nem estava indo tão rápido. Destruiria o meu vestido, mas era melhor entrar na igreja com farrapos do que nunca entrar.

— Prometo. — sussurrei. Ele me olhou desconfiado e eu desviei os olhos, fingindo ainda estar pronta para lhe atacar – o que não era bem um fingimento. — Por hora.

Ele desacelerou mais ainda, dando dois tapinhas no banco ao seu lado, como se chamasse para sentar ao seu lado. Respirei fundo e comecei a passar pelo meio do banco para chegar ao passageiro. Talvez eu realmente devesse ter escutado os conselhos de Polly e ter comprado um vestido do tipo sereia. Iria me poupar mais trabalho, caso tivesse supondo que fosse ser seqüestrada. Para o meu desagrado, meus seios passaram bem perto do rosto de Hunter, que sorriu em forma de provocação.

Sentei ao seu lado, puxando os densos panos de meu vestido de noiva até que estivesse tudo em seu devido lugar. Voltei a minha pose silenciosa com os olhos fixos na estrada – querendo reconhecer o caminho que estava sendo feito – e os braços cruzados – impedindo suas encaradas pouco discretas na direção do meu decote. Hunter tirou o chapei, jogando-o para o banco de trás e libertando seus longos cabelos loiros.

Parecia que nem um dia tinha passado para ele. Eram os mesmos cabelos loiros roçando nos ombros largos, a mesma camisa branca surrada, a mesma fivela chamativa de rodeio que ele tanto tinha orgulho de ostentar, as calças jeans apertadas que faziam mulheres invejar suas coxas e bunda, o sorriso debochado como se fosse o dono do mundo e os olhos profundos, como se visse a alma de que o encarava. Queria que nesses dois anos, ele tivesse destruído, infeliz e em outro país. Mas, para o meu azar, ele estava estacionado do outro lado da rua.

— O que você fez com o meu motorista?

Ele deu de ombros.

— Dei duzentos dólares na mão dele e ele foi embora. Acho que o salário da empresa de aluguel não é essas coisas.

Doeu os meus ouvidos escutar novamente aquele sotaque do interior. Não só os meus ouvidos. Meu estômago se apertou com tanta força que me deixou tonta por um segundo. Eram a lembranças teimosas que batalhavam com o meu bom senso para invadir a minha cabeça. Consegui manter o controle e respirei fundo retornando ao meu plano inicial.

— Não acha que está um pouco atrasado para correr atrás do prejuízo? — indaguei querendo distraí-lo e despejar um pouco do meu desgosto de anos. — Eu te esperei por meses, Hunter! Meses! Você não teve a capacidade de me mandar um cartão e acha que agora vou fugir do meu casamento como se nada tivesse acontecido? Está terrivelmente errado.

Vi os seus dedos apertando o volante e sabia que tinha tocado em um ponto sensível. Fiquei satisfeita por ver seu sorriso se dissolvendo e percebi que esse era o assunto certo a se falar – além de ser o único. Não planejava comentar sobre a decoração com tulipas que tinha organizado na igreja. Ah, minhas tulipas.

— Quando nós chegarmos e conversarmos, você vai entender. — ele respondeu vago.

— Chegar onde? — exasperei jogando minhas mãos para o alto. — Hunter, entenda. O único lugar que eu deveria estar chegando é na igreja onde meu noivo e cento e quarenta convidados estão me esperando. — juntei as palmas das mãos na frente do meu rosto em forma de súplica. — Por favor, me leve para a igreja! Prometo que depois que disser sim e comer todas as sobremesas possíveis, vamos sentar e conversar.

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Vai ser tarde demais.

Bufei com raiva novamente.

— Você vai morrer por acaso? Porque se não for, eu vou fazer questão de te matar por me fazer perder o meu casamento. — aproximei-me mais um pouco fixando os olhos na maçaneta dela.

            Faltava tão pouco...

— O que ele tem?

Parei os meus movimentos sendo pega de surpresa com a sua pergunta. Não precisei brincar com a sorte e questionar de quem ele estava falando. Era óbvio. Não recuei, por mais que cada célula do meu corpo implorasse que o fizesse. Os bíceps dele ficaram tensos e ele nem arriscou dar uma espiada na minha direção. Pressionei os lábios, engolindo em seco.

— Ele é seguro.

Hunter soltou o ar.

— E eu sempre fui uma inconstante.

Foi a minha vez de desviar o olhar.

— Eu nunca sabia quando você ia e nem quando voltaria, Hunter. Era questão de tempo até que me abandonasse e, veja, eu não estava errada. Sei que estava seguindo o seu sonho nos rodeios, mas eu também tinha os meus. George fez questão de escutar cada um deles e se esforçar para realizá-los. Esse — sinalizei para o meu vestido amassado. — é um dele. E você, novamente, está arruinando ele.   

— Baby...

Aproveitei sua guarda baixa e me joguei em seu colo. Pela segunda vez em menos de meia hora, ele perdeu o controle do carro. Quando senti a trava na ponta dos meus dedos não hesitei em puxá-la escutando o clique em seguida. Antes que ele absorvesse o que estava acontecendo, lancei o meu corpo na direção da porta do passageiro e a abri. No entanto, o gosto da liberdade durou milésimos de segundos antes que Hunter segurasse o meu braço e me puxasse de volta para dentro do carro. Nem deu tempo de raciocinar as falhas do plano antes que ele fechasse a porta do meu lado e trancasse novamente.   

— Você quer se matar, Barbie? — ele gritou nervoso.

Meu coração estava batendo com tanta força que fiquei orgulhosa de não ter vomitado.

— O que? — gritei de volta chegando bem perto de seu ouvido. Ele se encolheu banco. — Você me sequestrou no dia do meu casamento e achou que ficaria de braços cruzados? Vai se ferrar, Hunter! Mas vai se ferrar longe de mim!

— Eu deveria ter te amarrado no banco como planejei — ele balbuciou fazendo-me arregalar os olhos. Não dei o prazer de respondê-lo, voltando a minha pose silenciosa. Seu humor evaporou, pois não fez nenhum comentário sarcástico por boa parte do longo trajeto. Sua respiração permaneceu pesada por longos minutos, como se ele estivesse tentando se controlar para não ter um ataque de raiva. Quando a estrada deserta deu lugar a uma pequena vila, senti seus dedos tocando suavemente o dorso de minha mão. — Você se machucou?

— Não — surpreendi-me com a sua pergunta. — Estou bem. — sussurrei.

— Podia ter morrido, Bárbara. Não faça mais nenhuma loucura dessas, por favor. — pediu em voz baixa. Ele parou o carro em frente a uma pequena pensão rústica com as paredes pintadas de branco descascando e um varal pendurado na lateral da fachada. Antes de destravar as portas, virou o corpo na minha direção pegando as minhas mãos por entre as suas. A lembrança que aquele toque me proporcionada me assustou, assim como o calor que sua pele irradiava fez com que meus pelos se arrepiassem. Era como se tudo em minha reconhecesse aquele toque como um retorno ao lar. — Por favor, me prometa que não fará mais nenhuma loucura dessas.

A dor em seus olhos me fez ficar calada por mais tempo do que o necessário. Tantas coisas aqueles olhos tinham me feito prometer, mas sem cumprir nada em troca. Eu não poderia prometer que iria parar de fugir. Tinha um compromisso a selar e diferente dele, eu estava presente em tudo o que prometia.

— Vai me levar de volta para o meu casamento e sumir?

Ele também ficou em silêncio. Soltei minhas mãos antes que seu toque tivesse o efeito esperado e olhei para frente. Hunter ficou alguns instantes me encarando antes de destravar o carro e sair – levando a chave, claro. Observei-o dando a volta no carro – com mais atenção do que era preciso – e parando na minha porta. Ele a abriu e se abaixou o suficiente para que nossos rostos ficassem a poucos centímetros um do outro.

— Você vai vir por bem ou por mal?

Arqueei uma sobrancelha.

— Vai fazer o que se eu me negar? Me carregar nas costas?

Eu realmente não deveria ter perguntado. Aquele maldito sorriso voltou aos seus lábios e ele me puxou para fora do carro com uma velocidade assombrosa. Quase tropecei em meus saltos e ele se aproveitou da minha distração para colocar meu corpo em seu ombro. Ajeitou o vestido para que não ficasse na sua linha de visão e me segurou pelas coxas. Sacudi minhas pernas soltando xingamentos que fariam minha mãe se retrair e fui recompensada pela risada de Hunter enquanto me levava escada a cima na pensão.

Os poucos moradores de lá saíram de suas casas, mas ignoraram veemente meus pedidos de ajuda. Talvez somente não falassem a minha língua. Isso se comprovou quando – ao mesmo tempo em que destrancava a porta – Hunter falou bem humorado em espanhol com um senhor que nos encarava desconfiado. Reconheci algumas palavras como mi hermosa e fiquei ainda mais furiosa.

— Eu não sou a querida dele! — berrei. — Quero que você vá se ferrar, Hunter! Quando me colocar no chão, vou enfiar meu salto bem no meio do seu...

— Baby... — ele murmurou em tom de aviso e vi que ele se referia as crianças no corredor que riam.

—... Rosto. Bem no meio do seu rosto, seu sacana desgraçado.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa que iria traumatizar aquelas crianças, ele abriu a porta e trancou antes de me colocar no chão. Para o meu espanto, caminhou com tranquilidade até a janela e jogou a chave através dela. Minha boca pendeu aberta com a sua loucura e o encarei com os olhos arregalados. Recostou-se na parede ao lado da janela, pousando a sola de seu sapato na parede e cruzando os braços em uma pose despojada.

— Podemos conversar agora?

Sem mais hesitar, parti para cima dele.


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