traição – parte três

LUKE, 12 ANOS.

—Era tudo parte do plano – disse Julie, horas mais tarde.

Luke não podia acreditar no que estava ouvido – ele piscou uma, duas, mais sua irmã o encarou paciente, esperando que as piscadas parecessem e a boca dele se fechasse.

—Ser presa, torturada – Luke colocou as palavras para fora – passar fome...

—Era tudo parte do plano – repetiu ela, interrompendo-o. – Vocês me salvaram, não foi? Então tudo ocorreu como eu queria.

—Você... – Luke já... tinha perdido a esperança de que algum dia sua irmã fosse normal. – Seu plano era ser presa, torturada, passar fome...

—Bem, as coisas saíram um pouco fora do plano – reconheceu Julie. – Não dá para saber os pequenos detalhes, não tenho como controlar todas as pequenas coisinhas, mas – ela sorriu – eu sei como vocês funcionam. Eu sabia que vocês iriam me salvar. Demorou um pouco mais do que eu queria e esperava...

—Ei! – reclamou Luke.

—Mas tudo ocorreu bem no fim.

—Você tem uma definição estranha de bem.

—Eu estou bem – explicou Julie – então tudo está bem.

—Calum quase morreu.

—Sim, eu sei. – Ela revirou os olhos. – Mas eu estou bem, então tudo está bem.

—Julie. – Luke fechou os olhos e balançou a cabeça. – Me explique uma coisa, por que você, pelo amor de Deus, tramou um golpe de estado contra você mesma?!

Sua voz começou baixa e então ele estava gritando, por que o que sua rainha tinha na cabeça? Ela tinha algo na cabeça? Ele desejava a forca por estar gritando com sua rainha? Sim, sim e sim! Luke queria ser livre e talvez apenas a morte fosse dar isso a ele!

Julie o encarou neutra – se não fosse os olhos arregalados que a faziam parecer assustada ao invés de questionadora, que Luke sabia que era a intenção dela.

—Porque eu estava entediada – respondeu sua irmã, numa voz monótona. – Porque a vida estava monótona, previsível. Porque era melhor um golpe que eu pudesse controlar do que ser atacada sem que eu percebesse enquanto dormia. Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde, Luke, então era melhor que fosse enquanto eu ainda tivesse aliados. E controle. E essa linda juventude pela frente – zombou ela por fim.

—Então você decidiu começar a sua própria queda do trono?

—Você fala como se ninguém nunca tivesse feito isso antes.

Ninguém nunca fez!, Luke queria gritar. Não um rei ou uma rainha com juízo havia feito – e se tivesse, ele duvidava que conseguiu o trono depois. Mas sua irmã, tinha um plano, sempre tinha um plano, e Luke queria ver o que ela faria se algo não previsto acontecesse.

—Eu me demito – disse ele depois de um tempo.

—Você não pode se demitir! – gritou Julie, arregalando os olhos agora realmente assustada e surpresa.

—Por que não? Vai mandarem cortar a minha cabeça?

—Eu deveria – ameaçou ela – mas eu sei de algo que você quer.

—Tipo? – Luke levantou a sobrancelha para mostrá-la que podia, que aquela era a expressão de alguém que questionava.

—Eu posso te dar vingança pelo seu amado parceiro. – E completou, sorrindo cruel: – Eu posso te dar Malcom.

Por um minuto os grilos não soaram, os sons da batalha pareceram distante, o gosto doce do sangue do seu inimigo estava no seu paladar, e tudo que aconteceu nos últimos minutos estava se repetindo – Calum sendo atacado, sangrando, tão perto da morte e... então não mais.

A corneta soou, finalizando o fim da batalha, dos jogos, e os ombros de Julie caíram e se levantaram e ela estava rindo e encostando a cabeça no ombro do seu irmão.

—Oh, meu Deus! – Julie riu. – Isso é sério?

Luke passou os braços ao redor dela, acompanhando-a, impressionado pelo tempo perfeito. Aquela era uma história de fantasia? Porque agora só no próximo episódio!