Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 56
Por que




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por que

CALUM, 12 ANOS. LUKE, 12 ANOS.

Oh, sim, Luke podia dizer pelos olhares a cada instante de Calum que ele não esperava por aquilo, que ele estava esperando que Luke anunciasse que não queria ir mais para o baile ou perguntasse ao seu pai por que, por que ele tinha que ir para o acampamento, por que ele e Julie precisavam ser separados, por que ele e não Julie estava indo, eram muitos por que, mas Luke se manteve calado, porque...

Ele não sabia.

Seu pai era a pessoa que quase sempre estava certo e se sua mãe não havia dito nada contra... devia ser a ação certa a se fazer, Luke devia ser o irmão responsável e concordar, mas... Luke queria ser que nem sua mãe e irmã e sair quebrando as coisas, mas ele não era assim, ele era que nem seu pai e Luke manteve-se para si, calado até que chegou a escola e esperou que Julie e Calum descessem para dizer:

—Eu não entendo porque eu tenho que ir para o acampamento.

—Eu sei – disse seu pai, virando-se para encará-lo, todavia os olhos de Luke estavam lá fora, com sua irmã e seu amigo, observando-os observarem-no.

—Eu não quero ir para o acampamento .

—Eu sei.

—E-eu...

Luke olhou para seu pai e as palavras morreram antes de chegar na sua boca, porque... ele não era aquela pessoa que discutia com os pais e era tão estranho fazer aquilo, parecia tão errado, principalmente porque seu pai o olhava calmamente, como se esperasse aquilo, mas...

Mas ele não era aquela pessoa!

—É sua escolha ir ou não – observou seu pai.

—Sim, certo – bufou Luke, revirando os olhos e saindo do carro, porque essa era a maior mentira que já tinha ouvido seu pai dizer.

Diferente do que Julie pensava, Luke sabia que seu pai não mentia porque era errado, mas porque era péssimo nisso – e sua mãe era ótima em perceber e Luke não ficava muito atrás, porque era óbvio para ele que não tinha uma escolha. Ou Luke Hemmings ia ou ia para o acampamento. Não havia não ir, apenas ir por escolha própria ou aparecer magicamente por lá. Luke periferia aparecer no acampamento pelos meios normais, como todas as outras crianças que eram obrigadas a ir.

—O que foi? – questionou Julie quando ele se aproximou. - Eu queria ir lá, mas... – Ela levantou o braço, mostrando que Calum a segurava pelo pulso, impedindo-a de sair do seu lado. – Você está...

—Indo para a festa – respondeu Luke bruscamente.

—Okay – disse Julie lentamente, não recuando ou avançando apenas porque Calum a segurava. E porque estava surpresa. – Tudo bem. – Julie respirou fundo, se lembrou que ele estava irritado e não era nada contra ela, e então lembrou de algo que seria contra ela. – Vamos deixar claro que sem danças com garotas, ok?

—Hã? – balbuciou Luke, surpreso pela mudança do assunto.

—Estamos entendidos? – continuou ela, sem olhar para o seu irmão. Ele podia não estar irritado com ela, mas ela estava com ele. – Não quero ver vocês com gracinhas com essas garotas de vestido rosa. Seria uma afronta contra a minha pessoa.

—Você está de rosa – apontou Calum, satisfeito por não precisar dançar. Com garotas. Ao menos ele tinha uma desculpa convincente.

—Eu sou a exceção! – exclamou, enlaçando o seu braço ao dele e puxando-o para a entrada. – Quando você vai aprender que eu sou a exceção?

—Claro, Vossa Alteza – concordou Calum, estralando a língua.

—Rainha – corrigiu Julie. – Rainha Fada se você estiver se sentindo educado.

—Eu não estou – disse. – Nem você.

—Eu nunca sou – corrigiu ela novamente. – Quando você vai aprender?

 

—Não ouse fazer isso – murmurou Calum suavemente para ela, tão suave que parecia um sopro no seu ouvido.

—Não sei do que você está falando – murmurou Julie em retorno, sobressaltando-se por um segundo antes de voltar a bebericar seu ponche, sem parar de olhar ao redor, tentando não dar na cara que encarava seu irmão do outro lado, totalmente solitário.

Julie queria colocar o queixo sobre mão e suspirar, porque, sinceramente... Ela suspirou mesmo assim, porque aquilo era tão fofo. Aqueles olhinhos de cachorro abandonado, aquela expressão melancólica, a ingenuidade... Era tudo algo que Julie nunca conseguiria imitar, apenas admirar. De longe. Ela suspirou novamente, um pouco triste por não ter herdado aqueles genes e por nunca poder ser fofa que nem seu irmão era naturalmente, nem que ela nascesse de novo conseguiria.

—Não? Você não iria ignorar seu irmão a noite toda?

—Calum... – reclamou ela, arregalando os olhos e fazendo beicinho, porque tentar não matava ninguém. E Julie Hemmings não desistia!

—Julie... – ele a imitou, sem se afetar. – Agora volte lá e puxe seu irmão.

—Eu odeio você.

—Não. – Calum sorriu. – Você me ama.

 

—Oi – disse Luke quando viu sua irmãzinha voltar para ele.

—Nem me venha com oi – disse Julie, revirando os olhos enquanto colocava as mãos na cintura. – Isso é um clichê. Eu odeio clichês.

—Você ama clichês – discordou Luke.

Julie sorriu. Ele estava certo. Quem ela queria enganar? Ela amava clichês! Ela amava completamente clichês. Eram temas repetitivos, mas ainda sim amados por um motivo.

—Oi – disse ela, fazendo-se de tímida enquanto olhava para as suas botas, girando sobre seus calcanhares.

Luke sufocou a risada, mostrando um pequeno sorriso diante daquela imitação barata. Sua irmã podia não acreditar, mas ela tentando ser fofa era fofo. E ele sentia-se aliviado por ela estar ali. E surpreso por ela estar ali. Quem era aquela garota e onde estava sua irmã?

Desviando os olhos por um segundo para recuperar o juízo, Luke enxergou Calum e oh, sim - aquele era o momento perfeito para um "oh, sim", porque oh, sim, aquela garota era sua irmã e aquele garoto era Calum e isso significava que ele não deveria estar surpreso por Julie estar ali.

—Quer dançar? – questionou Luke.

—O que você acha?

—Que não.

—Você está ceeeee...

—Hey – disse Malcom, sorrindo corajosamente por um segundo, mas perdendo-o no outro, pois Julie o olhava sem parar de falar "eeee...". – Tudo... Eu volto depois – decidiu por fim.

—...eeto – terminou Julie de falar, sorrindo. – Certo.

—Eu não volto depois, que tal?

—Melhor ainda – cantarolou ela, acenando.

—Você deveria não ser tão mal educada.

—Calum diz a mesma coisa, e adivinhe? – Luke não precisava. – Eu não me importo!

—Eu acho que ele tem uma queda por você e...

—E eu deveria ser mais educada? – completou Julie, cética. – Se ele tem uma queda por mim é bom eu acabar logo isso e ser eu mesma e não dá falsas esperanças a ele. Você quer que alguém se apaixone por mim ou pela idéia de mim? Você quer se apaixonar por alguém ou pela idéia que você tem dessa pessoa?

—Julie – disse Luke simplesmente, porque não tinha mais nada para se dizer, porque tudo que sua irmã disse era a mais pura verdade e Luke não gostava de dar crédito de veracidade a ela, porque era como se retirasse da sua própria conta, mas mesmo assim ele precisava dizer algo. – Julie.

—Julie – disse Julie, fazendo caretas enquanto tentava levantar uma sobrancelha de modo inquisidor.

—Julie – disse...

—Malcom? – surpreendeu-se Luke. O que ele estava fazendo ali de novo?

Sua irmã balançou a cabeça ao mesmo tempo que o não-Malcom, sem se virar para olhá-lo, e ambos disseram juntos:

—Eu/Ele não sou/é o Malcom.

Luke inclinou-se sobre as pontas dos seus dedos, avaliando o não-Malcom, procurando algo que... que não fosse idêntico ao Malcom, mas, da cabeça aos pés, de todos os ângulos que ele olhasse, Marcus era idêntico a Malcom – ambos eram gêmeos, gêmeos idênticos e não fraternos como ele e Julie, e... E Luke não conseguia enxergar nada para distinguir Marcus de Malcom e/ou vice-versa. E como Julie conseguiu?

—Como você... Como você sabia? – questionou Luke. – Eles são tão... parecidos.

—Parecidos? – ecoaram os dois. – Eles/Nós não são/somos nada parecidos.

—Oh – disse Julie, impressionada. – Será que eu e você não somos os verdadeiros gêmeos, Marcus?

—Ou talvez estejamos tão apaixonados que já estamos completando as frases uns dos outros? – ofereceu Marcus, com um sorriso encantador... E Luke queria vomitar.

—Menos, Marcus – pediu Julie, com um fofo e adorável revirar de olhos. – Menos.

—Certo. Eu exagerei – reconheceu ele. – Aceita essa dança como um pedido de desculpas, rainha?

Julie inclinou a cabeça para o lado e Luke a acompanhou, encarando Marcus incrédulo por aquela audácia na sua frente, sentindo-se incomodado por estar vendo aquilo, por aquilo estar acontecendo, embora soubesse que era sem razão, porque... Bem, Julie era asseuxal. E arromântica, Luke sabia (não importava se ela dissesse o contrário) e nada iria acontecer entre eles.

—Certo – disse sua irmã, surpreendendo-o.

—Eu pensei que você...

—Não – interrompeu Julie, com um brilhante sorriso. – Eu apenas não quero dançar com Malcom. Nada contra seu irmão, Marcus.

—Que nada, estou acostumado – disse Marcus, dando de ombros. – E eu sei que sou um partido melhor.

—Hã... – Julie franziu a sobrancelha, olhando-o completamente sem vergonha. – Não. É só que... – Ela os chamou para mais perto e quando eles estavam mais próximos, sussurrou: - Ele vai me trair.

—Trair? – Os dois garotos recuaram.

—Eu sei disso – insistiu Julie. – Do fundo do meu coração, eu sei disso. E, sinceramente, mal posso esperar por esse momento para mandar cortar a cabeça dele.

—Malcom pode não ser o seu melhor cavaleiro, mas ele nunca trairia... – Marcus parou, ciente dos olhos céticos dos gêmeos Hemmings e suspirou, porque nem mesmo ele podia defender seu irmão idêntico diante de uma traição a Coroa. – Certo, ele trairia, mas... mas...

—Vamos dançar, Marcus – disse Julie num ato inovador de solidariedade.

—Oh, oh, oh – zombou Calum, aproximando-se dele enquanto sua irmã se afastava. Novamente. – Parece que alguém foi trocado.

—Parece que ninguém te chamou para dançar – retrucou Luke em retorno.

—Muitas garotas tentaram – disse Calum.

—Então por que você não está...

—E nem um garoto – relembrou, olhando para seu amigo de um modo que dizia “você sabe o que isso significa”.

—Por que você... Oh – lembrou Luke. Ele sabia o que aquilo significava. Ele havia dito horas antes que sabia.

—É – concordou Calum. – “Oh!"

—Esqueci que você sabia sobre eu saber... – desculpou-se Luke, vendo Julie passar de garoto e garoto. – Urg, eu falando assim parece que você deveria gostar de garotas, que o normal é gostar de garotas, que todos estão indo para garotas a menos que se diga o contrário.

—É – concordou Calum. – Exatamente isso. Por isso cá estou eu, sozinho, sem nem um garoto ter me chamado para sair, porque todos estão com medo de levar um... Ei, eu posso tentar a sorte, não?

Calum se endireitou diante da perspectiva impossível de fazer algo assim, esperando que estivesse sorrindo de um jeito desafiador, embora, nem em sua imaginação, houvesse alguém que causasse uma curiosidade nele que nem em Luke, que nem... Berkeley.

—Bem – interrompeu Luke, sorrindo, e algo desconhecido e novo se agitou dentro de Calum, porque ele sabia o que viria. – Como pedido de desculpa, eu posso... Berkeley?!

Berkeley, pensou Calum e disse:

—Berkeley.

—Luke – disse ela. E lambeu os lábios, como se estivesse secos, como se fosse uma pros... Calum recuou diante dos próprios pensamentos e talvez algo na sua expressão tenha mostrando alguma coisa, porque Berkeley disse, num fiapo de voz: – Calum, hã, eu... – Ela olhou de um lado para o outro, de Calum para Luke, e perguntou: – Quer dançar?

—Você não se incomoda, né, Calum? – perguntou Luke, embora já houvesse aceitado a mão de Berkeley.

Eu me incomodo, Calum queria dizer.

Eu não quero ficar sozinho, também era uma opção.

—Não – foi o que ele disse, porque...

Calum suspirou, vendo seu melhor amigo e sua única companhia se afastar, porque, somente porque, Luke tinha os melhores olhos quando queria algo e Calum não podia dizer “não” a ele! Ainda bem, para sua sorte, aquele era Luke e ele não perceberia ou se aproveitaria desse fato que nem sua irmã, porque Julie... Julie tinha outros métodos.

—Vamos dançar, Calum – ordenou ela, puxando-o pela mão e guiando-o.

—Você deveria pedir – aconselhou ele, deixando-se guiar. Julie não pedia, ordenava, então era claro quem mostrava como se dançava... embora parecesse que eles estivessem num tango, indo somente em uma direção. Para o lado, para o lado, para o lado...

—Você iria dizer “não”?

—Não.

—Então... – Julie não entendeu o ponto.

—É educado, você deveria ser educada.

—Pff – zombou Julie, rindo. – Você deveria saber que... Berkeee – ela não se lembrava do resto e seu fôlego acabava pelo “eee”. – Beck – decidiu por fim, sorrindo por ter chegado ao seu destino. – Você poderia... – sugeriu ela, sem realmente dizer o que queria, sorrindo muito docemente para Luke ter certeza que era uma armadilha.

—Claro – concordou Berkeley, separando-se de Luke para que Julie dançasse com o irmão, mas...

Julie não pegou a mão que Luke lhe oferecia, ela pegou a de Berkeley e saiu, girando e girando e girando, girando até que estivesse bem longe dos seus garotos e aquela garota não pensasse, não ousasse, em dançar novamente com algum deles, girando até que estivesse tonta e Berkeley a olhasse chocada.

—O que nós fazemos agora? – questionou Calum, não realmente surpreendido pelo o que aconteceu.

—O que você acha? – Luke sorriu. E então fez um floreio, oferecendo sua mão. - Aceita essa dança?

Calum aceitou.

E desejou que não tivesse, porque agora entendia a razão de Julie não querer dançar com seu irmão.

Luke dançava mal, muito, muito mal.

E Calum... Calum não via a hora daquela música acabar.


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