Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 31
Pequeno


Notas iniciais do capítulo

Oh, sim, esqueci de dizer que o pc não consertou ainda é estou com o celular, o que significa mais erros do que o normal, qualquer erro não desculpável avise.



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pequeno

CALUM, 9 ANOS.

A luz do corredor era tão forte que queimava seus olhos, que trouxe lágrimas a eles, que quando Calum jogou a cabeça para trás e bateu-a na parede tudo piorou, porque agora ele olhava diretamente para as lâmpadas.

O som do corredor era tão silencioso que Calum se viu batendo e batendo a cabeça na parede, cantando qualquer coisa que não deixasse que aquele silêncio continuasse.

O corredor em si era tão pequeno que Calum se sentia pequeno. Ele era pequeno. Ele era pequeno em comparação a um corredor que parecia não ter fim, cheios de quartos que tinham pessoas como sua irmã ou numa situação pior; ele era pequeno comparado a tudo, a todos, as palavras que Andrew disse.

Calum queria acreditar nelas, nele, mas sentia... mentira. Era mentira.

Mentira, mentira, mentira - os olhos de Andrew diziam que era mentira, os olhos de Calum viam que era.

Ele entrou no quarto e as palavras de Andrew ainda ecoava no lugar, como se ele ainda estivesse naquele quarto, como se Calum tivesse acabado de ouvir aquelas palavras e então esbarrado com o pai dos seus amigos, como se Calum não houvesse sentado no chão e pensando sobre elas, tentando dar tempo para Malia assimilá-las, acreditar nelas.

(Como ele fazia e não conseguia.)

—Ele não disse aquelas palavras para mim, Calum - disse sua irmã, encarando-o assim que entrou, sabendo que ele tinha ouvido, mas Calum não queria ser encarado, não queria ver os olhos dela, as lágrimas, e não queria ouvir a dor na sua voz. - Ele não disse para mim, mas para você. Eu vou morrer. Eu vou morrer - repetiu ela. E sua voz não tinha medo, não tinha lágrimas, só... vazia. Dormente. Anestesiada.

Calum a encarou e antes que percebesse estava subindo na cama, sentando ao lado dela, porque sua voz podia parecer bem, mas ela não estava. Ele sabia, sentia, e não podia aceitar.

Ele era pequeno e sua irmã devia se sentir ainda mais; ele era pequeno e tudo bem em ser pequeno, não existia problema nisso, o problema estava em deixar isso ser um problema. Ele era pequeno e daí? Ele era pequeno e iria continuar ao lado da sua irmã, ele faria com que ela fosse feliz até o último dia da sua vida. Ele era pequeno e faria todos os dias valer a pena.

—Nunca vá embora - sussurrou Malia numa súplica.

—Eu não vou - prometeu Calum, envolvendo os braços ao redor dela e puxando-a para si.

Perto, tão perto, que Calum sentia sem fôlego, mas ainda assim tão longe.

—Eu sempre estarei com você. Eu sempre farei parte de você - disse Malia rapidamente, como se fosse desaparecer a qualquer momento no ar. - As pessoas que te amam...

—Maliaaa - reclamou Calum. Ele sabia o que viria depois e ouvir aquilo, naquele instante, seria uma sentença. - Por favor. Sem citação a Rei Leão. De novo. Novamente. Pela terceira vez. Ou quinta. Ou o que for. É demais.

—Do pó nascemos e ao pó voltaremos - continuou sua irmã, ignorando-o. - Você consegue imaginar isso? - Calum não... Calum não queria. Ele não queria imaginar sua irmã voltando ao pó. - É fascinante! - exclamou ela, e Calum a encarou chocado, incrédulo do que ouviu. O que tinha de fascinante? - Você nunca estará realmente morto. Você não desaparece, apenas se transforma. Você vira uma flor e depois é o alimento da borboleta, e depois você faz parte da borboleta... Você entende o que eu digo? - questionou Malia, movimentando os olhos e as mãos, nunca os parando quietos. Ela nunca parava quieta, era difícil imaginar um dia, um momento, que iria. Calum não queria. - Você nunca está realmente só! As pessoas que te amam e que você ama sempre existirão em você. Elas nunca desaparecem. É fascinante!

Isso não era fascinante, decidiu Calum. Fascinante era ver sua irmã sorrindo. Fascinante era ver os olhos de sua irmã brilhando. Fascinante era ver sua irmã viva. Fascinante era o agora, o hoje, o esse momento.

—Malia?

—Hum?

—Cale-se - provocou Calum, empurrando-a.

Ele gostava do agora, do hoje, desse momento, porque sua irmã estava sorrindo e não chorando, porque sua irmã estava com ele, porque sua irmã estava viva e parecia que sempre estaria.

—Você sabe o que isso quer dizer? - Malia não se calou.

—Nãoooo - reclamou Calum, mas começava a sorrir. Era difícil não sorrir. Ele nunca a viu tão viva. (E morta.) Tão ela.

—Eu te amo e sempre te amarei - disse sua irmã, séria. - Eu estou com você e sempre estarei.

—Por que somos borboletas? - questionou Calum, desistindo de esconder o sorriso.

Malia merecia. Malia merecia todos os sorrisos dele e Calum precisava que ela tivesse mais do que merecia, porque, mesmo que não fizesse sentido, todos ainda não seria suficiente, nunca haveria o bastante; nunca teria um limite para o que sua irmã merecia e Calum nunca conseguiria ultrapassá-lo. Nem teria a chance.

—Porque somos borboletas - concordou.

E por um momento, por hoje, por agora, foi suficiente.

Foi fascinante.

Calum se sentiu grande.


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