descanse

setembro, uma semana depois

—Você precisa se concentrar no jogo, Luke - disse Calum não pela primeira vez.

—O que eu preciso é descansar - resmungou, com as mãos nos joelhos, cansado. Quando Calum iria cansar? Eles já estavam ali quase há duas horas! - Caluuum - pediu.

—O que é? - retrucou ele, virando-se para encará-lo irritado.

—Pausa.

—Nós ainda não estamos nem perto de...

—E nem estaremos se você continuar assim - disse Luke.

—Se quiser ir, vá, eu não vou...

—Eu não vou sem você - interrompeu Luke  erguendo-se para vê-lo. - Qual o problema? Ultimamente você está tão... É TPM, não é?

—O que? - A bola caiu das suas mãos e Calum não se mexeu para pegá-la. - Não! - exclamou. - Eu não estou... isso não é...

—Então o que é?

Calum abaixou-se para pegar a bola e saiu batendo os pés até a despensa ao lado, jogando a bola com força dentro do carinho cheio de bolas e arrastando uma daquelas vassouras estranhas de limpar para fora.

—Você não pode me ignorar - anunciou Luke.

—Observe - murmurou Calum.

—Nós precisamos conversar.

—Quem disse?

Luke suspirou, puxando a vassoura das mãos dele para si. Maldito. Teimoso. Cabeça dura. Urg, Luke queria saber porque sentia-se atraído por alguém assim. Ele estava inconscientemente tentando encontrar alguém parecido com a Julie? Porque Calum tinha olhos mais bonitos.

—Vá descansar e beber um pouco de água, eu limpo isso.

—Eu...

—Agora - ordenou Luke, apontando para o banco. - Eu trouxe torta de frango para você. Está dentro da minha mochila. Pegue. E dentro da garrafa térmica tem suco de acerols.

—Você venho preparado para um piquenique? - murmurou Calum, mal humorado.

—Não - cantarolou Luke, entendendo o prazer em irritar alguém que já estava irritado. - Eu vim preparado para o fato de que você nos faria praticar além do necessário.

Calum cortou com as mãos um pedaço de torta e colocou na boca, sem fome, sem vontade, sem querer conversar, mas só foi sentir o gosto do frango cremoso, que sentiu algo próximo de fome crescendo dentro de si... hum, Luke sabia cozinhar. Era difícil ficar sem fome comendo aquilo. Ou com raiva. Principalmente quando Luke tinha feito aquilo para ele.

—Eu - começou Calum depois de um tempo e parou, mastigando e engolindo. E deu mais uma mordida, não sabendo o que dizer.

Ele o que? Sentia muito? Não queria que Luke tivesse sentido-se obrigado a ficar com ele? Sim, Calum não queria, mas estava grato por Luke estar ali com ele e não sentia muito por isso.

Luke continuou limpando, esperando que Calum dissesse voluntariamente o que queria, qual era o problema - Luke conhecia esse tipo e sabia que Calum era pior do que Julie quanto a silêncios. Para fazer Calum falar, fique em...

—O que? - Luke levantou a cabeça. - Você disse algo?

—É só que... - murmurou, sua voz baixando-se até desaparecer. - Eu não acho que vou para a faculdade.

—Você não quer medicina? - Luke apoiou-se na vassoura, observando-o.

—Eu quero, mas... Mesmo que eu consiga passar e entrar em alguma faculdade, não acho que vou conseguir me manter, e eu não queria pedir para - Kora - minha mãe. Por isso, eu quero... Eu queria ganhar uma bolsa por causa do basquete - confessou, se encolhendo, como se contasse algo ofensivo, como se confessasse um pecado.

—Você é bom - disse Luke. - Você consegue.

—Mas não ótimo - murmurou Calum o que realmente pensava, temia. - Existem melhores.

—Você consegue - repetiu Luke. - E, se você quiser realmente isso, Calum, nós vamos dar um jeito. É para isso que serve a família. - Luke sorriu do melhor jeito que achava arrogante, tentando quebrar aquela tensão no ar. - Você pode pagar quando for um médico famoso e rico.

Calum riu, não porque era engraçado, mas porque aquelas palavras o faziam se sentir melhor. Ele não estava sozinho, ele tinha uma família, e ele conseguiria. Eles dariam um jeito.

—Obrigado.

Luke fez uma reverência.

—Disponha. Agora termine de comer, que já estou terminando aqui, e então vamos para casa.