Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 113
Antes




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antes

CALUM, 13 ANOS.

Calum observou Julie na porta, vendo-a olhando para o próprio pulso, para a agulha que perfurava sua pele e mandava soro para sua corrente sanguínea, e ele sentiu-se triste, mais velho do que realmente era, como se mais nada de bom existisse no mundo para que viver valesse a pena.

Calum estava cansado, não estava dormindo direito e... estava cansado. De tudo. De nada. De Julie

Observando sua amiga, Calum sentiu-se irritado por ela estar agindo assim, por não estar sendo a Julie que era, que realmente era, por estar sendo tão fraca e...

Calum a entendia - ele tinha agido do mesmo jeito antes, ele tinha muitas e muitas vezes pensado em morrer, em desistir de tudo, de todos, de si.

E ele sentia-se triste, porque aquela não era Julie, porque aquela não era a garota que amava como uma irmã, e porque Julie o tinha visto daquele jeito - e tinha ficado ao seu lado.

Calum também ficaria ao dela.

—Julie? – Calum aproximou-se, cauteloso. – O que você está fazendo?

Ela não respondeu – Julie não respondia a ninguém e ele não se sentiu especial por isso. Calum sentiu-se sem valor, sem importância. Calum sentiu-se fraco. Calum sentiu a fraqueza de Julie como se fosse sua, a escuridão que parecia estar no coração dela rastejando para dentro de si, tentando fazê-lo desistir, mas ele não precisava ser forte, Calum sabia que não, ele só precisava estar presente.

Calum pegou a mão dela e a apertou, suavemente, para não machucá-la ainda mais.

—É difícil? Dói, não é?

Julie balançou a cabeça, sentindo seus olhos lacrimejarem e sua própria fraqueza, que amargava sua boca. Porque doía. Doía tanto que ela não queria mais. Doía tanto que ela não imaginava um momento que não fosse dor. Doía tanto que Julie já não sabia o que faria se não estivesse com dor.

—Isso quer dizer que você está viva – disse Calum, apertando sua mão. – Que você o amava bastante. E isso – ele apertou a mão dela novamente – mostra que você não está sozinha. Você esteve comigo, Julie, antes. E agora estou aqui por você. Para o que der e vier.

Calum viu o mesmo brilho de antes nos olhos dela, o brilho que se recusava a concordar, que negava qualquer coisa que não fosse a própria opinião – e, apesar dele querer que ela concordasse com a opinião dele, ele ficou feliz por ela não fazer, porque aquela era mais uma prova que nem tudo estava perdido. Sua Julie ainda estava ali.

—Malia – disse, engasgado com o nome dela e sentindo seus próprios olhos lacrimejarem. Quanto tempo não falava o nome da sua irmã? – Ela me disse uma vez que o caminho para felicidade seria longo, mas valeria à pena – recitou, lembrando-se vagamente das palavras que ouviu. – Que existia muitas dificuldades a vista e podia ser que, no fim, você não alcançasse o que esperava, mas isso não significava que é ruim. Que muitas coisas aconteceram no passado, mas não se pode temer o futuro. E, que no fim do arco-íris, sempre tem um pote de ouro.

Calum parou e respirou, tentando normalizar seu batimento cardíaco acelerado. Fazia tanto tempo que ouviu essas palavras, mas ele ainda se lembrava de cada uma, de como se sentiu pequeno e sem esperança e então sua irmã o trouxe a luz, o fez sorrir, o que fez perceber que ele sempre a teria. Não importa o que, não importa como, as pessoas que te amam nunca te deixa, você nunca está realmente só.

—Isso foi algo que Andrew disse uma vez a ela – contou Calum, olhando para as mãos deles entrelaçadas juntas, era mais fácil, era uma prova de que Julie não estava só e nem nunca estaria. Calum não a deixaria. Ele ficaria ao lado dela como havia ficado ao dele antes. Antes, antes, agora. – Antes... Antes que... – Ele engoliu em seco antes de dizer o que todos já sabiam: – Que ela morresse. E você precisa encontrar o pote de ouro, Julie.

Calum levantou a cabeça para encará-la, sem forças, cansado, mas determinado. Ele não acrescentou "por favor", embora sentisse o gosto da palavra, fraco e desesperado, porque sua amiga precisava, sua amiga tinha – se alguém podia encontrar o pote de ouro, esse alguém era Julie.


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