I Will Never Forget escrita por A Souza


Capítulo 5
V




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Demorei a dormir e, quando consegui, tive um sonho terrível onde tio Jorge corria atrás de mim com uma arma. Eu já havia sonhado coisas desse tipo antes e Mark sempre me salvava no final, mas dessa vez ele não estava lá.

No outro dia acordei com a sensação de ter sido atropelada por uma frota de caminhões. A noite havia sido terrível. Eu tive pesadelos um atrás do outro e no último consegui a proeza de cair da cama.

A Coréia não parecia mais tão empolgante.

Não comece Úrsula, você ainda tem uma semana pela frente.

Aquela seria uma longa semana...

XXX

Desci para dar uma volta no parque perto do apartamento e me deparei com Hye Yeong na saída do prédio.

Ela abriu um grande sorriso.

—Bom dia! Eu imaginei que você estivesse sozinha e decidi vir aqui para lhe fazer companhia e lhe mostrar a cidade talvez...

Eu estava confusa. Duvidava muito que ela soubesse de minha história com Mark, mas ainda assim era estranho ver a noiva do amor da minha vida ser gentil comigo.

XXX

—Esta é a melhor cafeteria de Seul, você vai adorar.

Segui Hye Yeong para dentro, fizemos o pedido e sentamos em uma mesa perto da janela.

—Espero que possamos nos tornar ótimas amigas. – Ela disse parecendo animada.

Sorri.

—Eu também espero.

E eu estava sendo sincera. Yi Hye Yeong parecia ser uma pessoa muito boa e amável, não fazia sentido eu não gostar dela só por causa de Mark.

—Então... Como é o Brasil?

—Para falar a verdade, alguns lugares não são lá aquelas coisas, mas eu morava em uma cidade pequena no litoral de Santa Catarina e era incrível. Agora que moro em uma cidade grande sinto falta daquela calmaria.

—Uau! – Ela sorriu. – Eu sempre quis conhecer o Brasil. Yong Woo me contou sobre um lugar chamado Vale Europeu. – Ela tinha um olhar sonhador. – Na verdade, ele me falou sobre várias coisas. É incrível como vocês ficaram tão próximos em um período de tempo tão curto.

Aquilo doeu, mas fingi estar indiferente. Ela continuou:

—Várias vezes vi Sang Woo se referir a você como “noona”. Ainda não consegui essa relação com ele.

Levei um tempo para raciocinar o nome até lembrar que Kim Sang Woo era o verdadeiro nome de Mike.

A conversa então tomou outro rumo, mas isso parecia não importar, acabávamos voltando para Mark.

—Ele alguma vez falou de mim? – Hye Yeong perguntou.

—Sinto muito, eu não lembro.

—Ah. – Ela falou um pouco desapontada. Depois se recuperou. – Bem, não é como se fôssemos muito próximos naquela época, mas eu sou apaixonada por ele desde que tínhamos quinze anos.

Ela parou um pouco e olhou para mim como se perguntasse se deveria prosseguir. Abri um sorriso e educadamente pedi que ela contasse mais.

—Nos conhecemos em uma festa da empresa em que nossos pais trabalhavam. Eu estava com um vestido branco naquele dia, mas derramei suco nele sem querer. Mark me deu seu casaco para a mancha não ficar visível. Depois disso ele continuou sendo muito gentil comigo, ainda assim, parecia haver uma barreira entre nós. Só consegui quebrar isso há um ano e foi incrível. Eu nunca achei que poderia amar alguém do jeito que eu amo ele. E agora vamos nos casar!

—Parece que você ama muito ele.

—Sim. – Ela concordou balançando a cabeça enfaticamente. – Eu o amo mais do que tudo.

XXX

Eu olhava para o rio Han como se ele fosse resolver todos os meus problemas. De repente percebi como fui estúpida em vir para cá. O que eu estava pensando?

Uma lágrima solitária escorreu por meu rosto. Como eu poderia fazer aquilo? Como eu poderia lutar por Mark sabendo o quão verdadeiro era o sentimento de Hye Yeong por ele? Em contra partida, como eu poderia deixá-lo ir se também o amava como nunca havia amado alguém antes? Eu não sabia o que fazer, tudo estava confuso. Então fiz a única coisa que podia no momento: chorei.

—Você não deveria estar chorando sozinha desse jeito.

Virei e me deparei com Mark.

—O que faz aqui? – Ele perguntou.

Voltei a virar para o rio.

—Só estou pensando.

—Está pensando em que?

—Em uma amiga.

Ele emitiu um som afirmativo e ficou calado por um tempo. Depois virou para mim.

—Está frio, você pode pegar um resfriado se ficar aqui. Venha, vou te levar.

XXX

—Sabe, não é bom ficar chorando sozinha na rua. – Ele disse depois de uns cinco minutos de silencio desde que entramos no carro.

—Me lembrarei da próxima vez.

Eu estava me esforçando ao máximo para manter uma conversa normal.

—Da próxima vez? Ok, então vou dizer “não é bom ficar chorando”. Pronto. Agora você não vai mais chorar.

—Tudo bem sr. Kim.

A expressão dele teve uma mudança drástica.

—De que você me chamou?

—Sr. Kim. É este o seu nome, não é? Kim Yong Woo.

Ele abriu um sorriso.

—“Mark” me faz lembrar de momentos difíceis. Quando me chamam de Kim Yong Woo é como se a pessoa realmente me conhecesse. É ótimo ouvir você me chamar assim.

E ele continuou com um grande e brilhante sorriso no rosto.

XXX

*Lucas*

—Corta!

Senti o ar voltar a meus pulmões. Aquela provavelmente seria a matéria mais depressiva do ano.

—Lucas, venha aqui, por favor. – Adilson, meu superior, me chamou.

—Sim? – Me aproximei.

—O que achou da matéria?

—Sinceramente, senhor, eu esperava fazer a abertura do outono como sempre faço.

—Claro que sim. Mas veja bem o problema: aquela é para ser uma matéria feliz.

Fiquei pensando por um tempo.

—Desculpe, senhor. Eu não segui sua linha de raciocínio.

Ele abriu um sorriso complacente.

—Você é um ótimo repórter, Lucas. Mas nas circunstâncias atuais você estragaria a matéria. Eu não sei o que aconteceu, mas você percebe que perdeu o ânimo? Você parece cada dia pior. Por que não vai a um terapeuta?

—Senhor, acho que não preciso disso. Vou ficar bem, eu prometo.

—Confio em você Lucas. Enquanto isso é melhor tirar férias, relaxe e esfrie a cabeça. Volte só no mês que vem.

XXX

Naquele dia me mandaram mais cedo para casa.

Pensei em ligar para Úrsula e gritar dizendo que tudo aquilo era culpa dela, mas esse pensamento fez com que eu ficasse ainda pior.

Cheguei em casa e me joguei na cama. O que eu poderia fazer? Em dias normais, se eu saísse do trabalho mais cedo eu iria direto para o apartamento de Úrsula e ficaria incomodando até que ela jogasse qualquer coisa na minha cara. Por vezes, ela até me chamava quando tinha um bloqueio criativo e eu a ajudava a escrever. Mas sem ela aqui as coisas não faziam o menor sentido.

Puxei o cobertor e fiz uma promessa a mim mesmo: já que eu estava de férias eu iria aproveitar, iria sair, me divertir e para de pensar em Úrsula.

Mas a verdade é que eu estava me fazendo essa promessa todas as noites desde a formatura dela.

XXX

Acordei com o toque do celular às 22:00. No visor estava escrito “Jane Martins”. Aquela não era a irmã de Úrsula?

Atendi e logo vi que ela estava chorando.

—Lucas, eu saí para ir ao mercado e quando voltei minha casa tinha sido assaltada. – Era difícil entender o que ela dizia por causa dos seus soluços. – Eles esfaquearam meu pai, ele está sendo levado para o hospital, mas os policiais dizem que eu tenho que ir à delegacia. Por favor, me ajuda.

Jane parecia ficar mais apavorada a cada segundo.

—Fique calma. Vá com os policiais, eu encontro seu pai no hospital, vai ficar tudo bem.

—Obrigada Lucas. Ah, não fale nada à Úrsula por enquanto.

Coloquei a primeira roupa que encontrei e saí às pressas.

Cheguei ao hospital em cinco minutos e soube por uma enfermeira que o sr. Martins estava em uma cirurgia de emergência.

A cirurgia demorou e Jane já estava no hospital quando o sr. Martins foi, finalmente, levado para o quarto.

—Você tem prova na faculdade amanhã? – Perguntei à Jane.

—Tenho três provas. Não sei o que fazer. E, oh meu Deus, a minha casa foi arrombada! – Ela já estava à beira das lágrimas novamente.

—Eu vou passar a noite aqui. Você deveria ir para a casa de alguma amiga, prometo que ligo quando ele acordar.

Ele ficou pensativa por um momento.

—Acho que ele não gostaria que eu perdesse as provas. – Ela disse por fim. – Muito obrigada Lucas, não sei o que faria se você não tivesse atendido, era a única pessoa disponível no momento... enfim, obrigada.

Jane foi embora e me acomodei na poltrona do acompanhante. Aquela seria uma longa noite…


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