A Pequena princesa escrita por HeartOfCourage


Capítulo 9
O sótão


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!!
Eu sei, fiquei muito tempo sem postar. Sou um desastre. Mas só acabei a escola há uma semana, até aí não tive como escrever o cap. E para dizer a verdade também não estava muito inspirada, mas consegui. Sei que agora a história está meia depré mas isso que aconteceu a Annie é muito importante na historia e é preciso tentar entender a situação dela e o sofrimento. Até porque se numa historia assim que haja um problema e esse vem logo resolvido não tem nenhuma graça certo? Mas posso dizer que a partir do próximo cap haverá finalmente algo que vocês estão com certeza a espera a muito tempo.
Boa leitura!!!



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06 Setembro 1888
Nunca irei esquecer a angustia da primeira noite que passei no sótão. A única coisa em que eu conseguia pensar era que o meu pai, o homem aventureiro e bondoso que sempre fora tão carinhoso comigo, o meu herói, havia morrido.
Pouco a pouco, comecei a ter cognição da realidade á minha volta. A cama era tão dura que não conseguia encontrar uma posição que permitisse ao meu corpo de se relaxar minimamente. O quarto estava tão escuro que quase se podia tocar a escuridão com os dedos e o vento uivava sons estridentes, como aqueles de uma criatura que se queixa.
Miss Hera fez questão de me deixar clara a situação em que eu me encontraria daqui para a frente, para que eu não me fizesse alguma ilusão. Quando passei a frente do meu antigo quarto notei uma nova disposição de novos objetos, o que me indicou que uma nova aluna o estaria ocupando. Na mesa das refeições Rachel ocupava o meu antigo lugar de honor por ser a melhor aluna.
—Annabeth, o teu novo trabalho será dar aulas de italiano e grego ás alunas mais novas, e quando terminares com elas deverás realizar todos os recados postos pela cozinheira e pelas empregadas mais velhas, entendido? Se isso não será comprido saiba que você irá parar no meio da rua. Ah, e antes que me esqueça, que eu não te veja ou venha a saber que você se mantem em contacto com as minhas alunas, percebido?- tinha estabelecido de imediato a Miss Hera comigo.
A cozinheira e as empregadas seguiram o exemplo da Miss Hera, satisfeitas por poder finalmente mandar numa das garotas mimadas e de nariz empinado de que tanto ouviam falar com desdém por serem demasiado mandonas e nariz empinado. Inicialmente tive esperança a minha boa vontade e gentileza fizesse perceber a quem me maltratasse que só procurava uma maneira de ter algo para comer e não mendigar. Mas logo apercebi-me que mais gentil eu era, mais as minhas supervisoras eram exigentes e mal-educadas comigo.
Estava fora de questão que eu continuasse os estudos, porém consegui convencer a Miss Hera que, se não estudasse, em breve iria esquecer toda a matéria que sabia e não teria mais a possibilidade de ensinar ás mais novas como fazia. Ela permitiu então que eu consultasse os livros da biblioteca uma hora á noite por dia, mesmo contra a sua vontade.
As primeiras semanas foram as mais difíceis em absoluto. Entre ordens constantes que me vinham empostas e as maldades que me foram ditas era difícil adaptar-se a este novo "estilo de vida". Mas o pior era a lembrança do meu pai morto, que vinha a tona constantemente, fazendo com que me afastasse um pouco dos outros. Hazel e Thalia tentavam confortar-me por um lado, mas pela ordem dada pela Miss Hera de que todas se afastassem de mim e por serem desajeitadas por não terem experiencias neste campo, isso acabou por não resultar muito, o que fez com que perdêssemos um pouco o contacto uma com as outras. Ainda para mais, um dia, descobri que Thalia tinha sido chamada pelo seu pai, que se encontrava na França, em Marseilles, por alguma razão a mim desconhecida. Ela ficou fora do instituto por três semanas e, quando voltou, acabamos por nos cruzar casualmente sum corredor que se encontrava isolado.
—Annie....- exclamou Thalia assim que me viu.
—Thalia.- respondi.
—É...é você mesmo?- perguntou abismada. Provavelmente perguntara isso á si mesma, pois eu tinha emagrecido muito e ficado pálida.
—Sim, sou eu.
—C-Como.... como você está?
—Mah, não sei. E você?
—Eu... ehm... eu estou bem.- disse ela muito timidamente. Tentando de alguma forma preencher, acabou sem pensar muito bem: -Você está muito infeliz?
Essa foi a bomba. Eu tinha passado todo esse tempo guardando todas as minhas mágoas dentro de mim que acabaram por explodir todas ali, naquele momento.
—O que você acha? Que eu possa ser feliz?- respondi rudemente.
Dito isso, saí dali sem olhar para atrás.
Passaram-se semanas e, sem me aperceber, acabei por sempre mais me fechar em mim mesma. Poucas eram as vezes que me cruzava com Hazel e que tinha a oportunidade de falar com ela, pois nos as duas sempre tínhamos algo a fazer e, quando nos encontrávamos a frente dos nossos quartos todas as noites, íamos logo dormir por estarmos exaustas.
Tornar-me em parte uma pessoa fria e distante revelou-se perfeita como arma para todas as maldades que Rachel dizia sobre mim.
—E pensar que era a garota das minas de diamantes!- exclamava para as amigas quando me via por perto - olhai agora para ela: parece uma mendiga. Eu nunca gostei dela, mas agora eu nem sequer a consigo suportar. Ela olha para as pessoas, sem falar, como se tentasse de alguma forma encontrar uma maneira de as prejudicar!
E assim ela e as suas amigas acabavam sempre por "acidentalmente" derrubar a própria chávena de chá, ou faziam outras coisas parecidas, para que eu fosse obrigada a limpar a frente delas, enquanto elas olhavam para mim com olhar de superioridade.
—Os soldados não se queixam- dizia, e digo para mim mesma- e eu devo me considerar como um soldado em guerra.
O meu orgulho vinha gradualmente ferido, sempre com mais intensidade. As humiliações e a indiferença eram aquilo que mais me faziam abalar, mas sabia que tinha de ser forte. Mas nunca iria ter pena de mim mesma. Sabia que nunca poderia permitir de ir abaixo. Teria de combater arduamente por mim mesma.
Tudo isso me ocorreu enquanto voltava correndo feito uma louca de volta para a instituição, depois de ter ido buscar uma encomenda para Amelia, a cozinheira. O grande problema era que, para além de já ser noite e estar tudo escuro, o saco pesava imensamente e, para completar a minha desgraça, chuvia intensamente.
Depois de entregar a encomenda a cozinheira fui finalmente dispensada. Antes de ir para o quarto consegui achar algo para eu comer e, sem nem sequer ir ler um pouco para estudar, pois estava muito cansada, fui diretamente para o quarto.
Enquanto subi as escadas, ainda toda molhada, pensava no facto de não ter nada com que trocar de roupa e para me secar só tinha um velho cobertor. Tentei de alguma forma me consolar, mas só a ideia de voltar para aquele quarto que me assustava imensamente, não só pelo silencio mas também (ou talvez sobretudo) pelas aranhas que lá habitavam. Acho que a Miss Hera os colocou lá de propósito para mim. Que gentileza da sua parte. Desgraçada.
Mas assim que abri a porta surpreendi-me por o quarto estar iluminado. Um nó subiu ao meu peito quando vi que Thalia se encontrava no meio do meu quarto com uma lâmpada nas mãos. Ela aparentava estar cansada, facto ressaltado pelas olheiras debaixo dos olhos, e desesperada. Os olhos e o nariz ligeiramente vermelhos, como se tivesse chorado.
—Thalia, o que você está fazendo aqui a esta hora? Você tem que ir imediatamente embora! Se alguém descobre você aqui terá problemas muito graves!
—Não! Nunca me importei com isso, não será agora que irei começar. Eu não me vou embora daqui sem antes falar com você.
—Tudo bem.- disse um pouco aflita - o que você quer?
—Annie, eu queria saber... preciso saber... porque você tem algo contra mim e... porque não gosta mais de mim.- disse ela entre soluços e lagrimas que ameaçavam cair.
Naquele instante um nó se formou na minha garganta.
—Eu gosto de você- afirmei convicta - mas muitas coisas mudaram... pensava que também você não fosse mais a mesma.
—Foi você que mudou desde que eu cheguei- protestou Thalia -você não falava comigo e eu não sabia o que dizer ou fazer...
Nesse momento percebi de ter cometido um erro de avaliação e tentei me explicar:
—Eu mudei, claro, mas não no sentido que você acha. Miss Hera não me permite de falar com ninguém e, para falar a verdade, ninguém quer mais falar comigo. Pensei... pensei que... você não quisesse mais me ver e...
Acabei por desatar em lagrimas e Lia abraçou-me com força, que deu-me novas energias e coragem para afrontar tudo o que estava a passar.
—Eu... eu não aguentava mais Annie. Você sabe que sou desajeitada quando se trata de falar com as pessoas de coisas mais serias e sentimentais, mas a verdade é que você pode viver sem mim, mas não o contrario. Você foi a primeira pessoa que me fez sentir o que significa ser amada por alguém. Assim acabei por vir aqui em cima ter com você, para ver se ainda eramos amigas.
—Você é melhor de mim Lia. Eu era demasiado orgulhosa para fazer o primeiro passe. Nesse período comecei a me fechar em mim mesma e a ser muito fria com as pessoas para tentar de alguma forma me proteger. Saber que acabei por ferir também você acabou comigo. Eu nunca na vida lhe desejei algo de mal.
—Isso não importa mais Annie. Eu irei tentar o possível e o impossível para ajudar você, mesmo que não seja muito. Eu bem que queria mas... Miss Hera poderia por você no olho da rua e meu pai não tem tempo e nem vontade de me ouvir e de te ajudar...
—Não se preocupe Lia, sério, eu sei que você fará tudo o que estiver ao seu alcance.
—Como... como você fará a viver aqui?- perguntou ela olhando á volta naquele espaço que eu chamava de quarto, talvez porque a ideia de supostamente ter um me confortasse um pouco.
—Se fingir que estou num lugar diferente... melhor, talvez eu consiga. Para além disso, devo pensar que houveram e há muitas pessoas que vivem em condições muito piores do que as minhas.
Sorri para ela, que correspondeu. Continuamos a conversar um pouco, o que me fez lembrar os momentos que eu e ela passamos antes de tudo acontecer. Isso acabou por me confortar e pela primeira vez depois da morte do meu pai consegui me sentir mais feliz, talvez esperançosa de que um dia tudo irá melhorar.


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Notas finais do capítulo

Leiam as notas iniciais e comentem pleaseee ♥♥♥