A Pequena princesa escrita por HeartOfCourage


Capítulo 7
Hazel


Notas iniciais do capítulo

Algo de que irá mudar completamente a vida de Annie está para chegar... mas o que? E como irá ser a vida dela dali para frente?
Só lendo para descobrir ♥



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4 Maio 1888 

Estava olhando para uma vitrine que expunha bonecas de porcelana muito bonitas. Não que eu quisesse uma, mas olhar para elas me fazia lembrar da minha infância, das risadas alegres de crianças e de todas as histórias que eu inventava quando estava com elas. 

Encontrava-me na cidade, numa bela tarde desta cidade que, pouco a pouco, parecia ser mais interessante. Na verdade, eu tinha vindo com Thalia, mas só quando chegamos percebi que era uma desculpa para encontrar Nico, com quem ela tinha marcado um encontro. Mereço. Assim comecei a vagabundar pelas ruas e acabei por me deparar com essa vitrine, que me encantou. 

—O que uma bela dama faz sozinha pela cidade?- perguntou uma voz rouca atrás de mim, o que me assustou um pouco e arrepiou ao mesmo tempo. Virei-me e me deparei com uns olhos verdes familiares. Era o garoto. Era. O. Garoto. É hoje que eu morro. 

Senti o meu rosto ganhar um tom vermelho e, apercebendo-me disso, fiquei ainda mais ruborizada. Perfeito, agora ele deve me achar uma idiota. Ele, por seu lado, parecia ainda mais perfeito do que eu me lembrava. Seu maxilar quadrado, seus ombros largos, aqueles cabelos rebeldes, os olhos... ah, e os olhos. Ele era tão... 

—Ah, você está se sentindo bem?-- perguntou ele levemente embaraçado. Ai meus Deuses que burra, eu fiquei todo esse tempo olhado para ele feito uma boba, ai o que eu digo agora... 

—Ehm... Sim! Estou bem! Quero dizer, estou ótima, porque não deveria estar? 

Meus Deuses... eu vou me matar, para não ter que me lembrar mais dessa minha burrada... 

—Ah, que bom. Então, não vai responder a minha pergunta?- disse ele com um sorriso galanteador. E eu estou me derretendo todinhaaaa... 

—Ah, eu?- disse exaltada. Não Annie, o papa. Lindo trabalho. Só queria bater na minha própria testa. 

—Eu... meio que foi abandonada pela minha melhor amiga e... estava passeando para matar o tempo... 

—Você está me dizendo que alguém foi capaz de deixar a senhorita sozinha? 

Ruborizei profundamente, mais e mais e mais. Se é que isso seja possível. O meu cérbero estava tão derretido, que não conseguia entender onde ele queria chegar com essa conversa. Ou simplesmente ainda não estava psicologicamente preparada para isso. 

Abri e fechei a boca mais vezes, sem emitir algum som. Ele sorriu mais uma vez. 

—Será que você me permitiria de a acompanhar nesse seu passeio da cidade? Ou lhe fazer companhia enquanto olha para... uhm... bonecas de porcelana? 

Pisquei os olhos mais vezes, incrédula com o que tinha acabado de ouvir. Mas respondi, coisa que surpreendeu a mim mesma: 

—Com todo o prazer. Digo, para o passeio, é claro. 

Ele soltou uma risada gostosa e me ofereceu o seu braço, que eu agarrei logo. Mesmo que o contacto entre nós não fosse muito, conseguia sentir o seu calor e o seu cheiro a maresia, como eu me lembrava do nosso primeiro encontro, mesmo que fosse um pouco estranho, porque ali em Londres não havia mar... 

Olhamo-nos intensamente um para o outro por alguns segundos, enquanto um sorriso genuíno brotava dos nossos lábios, e aí ele disse: 

—Muito prazer, o meu nome é... 

Acordei de repente com o barulho de algo que caiu. Olhei confusamente pelo meu quarto, tentando perceber qual tinha sido a origem do som indesejado e me deprimindo pelo sonho não ter sido algo de real. Sim, essa é a minha sorte. 

O meu olhar se pousou sobre uma garota, que deveria ter a minha idade, que apanhava rapidamente os cacos de um vaso que, pelo que percebi, ela tinha partido. Observei-a por um segundo. Ela colhia os pedaços de vitro a uma velocidade incrível, sem tomar algum cuidado. Se ela continuasse desse jeito, iria se cortar. 

—Se continuar dessa maneira você irá se machucar.- disse. 

Ela levantou instantaneamente o olhar, que mostrava o quanto ela estivesse extremamente apavorada. Os meus pensamentos voavam rápidos, tentando entender o ocorrido. Ela tinha a pele com uma coloração que eu pessoalmente achei muito bonito nela, mas que era razão de descriminação para as pessoas que a tinham. Era escura. E ela estava vestida bastante mal, o que me fez deduzir que se ela se encontrava aqui, neste instituto prestigiado, só poderia ser uma criada. E pelo olhar dela, senti que ela já passou por muita coisa ruim na vida, e eu tinha quase a certeza que uma das principais culpadas fosse a Miss Hera. 

Ela continuou o que estava fazendo sempre mais freneticamente, murmurando repetidamente desculpa e implorando para que eu não contasse nada á Miss Hera. Então era isso. Ela tinha medo do que aquela vaca poder-lhe-ia fazer. 

Aproximei-me dela, abaixei-me e peguei nas mãos dela, interrompendo o seu trabalho, e acariciei-as carinhosamente. Fixei-a nos olhos por um momento, sentindo uma onda de raiva invadir o meu corpo. Como era possível que alguém chegasse a temer tanto uma pessoa? Até aonde o ser humano era capaz de estender a própria crueldade? 

Deixei os meus pensamentos. Agora, era mais importante ajudá-la. 

—Hey, se acalme, eu não vou contar nada. É uma promessa. 

Isso pareceu acalma-la um pouco. 

—Eu me chamo Annabeth Chase. Qual é o seu nome? 

—H-Hazel. Hazel Levesque.- respondeu ela, depois de um momento de silêncio. 

—Me diga, Hazel, o que estava fazendo no meu quarto? 

—Miss Hera ordenou-me de trocar a água dos vasos onde estavam as flores de todos os quartos... eu peço imensa desculpa, não queria acordar a senhorita. Faço aquilo que você quiser, mas, por favor, não conte nada a Miss Hera. 

Ela ainda não confiava em mim. 

Nem tive o tempo de rebater, que ela pegou os cacos restantes, se levantou e foi-se embora para continuar o seu trabalho. 

... 

Já era noite funda. Todos já estavam dormindo fazia tempo. Toda a cidade já estava parada há horas. Menos eu. 

Não conseguia tirar da minha cabeça a expressão terrorizada daquela garota. Eu queria ajudá-la, porque era evidente que era isso que ela necessitava. Isso e muito mais. Mas, ajudá-la de o que? E como? 

Com a intenção de me acalmar um pouco, para ver se conseguia adormecer, levantei-me e fui ao banheiro refrescar-me um pouco com água gelada. Fiquei ali um bom bocado, até decidir de regressar no meu quarto. Mas, assim que abri a porta, vi uma pessoa passar pelo corredor. Reconheci-a imediatamente. Era Hazel. Sem pensar, decidi segui-la, curiosa de saber o porque de ela estar acordada á aquela hora. Notei que ela começou a subir umas escadas que estavam no fundo do corredor, que levavam para o sótão. Eu nem sequer sabia que havia um sótão. Continuei a andar atrás dela. Subi as escadas ás escuras, não vendo nada dessa forma. Mas, segurando-me ao corrimão, senti que a um certo ponto esse não era mais feito de madeira prestigiada mas... de pedra. Que estava muito fria por sinal. Quando cheguei em cima, vi a tempo em qual porta Hazel havia entrado, antes que ela a fechasse. Segui o caminho até a porta, parando de repente antes de a abrir. Isso não era invasão de privacidade? Sabia que era errado, mas era a única forma que havia para puder falar com ela. Era a primeira vez que a via no instituto, e ela estava sempre fazendo alguma coisa a serviço da Miss Hera, o que não me permitia de falar com ela. E falar com os criados em público era algo que era estupidamente proibido. 

Decidi então de entreabrir a porta e comecei a espreitar dentro do quarto. Se é que aquilo se pudesse definir um quarto. 

O espaço era muito pequeno e gélido. Era tudo feito de pedra e as únicas coisas que mobiliavam o quarto eram uma velha cama com um coleção que só a vista parecia ser feito de pedra, um tapete velho e sujo e um pequeno armário, velho e todo partido. Hazel estava sentada no chão e tinha acabado de acender uma vela que iluminava muito fracamente o quarto. Ela parecia estar muito cansada. 

Nesse momento ela virou-se na minha direção e olhou-me surpresa, não percebendo o porque de eu estar ali. Entrei rapidamente e fechei a porta. 

—Desculpe-me se estou incomodando... entendo que seja tarde e que você queira dormir mas, eu vi você e acabei por segui-la e peço desculpa por isso. 

Ela continuava olhando atônita para mim, sem saber o que dizer. 

—Hey, Hazel... entendo o porque de você ter medo de mim mas, acredite, você não deve. Eu só quero te ajudar. Só quero saber o que é que aquela bruxa da Miss Hera faz com você. 

Ela hesitou por um momento, sem saber se confiar ou não. Mas depois os nossos olhares se encontraram intensamente, parecendo de repente uns extremamente cúmplices dos outros. E foi assim que ela me convidou a sentar em cima do colchão, o que confirmou a minha teoria sobre a sua dureza, e começou: 

—Os meus pais morreram quando eu tinha 10 anos. Eu morava numa pequena aldeia na Africa e, depois do acontecido, mandaram-me aqui como escrava. Um dos navios que transportavam milhares de escravos parou em Brighton, onde eu consegui fugir. Comecei a mendigar pelas ruas e, 2 anos depois, acabei por vir parar aqui em Londres. Miss Hera encontrou-me uns meses após da minha chegada, obrigando-me a vir trabalhar para ela. Dali até ontem, trabalhei todos os dias nos subterrâneos, na cozinha, onde ajudava a preparar a comida. Enquanto vocês, alunas do instituto, frequentavam as aulas, eu limpava os vossos quartos. Por isso foram raras as ocasiões em que encontrei vocês senhoritas. Isso durou 4 anos, até ontem. Desde ai ela permitiu que eu trabalhasse para vocês, como criada, e que continuasse a limpar os quartos. Foi por isso que eu tive medo que você dissesse algo a Miss Hera. Não quero voltar lá em baixo nos subterrâneos. Eu muitas vezes passava lá dias inteiros sem ver a luz do dia e... 

A esse ponto ela já derramava lagrimas grossas. Instintivamente apertei-a num abraço e prometi-lhe, a ela e a mim mesma, que a situação dela iria melhorar.


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Notas finais do capítulo

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