A Pequena princesa escrita por HeartOfCourage


Capítulo 5
Piper


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura♥ Espero que gostem



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3 Abril 1888 

Já se tinham três dias, mas ainda não tinha conseguido me reencontrar com o garoto da cidade, mesmo tendo ido a cidade nos dois dias anteriores. Isso me deixou bastante abalada, mas talvez um dia conseguiremos nos ver outra vez, se o destino nos permitir. 

Thalia, por outro lado, parecia poder explodir de um dia para o outro com tanta felicidade. Desde o seu passeio com Nico, que se revelou ser muito cavalheiro e bem educado, mas sobretudo divertido, ela parecia encantada com qualquer coisa que o rapaz fizesse ou dissesse. E eu estava muito contente por ela, mesmo que agora ela falasse só dele. Nico daqui, Nico dali... é, vocês entenderam. 

Estávamos na aula de história, e do meu lugar conseguia ver perfeitamente a atenção de Lia toda na folha dela, enquanto desenhava coraçõezinhos. Eu até consegui ver os coraçõezinhos nos olhos dela, credo. Será que é essa a sensação de se apaixonar verdadeiramente por alguém? 

Não tive tempo de continuar o meu raciocínio, pois a minha atenção foi chamada pelo tom de voz da professora Roberts, que corria o seu olhar maléfico por todas, pensando em quem perguntar algo. 

—Muito bem senhoritas,- começou ela - vamos ver quem seguiu as aulas com a devida atenção. 

De repente o seu olhar pousou-se sobre Thalia, que estava totalmente absorta nos seus pensamentos que, tenho a certeza, não eram sobre história. 

—Senhorita Grace, com certeza você saberá responder a minha pergunta.- disse ela. Eu até podia ver uma áurea maligna á volta dela, assim como Rachel naquele momento. Víboras. 

—Poderia explicar no que se baseia o Tratado de Tordesilhas? 

Um segundo de silêncio permaneceu naquele momento. Todos esperavam que ela dissesse outra vez alguma parvoíce, por não conhecer a resposta. Mas Thalia surpreendeu todos com um sorriso de confiança. 

—O império português e aquele espanhola tentaram mais do que uma vez a fazer tratados, que estabeleciam onde estes podiam estender as próprias navegações a fim de descobrir novas terras. Em 1479, com o Tratado de Alcáçovas, dividiram o mundo em dois hemisférios: a norte, para a Coroa de Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. 

Porém mais tarde, em 1493, o Papa Alexandre VI estabeleceu uma nova linha de demarcação com a Bula Inter Caetera. As terras descobertas situadas a Oeste do meridiano, que veio definito como raya, pertenceriam a Castela; aquelas a Leste a Portugal. 

Enfim, João II de Portugal, pouco agradado os termos da Bula, conseguiu abrir negociações com a Coroa de Castela para mover a linha mais para oeste. Estes aceitaram, pensando que não teriam nada a perder, assinando assim o Tratado de Tordesilhas em 1494, que estabelecia a nova posição da raya. Dessa forma, a Coroa de Portugal conseguiu com que as novas terras descobertas naquela época só pelo navegador Pedro Álvares Cabral, as quais iriam formar o Brasil, lhes pertencesse de direito.- concluiu Thalia com um sorriso triunfante. 

Todos estavam abismados, menos eu, que estava simplesmente orgulhosa dos resultados da ajuda que eu vinha dando há algum tempo. Lia virou-se para mim com um olhar de agradecimento, enquanto para as outras lançava um olhar vitorioso. 

Mais tarde, quando nos encontrávamos na sala de estar, estava conversando com Thalia, enquanto outras bebericavam chá, falavam umas com as outras. Rachel, por sua vez, divertia-se a mandar a coitada da criada para frente e para trás com os seus pedidos. 

Porém a nossa atenção foi chamada pela Miss Hera: 

—Queridas senhoritas, gostaria de vos fazer um comunicado. Durante a tarde de hoje, passarão o tempo com as senhoritas mais jovens desta instituição, para ajudá-las a introduzirem-se num ambiente cheio de educação e classe. 

Assim, após o almoço, começamos a tarde com as meninas. Tinham todas dos 7 aos 13 anos: as mais pequenas eram mais propensas a ficarem no próprio cantinho ou a falarem pouco, por causa da timidez. A parte divertida era ver Miss Hera a tentar afastar as garotas de Thalia, tendo medo que ela as influenciasse de qualquer forma com o seu jeito. 

A um certo ponto pedi licença para ir ao banheiro, para apanhar um pouco de ar e..., bem, vocês sabem qual a outra razão. 

Mas, uma vez que cheguei a destinação, ouvi um choro baixinho. Abri a porta e a cena com que me deparei era de cortar o coração: uma menina morena, que deveria ter uns 7 anos, estava sentada no chão, enquanto grossas lagrimas corriam dos seus olhos caleidoscópicos por todo o rosto. Assim que ela me viu, se levantou rapidamente e limpou a cara com a mão para apagar os rastos do choro e suplicou desesperada: 

—Por favor senhorita, não diga a ninguém que estava a chorar sentada no chão! 

Eu nunca faria algo do género: provavelmente a Miss Vaca Hera iria inventar algum castigo e horas a mais de aula de etiqueta. 

Fechei cuidadosamente a porta á chave para que ninguém entrasse e aproximei-me á garotinha, que recuou até encostar á parede. 

—Calma, não se preocupe, eu não lhe quero fazer algum mal e não vou dizer nada á ninguém. Mas me diga, como se chama?- perguntei, enquanto me aproximava lentamente. 

—Piper McLean.- respondeu ela com uma voz tremula e baixa. Baixei-me até a tua altura e limpei o seu rosto com os dedos. 

—Me diga, o que se passou? Porque você estava chorando? 

Ela abaixou o rosto, mordendo os lábios, sem saber se me contar ou não. Acariciei os seus bracinhos, tentando lhe passar um pouco de reconforto e carinho. 

—Você pode confiar em mim. 

Dito isso, ela convenceu-se que podia falar comigo, e começou: 

—Foi aquela menina..., acho que se chama Rachel. Ela começou a falar sobre como sua mãe é bonita e elegante, dizendo que é aquela com mais classe de todas. Acabou por me ver e perguntar como era a minha mãe.- a esse ponto ela abaixou o olhar novamente e as lagrimas ameaçaram cair novamente. 

— Ela fez isso porque soube que eu era uma McLean e a minha família tem um com comércio de vestidos e tecidos de alta qualidade. Eu respondi que não me lembrava dela pessoalmente, pois ela morreu quando eu era muito pequena, mas que era uma mulher muito bonita, por aquilo que diz o meu pai e pelos quadros que temos dela.- a esse ponto a garotinha já chorava novamente. Respirou fundo algumas vezes e eu segurei-lhe forte as mãos. Prossegui: 

—Ela disse que com certeza não chegava aos pés da mãe dela, e que ela deveria ter se matado pelo desgosto de ter uma filha tão feia como eu. 

A esse ponto ela soluçava violentamente e instintivamente envolvi-a num abraço reconfortante. Dentro de mim havia um misto de raiva e compaixão que lutavam um com o outro naquele momento. Afastei-me um pouco dela e olhei-a fixamente nos olhos. 

—Hey, Piper, não chora. Pessoas como Rachel não merecem que uma garotinha com um bom coração como você perca tempo por causa delas.- não sei porque, mas estava me sentindo como se fosse a irmã mais velha dela, e naquele momento só a queria fazer sentir melhor. 

—Sabe, eu também não cheguei a conhecer a minha mãe, pois ela morreu ao dar-me á luz. Por muitos anos senti-me culpada pela sua morte, ainda para mais todos continuavam a repetir como ela fosse uma mulher extremamente bonita e sabia. Punha-me sempre á prova comigo mesma para chegar a ser uma pessoa incrível como ela era e, sinceramente, ainda tento fazer isso.- nesse momento, os olhos grandes dela estavam totalmente concentrados em mim, enquanto os meus começavam a umedecerem-se. 

—Mas, sabe uma coisa? E u tenho a certeza que, nesse momento, elas estão aqui connosco e estão muito orgulhosas por aquilo que nos estamos a tornar. Nos conseguimos viver até aqui sem a ajuda delas, sem as dicas que uma mãe dá sempre á própria filha. Sem os ensinamentos delas. Nós somos fortes, Piper. Quero que você saiba que esta não vai ser a ultima vez que tentarão te ferir, e você terá que não se fazer magoar por causa delas. Não será fácil. Nunca o foi. Mas eu estou aqui para te ajudar. Você não tem que passar por isso sozinha. Nós não temos que passar por isso sozinhas. E você não é nada feia, a Rachel só tem é muita inveja de você. Tenho a certeza que você se tornará numa bela mulher que deixará a própria mãe muito orgulhosa. 

Assim que conclui, a garotinha abraçou-me forte, enquanto murmurava algumas palavras de agradecimento. Eu, invés, deitava lagrimas de alívio. 

Alívio por ter, pela primeira vez, convencido a mim mesma que não era a culpada pelo acontecido á minha mãe e que ela, neste momento, estava me apoiando nas minhas decisões, contente pela pessoa que me tinha tornado.


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Notas finais do capítulo

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