O Que Veem Os Olhos escrita por Isa Quintilio


Capítulo 1
O Que Veem Os Olhos


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!!

Conto novinho saindo do forno, espero que gostem!!



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Era ela e mais ninguém. De pé no que parecia ser uma pedra, Morgana mantinha sua cabeça erguida na esperança de que, em algum momento, pudesse ver algo que não fosse o céu negro como petróleo pairando sobre si.

Naquele mundo preto e branco, sentia-se como se fosse um traço fora do imenso e abstrato desenho que havia ao seu redor. Nunca encontrara outra criatura senão sua própria sombra branca projetada no negro e confuso chão de formas geométricas logo abaixo de seus pés descalços.

Por um momento pensou sentir uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Mas que rosto? Morgana não possuía um, não passava de uma silhueta.

Suspirou, ou pelo menos fez algo parecido com isso, e quando já estava quase sentando-se mais uma vez para descansar, um pequeno ponto, desforme, encarava-a muito, muito distante dali. Será que todo aquele nada a fizera ver coisas? Ou será que havia realmente algo ali? Aquela ideia a deixou eufórica. Juntou toda a disposição que ainda tinha e saiu correndo em direção ao horizonte.

Morgana correu por minutos, horas, ou talvez dias. Não sabia dizer ao certo, mas o fato é que correra o máximo que pôde, e mesmo quando achou que já não podia, continuou correndo.

O chão de formas incompreensíveis machucava seus pés, mas aquilo de forma alguma foi um empecilho. E quando passou o que parecia ser uma eternidade, enfim chegou ao seu inacreditável destino.

Encantada, se deu conta de que estava diante de uma imensa árvore, tão alta que parecia se fundir com o céu. Era imponente e majestosa, um conjunto perfeito de traços que formavam o mais belo desenho que Morgana um dia poderia pensar existir. 

E que fantástico! Sua copa era toda feita de rostos, cada um de um jeito, de uma cor, com um semblante próprio, sem nunca parecer com algum outro que havia ali. E eles pareciam vivos! De cada nariz de cada rosto saía uma frágil brisa branca, iluminada, que chegava em Morgana como o ar mais puro que ela já tivera contato.

Sentiu uma necessidade imensa de tocar neles, e sem hesitar começou a escalar a árvore. Subiu o suficiente para alcançar o rosto mais baixo e ficou impressionada com a suavidade da pele delicada. Gostou daquela situação e apalpou com um pouco mais de força aquela superfície inexplorada. Mas a falta de equilíbrio chegou sem aviso e a fez cair, levando o rosto consigo.

A princípio ficou assustada, receosa, vendo uma cavidade côncava por trás dos olhos, nariz e boca. Será que tinha quebrado aquele objeto tão lindo? A culpa pesou sobre seus ombros.

Mas depois lhe passou uma ideia e, lentamente, pegou o rosto, levando-o até onde deveria ser o seu próprio, e qual não foi sua surpresa quando ele encaixou perfeitamente? E não apenas isso, mas agora Morgana podia sentir o ar entrando em seus pulmões. Só que aquilo não era tudo, o que mais a encantou foi que, com seus mais novos olhos, pôde deslumbrar um vasto, colorido e belo mundo à sua frente.

Chorou, e dessa vez as lágrimas eram de verdade, sensibilizada pelos novos e lindíssimos traços que dançavam ao seu redor. Aquele era, definitivamente, o desenho mais perfeito que existia, o desenho da vida e dos sentimentos que ela acabara de ganhar.

Olhou para a árvore, os outros rostos eram ainda mais belos do que antes, e sorriu. Sorriu. Se perguntou se atrás de cada uma daquelas faces havia um mundo diferente, e decidiu que queria experimentar a todas. Mas naquele momento, sua vontade era de desfrutar aquele rosto que se fazia presente, e sem pensar em mais nada, saiu correndo para longe, experimentando cada nova cor e cada nova textura que cercavam seu mais novo mundo.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar o que acharam. Além de alegrar o coração da autora, críticas construtivas nos fazem melhorar e crescer. :D