Adão e Eva, do inferno ao paraíso escrita por Paloma Her


Capítulo 8
O encontro dos amantes


Notas iniciais do capítulo

E Alain começou a pestanejar em forma engraçada. Depois a abraçou com olhos brilhantes e lhe disse:
—Eu sempre cuidei de você, pois sou seu pai... Sua mãe sofreu muito com James, e um dia ela chegou aqui em busca de consolo. E você é fruto desse encontro. Eu te conheço desde que você nasceu... Fui nesse hospital com todos os nossos amigos, só para despistar James... Ele nunca soube de quem levou os chifres... Ele era um enganador, filha. Sempre teve amante... Sempre...



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Quando Dimitry Vladimirovich e Andrei Sergueyovich pediram “asilo político” na Itália, Ludmila e Sergey Nicolaivitch em Moscou se abraçaram emocionados. Seu garoto estava finalmente a salvo. Brindaram com vodca, numa festa particular só deles, e se enfiaram na banheira, falando para si mesmos que a vida estava finalmente perfeita. Nunca acreditaram que ele tivera uma parada cardíaca, embora Andrei jamais falasse outra coisa diferente.

Oscar, por sua vez, foi enviado a trabalhar numa empresa elétrica. A KGB não necessitava mais de suas denúncias. Ele continuou sendo membro do partido, pois os camaradas eram amigos de verdade. A podridão na União Soviética estava nas grandes esferas governamentais. Entre os chefes da KGB, entre os generais do Kremlin, mas nas células do partido comunista estava apinhado de pessoas como ele e seu pai. Sonhadores. Eternos idealistas de que o comunismo era o melhor sistema social da terra.

Enquanto isso, em Roma, Andrei Sergueyovich era rodeado de inúmeros periodistas, fotografando-o, falando atropeladamente, tentando puxar-lhe uma história escabrosa. E ele só articulou o que pensava. Que na União Soviética o povo era escravo do Estado, que não havia liberdade para viajar para fora do país, que o Kremlin era corrupto, pois havia regalias especiais, e que o ideal de Lênin havia sido enterrado fazia muito tempo. Falou que ele era comunista, mas verdadeiro. Queria um mundo onde milionário e miserável desaparecem, mas com liberdade, pois os homens também possuíam asas como os pássaros. Gostavam de voar.

Depois disso, ele converteu-se na celebridade mais famosa da Itália. No assunto do momento. Viajava de cidade em cidade. Frequentava as mais lindas festas, ia para desfiles de moda, vernissages, para concertos, onde sempre havia um chefão da máfia, que devia rastrear. Sentava perto, lia sua mente, e, em seguida, enviava para Moscou.

Mas, em todo lugar também havia “mulheres”. Milhares delas. Cartas delas. Presentes delas, pois na Itália também havia um ar de orgia romana. E enquanto Dimitry Vladimirovich colecionava amantes, Andrei continuava indiferente a todas elas. O presente repartia-os com algum mendigo de rua. A flor enviava-as para alguma igreja. O bilhete respondia pessoalmente, falando que infelizmente ele era um homem comprometido.

Foi assim que sua fama de “gay” se espalhou como um raio. 

Repórteres inventavam fofocas, e o fotografavam com camaradas do partido comunista italiano, apontando-o como “possível caso amoroso”. Para cúmulo ele não podia puxar brigas, pois o trabalho de espionagem exigia sangue frio. Lidar com a Máfia era enfrentar a morte cara a cara. Se fossem descobertos, ele e Dimitry Vladimirovich morreriam com uma chuva de chumbo, pois nada era tão impiedosa quanto a “vendetta italiana”.

Em pouco tempo Andrei descobriu que as famílias mafiosas dominavam esse país desde os tempos medievais. Eram donos de todas as riquezas, dominavam o povo através do medo, na verdade a Máfia italiana e a KGB russa eram idênticas. Ambas faziam o mesmo papel, cada uma em seu país. Dilapidavam fortunas, enquanto os pobres da Itália passavam fome.

Andrei estava tão enojado, mas tão enojado, que mudou de tácticas. Numa visita a Roma, ele sentou no chão, na sacada de seu quarto de hotel, e chamou seu espião espiritual.

Jesus chegou na hora. A seguir, perguntou-lhe, com uma voz tênue:

— Fala, pai... O que queres...

— Nomes... E quero endereço fixo, pois vou começar a matar com balas telepáticas...

— Legal, pai! Gostei de ouvir! Eu fiz isso durante mil quinhentos anos. Vai ser tiro e queda! Vou te colocar também o nome do marido da mãe. Esse degenerado está na hora de limpar a área. Mas vai morrer muito mais gente do governo italiano do que mafioso... Têm uns 50 juízes que os protegem...

— Coloca todo mundo, filho...

A revolução entre juízes e mafiosos italianos ficou conhecida em detalhes através da imprensa, e permaneceu marcada como um bom exemplo para o resto do mundo. Ela mostrava como se destrói um câncer dentro da sociedade, e como tudo é possível quando os homens de boa vontade decidem enfrentar o mal cara a cara.

Os camaradas em Moscou estavam tão eufóricos, que Dimitry Vladimirovich recebeu ordens de viajar para a América, e repetir tudo mais uma vez. Mas desta vez com uma camarada nicaraguense, que o levaria até as Máfias colombianas. Agora, Andrei continuaria sozinho na luta contra a Máfia na Itália.

Mas, antes de viajar, Dimitry Vladimirovich teve uma conversa de “homem para homem” com seu amigo:

— O que devo fazer, cara? Eu não tenho metade de teu poder mental... Aliás, nem um décimo, eu diria...

— Começa a rezar... Entra numa igreja e chama por Jesus...

— Fala sério, cara... Isso é hora de fazer piadas?

— Sempre te falei a verdade! As fotos que vimos no Kremlin naquele dia eram de minha esposa e de minha filha! O Pierre deve ser meu sogro... Mas tu não acreditas na reencarnação... Jesus é meu filho... Seu espírito está aqui, ao meu lado e ele pode te proteger. Mas tens que falar com ele, cara... Dizer o que tu queres... Foi ele que nos deu a lista! Acredita!

— Obrigado! Sabia que um dia ias te vingar de mim! Eu fui tua babá desde que éramos garotinhos, cara... Só te dei minha proteção. Minhas ordens eram colocar o peito se fosse necessário para te proteger... Vai para o inferno tu e teu Jesus...

E depois daquele dia, eles nunca mais se viram.

Dimitry Vladimirovich viajou para a América Central, e Andrei começou a se preparar para viajar até Paris. O coração de Adão dava a impressão de que desejava pular pela boca. Parecia um noivo. Um noivo nervoso, ao encontro de sua amada que o estava esperando.

Mas antes de partir, viu nos jornais que Marta estava para dar um concerto no Teatro mais elegante de Roma, e que os ingressos estavam esgotados. Fez algumas chamadas telefônicas para amigos importantes, e antes desse dia terminar estava num camarote especial, rodeado de camaradas ricos, para ver sua filhinha. Afinal, camarada pobre só havia na União Soviética. Na Europa, havia intelectuais comunistas, como Pablo Picasso, sua filha Marta, gente famosíssima, mitos e orgulho do povo.

 Para prevenir as emoções comprou uns calmantes, engoliu, vestiu seu melhor terno, gravata, e riu com ele mesmo. Parecia um manequim. Um gay.

Marta apareceu no palco com um vestido de cor azul brilhante, com lantejoulas, um penteado alto, colar de pérolas brancas, mais parecia uma princesa encantada. Andrei fechou os olhos, pois estava começando a sair uma lágrima. Excepcionalmente, Marta falou para o público que ela oferecia esse concerto aos camaradas da União Soviética, asilados políticos da Itália, pois ela sabia que UM deles estava nesse lugar. O público começou a aplaudir. Um foco de luz iluminou o rosto de Andrei, e Marta lhe enviou um beijo desde o palco. No camarote, choveram piadas por cima dele. Quando passou a euforia geral, Marta iniciou uma sonata de Chopin, a sonata de que sua mãe mais gostava.

Depois Andrei chorou de vez, pois as melodias eram magníficas. Tinham o poder de arrebatar corações, e o público estava enfeitiçado com a maestria de Marta.

Quando o concerto terminou, Andrei não a viu mais, pois ela se retirou de cena rodeada de pessoas que queriam festejar com ela.

Já no hotel, no momento de pegar sua chave, o porteiro fez a pergunta de sempre:

— Nada de mulheres, meu senhor?

— Hum! Só para a concertista francesa! Sabe quem ela é?

— Mas é lógico! Ela dedicou o concerto para você! Vimos na TV dos empregados...

Em seguida, ele foi para seu quarto elegante, e esperou ansioso.

Quando Marta ficou frente a frente com Andrei, era a manhã do dia seguinte. Ela só teve uma ideia. Dar um abraço. Andrei chorou como um bebezinho. Aliás, soluçava.

— Desculpe, filha... Mas eu sou assim mesmo... Já estou mais calmo... Como está sua mãe?

— Eu menti para ela! Disse que nem sabia quem eram os russos que pediram asilo... Fiz bem?

— Lógico que sim! Emoções fortes só para homens machões como eu...

Depois, começaram a rir juntos.

Mais calmos, tomaram café na suíte desse hotel, e fizeram planos para o futuro. Marta contava para Andrei que ela estava com a agenda cheia. Ia para Londres, onde Alain, um velho amigo de infância de sua mãe já estava esperando-a. Depois, viajaria para os Estados Unidos, onde demoraria seis meses tocando e tocando...

— Você não tem namorado, filha?

— Tenho! É meu piano... Um pouco grande, mas sabe como é que é. A gente se entende...

Andrei ria ainda mais alto desta vez. Sua filha e ele eram virgens! Nada sabiam das delicias do amor. Telepatia era assim mesmo. Só de uma olhada soube tudo sobre Marta e sua mulher, em décimos de segundo. Nossa! Sua amada estava escrevendo um livro! E era sobre ele mesmo.

Depois, perguntou-lhe:

— Onde é que um casal apaixonado pode se perder do mundo, literalmente falando, durante esses seis meses de sua viagem?

— Temos um vinhedo em Corbieres, perto do Mediterrâneo, na região de Lanquedoc-Roussillon, bem no Sul da França. É herança de meu avô, pai do meu pai James. É o lugar mais lindo que você já viu, perto da fronteira com a Espanha. Faça um roteiro turístico com uma agência, para você não se perder. Assim que chegar aos vinhedos me chama por telefone, pois minha mãe vai aparecer por lá... Vou me fazer de Cupido! Disse-me, você tem grana? Asilado político não ganha lá essas coisas...

— Tenho, filha!

— Me engana que eu gosto... Toma, aqui está meu cachê de ontem... E não faz de orgulhoso... Vai, pega... Podes até comprar um presentinho...

— Obrigado, filha!

— Desculpa que eu ainda não consiga chamá-lo de pai... É inacreditável para mim... Embora o pai James tenha me desiludido muito, ele era meu pai verdadeiro...

— Não era não...

— Não?

— Não! Pergunte para esse amigo de sua mãe, ele sabe tudo sobre ela... Sua mãe teve um amante...

— NÃO! Minha mãe teve um amante? Não! Eu não entendo mais nada... Você e minha mãe são dois doidos... Vão dar-se muito bem, sabia?

— É claro!

E Adão desta vez gargalhou de vez. Seu peito doía como nunca, mas agora era de felicidade plena.

Marta saiu pelos fundos desse hotel, pois a imprensa já estava lá, no saguão, pronta para lhe perguntar se tinha um caso de amor com Andrei. Mas naquele dia os paparazes ficaram temporariamente cegos. Eles só descobriram Marta quando ela desceu do avião, no aeroporto de Londres, no final do dia.

E nesse aeroporto ela nunca foi tão assediada. Seus olhos ficavam cegos com tanto flashes. Teve que colocar lentes escuras.  E as perguntas começaram a ser gritadas, pois a bagunça era grande. Ela respondeu a tudo, menos sobre Andrei. Sua vida íntima não interessava a ninguém. Depois ponderou que se hospedaria em casa de amigos, e não queria que lhe inventassem nenhum outro amante. Terminou falando que também não era lésbica. Só estava ocupada em se aprimorar, cada vez mais, como artista. Só então deu um abraço em Alain, que a levaria, como sempre, para sua casa.

Já dentro de um táxi, Marta falou atropeladamente:

— Nossa! Que dia, nem te conto... Minha mãe vai se casar de novo, e eu soube que ela teve um amante. E que tu sabes quem é que ele é...

— Você nunca suspeitou de quem puxou esses olhos tão lindos? Ah?

E Alain começou a pestanejar em forma engraçada. Depois a abraçou com olhos brilhantes e lhe disse:

—Eu sempre cuidei de você, pois sou seu pai... Sua mãe sofreu muito com James, e um dia ela chegou aqui em busca de consolo. E você é fruto desse encontro. Eu te conheço desde que você nasceu... Fui nesse hospital com todos os nossos amigos, só para despistar James... Ele nunca soube de quem levou os chifres... Ele era um enganador, filha. Sempre teve amante... Sempre...

Marta chorou finalmente, abraçada a Alain, feliz, pois ela o adorava desde que chegou a Londres pela primeira vez.

Êve sentiu o telefone de casa, e seu peito deu um salto. Algo estava para acontecer. Ouviu a voz de sua filha, desde Londres, e respirou fundo. Era só um problema nos vinhedos, com a praga de uma mosca.

— Mas filha, o agrônomo não esta lá, para resolver tudo isso?

— Está mãe... Mas tu tens que ver tudo... O que vão comprar e gastar, tu tens que ir lá, mãe... E vai depressa...

E não falou mais nada.

Êve guardou seu livro na bolsa, pegou as chaves do carro, e avisou por telefone a sua mãe que estaria fora uma semana. Escolheu o conversível para viajar, pois adorava conduzir com os cabelos ao vento. Saiu da cidade, entrou na rua marginal do Sena, depois buscou a transversal para chegar às autoestradas que cruzavam a França de Norte a Sul. Ao entardecer estaria lá...

Quando chegou ao redor dos vinhedos, o céu jamais esteve mais belo do que nesse dia. Parecia um sinal dos céus. Algo muito bom ia acontecer na sua vida. Parou o carro para admirar a paisagem, pois esse vale era a parte mais linda da França. Parreiras enormes cheias de uvas, que cresciam ao Sol, gordas, redondas, e produziam o melhor vinho francês. Continuou seu passeio e quando desceu do carro perguntou para seus empregados:

—Cadê esse agrônomo incompetente?

— Não tem nenhum agrônomo, senhora... Só um senhor estrangeiro que fala com a língua enrolada...

Êve foi entrando devagar, pois seu coração lhe dizia que era “ele”... Mas tentou se acalmar... Nada de desilusões. Viu a figura de um homem de costas, ombros largos, cabelo curtíssimo, calça justa, mãos no bolso, e em seu coração as batidas dispararam quase a sufocando.  Como num sussurro perguntou:

— É você, meu bem?

Pouco a pouco, Andrei se virou, e com olhos nublados, e a observou. Magra, descabelada, vários cabelos brancos, pálida, a ponto de desmaiar. Correu para ela e a abraçou forte. Depois foi um beijo suave, e começou a limpar-lhe as lágrimas com a língua e tampar a boca com outros beijos, pois Êve só falava:

— Desculpe... Perdoe-me... Por favor, diga que me perdoa...

— Do quê? Não me ama mais? Quer o divórcio?

— Eu tive dois homens... Eu fui infiel... Eu não o esperei...

E Andrei continuou a beijá-la, entrando sua língua na boca impetuosamente, até que suas palavras cessassem, e ela começasse a gemer de desejos.  Tomou-a no colo, como uma pena no ar, e caminhou com ela para uma suíte gigante. Caiu na cama e continuou a beijá-la, esperando que Êve recuperasse o brilho na mirada. Afinal, ele era apenas um homem perdendo sua castidade. Nada sabia de mulher.     

Depois, Andrei puxou-lhe as roupas, e se amaram até o cansaço e a fome chegar a separá-los.  Êve pegou um telefone, e pediu ao seu cozinheiro para lhes trazer um banquete. Estava faminta. Sedenta. Fraca. Sua vista sequer conseguia enxergar direito. Parecia uma moribunda.

Um mordomo chegou empurrando um carrinho e bateu educadamente na entrada.  Abriu, deixou o carrinho na suíte, fechou a porta com delicadeza e se retirou no maior sigilo. Andrei saiu da cama e levou o alimento para Êve. Deu na boca um pedaço de peixe com cremes.  Ela comeu como uma leoa, sem parar de olhar para o deus grego Adonis que estava na sua frente. Parecia o Discóbolo, de Mirom. Igualzinho. Perfeito. Não, era mais parecido com Apolo de Veldevere. E ela se sentia tão feia, velha, estava com complexos de tudo, na verdade. Além de ter envelhecido estava magra, seus seios caídos, rugas nos olhos, e seu cabelo sem nenhum corte. Mais parecia um espantalho. Uma bruxa infiel. E entre mordidas a uma maçã, e de boca cheia, perguntou:

— Estou perdoada?

— Claro que não! Vai ter que caprichar mais! Eu quero mais beijos, mais mordidas no meu cangote... E tem que repetir que me ama...

Enquanto falava ele foi chegando perto, beijando suave no pescoço, pois ele  estava realmente no paraíso. A seguir eles grudaram seus corpos de tal forma, pois Êve se encaixava nele como uma metade perfeita. Dava para beijar, abraçar, sem que sobrasse um pedaço de corpo que não estivesse colado milimetricamente. Cochilaram. Acordaram em meio da noite, e saíram para apreciar a Lua em todo seu esplendor.

Sentaram no ambiente externo e se cobriram com um cobertor. Êve finalmente matava a charada. O amor verdadeiro em nada se parecia ao que vivera com James e Alain. Ela apenas havia usufruído do prazer sexual. Do calor de corpos ardentes! De um prazer que nascia no toque, esquentava o sangue, e fazia as pessoas enlouquecer para uns segundos esquálidos de eretismos. Amor verdadeiro nada tinha a ver com isso.  Andrei acendia uma chama interna dentro dela. Bastava um beijo desta vez para que um calor brotasse no peito, abaixasse pela barriga até seu útero, e depois subisse para a cabeça como se ela estivesse irradiando uma luz. E os orgasmos ficavam na cabeça, sem pressa de partir. Desapareciam lentamente, dando um tempo de descanso, e mais uma vez a luz acendia no peito, se convertia em prazer avassalador, enquanto as bocas mordiam, complementando isso tudo.

 Submergidos no amor verdadeiro, separar os corpos estava agora fora de questão. Os dias se alastraram deitados na cama, até desmaiarem esgotados.  Ao amanhecer, acordaram se entreolhando, rindo, pois ambos necessitavam fazer xixi. Êve corria a sentar na patente, enquanto Andrei fazia xixi na varanda lançando uma linha longa sobre as plantas. Rindo como guris, voltaram para cama, para grudar os corpos até cansar.  

E foi assim que Êve rejuvenesceu. Sua cintura continuou a mesma, mas suas coxas voltaram a ter a rigidez de antigamente, e sua pele brilhava como uma adolescente. E finalmente, Êve soube o que era o amor verdadeiro! Aquele que não dá cansaço, nem sonho, e vai aumentando e aumentando, até chegar ao ponto de não ser mais dona nem do pensamento, e muito menos do corpo. 

O desaparecimento de Andrei levou a KGB ao desespero.

Dentro do Kremlin, os espiões juravam que ele tinha se vendido para o Ocidente, e era procurado pelo mundo todo.

Em Roma, a imprensa invadia o hotel todos os dias, e o gerente falava para a mídia que ele viajara para França ver uma senhora. Onde estava ele não sabia explicar. Mas mostrava seu quarto, com suas roupas, seus pertences, pois só havia levado seu passaporte e mais nada. Mais cedo ou mais tarde, ele regressaria. Para que tanta afobação?

Em Paris, Pierre começou a ser interrogado pelos camaradas, pois a última a vê-lo havia sido sua neta. Ele riu, falou que Andrei estava em lua de mel adiantada com uma francesa, amiga de Marta.  Ele não queria que os paparazzi invadissem sua intimidade. Era o que ele sabia. Mas em que lugar da França estava escondido, ele não sabia, não. E muito menos quem era essa francesa misteriosa.

E seis meses se passaram.

Quando Marta voltou para Paris, cheia de glória, viu de longe nos portões do aeroporto uma mulher que mais parecia uma estátua grega, corpo perfeito, num vestido apertadíssimo, busto gigante e firme, cabelos encaracolados caindo em cascatas, boca vermelha como fogo, ao lado de Andrei, que estava com uma barbicha e um bigodinho como disfarce. Ela os abraçou rindo, e só então é que os paparazzi descobriram que Andrei estava naquele lugar, acompanhado de uma mulher que ninguém sabia quem era.  Atravessaram a multidão abraçados, Marta entre os dois, dando beijos para os lados, feliz, sem dar explicações para ninguém em redor. A mídia era algo pela qual Andrei sentia tanto nojo quanto pela máfia. Aliás, os paparazzi eram culpados de metade das desgraças humanas, com suas notícias fofoqueiras, que causavam depressão mundial, mostrando para a sociedade um quadro muito mais sombrio do que a vida era na veridicidade. Não adiantava falar para esses imbecis que ele era um homem que fugira da Rússia por causa de amor. Quem é que ia acreditar numa coisa dessas?

Subiram numa limusine, rindo felizes, pois os paparazzi haviam ficado “cegos” por uns 20 minutos. Suficientes para chegar ao chateau e fechar os portões.

Uma semana depois, Êve e Andrei casavam na igreja católica, onde a imagem de Jesus crucificado estava atrás do altar, numa estatueta gigante, com Alain e Mirelle como padrinhos, ela elegantemente vestida.

Depois, o chateau se encheu de gente. De espiões, de atletas e de artistas plásticos, de camaradas e de milionários, junto a todos os atores amigos de James. Foi uma festa lindíssima.

Manon e Pierre estavam radiantes. Êve nunca estivera louca e finalmente ela encontrara o marido que esperou sua vida inteira. E esse homem era tão formoso. Nossa! Era mais belo que Alain, que James, que todos os homens da França juntos.

Durante a festa de casamento, Andrei dançou com Êve, Marta com seu pai Alain, que nunca estivera tão feliz, Paul e Georges com suas esposas, e Manon e Pierre ficaram a  olhá-los  a todos com emoção, pois a vida havia encontrado seu rumo certo.

Antes de esse dia terminar, Andrei agradeceu a amizade, o carinho da família de sua esposa, e falou para os convidados que a lua de mel seria nas Bermudas. Êve comprara um iate enorme, contrataram uma tripulação, um mordomo, e partiriam em três dias.

Nos dias seguintes, Êve teve outros encontros com a família, numa despedida para sua viagem ao redor do mundo.

Eles só tiveram um pequeno problema com o planejamento dessa viagem.  Marta quis ir junto com eles.

Andrei tentou dissuadi-la:

— Marta, você acreditaria se eu lhe contar que vamos morrer? Desaparecer para sempre?

— Não! Vão para algum lugar “secreto”... Eu quero conhecê-lo mesmo...

— Mas se eu lhe disser que lá aonde vamos, há uma cidade embaixo do mar, confiaria na minha palavra?

— Claro! E deve ter marciano! Por isso eu quero ir junto... Está na hora de saber o que há lá também...

— Mas não tem medo, não?

— Não!

— Tá bom! Mas não reclama depois! Vás levar um susto! Vamos descer em meio de uma tempestade horrível, e não vai ter choro, não...

— Eu nunca choro! Isso é com vocês...

— Sequer quando conheceu seu pai verdadeiro?

— Mas tu és também adivinho, vidente, bruxo?

— Algo mais ou menos assim...

Êve lhes deu um beijo em cada um, pois isso tudo a divertia. Marta e Andrei eram idênticos: teimosos e de temperamento forte. Êve sabia que Marta, lá no fundo, acreditava que ele era seu pai de outras vidas.

Duas semanas depois desse casamento, a imprensa falava que o iate de Êve tinha desaparecido no triângulo das Bermudas, sem deixar rastos.

Desta vez, Pierre, numa viagem até a União Soviética, conseguiu falar com os pais de Andrei, e contar-lhes ao ouvido que eles “não estavam mortos”. Só não sabia onde se achavam. Apenas isso.

O livro que Êve escrevera chamado: - A verdadeira história de Adan... foi lançado por uma editora francesa em sinal póstumo. Foi o livro mais vendido naquele ano e em pouco tempo virava “best seller” no mundo inteiro, transformando Pierre e Manon em pessoas ricas. Somente os padres católicos o amaldiçoaram. Chamaram Êve de anticristo e ela foi excomungada pelo Papa por desrespeito às sagradas escrituras.

Houve cristãos que o queimaram em praça pública.


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Notas finais do capítulo

Manon e Pierre estavam radiantes. Êve nunca estivera louca e finalmente ela encontrara o marido que esperou sua vida inteira. E esse homem era tão formoso. Nossa! Era mais belo que Alain, que James, que todos os homens da França juntos.
Durante a festa de casamento, Andrei dançou com Êve, Marta com seu pai Alain, que nunca estivera tão feliz, Paul e Georges com suas esposas, e Manon e Pierre ficaram a olhá-los a todos com emoção, pois a vida havia encontrado seu rumo certo.



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