I found my heart and broke it here

Made friends and lost them through the years

And I've not seen the roaring fields in so long

I know I've grown

But I can't wait to go home

Era uma tarde tempestuosa de verão na toca, e não era habitual chover a esta altura. Era o 1º dia de férias depois do meu 1º ano em Hogwarts… como uma Gryfindor! Os meus pais ficaram muito contentes, e eu passei o ano inteira a ouvir comentários do género “És tão parecida com a tua avó”, “A tua avó Lily ficaria orgulhosa”. O meu pai ouvia as minhas peripécias com grande atenção e um grande sorriso na cara. Dava para perceber que ele não se importava muito com o facto de eu explorar a área restrita da biblioteca ou os corredores do castelo durante a noite, embora me advertisse para não o fazer.

—Queres ir voar um bocadinho Lily? – perguntou a minha mãe, que adorava passear à chuva.

—Claro! Vamos!

—Vocês são maluquinhas – disse o meu pai, completamente aconchegado no sofá, onde o meu irmão James dormia ao seu lado.

—Ao menos eu não ando a explorar as florestas irlandesas durante a noite como alguém que eu conheço – retrocou a minha mãe, referindo-se a uma viagem que ele e o meu tio tinham feito meses atrás para procurar indícios que antigos devoradores da morte. O grande Harry Potter não teve escolha senão calar-se – Vamos Lily, vai buscar a vassoura!

E eu rapidamente subi as escadas para me ir preparar. De momento estávamos a morar na toca enquanto a nossa casa em Godric’s Hollow era alvo de uma desinfestação de cornish pixies… os seres mais irritantes que eu conheço. Eu só me dei ao trabalho de trazer uma mala com roupas e fotos. A maior parte delas eram deste ano: uma de mim com o chapéu selecionador (que ponderou a minha ida para os Hufflepuff, onde estava o Lysander, mas acabou por se decidir pela equipa vermelha e amarela); eu e os meus irmãos; eu e os gémeos Scamander, que eramos grandes amigos…

Eramos… desde a morte do Lorcan que o Lysander nunca mais foi o mesmo. Foi muito duro saber da morte do rapaz mais engraçado e inteligente que conheci! Ele era incrível, e o pior de tudo era saber que não merecia nada daquilo! Ser torturado e morto por seguidores da ideologia de Gellert Grindelwald foi um destino trágico e do qual toda a gente se queria vingar… incluindo eu! Um dia iria ser uma Auror tão temida que ninguém mais se iria atrever a matar alguém que me fosse querido. Sim, com 11 anos era este o meu sonho. Vesti um casaco e agarrei na minha nova vassoura, uma Nimbus 2018

Desci as escadas um pouco mais cautelosa, agora a pensar na fragilidade da vida…

—Vamos querida? – perguntou a minha mãe com um grande sorriso no rosto.

—Sim – também eu lhe sorri, pela segurança que ela me transmitia.

Ela abriu a porta e ambas montamos, cada uma na sua vassoura. Assim que passamos a porta sentimos os pingos de chuva a cobrir-nos furiosamente. O vento não nos deixava ver para a frente, então subimos, evitando as árvores.

—Anda, vou-te mostrar um sítio! – gritou a minha mãe, indo à frente.

Eu adorava passear com ela, era sempre uma grande aventura. Tinha saudades de a ver jogar nos grandes campeonatos mundiais, que ela abandonou depois de nos ter, para começar a escrever artigos desportivos. Eu esperava conseguir um lugar na equipa de quidditch no próximo ano, já que não fui bem-sucedida nas primeiras provas que fiz. Claro que o facto de ter vistos alguns dos jogadores principiantes levar com bluggers no corpo me deixou de certo modo feliz por não estar no lugar deles. Depois de alguns minutos a voar a minha mãe desacelerou e parou no topo de um monte. Eu fui até ela e sentei-me ao seu lado. O silêncio era somente quebrado pelos pingos de chuva que caiam, agora pouco agressivos.

—Este era sempre o 1º sítio a que eu vinha quando voltava de Hogwarts… - disse ela com um olhar vago.

Olhei um pouco à volta e algumas memórias me vieram à cabeça, assim como aquele cheiro a terra molhada.

—Foi lá em baixo que eu parti a perna!

—Exatamente – havia um certo orgulho na voz da minha mãe, pelo facto de o meu 1º grande acidente ter sido numa vassoura. Ela não me dizia, mas esperava que eu tivesse futuro no desporto, embora soubesse que eu queria seguir as pisadas do meu pai.

Nós conversamos tanto! Foi das melhores tardes que já tive, só eu e a minha mãe. É das coisas que sinto mais falta daqueles tempos. Sei que cresci, e que nada dura para sempre, mas aquele olhar dela ficou sempre gravado na minha memória. A maneira como ela me olhava era tão difícil de descrever. Talvez uma mistura de carinho com “tem cuidado”, adicionando orgulho e felicidade, uma pitada de vontade que eu arriscasse e muito amor. Que mistura! No final da tarde nós ainda estávamos sentadas no monte, a observar o pôr-do-sol molhado. E num flashback visualizei o castelo de Hogwarts. Eu e o Lysander costumávamos ir fazer piqueniques nos campos às terças durante a hora de almoço, o que nos ajudava a sentir como que em casa. O que nós não percebíamos era que já lá estávamos… e embora não admitíssemos em todas as cartas trocadas durante aquele verão, mal podíamos esperar para voltar àquela casa.