Dezessete de setembro de 1980. Dessa vez não há espaços para erros. Meu futuro na gangue está em jogo. Se eu não souber lidar com uma arma provavelmente não serei mais chamado.

Enfim a hora marcada. Dessa vez não é um 147 vermelho, mas sim... Um Fusca Branco. Roberto está fora do carro e no banco do passageiro está João fumando um cigarro. Entro no banco de trás. Durante o caminho até o centro, João me diz que esta será minha última chance, caso dê ruim, provavelmente serei excluído. Não há espaço para erros.

Paramos próximo ao local da semana passada, localizamos a vítima e parti para o assalto. Está ali um casal caminhando sentido a uma discoteca, aparentam ter uns 20 anos cada um, porém excepcionalmente hoje, eles não chegarão lá. Verifico que não há ninguém, passo a frente deles, tiro o revolver e aponto ao cara. Desta vez com mais confiança e mais pressionado.

— Passa tudo, caralho!

O cara parece que vai desmaiar de nervosismo. A moça está com medo, porém mais calma que ele. Levo a bolsa e a carteira deles, exijo que eles sigam na posição oposta e caminho para o carro onde o Roberto e João me esperam.

Estou feliz que tenha dado certo. Entro no banco de trás do carro, entrego os pertences ao João que em um ato de bondade, ele me dá o dinheiro como recompensa e antes que eu pudesse agradecer, Roberto cutuca João e estaciona o fusca em uma esquina.

Roberto aponta para um carro ali estacionado e diz que são os caras que atacaram a gente semana passada. Roberto confirma.

Nisso, Roberto decide dar a volta pela quadra para pegá-los desprevenidos. João me fala para pegar uma maleta no vão atrás do banco de trás. Está pesada. Passo a ele, o cara abre e monta uma metralhadora. Não tenho um bom pressentimento. O motorista desliga a lanterna e observa calmamente o alvo. João abre a janela. Não consigo nem respirar direito, todos no carro estão quietos. Quando um deles percebe nossa presença, porem já era tarde demais. Roberto acelera o fusca a toda velocidade, João tira a metralhadora pra fora e ao passar o carro por eles, João dispara uma rajada e alvejam os dois caras, que não tiveram tempo nem de fugir. Com certeza morreram.

Durante o caminho, não falei um “a” sequer, eu estava muito assustado, enquanto eles pareciam que nada tivesse acontecido. Essa não era a última chance de entrar, mas sim a última chance de sair dessa enrascada. Eu não quero mais.